Autoria de Lu Dias Carvalho
Transformamo-nos em seres humanos quando aprendemos a pensar. Nosso cérebro nos deu os instrumentos para entender onde vivemos e quem somos. Agora chegou a hora de dar o próximo passo, de saber que vivemos não num planeta, mas entre as estrelas, e de que não somos carne, mas inteligência.(Roger Ebert)
A fascinação que a maioria de nós nutre pela quinta arte, deve-se ao fato de que os filmes abrem janelas para um mundo, muitas vezes desconhecido, oferecendo-nos a oportunidade de conhecer outras culturas, posturas e visões diferentes daquelas que possuímos. Durante o tempo de projeção de um filme, o espectador praticamente abandona o próprio corpo com seus problemas temporais, para se envolver com outras vidas, numa sintonia quase que perfeita. Contudo, os bons filmes apresentam um diferencial: tornam-nos pessoas melhores. É fato que as produções de hoje têm como objetivo um grande retorno financeiro. De modo que todo o trabalho é feito para atrair o maior número possível de pessoas, sem uma preocupação maior com a arte, o que acaba nivelando as obras por baixo.
A avaliação de um filme depende de nossa maturidade, por isso, nem sempre apreendemos o seu conteúdo num determinado tempo. Daí a necessidade de revermos os bons filmes que compõem a história do cinema. Embora não seja nenhuma crítica de cinema, mas meramente uma apaixonada pela arte e uma curiosa no assunto, quero convidar os leitores para fazermos juntos, uma viagem pelo mundo dos grandes clássicos do passado. Farei pesquisas que me ajudarão nesta empreitada e contarei, como sempre, com os ricos comentários dos participantes deste blog.
O nosso trabalho começa com a ficção científica 2001: Uma Odisséia no Espaço, obra-prima do genial diretor Stanley Kubrick, cujo roteiro foi escrito em parceria com Arthur C. Clarke, e filmado em 1968. O filme analisa a evolução do ser humano, desde os primeiros hominídeos capazes de usar instrumentos até a era espacial e para além disso, cobrindo cerca de quatro milhões de anos a.C. até o ano de 2001. Aborda a evolução humana, a influência da tecnologia no seu desenvolvimento e, sobretudo, levanta o perigo da inteligência artificial.
Ainda na pré-história da raça humana, um monólito negro cai na Terra, na savana africana, e dá indícios de que existe uma civilização interferindo no nosso planeta. Quatro milhões de anos se passam, até se chegar a 1999, quando um segundo monólito é descoberto na Lua. Geólogos, em serviço no satélite da Terra, descobrem que o monólito emite alarmantes sinais de ondas curtas para o planeta Júpiter. Embora o filme não deixe claro, tem-se a impressão de que extraterrestres são os responsáveis pelos acontecimentos.
Em 2001, dois anos depois, uma equipe internacional, sob o comando dos astronautas David Bowman e Frank Poole, é enviada ao planeta Júpiter, na nave Discovery, numa primeira missão fora da Terra, com o objetivo de investigar quais são as intenções dos supostos alienígenas. Mas a nave é controlada pelo computador inteligente denominado HAL 9000, que se transforma num importante personagem do filme, quando, no meio da viagem, sofre uma pane, ficando descontrolado. Tenta assumir o controle da nave, eliminando os tripulantes um a um, e se torna o maior vilão do filme. Quase destrói a nave ao tentar matar Bowman, que sobrevive e desliga HAL 9000.
O astronauta David Bowman faz contato com outro monólito na órbita de Júpiter, atravessa com ele um túnel “cheio de estrelas” através do tempo e do espaço, para envelhecer, morrer e renascer numa nova fase da existência, no futuro da Terra.
Em 2001: Uma Odisséia no Espaço, o diretor levanta questões, mas as deixa em aberto, para que o telespectador chegue às suas próprias conclusões. À frente da humanidade são colocadas indagações sobre o futuro e o Universo, bem condizentes com o tempo em que vivemos, quando a interação entre homem e máquinas é cada vez maior. Seria a criatura capaz de destruir o seu criador? É o primeiro filme a levantar a hipótese da inteligência artificial.
