Autoria de Lu Dias Carvalho
Os tuaregues são um grupo étnico da região do Saara. Trata-se de uma civilização bem excêntrica. A origem dessa gente parece perdida no tempo. Poderia ser egípcia, iemenita ou de uma antiga tribo europeia. A maioria dos estudiosos acredita se tratar de um povo berbere, os longínquos habitantes do Saara. Semi nômades, percorrem o deserto em camelos ou cavalos. Foram eles um dos primeiros povos a habitar o Saara. Mas atualmente vivem dispersos, enfrentando a repressão dos novos governantes, após a saída dos franceses.
A palavra árabe tuareg significa abandonados pelos deuses e lhes foi dada pelos europeus, para distingui-los de outros povos. Mas eles preferem chamar a si mesmos por Imouhar(en), Imashagen (Os Livres). Não se sabe ao certo quantos sãos os tuaregues. Calcula-se que exista cerca de um milhão deles, espalhados por Níger, Mali, Líbia, Burkina Fasso e Argélia.
A religião desse povo é uma mistura de islamismo e crenças ancestrais, relacionadas com o juun, o espírito da natureza. A língua falada pertence à raiz berbere. A maioria somente tem cultura oral. Usa também uma linguagem muda, para transmitir mensagens secretas. No passado, só as mulheres tuaregues sabiam escrever.
Os homens não dispensam um véu índigo, que usam mesmo entre os familiares, e que serve para protegê-los contra o sol escaldante do deserto, das rajadas de areia e dos maus espíritos. Um turbante cobre-lhes todo o rosto, deixando apenas os olhos de fora. Diferentemente de outros povos berberes, os tuaregues não usam tatuagens. Homens e mulheres pintam os olhos com o kohl, pó negro de sulfato de antimônio. Os rapazes raspam a cabeça, deixando apenas uma espécie de crista no centro. O que servirá para que Alá os “arraste” ao paraíso, segundo a crença.
As mulheres, ao contrário das outras muçulmanas, não usam véus e possuem cabelos longos e trançados. São bem consideradas e pode ser delas a iniciativa do pedido de divórcio, caso se considerem maltratadas pelo marido. Em certas ocasiões, elas pintam o rosto de vermelho ou amarelo e os lábios de azul, formando uma espécie de máscara, que serve de enfeite e de símbolo mágico. Possuem autoridade no acampamento, pois os homens estão frequentemente ausentes, cumprindo suas atividades como pastores comerciantes ou guerreiros. Geralmente sabem escrever e são mais instruídas do que os homens. Participam dos conselhos e assembleias da linhagem e são consultadas nos assuntos da tribo.
A alimentação dos tuaregues tem sua base no leite e derivados. Só abatem animais nas grandes festas. Por sua resistência, o camelo é o animal preferido nas viagens pelo deserto. Possuem também ovelhas e cavalos. Os asnos vivem em liberdade e não têm valor comercial. Em sua maioria, os tuaregues vivem em tendas (imahan). Praticam a monogamia, embora um homem que faça uma longa viagem possa ter concubinas de castas inferiores.
Os tuaregues possuem cativos, iklan, compostos por descendentes dos antigos escravos. Embora, desde a dominação francesa, em finais do século XIX, não seja mais permitida a escravidão, eles continuam com seus escravos. Eventualmente, um homem livre pode se casar com uma mulher de sua servidão e, nesse caso, os filhos nascerão livres. O amo possui poder de vida e morte sobre seus servos.
Antigamente, quando não eram pacíficos, os tuaregues cobravam altos pedágios dos viajantes que atravessavam o deserto. Assaltavam e massacravam aqueles que não pagassem. Dedicavam-se a saquear povos e a controlar as rotas do deserto. Eram chamados de Os Bandoleiros do Deserto. A organização social desse grupo é típica dos povos pastores e guerreiros, em que a nobreza de sangue é muito importante.
Em 1946, quando o deserto foi dividido entre pequenos países, os tuaregues entraram em guerra por liberdade, quando cerca de quarenta mil foram mortos, incluindo mulheres e crianças. A independência das antigas colônias africanas deu origem a uma verdadeira tragédia. Os novos governantes não chegaram ao poder através do triunfo guerreiro, conforme a tradição desse grupo e, por isso, sua autoridade não foi aceita pelos tuaregues. Muitos escravos passaram a ser senhores em seus novos domínios, com as mudanças efetuadas com a divisão do deserto.
Nos dias atuais, os tuaregues dedicam-se à música, ao artesanato e ao pastoreio de animais como o dromedário (mamífero ativo da região nordeste da África e da porção oeste da Ásia. Possui apenas uma corcova no dorso, e cujo pescoço é mais curto do que o do camelo), animal doméstico usado como montaria e besta de carga.
Atualmente, esses guerreiros valentes, antigos senhores dos desertos, não passam de uma minoria oprimida, sobretudo por carregarem um espírito independente. Muitos vivem distantes de seu habitat, deslocados num mundo que não compreendem. Grande parte deles foi para as grandes cidades africanas da região. Os ricos formaram uma nova classe: a burguesia urbana. Os pobres se viram obrigados a mendigar ou vender objetos de madeira e couro nas entradas dos hotéis. Alguns descobriram profissões mais modernas, como as de mecânico ou guia de turismo. Muitas jovens tuaregues caíram na prostituição.
O povo Tuareg recusa-se a aceitar as fronteiras de cinco estados – Argélia, Mali, Líbia, Níger e Burkina Fasso -, estabelecidas nos tempos coloniais, em territórios que sempre lhes pertenceram. Expulsos da Argélia em 1986, e obrigados a sair da Líbia em 1990, refugiaram-se no Níger e no Mali, onde criaram vários problemas e passaram a sofrer a dura reação dos governantes locais. Houve matanças e verdadeiros genocídios.
Para os povos sedentários é muito difícil compreender a vida nômade da gente Tuareg, que ainda não teve a oportunidade de encontrar um território para si e, que se sente lesada nos seus direitos, por ter sido expulsa de uma região que lhes pertencia há séculos. Eles precisam de um lugar onde possam viver, conservando o estilo de vida que lhes é peculiar, desde os tempos mais remotos.
Nota: Imagem copiada de http://revistaplaneta.terra.com.br
Fonte de Pesquisa:
Background Tuareg
Tuareg/ Albeto Vázquez Figueroa
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