ÍNDIA – ANJOS INTOCÁVEIS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Água potável, educação e diminuição da pobreza fazem mais pela boa saúde que remédios e diagnósticos. (Raj Arole)

A vida da mulher na Índia, principalmente as que vivem como intocáveis, é de uma penúria a toda prova. E, mesmo vitimadas pelo descaso das castas superiores, é possível encontrar, dentre elas, verdadeiros anjos terrenos. Como não poderia deixar de ser, não carregam diploma algum, algumas nem mesmo sabem ler, mas carregam a vontade firme de ajudar, embora tratadas como “intocáveis”.

Tais mulheres são treinadas para exercer a função de agentes de saúde (PSGR), fazendo partos, curando doenças, salvando vidas. Muitas delas possuem o corpo marcado por doenças da adolescência, como a lepra e a varíola. Elas atendem seus pacientes desprovidos de assistência médica, em domicílios, conquistando-lhes a confiança. Além de fazerem partos, também dão assistência aos bebês. Atendem aos idosos e examinam os moradores, outrora doentes de lepra, de olho numa possível recaída. Antes delas, a mortalidade causada pelo parto era muito grande, assim como os surtos de sarna nas crianças. A malária e a diarreia eram constantes, assim como a lepra e a tuberculose.

A falta de médicos em países pobres é alarmante. Insatisfeitos com os baixos salários e com as condições precárias em que são obrigados a trabalhar, médicos indianos partem para outros países em busca de uma melhor remuneração. Vão trabalhar nas zonas rurais dos países ricos. O que significa que, na verdade, a Índia subsidia a medicina dos países ricos, como EUA e Grã Bretanha. Há regiões em que há um médico para 50 mil pessoas. Pois, assim como nos países desenvolvidos, os médicos que optam por ficar na Índia, escolhem as áreas urbanas, abandonando a zona rural.

Quem mais sofre com a falta de médicos é a população carente, que precisa aprender sobre nutrição, amamentação, higiene e uso de remédios caseiros, tais como o soro para a reidratação oral, para tratamento preventivo. A saúde nesses lugares precisa passar pela ajuda à população na busca por água limpa, melhoria nas práticas agrícolas e rede de saneamento e pelo combate à discriminação das pessoas de castas inferiores.

O Projeto de Saúde Geral Rural foi desenvolvido por um casal de médicos indianos, na tentativa de amparar os mais desvalidos dentre os pobres. Tem como objetivo a medicina preventiva. Deste objetivo nasceu o envolvimento com os moradores. As mulheres também possuem a ajuda de uma equipe móvel, composta de enfermeira, paramédico e assistente social, que atende os casos mais difíceis e reforça a autoridade da agente comunitária.

Na Índia, as três causas mais comuns da mortalidade infantil são: infecções respiratórias, fome crônica e diarreia. Problemas que podem muito bem dispensar o médico. Uma agente comunitária está preparada para cuidar de 80% dos problemas de saúde de uma aldeia, pois a grande maioria deles está ligada à nutrição e ao ambiente.

Não foi fácil o início do trabalho de assistentes sociais, prestado pelas mulheres intocáveis, já que não eram consideradas como seres humanos. Se roçassem o sári no alimento de alguém de uma casta superior, esse seria jogado fora. Também eram proibidas de usar sapatos. A principal tarefa foi ter que transformar essas mulheres, dando-lhes uma identidade e autoestima. Segundo Shobha, filha dos Aroles, hoje diretora do programa, responsável pelo curso de treinamento, quando sua mãe perguntava-lhes:

“Quem é mais inteligente, uma mulher ou um rato?”

“Um rato” – respondiam elas.

A situação nesses vilarejos ainda demanda muitas mudanças. As superstições estão arraigadas. Muitas pessoas ainda optam por levar uma pessoa picada por cobra ao templo e não ao hospital. Contudo, os êxitos do programa já se fazem sentir. Em 38 anos de fundação, 300 vilarejos já contam com agentes de saúde treinados. A transformação veio também com a adoção de um novo modo de vida, como o cultivo das hortas caseiras, água limpa e hábitos de higiene.

Segundo as mulheres, o território mais difícil de colonizar talvez tenha sido a cabeça das pessoas, apegadas às tradições e ao preconceito. Para muitos habitantes, as doenças vinham dos deuses, sendo, portanto, sagradas. Essas mulheres intocáveis, agentes de saúde, assim resumem seu trabalho:

“O conhecimento nos dá prestígio e respeito. Somos valorizadas pela comunidade.”

Nota: Imagem copiada de http://geografianovest.blogspot.com.br

Fonte de pesquisa:
 National Geographic/ nº105/ ano 9

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2 comentaram em “ÍNDIA – ANJOS INTOCÁVEIS

  1. Pedro Rui

    Realmente o trabalho destas mulheres é de louvar; ao ler este texto digo que muitas vezes falamos de barriga cheia, por reclamarmos de nossa saúde. Essas mulheres sem qter estudo, têm uma capacidade de humanismo indiscutível; é de louvar o seu trabalho.
    Abraços
    Rui Sofia

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Rui

      Existem seres humanos, que mesmo pobres, oferecem muito ao próximo.
      Como é o caso dessas mulheres, junto a pessoas tão necessitadas de tudo.
      Merecem mesmo ser louvadas.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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