Autoria de Lu Dias Carvalho
Parmigianino e todos os artistas do seu tempo, que procuraram deliberadamente criar algo novo e inesperado, mesmo à custa da beleza “natural” estabelecida pelos grandes mestres, foram, talvez, os primeiros artistas “modernos”. (E.H. Gombrich)
A composição intitulada Virgem do Pescoço Longo, também conhecida por Madonna e Criança com os Anjos e São Jerônimo, ou ainda Madona do Colo Longo, é uma obra do pintor italiano Parmigianino (1503-1540), cujo nome original era Girolamo Francesco Maria Mazzola. Ele teve uma vida muito breve. Recebeu influência de Correggio, Rafael e Michelangelo. Além de criar retratos e pinturas mitológicas, também pintou afrescos e fez desenhos preparatórios de pinturas. Chama a atenção em suas obras a elegância das figuras e suas dimensões alongadas.
Esta pintura foi encomendada por Elena Bejardi, como um retábulo para adornar a capela privada da família na igreja de Santa Maria dei Servi em Parma. É tida como uma das mais importantes obras do Maneirismo italiano e a mais importante do artista. Apresenta a Virgem Maria com seu Menino nos braços, tendo seis anjos à sua direita. O Menino Jesus, nu, dorme candidamente no colo da mãe, trazendo os bracinhos abertos em forma de cruz e as perninhas separadas. Ele se mostra um pouco crescido, repassando-nos a sensação de que poderá cair do colo de sua mãe.
A Virgem com seu pescoço alongado — parecido com o de um cisne — mostra-se alegre. Está elegantemente vestida, sentada num alto pedestal. Seu vestido colado ao corpo mostra o formato de seu seio esquerdo e do umbigo, enquanto seu manto azul apresenta grande volume. Seu tamanho é quase sobrenatural. Os cabelos estão penteados e ornados com um aro de pérolas. Traz a cabeça levemente voltada para a direita, enquanto os olhos baixos fitam seu Menino. A mão esquerda sustém a criança pelos ombros e costas, enquanto a direita toca o próprio peito, como se dissesse que Jesus ali se encontra.
As mãos da Virgem são finas e os dedos alongados. Seu pé direito descansa sobre duas almofadas — uma azul e outra vermelha —, enquanto o esquerdo apoia-se no patamar do pedestal. Os seis anjos, amontoados num pequeno espaço à esquerda, adoram o Menino. Possuem tamanhos variados. Do pequenino anjo — ainda inacabado — visto debaixo do cotovelo direito da Virgem, só se vê a carinha. Um deles tem nas mãos um enorme vaso no qual se vê a sombra de um crucifixo, numa referência ao futuro da Criança. O anjo que se encontra atrás, olhando para o observador, traz semelhanças com o pintor da obra.
Ao fundo, em segundo plano, ergue-se uma coluna branca que dá a impressão de profundidade e serve de sustentação para o grupo principal. Também pode aludir à “coluna de marfim” que Maria representa. À direita, entre a Virgem e a coluna, vê-se a figura diminuta de São Jerônimo, associado à adoração da Virgem, segurando um pergaminho desenrolado, lembrando uma estátua romana. Sua altura não chega ao joelho esquerdo de Maria.
O artista alongou as proporções do corpo da Virgem propositalmente, assim como outras figuras apresentadas na composição. Seu objetivo era apresentar formas particularmente alongadas porque, para afirmar duplamente o seu efeito, fez uso de uma coluna com um formato estranho, situada em segundo plano. Ao espalhar as figuras pela obra, o artista foge da harmonia tradicional, que era a de espalhar os personagens em volta da Virgem. Os anjos estão espremidos num pequeno espaço à direita da Madona, enquanto do seu lado esquerdo é possível ver uma paisagem ao fundo.
Segundo o Prof. E. H. Gombrich, “O pintor quis mostrar que a solução clássica da perfeita harmonia não é a única solução cabível — que a simplicidade natural é uma forma de realizar beleza…. O caminho adotado por ele e todos os outros artistas de seu tempo, que procuraram deliberadamente criar algo novo e inesperado, mesmo à custa da beleza ‘natural’ estabelecida pelos grandes mestres, talvez tenham sido eles os primeiros artistas modernistas”.
Obs.: O desenho da pintura foi baseado em hinos medievais de louvor à Virgem que comparam o seu pescoço com uma grande coluna de marfim, onde se apoia a Igreja de Deus. Esta obra está inacabada, como mostra a cabecinha careca do Menino em razão da morte prematura do pintor.
Ficha técnica
Ano: c. 1534-1540
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 216 x 132 cm
Localização: Galleria deglu Uffizi, Florença, Itália
Fontes de pesquisa
A Enciclopédia dos Museus/ Mirador
A História da Arte/ Gombrich
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
http://www.artble.com/artists/parmigianino/paintings/madonna_with_the_long_neck
http://www.visual-arts-cork.com/famous-paintings/madonna-with-the-long-neck.htm
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Lu,
A presença de recém-nascidos é uma constante em várias obras, certamente encomendas por nobres ricos ligados às suas futuras gerações. Quase todas as obras são revestidas de beleza e espiritualidade.
Antônio
O recém-nascido era o Menino Jesus. A Virgem Maria era sempre representada junto ao filho, o que dava essa espiritualidade de que fala às obras.
Abraços,
Lu