COMO NASCEU O TAMANDUÁ-BANDEIRA

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Recontada por Lu Dias Carvalho

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A chuva forte despencou do céu sobre a floresta. A princípio, os índios acharam mais do que natural, pois as florestas tropicais são banhadas pelas águas diariamente. Eles começaram a se preocupar, quando observaram que ela não parava nem um tiquinho de tempo, entrando noite e saindo dia. Depois, observaram que os rios estavam a engolir a terra com sua vegetação e os bichinhos, que viviam perto do solo. E mais depois, alguns poucos humanos puderam observar que a enchente atingia o topo das árvores mais altas, ingerindo tudo, como se estivesse esfomeada.

Apenas uns poucos guerreiros de certa tribo conseguiram se salvar, pois ficaram deitados nas folhas da Coccoloba, que possui a maior folha do mundo, singrando de um lado para outro. Mas nem mesmo sabiam se teria valido a pena sobreviverem, tamanha era a tristeza em que se encontravam. Tudo era uma grande monotonia, só cortada pela voz deles ou pelo crepitar da madeira nas fogueiras. Não havia ficado nem mesmo uma avezinha com seu trinado, para quebrar aquele silêncio de morte, enquanto as florestas iam reaparecendo.

Aqueles valentes guerreiros, já acabrunhados pela melancolia, suplicaram ao Grande Espírito que trouxesse de novo à floresta todos os seus animais. E foram atendidos. Tudo seria recriado como dantes pelo anjo enviado, sendo feito das cinzas dos carvões da primeira fogueira feita pelos sobreviventes, após o dilúvio. O orvalho serviria de líquido para moldar a massa. Todo o serviço só poderia ser feito à noite. Os animais foram sendo recriados, tanto os do céu quanto os da terra.

A onça, por ser a rainha da floresta tropical, foi a primeira a ser criada, depois veio o macaco, o gavião, a anta, e assim por diante. Os animais nasciam sem saber nada, tendo que aprender tudo: voar, cantar, subir nas árvores, que alimento comer, correr, pular, nadar, etc. Era uma dura tarefa, mas que foi integralmente cumprida. O Grande Espírito deu ordem a seu anjo para que retornasse, mas esse alegou que ainda tinha um punhado de cinzas e uns pedacinhos de carvão. Recebeu a ordem de ficar apenas mais uma noite, não mais do que isso, usando o restante do material.

O anjo começou a modelar, calmamente, um animal que fosse bem diferente. Fazia um molde e não achava bom. Depois fazia outro, e mais outro, e assim foi durante grande parte da noite. Não poderia deixar nenhum material sobrando. Optou por fazer um bicho bastante forte, com um comprido e tubular focinho, e, que tivesse garras poderosas. Para deixá-lo mais charmoso, agregou-lhe uma longa cauda, semelhante a uma bandeira. Ainda faltava ao modelo alguns apetrechos, quando o anjo percebeu que o dia estava chegando. Bom ou ruim, ele deu seu trabalho por terminado, conforme as ordens recebidas.

Ao ganhar vida, o animal não gostou muito de sua pobre figura. Faltavam-lhe os dentes, e, além do mais, a língua era extensa e mole, incapaz de trabalhar alimentos duros. Mas, antes de desaparecer numa nuvem, o anjo, condoído, gritou-lhe:

– Busque como alimento aquilo que não seja necessário mastigar. As formigas, que existirão sempre em demasia, são um bom prato, assim como os cupins. Use apenas a sua enorme língua pegajosa para apanhá-los. E o melhor é que você não terá concorrentes.

É por isso que o tamanduá-bandeira, que significa “o comedor de formigas“, deita e rola nos formigueiros e cupinzeiros. Por causa de sua cauda vistosa e festiva, foi-lhe acrescido o nome de “bandeira”, porém, é muitas vezes apelidado de “papa-formiga”.

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