Recontada por Lu Dias Carvalho
Contam os povos bem antigos que o Criador não deu vida aos animais assim como eles são hoje, talvez pela pressa, ao ter tanta coisa para fazer. O fato é que os bichos eram acinzentados, sem nenhuma belezura de cor. Todos eram monocromáticos, o que dava uma tristeza danada, quando um mirava o outro. E foi com pena, de ver tanta melancolia nos olhos de seus bichinhos, que o Espírito Criador resolveu modificar aquela situação. Para tanto, escolheu um lugar bem visível na floresta, e fez nascer uma árvore que, em vez de folhas, estava carregada de caixinhas de todas as cores e dos mais diferentes matizes. Ali, cada animal iria escolher aquela com a cor que mais o agradasse. Se quisesse, poderia pegar mais outras e outras.
Os macacos foram os primeiros a aproximarem-se da gigantesca árvore, formando atrás de si uma fila que parecia não ter fim, tudo na maior ordem. Viram uma caixinha preta e resolveram pegá-la, mas alguns escolheram uma marrom mais escuro, outros optaram por uma bege claro, e mais outros acrescentaram um toque de amarelo ou de vermelho, bem a gosto deles. A onça escolheu para si uma caixinha com a cor preta, mas algumas de suas irmãs acharam que elas ficaram muito melancólicas, usando uma única cor. Resolveram então salpicar sobre si um pouco de amarelo, preto e branco. É por isso que encontramos onças pretas e onças pintadas.
As aves escolheram para si uma caixinha que continha as cores do arco-íris, de modo que cada espécie usou as sete cores, mas de conformidade com o gosto próprio. Umas usaram apenas duas cores, outras três ou quatro, e assim por diante. Os beija-flores esmeraram-se na coloração. O chefe dos urubus optou por uma caixinha preta, dizendo que deveriam usar uma cor básica, e todo o grupo seguiu-o. Certa ararinha ficou maravilhada com uma caixinha, que trazia um primoroso tom de azul, e escolheu-a para si, ficando com o nome de ararinha-azul. O tucano foi logo procurando cores chamativas: vermelho, amarelo, azul, verde e preto, cada espécie fazendo sua própria escolha, na maior democracia.
O Espírito Criador alegrava-se com o entusiasmo dos animais, qualquer que fosse a sua classe (mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios ou artrópodes), todos escolhendo, democraticamente, suas cores. E isso demorou luas e luas, pois havia tantos bichos na floresta que pareciam não acabar mais. Vez ou outra, uma espécie resolvia adicionar, ao pelo ou à plumagem, alguns matizes, enchendo-se ainda mais de belezura. E o Espírito Criador ali, na maior paciência, zelando para que todos saíssem satisfeitos. Se por acaso acabava uma caixinha com alguma cor, imediatamente era reposta. A mesma coisa foi feita com os animais aquáticos.
É por isso que os bichos são cheios de formosura, primor e perfeição.
Nota: imagem copiada de www.deccolar.com.br
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