Autoria de Lu Dias Carvalho
É muito comum ouvirmos certos meios de comunicação tecerem loas ao mosaico indiano, com suas diferentes etnias e culturas, dizendo que tudo ali convive na mais absoluta harmonia. O que não passa de blá-blá-blá de quem vê o país apenas sob a aura do exotismo, pois na verdade, esse diferencial é um dos pontos mais agudos na manutenção integral do território indiano, pois as etnias foram sempre causa de guerras internas no país, causando banhos de sangue em muitas regiões, bastando que uma julgue que seu templo foi profanado. Aproximadamente 7% do total da população indiana pertencem a mais de 300 tribos catalogadas.
A origem exata da maior parte do povo indiano é impossível de ser determinada, por conta da grande variedade de raças e culturas invasoras que foram assimiladas no subcontinente. Muitas das etnias indianas, que mais parecem uma colcha de retalhos, jamais aceitaram a dominação por parte de outras. Calcula-se que existem na Índia 1.652 línguas vernáculas (sem agregação de estrangeirismos) e 67 línguas de ensino escolar em diversos níveis. A Constituição de 1950 tornou o híndi, escrito em ortografia devanágari, a língua oficial do país e enumerou as 15 línguas oficiais regionais: assamês, bengali, gujarati (ou gujerat), hindi, kanara, caxemira, malaiala, marathi, oriya, pendjabi, sânscrito, sindhi, tâmil, telugu e urdu. No entanto, o híndi encontrou certa resistência, particularmente nos estados do sul e em Bengala, o que conduziu à manutenção do inglês, como segunda língua privilegiada, de elite, que permite os contatos internacionais e a obtenção dos melhores empregos.
Os parsis (“persas” na língua gujerat) vieram da Pérsia e se estabeleceram na Índia, na região do Gujarate, por volta de 1000 anos atrás, devido à perseguição religiosa no país de origem, e hoje são caracterizados por sua religião e costumes. A comunidade parse possui mais mulheres do que homens, primeiro, porque ela não mata os fetos e bebês femininos e, segundo, porque os homens morrem antes das mulheres, portanto há muitas viúvas. 97.9 % dos parses são alfabetizados e a maioria mora nas cidades, embora os professores ainda partam do pressuposto de que as garotas usam a faculdade para encontrar um marido. Os pais acham que a inteligência numa mulher é um desperdício, na constituição de uma família. Também preferem as moças de pele mais clara, para casarem com os filhos.
Os parses são bem mais liberais do que os hindus na escolha dos casamentos, mas o futuro de suas garotas também é usado como moeda de troca. É muito comum as mulheres dizerem que “sempre que os homens fecham um acordo de cavalheiros, são as mulheres que acabam sofrendo, de modo que as filhas são sempre o cordeiro do sacrifício”. Enquanto as mulheres hindus ameaçam se jogar no poço com uma pedra no pescoço, as parses ameaçam se jogar no fosso do Templo do Fogo. Na sociedade parse também reina o medo de que uma mulher revoltada possa colocar veneno na comida do marido. Entre eles, as sogras também fazem parte do cardápio da hostilidade à nora, pois o filho ao se casar leva a mulher para morar com a mãe. Muitas são umas jararacas, que além de governar o filho ainda o fazem com a nora. Os parses veem os hindus e muçulmanos como grandes inimigos. Temem que se ajuntem para um dia governar a Índia, expulsando as outras etnias.
Cerimônia perse de boas-vindas ao bebê:
- tikka, um pó vermelho é passado na testa da criança;
- a seguir circunda a cabecinha do bebê com um ovo cru;
- que depois é quebrado na soleira da porta;
- um coco seco é partido na soleira de entrada;
- a casa então está pronta para receber o novo hóspede;
- quem carrega o bebê deve entrar com o pé direito.
Avesta é o principal texto religioso do zoroastrismo, religião dos parses, e seus templos religiosos recebem o nome de Templos de Fogo, pois o fogo ali jamais pode ser apagado, sua chama precisa arder perpetuamente. A tradição não permite que pessoas que não sejam parses assistam às cerimônias fúnebres. E os dastoors são contratados para rezarem nos funerais. Na Índia, os parses são reconhecidos pelas suas contribuições à sociedade nos aspectos econômico, educativo e caritativo. Muitos vivem em Mumbai (Bombaim) e têm tendência para praticar a endogamia (casamento entre indivíduos do mesmo grupo, seja esse definido com base em parentesco, residência, território, classe, casta, etnia, língua, ou por qualquer outro critério).
Letreiro à entrada do recinto reservado aos Parses:
“Este lugar sagrado pertence à comunidade dos Parses e, por isso mesmo, não é permitida a entrada senão por motivos religiosos.”
Uma das orações diárias dos Parses é:
“Oramos a Deus para erradicar toda a miséria do mundo: que a compreensão triunfe sobre a ignorância, que a generosidade triunfe sobre a indiferença, que a confiança triunfe sobre o desprezo, e que a verdade triunfe sobre a falsidade.”
Nota: Imagem copiada de http://www.passeiweb.com
Fontes de pesquisa:
Um Lugar para Todos/ Thrity Umrigar
Blog Indi(a)gestão
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Ótimo artigo. Existe mais conteúdo sobre as demais etnias?
Santhiago
Você lhe passar um link onde poderá encontrar mais informações sobre o assunto. Agradeço a sua visita e comentário. Volte mais vezes.
Abraços,
Lu
Gostei, muito interessante. Mas e quanto ao restante do mosaico??
Guará
O restante do mosaico encontra-se em outros textos sobre a Índia.
Eles são cerca de cem, neste blog.
Espero que goste.
Agradeço a sua visita.
Volte sempre!
Abraços,
Lu