Autoria de Lu Dias Carvalho
Na Exposição dos Artistas Independentes, no ano de 1894, A Guerra, obra do Sr. Rousseau foi certamente a tela mais notável. Esta imagem representa uma tentativa corajosa de criar um símbolo. Por que a estranheza daria lugar à zombaria? Monsieur Rousseau encontrou o destino de todos os inovadores. Ele continua ao longo de seu próprio caminho e tem o mérito, raro hoje, de ser completamente ele mesmo, tendendo para uma nova arte. Seria desonesto sustentar que o homem, capaz de sugerir tais ideias para nós, não é um artista. (Louis Roy)
A composição A Guerra é uma obra do pintor francês Henri Rousseau. Trata-se de um quadro de grandes proporções, no qual o artista expõe sua visão sobre a guerra, como deixa claro no subtítulo: “A guerra assustadora deixa um rastro de desespero, lágrimas e destruição.”. Esta obra foi exposta no Salão dos Independentes, no ano de 1894, granjeando sarcasmo em razão pela temática chocante, mas também entusiasmo, em razão da independência de estilo de seu criador.
No chão pedregoso e em meio a duas grandes árvores e a outras menores, algumas delas enegrecidas, como se estivessem carbonizadas, jazem inúmeros corpos deformados e outros moribundos. Ocupam as mais diferentes posições e possuem distintas tonalidades, amontoados uns sobre os outros. A árvore cinza, à direita, com o seu tronco aberto, parece ter tido um dos seus galhos destroçado por um raio apocalíptico. Ela se inclina para dentro da composição.
À esquerda escorre sangue de um coto de braço. A seu lado, sobre uma cabeça de cabeleira amarela, um corvo traz no bico um pedaço de carne vermelha que tanto pode ter sido retirada do coto quanto do corpo ensanguentado a seu lado. Na altura da cauda da ave vê-se um braço levantado, trazendo o punho cerrado. Ao fundo, à direita, a terra parece tragar um corpo, do qual ainda se pode ver duas pernas com botas. Quatro corvos famintos banqueteiam-se com os corpos, pois eles são os faxineiros da natureza.
A maioria das cabeças humanas está voltada para o centro da composição. Observando a pilha de corpos, seis rostos estão voltados para o observador. Um deles encontra-se, ocultamente, no triângulo formado pelas pernas do homem de calças escuras e torso nu em primeiro plano, na parte inferior, próximo ao centro da tela. O corpo quase translúcido de um homem, com densos bigodes e barba, está de barriga para cima, como se fitasse o céu. Uma gralha repousa sobre seu peito. Estranhamente um corpo à direita e em primeiro plano parece ter o rosto de perfil, embora nele não se encontrem traços fisionômicos. Um corvo nele repousa.
Acima da aniquilação paira uma figura humana, usando um vestido branco com franjas, montada em seu cavalo. Ela traz na mão direita uma espada, apontada para cima, e na esquerda segura uma tocha da qual parte um extenso canudo de fumaça. Seus cabelos são parecidos com a crina e o rabo do cavalo. Sua posição no animal é estranha, pois parece levitar ao lado dele, tendo as duas pernas à vista. Estaria ela tomando posse do território? Seria uma deusa romana da morte e da destruição ou um anjo vingador?
O cavalo é um ser bizarro, sem olhos, com a cabeça parecendo com a de uma cobra que se posta na tela horizontalmente, sem tocar o chão. Suas patas dianteiras e traseiras estão voltadas para fora, como se ele estivesse voando. Seus cascos cinzas com a base branca brilham. Sua crina e cauda eriçadas formam uma única linha com seu lombo. Em volta as árvores, com seus galhos nus, parecem formar uma trama diabólica. Densas nuvens cor-de-rosa num céu azul parecem sinalizar um incêndio.
Esta obra de Rousseau, na qual impera a violência e a morte, mais se parece com alucinações sobre o fim do mundo.
Ficha técnica
Ano: 1894
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 114 x 195 cm
Localização: Museu d’Orsay, Paris, França
Fontes de pesquisa
Rousseau/ Editora Taschen
http://www.theartstory.org/artist-rousseau-henri-artworks.htm
https://desperadophilosophy.net/tag/henri-rousseau-la-guerre/
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