Vejamos algumas passagens especiais:
• A chegada da nave à estação espacial é acompanhada com a valsa Danúbio Azul (Johann Strauss). A música lenta mostra, com perfeição, a morosidade que a nave precisa para aterrissar, com manobras cautelosas, sem falar que no espaço, pela falta de gravidade, tudo se passa como em câmara lenta. O espectador sente-se como se estivesse observando o espaço sideral. A grandiosidade da música passa a importância do momento em que uma nave espacial acopla à estação espacial.
• Mais adiante, o diretor utiliza a música Assim Falou Zarathustra (Richard Strauss). A sua importância está associada à primeira tomada de consciência do homem em relação ao Universo, numa visão filosófica sobre sua posição nele.
• A cena com os macacos pré-históricos, ao serem confrontados com o misterioso monólito negro é magistral. Eles apreendem que ossos podem ser utilizados como armas. Descobrem, assim, as primeiras ferramentas.
• O homem é confrontado com o monólito, assim como aconteceu com os macacos e chega à mesma conclusão: Isto é obra de alguém! Assim como o primeiro monólito conduziu à descoberta de ferramentas, o segundo conduz ao uso da mais elaborada ferramenta humana: a nave espacial Discovery, manipulada pelo homem com a ajuda da inteligência artificial do computador de bordo HAL 9000.
• Durante a viagem, tudo transcorre rotineiramente dentro da nave. HAL quebra um pouco a rotina ao jogar xadrez com os tripulantes. Há um momento em que os astronautas mostram-se preocupados com a possibilidade de ter ocorrido uma falha no sistema de HAL, pois ele foi programado para acreditar que não pode permitir que a missão entre em perigo. Os astronautas tentam conversar confidencialmente, sem que o computador tenha conhecimento do assunto. Mas, enquanto falam reservadamente, HAL faz leitura de lábios e se informa de tudo. E “entra” em pânico com medo de ser desligado.
• O filme possui pouquíssimos diálogos e esses têm apenas a intenção de mostrar que as pessoas se interagem, pois a personagem principal é a própria humanidade, passando com sucesso de Homo Sapiens ao que Bowman se transforma. A complexidade técnica da obra deixa o espectador assombrado, principalmente quando se sabe que na época ainda não havia computadores para trabalhar com os efeitos especiais.
• O espectador deve ficar atento para as cenas: a moça que sai, em rotação, de cabeça para baixo por uma das portas da nave; a caneta flutuante; a academia rotacional; o túnel de luz; o osso atirado para o espaço, considerado o mais longo flash-forward do cinema; o banheiro com gravidade zero; a cena em que HAL lê os lábios; o impecável trabalho de mímica; a maquiagem fantástica para a época; o alinhamento do Sol e da Lua diretamente na beirada do monólito; a valsa orbital na estação espacial e o pouso da nave; o habitat circular da tripulação da Discovery, etc.
• 2001: Uma Odisséia no Espaço foi indicado em quatro categorias para o Oscar: Melhor Diretor, Direção de Arte, Roteiro Original e Efeitos Especiais. Ganhando a última.
• Embora possa parecer contraditório é HAL que mostra os melhores sentimentos, quando apela por sua vida e diz “Daisy”.
• Cada cena do filme é um espetáculo à parte, acompanhada por uma trilha sonora composta por música clássica, cujo duo transporta-nos ao sublime.
• É fato que o filme exige muita atenção para ser entendido. E o nosso trabalho fará com que seja mais facilmente compreendido. A título de história, conta-se que o ator Rock Hudson deixou a sua poltrona antes de terminar o filme, reclamando alto: Alguém pode me dizer do que se trata isso? Ou seja, não entendeu bulhufas.
Apesar dos mais de 40 anos de seu lançamento, 2001: Uma Odisséia no Espaço é tão atual como antes. Continua sendo uma obra de ficção científica atual, que ainda é discutida em qualquer lugar, onde se fala sobre obras primas do cinema. É um filme a frente de seu tempo, pois, na época em que foi feito, o homem ainda não havia pisado na Lua. Fato que se daria um ano após o seu lançamento. A preocupação do diretor foi a de levar as pessoas a refletirem sobre a história da humanidade, desde seus primórdios aos dias de hoje. É um filme que merece ser visto com muita atenção e mais de uma vez.
Segundo o crítico americano de cinema, Roger Ebert, 2001: Uma Odisséia no Espaço nos ensina que:
Fontes de pesquisa:
A Magia do Cinema/ Roger Ebert
Wikipédia
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