Autoria de Lu Dias Carvalho
A obra acima é uma página do saltério intitulado Saltério da Rainha Mary criada por um artista desconhecido em c. 1310. Na Idade Média um saltério era também um livro de orações, conhecido como “Livro de Horas”. Era muito propagado e tinha por objetivo ensinar as pessoas a ler, no entanto, era de posse de leigos ricos. Segundo o Prof. Pierre Santos (crítico de Arte):
“Nos saltérios eram também registrados cânticos do Novo e do Antigo Testamento, Ladainhas de Todos os Santos e Ladainhas gerais, músicas devocionais de reza coletiva, etc. Os monges copistas foram se especializando cada vez mais, a ponto de criarem, para valorização dos textos, riquíssimas iluminuras ornamentais e ilustrativas que todas as páginas passaram a ser iluminadas até com sofisticação, havendo desenhos que atingiram o nível de sublimes obras de arte. Quando incluso numa bíblia, o saltério ocupava sempre a parte central, significando o momento de descanso, relaxamento e enlevo, tal a sutileza dos salmos em face do caráter sisudo do texto bíblico”.
O saltério em questão apresenta uma cena passada no Templo onde Jesus Cristo explica aos sábios escribas, alguns pontos da doutrina cristã. Ele se encontra sentado sobre uma pilastra. Usa um gesto próprio dos artistas medievais ao representar um professor. À sua frente estão os doutores da lei com as mãos erguidas, estupefatos com a sabedoria do menino e também cheios de admiração. Atrás de Jesus estão seus pais, Maria e José que se entreolham encantados com o saber do filho. Maria traz um livro na mão esquerda (simbolizando sua sabedoria), enquanto José é representado bem idoso, segurando um cajado. Nos nichos à esquerda e à direita são representados seis profetas.
O modo como a história está sendo contada é meio irreal. É provável que o artista ainda não tivesse tomado ciência das inovações do pintor italiano Giotto di Bondone, responsável por mudar totalmente uma cena. Vejamos abaixo algumas inconsistências na obra acima.
- A passagem sobre Cristo no Templo, segundo a narrativa bíblica, aconteceu quando ele tinha 12 anos de idade, porém aqui ele se parece com um bebê, se comparado às demais figuras.
- Não existe a ideia de espaço entre os personagens presentes na cena.
- As cabeças masculinas obedecem a um mesmo padrão de desenho (bocas caídas, sobrancelhas arqueadas e cabelos e barbas encaracolados).
- Uma segunda cena foi acrescentada à parte inferior da página, sem nenhuma relação com a narrativa bíblica. Trata-se de um tema relativo à vida cotidiana da época — a caça aos patos usando um falcão (falconismo).
Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
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Lu,
Não consegui ver a cena da caça.
Antônio
Eu a desmembrei da gravura, mas poderá vê-la acessando o endereço abaixo:
https://daisyaguilera.files.wordpress.com/2011/02/historiadaartecapitulo111213.pdf
Abraços,
Lu