ÍNDIA – O GURU E O LÍQUIDO SAGRADO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Índia foi e continua sendo um campo fértil para nos revelar os mais engraçados e incríveis relatos de figuras ocidentais que ali chegam, muitas delas com Ph.D. nisso ou naquilo, em busca da salvação da alma, depois de terem aproveitado de tudo a que tinham direito dentro do capitalismo selvagem.

Segundo a escritora indiana Gita Mehta, para todo aquele que busca a iluminação, na Índia encontra-se um “sábio”. Há artigos para todos os tipos de cliente. Are Baba! Ela conta em seu livro, Carma-Cola, um fato cômico, para não dizer patético, que ora passo a relatar:

Um aristocrata inglês encabulou-se ao tomar conhecimento de um guru que vivia numa aldeia remota do país indiano, possuidor de dons milagrosos, inclusive o de transformar sua urina em água perfumada de rosas, assim que vertida.

O fidalgo encheu as malas Louis Vuitton com a mais inabalável fé e partiu numa jornada difícil em busca do conceituado religioso, cuja fama ultrapassara o Atlântico. Lá chegando, foi cortesmente direcionado para se assentar na primeira fila da meditação matinal, fora da tenda, momento em que o mentor tirava da bexiga, o líquido miraculoso. Havia ali muitas pessoas, todas em atitude da mais profunda piedade, E, coincidência ou não, o requintado senhor foi escolhido para se dirigir à tenda do mestre.

Não querendo parecer arrogante (atitude peculiar aos ingleses), o nobre dirigiu-se ao local, onde se encontrava o guru. Ao se adentrar na barraca, pelos sinais e gestos do mestre, entendeu que fora escolhido para levar seus fluidos aos devotos, que aguardavam ansiosos.

O vaso quente com o líquido milagroso foi posto em suas mãos, quando resolveu testar o odor de seu conteúdo. O cheiro – pensou com seus botões – era de urina comum. No entanto, continuou carregando o precioso líquido para os devotos em estado de veneração profunda, sendo recebido com fortes aplausos.

Assustado, viu que a intensidade da ovação tornara-se mais forte, à medida que se aproximava, enquanto tentava decifrar os sinais ansiosos que lhe enviavam os assistentes do “homem santo” (todos os “divinos” possuem assistentes). Foi quando, num vislumbre de racionalidade, conseguiu perceber que o venerável mestre – num gesto magnânimo – permitira que ele bebesse todo o conteúdo, sem ter que dividir com os demais presentes.

O leitor, em estado de estupor, deve estar aflito para saber se o aristocrata bebeu o maná do guru ou se o recusou. Deixo a dedução a seu critério, depois de acrescentar o que ele dissera, na ocasião, aos amigos:

– Tinha um gosto incrivelmente parecido com urina comum!

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