Autoria de Lu Dias Carvalho
(Faça o curso gratuito de História da Arte, acessando: ÍNDICE – HISTÓRIA DA ARTE)
Os contornos inchados das plantas, os pés agigantados das figuras, o seio que atende ao inexorável apelo da gravidade: tudo é raiz. O embasamento que vem do fundo, do passado, daquilo que vegeta no substrato do ser. (Rafael Cardoso)
Filhos do sol, mãe dos viventes, […]. Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo. (Manifesto Antropofágico)
Para fazer a sua composição Antropofagia a pintora brasileira Tarsila do Amaral concebeu uma criativa união de dois trabalhos anteriores: A Negra (1923) e Abaporu (1928), como se aqueles seres colossais fossem interdependentes, um interligado ao outro. É impossível o entendimento desta obra através de uma leitura convencional, aquela que é feita na análise dos detalhes. O observador deve optar por outro nível conceitual, pois as duas formas brutas, apresentadas pela artista, reportam ao estado primitivo.
A obra Antropofagia — a mais importante da fase antropofágica da pintora — é praticamente a fusão das duas pinturas citadas acima. A cabeça da negra tornou-se diminuta em sintonia com a de seu companheiro. O braço que sustentava o seio está agora escondido atrás da perna direita, enquanto o seio é sustentado pela perna do outro ser que escora a sua e que toca graciosamente o chão. A perna esquerda da Negra está encoberta pela perna do Abaporu que se encontra em posição inversa. Ele não mais se encontra na pose de pensador. A mão que sustentava sua cabeça, encontra-se agora descansando na perna. Ele se inclina para a Negra, como se estivesse dialogando com ela.
Os dois seres entrelaçados possuem cabeças diminutas e sem faces num corpo gigantesco, o que leva à ausência de pensamentos, pois encontram-se na forma primitiva, totalmente ligados às raízes. Eles ganham a vida como fazem as plantas — absorvendo a energia da terra e do sol. À sua palheta nacionalista (verde, amarelo, azul e branco) Tarsila soma o ocre avermelhado que compõe a pele das figuras e que mais se parece com argila.
A união dos dois personagens exclui-os da condição de mito, integrando-os à paisagem. Ao fundo a artista faz a junção do cactos e do sol, presentes na obra Abaporu, com a bananeira, presente na composição A Negra. Segundo o historiador da arte Rafael Cardoso, “Em Antropofagia as coisas não se transformam, elas apenas são; subsistem, com uma terrível e sólida permanência que as ancora no chão”. Se o homem é visto como o irmão gêmeo do Abaporu, a mulher, por sua vez, traz consigo o seio caído da Negra.
Ficha técnica
Ano: 1929
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 126 x 142 cm
Localização: Acervo da Fundação José e Paulina Nemirovsky, São Paulo, Brasil
Fontes de pesquisa
Tarsila do Amaral/ Coleção Folha
A arte brasileira em 25 quadros/ Rafael Cardoso
Brazilian Art VII
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A capacidade da pintora é demonstrar os personagens sugados pela terra e o trabalho braçal sem a menor capacidade [pensamento] em mudar a maneira de vida.
Maurício
É verdade! Tarsila do Amaral era dona de grande sensibilidade, tendo a repassado para quase todas as suas pinturas.
Agradeço a sua visita e o seu comentário. Volte mais vezes, será sempre um prazer recebê-lo.
Abraços,
Lu
Estou encantada com essas maravilhas.
Obrigada!
Sueli
Também sou uma apaixonada pela obra de Tarsila do Amaral. Não me canso de admirá-la.
Agradeço a sua visita ao blog e comentário. Volte sempre.
Abraços,
Lu
Artigo show de bola!
Gabriela
Fico feliz que tenha gostado. Há muitos outros artigos que mostram outras pinturas de Tarsila do Amaral. Repasse para seus colegas o endereço do blog. Certo? Obrigada por sua visita e comentário!
Abraços,
Lu
Este desenho e difícil de fazer.
Jhenifer
Embora ame e escreva sobre arte, eu não sei nem pegar o pincel na posição correta. Você está tentando fazer o desenho? Já experimentou tirar uma cópia da figura, riscá-la em quadros, e também fazer o mesmo com a folha onde vai desenhar? Assim fica bem fácil fazer a cópia.
Muito obrigada pela sua visita e comentário. Volte sempre!
Beijos,
Lu
Mário
O quadro mais famoso da Tarsila é o Abaporu, tanto no Brasil quanto internacionalmente.
O que sei é que ele foi adquirido por um comprador argentino.
Não sei se foi o Oswald de Andrade, o presenteado, quem o vendeu ou não.
O que existe à venda hoje são reproduções (gravuras) dos quadros.
O livro da Tarsila (Editora Folha) traz, em gravuras, todos esses que venho postando.
Já fiz alguns para mim. Sai muito mais barato comprar o livro, do que encomendar as gravuras.
A própria internet vende-as.
Mesmo em relação ao valor estimado das obras postadas, eu não tenho a mínima ideia.
Grande abraço,
Lu
Lu Dias
Qual é o quadro mais popular da Tarsila, Antropofagia ou Abaporu? Por que será que Abaporu foi parar na Argentina? Será que existe venda de algum quadro deste? Se há, quanto será? Fiquei curioso em saber em quanto são avaliadas essas obras que tu postas aqui; uma estimativa.
Abração
Mário Mendonça
O Abaporu está no Museu de Arte da Argentina. O valor estimado da tela é de U$1,5 milhão .
Maria Lucena
Temos aqui um texto falando sobre o Abaporu. É um preço muito elevado. Haja dinheiro! Acho “Antropofagia” ainda mais bela.
Obrigada por sua visita. Volte sempre!
Abraços,
Lu