Autoria de Lu Dias Carvalho
São Jerônimo
Embora Leonardo da Vinci não tenha finalizado a tela de São Jerônimo em todos os seus pormenores, ela impressiona profundamente o observador, pois o artista constrói admiravelmente o corpo do santo, do qual emana uma comovente piedade. Este painel, que foi pintado com um empastamento monocromático em tons de ocre, foi serrado em duas partes, mas não se sabe quando, sendo recuperado no século XIX pelo Cardeal Fesch, tio de Napoleão. Uma das partes foi encontrada num depósito de trastes e a outra, cinco anos depois, numa loja de sapateiro.
São Jerônimo é um homem solitário no deserto, com o rosto descarnado pelo jejum e penitência. Sua cabeça desprovida de cabelos, os olhos encavados, a boca com o formato de uma fenda escura e as faces magérrimas repassam um profundo sofrimento. Apesar da dor, ele apresenta uma fé inabalável, que parece se projetar para além de seus olhos.
O corpo do santo parece se projetar para a frente. O braço direito estendido traz uma pedra na mão. Trata-se do gesto que precede aquele com que o penitente golpeia seu peito. À sua frente, o leão, que domina todo o espaço no primeiro plano, agita a cauda em forma de chicote, enquanto observa o santo, o que deixa claro a amizade existente entre ambos. Ambos estão postados diagonalmente em meio à paisagem constituída de rochas.
Ficha técnica:
Obra: São Jerônimo
Data: c. 1482/1483
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 103 x 75 cm
Localização: Pinacoteca Vaticana/ Roma
São João Batista
Parte do corpo de São João Batista emerge do fundo escuro. O gesto e o seu sorriso malicioso chamam a atenção para sua figura. Sua beleza é expressiva, embora incerta. Tanto o rosto do santo, ligeiramente direcionado para a direita, quanto sua estrutura física, de onde se desprende uma beleza sensual, quase feminina, repassam uma incontestável androgenia.
A mão direita do santo está direcionada para o alto, o cotovelo situa-se próximo ao busto, fazendo uma ligeira curvatura, que transpõe seu tronco, escondendo parte da mão esquerda, que se encontra recostada a seu peito.
É incrível o talento do artista, ao fazer com que um corpo pareça emergir de uma superfície plana, como se estivesse em alto relevo, resultado obtido com o uso do claro e do escuro na pintura. O santo, embora imerso na escuridão, parece banhado por um foco de luz, com seus cabelos encaracolados e dourados, partidos ao meio, que vão ficando mais escuros à medida que descem por seu corpo.
Embora São João Batista tenha vivido no deserto, tendo seu corpo sofrido os rigores do local, Leonardo pinta-o jovem, cheio de grande beleza. Dentre os seus atributos tradicionais, a cruz de junco é o único a acompanhá-lo.
São João Batista parece surgir da escuridão para se dirigir ao observador. Com a mão esquerda aponta o próprio peito e com a direita, elevada para cima, com o indicador apontando para o alto, sinaliza que o Messias está prestes a chegar. O efeito sfumato (claro/escuro) é usado com intensidade.
Os contemporâneos de Leonardo foram atraídos pelo encanto desta obra. É uma pena que o quadro venha escurecendo com o tempo.
Ficha técnica:
Obra: São João Batista
Data: c. de 1508/1509
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 69 x 57 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris
Fontes de pesquisa:
Grandes mestres/ Abril Coleções
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Gênios da Arte/ Girassol
Leonardo/ Cosac e Naif
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