Delírio de grandeza e ilusão de poder são sinônimos. (Júlio César Waiz)
Pensar e imaginar significa, para o neurótico, agir. Esta suposição e descolamento entre pensamento e ato sustentam imperiosamente o sofrimento psíquico, a dor e o grande desgaste de energia mental para conter essa junção que produz temores à pessoa. (Júlio César Waiz)
O primeiro nome dado ao Transtorno Bipolar foi o de “Psicose Maníaca Depressiva”, o que, convenhamos, era uma denominação amedrontadora, que tornava o estigma da doença ainda mais contundente. Portanto, não causa espanto que, a partir de 1980 e em razão das muitas críticas recebidas, tenha passado a chamar “Transtorno Afetivo Bipolar” ou simplesmente Transtorno Bipolar, como é mais conhecido. Além do mais, nem todas as pessoas vitimadas pelo transtorno apresentam estados psicóticos com alucinações ou delírios.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) caracteriza o Transtorno Afetivo Bipolar como a sexta causa de incapacidade para o trabalho e a terceira entre as doenças mentais, abaixo apenas da “Depressão Maior Unipolar” e da “Esquizofrenia”. Pesquisas também mostram que é a doença mental que mais leva a tentativas de suicídio, devendo, portanto, ser levada a sério pelas pessoas em derredor do doente.
Ao vivenciar a fase maníaca, o portador de Transtorno Bipolar entra num período de euforia exacerbada e de felicidade incontida, emoções bem diferentes daquelas que as pessoas ditas “normais” sentem ao alcançar ou vivenciar algo que as deixa feliz. Isso se dá em razão da visão distorcida que o doente bipolar tem da realidade. Ele vive o seu pensamento idealizado como se esse fosse real. As coisas não são como são, mas como ele as imagina e ponto final.
É exatamente isso que muitas pessoas à sua volta não conseguem entender. Acham que apenas o aconselhamento irá mudar os fatos, o que se trata de um grande engano. Podem fazer mil e uma pregações e obter o mesmo número de assentimentos, mas sem o medicamento não há saída. O doente bipolar precisa de medicação.
A ilusão de grandeza e de poder é uma das situações pelas quais passa o portador do Transtorno Bipolar e isso acaba por ocasionar-lhe inúmeros problemas, acirrando ainda mais a sua doença. Nesta fase, a pessoa tende a comprar compulsivamente, sem nenhuma necessidade ou preocupação com gastos, baseando-se apenas na ilusão de poder que lhe passam seus pensamentos totalmente desconectados com a realidade. Como a ilusão que carrega não é capaz de suprimir a realidade, ela acaba contraindo mais dívidas do que pode pagar, trazendo mais problemas para a sua vida e para a das pessoas com as quais convive.
Pesquisas mostram que quanto mais a pessoa estiver mentalmente afetada pelo transtorno bipolar, maior é a sua ilusão de poder, sempre achando que pode controlar tudo. A sua concordância, porém, é feita de acordo com sua imaginação e não com a realidade exterior. Somente ao aceitar o tratamento medicamentoso e psicoterápico, o doente será capaz de preservar sua autoconsciência, compreendendo quais são seus limites e possibilidades.
Nota: Interior com Garota, obra do artista espanhol Pablo Picasso.
Fonte de pesquisa
Grandes Temas do Conhecimento – Psicologia/ Mythos Editora
Views: 37
Lu
Podemos viver as nossas vidas descoladas da maioria dos ditames opressivos da modernidade sem sofrer nenhum prejuízo. Basta para isso nos lembrarmos de que nada excede o valor de estarmos bem. Nossos sentidos funcionando. E em paz. O resto são detalhes. Mas não, criou-se a falsa ideia, tanto difundida como impregnada no caráter de muitos, de que somos aquilo que temos. Entretanto, o poder não acrescenta NADA, mas dá a falsa sensação de que o que é exterior, e que não pode enriquecer o ser, de fato nos torna superior. Afinal, disso vive o mercado. Dar às pessoas a ilusão de grandeza.
Os que caem nessa armadilha, diante dos desencontros, contratempos e desgastes naturais da existência, logo descobrem que as glórias apregoadas pelo sistema como protótipos de poderes, NADA podem acrescentar à parte mais recôndita do nosso ser, que se alimenta basicamente de amor, quer de ricos ou de pobres. Logo, convém às sofisticações a simplicidade. Quanto mais rebuscado o bem ou a posse maior a tendência de nos acharmos diferentes dos demais. Quando na verdade somos iguais. Por mais poder que nos iludamos ter. E um dos jeitos que a vida encontra para nos convencer disso é quando nos permite envelhecer.
Vão-se as forças, o viço, a agilidade. Voltamos a ser crianças. Dependentes dos outros que muitas vezes desprezamos. Se houvesse algum poder em nós, de fato reteríamos o que existe de mais precioso: o vigor do corpo, a explosão dos movimentos rápidos e ágeis, o raciocínio veloz produzido por mente cheia de alegria e proativa. Ao invés de enfado, cansaço e limitações várias. Não é melhor uma trajetória de humildade e de aceitação de que somos menos do que o vapor? Isso pelo menos nos pouparia de comentários irônicos como: – Mas não era esse ser o exemplo acabado de soberba e arrogância, e de pretensos dotes de cultura, riquezas e poderes? Como agora rés ao chão jaz corroído pelas misérias das prostrações? Sem o que ou quem lhe valha? Para os que conseguem envelhecer, porque ocorre desses encontros crus e amargos se darem quando se pensa dominar e reter o que nos esvai inexplicavelmente.
Ugeninelson
Suas palavras são sábias. Está coberto de razão em tudo que disse. Comungo com você as suas ideias.
Abraços,
Lu