Autoria do Prof. Rodolpho Caniato
Talvez o assunto do cangaço e as bárbaras proezas de “Lampião” tenham sido mais insistentes e frequentes durante minha infância no Rio. Era muito frequente o comentário sobre as tentativas das “volantes” em capturar o “bando” que atemorizava e, muitas vezes, barbarizava especialmente os fazendeiros do Nordeste.
Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, com sua companheira Maria Bonita sempre escapavam e levavam “a melhor” no confronto com as patrulhas do exército. Isso trazia não só intranquilidade como deixava visível a miséria do Nordeste. Lampião, para muitos, era uma espécie de “Robin Hood” tropical diante da pobreza e degradação nordestina na época dos grandes fazendeiros, os “coronéis”.
Esses episódios trágicos contribuíram para pôr em evidência a pobreza, a violência e a miséria reinantes numa grande região do Brasil, o Nordeste. Foram muitos anos de escaramuças entre o bando de “cangaceiros” e as “volantes”. Lampião e seu bando sempre levavam “a melhor”.
Finalmente uma patrulha, graças a uma delação, conseguiu emboscar e derrotar o grupo de Lampião. Toda a liderança do grupo foi morta e decapitada. Lembro-me da fotografia de jornal em que apareceram todas as cabeças, cortadas e expostas numa tábua como “prateleira”, de Lampião, Maria Bonita e de seus “cangaceiros”. Era um golpe fatal no cangaço que havia aterrorizado o Nordeste durante as primeiras décadas do século XX. Essa foi uma, sem dúvida a principal e mais chocante, das notícias que vi e de que me lembro, pouco antes que nossa mudança deixasse, por anos, o Rio de Janeiro, em 1938.
Nota: Extraído do livro “Corrupira”, ainda inédito, do autor.
Imagem: Cangaceiro, obra de Portinari
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