Autoria de Lu Dias Carvalho
Não apenas os anões, assim como os bufões e os bobos tinham por finalidade evitar que sua majestade, o rei, não se sentisse entediado, assim como sua corte. O “coitado” trabalhava tanto, que era necessário que esses pobres inocentes, desprovidos de sorte, evitassem que o monarca caísse no fastio, no nada para fazer. Aos bufões e aos bobos era permitido falar, muitas vezes, ainda que em forma de pilhérias, as verdades que o povo não ousava dizer ao soberano, temendo as cordas pouco macias da forca. E quem iria dar créditos às palavras dessa classe inumana?
Como não havia antidepressivos à época, os anões, truões e bobos não precisavam de cerimônias para se apresentarem ao rei, uma vez que tinham como ditame curar o sofredor real de sua melancolia, do estresse ocasionado pelo poder, e do sacrifício de cortejar um bando de mulheres, que davam a vida para passar uma noite na alcova real. Para tanto, esse grupo, que usava a terapia das palavras maldizentes, debochando da corte e seu séquito, era muitas vezes bem recompensado, ainda que vistos como uma categoria de sub-humanos. Figuravam, inclusive, nos retratos reais, como emblemas da realeza, jamais como seres humanos.
A vida não era somente flores para esses “psicólogos” da época. Os anões, sobretudo, serviam de brinquedo para a prole do rei, carregando-a nas costas de um lado para outro das salas palacianas, como eles fossem incansáveis pôneis. E mais, serviam também como exemplo para damas e fidalgos, não pelo comportamento, mas pelos defeitos físicos. Os palacianos deveriam mirar nos desprestigiados pela natureza, com suas mazelas físicas, e sentir-se privilegiados por terem boa aparência e coisa e tal.
Além dos anões, truões e bobos, havia também o “jardim zoológico humano” habitado pelos deficientes mentais, compondo a categoria mais baixa dos moradores do palácio. Deviam ser inofensivos, é claro, para não colocarem em risco a vida na corte. A eles cabia botar alegria na casa, através de suas deformidades físicas e desarranjos mentais, sendo vistos como coisas, num ambiente em que as pessoas ditas “normais” faziam questão de mostrar sua superioridade.
Dentre as muitas cortes, que mantinham esse grupo de seres especiais, como atrativo circense, estava a da Espanha. E Diego Velázquez, pintor da corte espanhola a partir de 1622, imortalizou algum desses tipos. Nas suas pinturas, ele não os tratou com deboche, hipocrisia ou perversidade, ao contrário, foi capaz de entrar no âmago dessas pessoas, extraindo delas uma grandeza que só um gênio da estirpe dele, com uma observação aguçada e muita sensibilidade, seria capaz de captar.
Acima, ilustrando o texto, estão três retratos pintados por Valézquez sobre tais figuras:
1- Retrato de um anão sentado no chão, cerca de 1645
2- Retrato do bobo Juan Calabrazas, c.1637-1639
3- Retrato do bobo D. Cristóbal de Castañeda y Pernia, c. 1637-1640
Fonte de pesquisa
Valézquez/ Taschen
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Lu
Qual o nome da primeira obra que tem o homem sentado?
Matheus
Os nomes mais conhecidos da obra são: O Anão D. Sebastian de Morra, O Bobo D. Sebastian de Morra ou Retrato de D. Sebastian de Morra.
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Lu