O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental. Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre a necessidade de evitar o estresse.
Chama-se relaxamento o estado oposto à tensão, isto é, a ausência de contrações e esforços. Estando relaxados os músculos, os nervos que os comandam não transmitem mensagem alguma. Inativos, feito fios elétricos desligados, por eles não transitam impulsos, possibilitando, assim, repouso aos centros nervosos. Nesta condição, os reflexos se acalmam. O corpo fica igual a um aparelho elétrico desligado da corrente. Relaxar é remédio eficaz.
Sem pertinaz treinamento não é possível relaxar. Digo-o para que o neófito, necessitado de boa-fé, não venha a se desanimar perante as dificuldades iniciais que vai encontrar. A prática conjugada de técnicas predisponentes ao relaxamento é a maneira que descobri de ajudar alunos a vencer tais dificuldades. A contribuição das outras frentes yogaterápicas (filosófica, psicológica, fisiológica e moral) ainda mais facilitará a redução do eretismo generalizado da pessoa tensa e necessitada de repouso. Relaxar-se afrouxar. E desligar-se. É abandonar-se. É derramar-se passivamente. Ausentar-se por uns instantes da ansiedade e da luta. Relaxar é economizar esforços. É despojar-se da normal e eficiente estressora autoafirmação. Relaxar é gozar repouso. É amolecer-se. É desfrutar os inefáveis prazeres do fazer absolutamente nada.
Para um neurótico inquieto e ansioso, relaxar é difícil. Representa um ato de coragem, de crença, de segurança que ele exatamente não tem. Entregar-se todo, sem restrições, sem preocupação com um sistema de segurança é difícil para ele que vive exausto, em guarda, a defender-se de misterioso e supostamente presumível assalto. Ele não consegue, com facilidade, mandar dormir todas as sentinelas que tem colocado ao redor para sua defesa. Se ele conseguir aprimorar a arte de relaxar-se, consequente e simultaneamente estará se libertando da neurose. Estará vencendo o medo, acalmando a ansiedade, ganhando coragem e estímulos de vida.
Os centros da base do cérebro, principalmente o hipotálamo, têm a seu cargo a regulação das funções vegetativas, isto é, aquelas como a digestão, tensão sanguínea, ritmo cardíaco, assimilação e muitas outras que nos fogem ao controle voluntário. Tais centros, por muitas causas e razões, inclusive a fadiga, a toxidez, traumas psíquicos, perturbam-se em seus deveres e passam a emitir comandos neurais bem disparatados e impróprios, mercê de verdadeiros curtos-circuitos ou ligações anômalas, provocando, assim, mil e um transtornos funcionais, não obstante os órgãos estejam normais. Estas ligações errôneas podem ser corrigidas. Mas a vida de tensão, ao contrário, dá-lhes condições de ser. Reativam-se. Reafirmam-se. Revigoram-se.
O relaxamento pode apagar tais sulcos, desfazer tais ligações, corrigir os defeitos instalados nesses centros nervosos. A dose diária de minutos de inatividade por relaxamento, pouco a pouco, não só reduzirá os efeitos, mas suas próprias causas. De maneira semelhante, o relaxamento atua sobre a glândula hipófise, a maestrina de todo sistema endócrino e, assim, consegue fazer as demais glândulas retomarem o ritmo de saúde.
Não é apenas sobre os centros de comando neuro-hormonal que o relaxamento atua, corrigindo-os. Age também sobre os músculos, glândulas, vísceras e órgãos sobre os quais tais centros exercem comando. Quando em relaxamento, um órgão comporta-se como um soldado dormindo e, assim, não cumpre a ordem estapafúrdia de um superior hierárquico meio perturbado. Em outras palavras, os tecidos em estado de yoganidra (letargia) não reagem aos comandos anormais e perturbadores. Ficam quase inertes e amolecidos. E, assim, os sintomas não conseguem se manifestar.
*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google (ver na página 259 do livro a descrição de várias técnicas de relaxamento).
Nota: imagem copiada de Depositphotos
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