Veronese – AS BODAS DE CANAÃ

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Paulo Veronese (1528-1588) foi um importante pintor italiano de finais do Renascimento. A composição As Bodas de Canaã é uma representação bíblica do artista, pintada para o refeitório do Convento de São Jorge Maggiore em Veneza, sob encomenda dos monges beneditinos. O pintor gostava de trabalhar com o tema do banquete ou jantar, como mostram muitas de suas pinturas. Ele contextualizava os acontecimentos religiosos no luxuoso cenário da Veneza do século XVI.

A pintura que alude à transformação da água em vinho possui cerca de 130 personagens e mostra um suntuoso banquete. Estão presentes pessoas com vestimentas coloridas e exóticas e também servos, anões, animais de estimação, etc. À primeira vista parece reinar uma grande confusão visual, até que os olhos acostumem-se com a tela, podendo extasiar-se diante dos mínimos detalhes que não escaparam ao pincel do artista.  Chama a atenção as toalhas bordadas e a prataria luxuosa, assim como a arquitetura clássica. A obra apresenta uma bela vista panorâmica, onde se descortinam palácios, campanários e varandas, tendo ao fundo um céu azul com nuvens brancas. Além de mostrar grande interesse pela arquitetura, o pintor na sua série de pinturas bíblicas e na qual também se inclui “Banquete na Casa de Levi”, mostra a vida de opulência dos palácios venezianos à época.

A festa de casamento é celebrada numa praça pública, ladeada por imensas colunas caneladas, cobertas por capitéis coríntios. Em primeiro plano está uma imensa mesa em forma de U, onde se encontram os convidados. Atrás desses, em segundo plano,  está uma varanda alta por onde trafegam os servidores, carregando pratos e bandejas, tendo acesso à mesa do banquete através de duas escadas laterais. Na parte central do primeiro plano Jesus Cristo, ladeado por sua mãe e discípulos, preside a mesa. Ele tanto ocupa o centro dessa como o centro da tela. Uma auréola indicando sua divindade distingue-o, juntamente com Maria, dos demais convidados. Também estão representados na pintura os monges beneditinos e clientes do pintor luxuosamente vestidos.

Um grupo de músicos ocupa a parte central do quadro, postados de costas para Jesus. Veronese mescla personagens bíblicos com pessoas da época. Inclusive, segundo boatos surgidos no século XVIII, o próprio artista encontra-se representado na obra, vestido de branco e tocando uma viola de gamba. Ainda segundo essa mesma lenda, Ticiano seria o homem de vermelho a tocar um violoncelo, ali também se encontrando Tintoretto e Bassano. Ou seja, os “quatro grandes” artistas da pintura de Veneza aparecem no papel de músicos. Como é comum às obras do pintor, ali também se encontram cães, pássaros (inclusive um periquito seguro por um anão à esquerda) e um gato.

Um quadro do tamanho deste exigia muitas pessoas para ajudar o pintor. Além de seus aprendizes e pintores anônimos, Veronese contou com a ajuda de um sobrinho e de seu irmão Benedetto Caliari. Esse último serviu também de modelo, sendo ele o homem suntuosamente vestido que levanta uma taça de vinho e o examina. Os convidados presentes à festa não parecem perceber a transformação da água em vinho, preocupados em comer e divertir-se. Apenas alguns poucos parecem dar conta do milagre, pois o lado espiritual é suplantado pelo terreno.

Chama a atenção o grupo de ajudantes na varanda, destrinchando carne, ação que também simboliza o sacrifício do cordeiro. O vasilhame da festa é feito de cristal, ouro e prata. Cada convidado tem acesso individualmente a garfo, faca e guardanapo. Uma das damas, à esquerda, limpa os dentes com um palito de ouro. Os marmelos, servidos como sobremesa, simbolizam o casamento. Muitas das pessoas em volta da mesa estão suntuosamente vestidas, sendo algumas vindas de outras terras, como mostram suas vestimentas. Curiosos, de suas varandas, observam o desenrolar da festa.

Na sua pintura Veronese faz uso de vários pigmentos vindos do Oriente, como vermelhos fortes, lápis-lazúli e diversos tons de amarelo-laranja. Com o tempo as cores foram se apagando, mas através de uma restauração que durou três anos, elas foram recuperadas. Apesar do tamanho da tela, as tropas de Napoleão, durante campanha na Itália em 1797, sob seu comando, enrolaram-na e enviaram-na para Paris, onde se encontra até os dias de hoje.

Ficha técnica
Ano: 1562/1563
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 677 x 994 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Tachen
Varonese/ Abril Cultural
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Mil obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.louvre.fr/en/oeuvre-notices/wedding-feast-cana

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