HIPÁTIA – 1.ª MULHER INTELECTUAL DA HISTÓRIA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos. Com um grande autocontrole e descontração, que obteve como consequência do cultivo da sua mente, não raras vezes aparecia em público, na presença dos magistrados. Nem se coibia de comparecer numa assembleia de homens. Pois todos os homens a admiravam ainda mais devido à sua extraordinária dignidade e virtude. (Sócrates)

Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo, a todos os que a quisessem ouvi-la… Os magistrados costumavam consultá-la em primeiro lugar, para administração dos assuntos da cidade. (Hesíquio)

Hipátia distinguiu-se na matemática, na astronomia, na física e foi ainda responsável pela escola de filosofia neoplatônica – uma extraordinária diversificação de atividades para qualquer pessoa daquela época. Nasceu em Alexandria em 370. Numa época em que as mulheres tinham poucas oportunidades e eram tratadas como objetos, Hipátia moveu-se livremente e sem problemas nos domínios que pertenciam tradicionalmente aos homens. Segundo todos os testemunhos, ela era de grande beleza. Tinha muitos pretendentes, mas rejeitou todas as propostas de casamento. A Alexandria do tempo de Hipátia – então desde há muito sob o domínio romano – era uma cidade onde se vivia sob grande pressão. A escravidão tinha retirado à civilização clássica a sua vitalidade, a Igreja Cristã consolidava-se e tentava dominar a influência e a cultura pagãs.”(Carlos Sagan, em Cosmos)

Ao analisar a magistral composição de Rafael Sanzio, A Escola de Atenas, o Prof. Pierre Santos assinala que Hipátia foi a primeira mulher intelectual registrada pela História. Pela análise do quadro, onde se encontram as cabeças mais celebradas da época, causa espanto a presença de uma mulher. E, para que ela ali se encontrasse, deve ter sido de fato um grande expoente do saber, a ponto de passar pelo filtro do machismo em vigor, cujos resquícios ainda predominam nos nossos dias. Portanto, nada como fazer uma homenagem a essa grande mulher, que viveu num passado tão longínquo.

Hipátia (ou Hipácia), matemática e filósofa neoplatônica, e também versada em religião, astronomia e artes, viveu em Alexandria, no Egito, entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. Mais tarde tornou-se professora e, posteriormente, diretora da Academia de Alexandria. Vinha de uma família culta, tendo por pai Theon, um famoso filósofo, matemático e astrônomo que foi professor e diretor do Museu de Alexandria. O pai tinha uma grande paixão por ela, repassando-lhe as mais diferentes formas de conhecimento, além de despertar na filha a busca pelo saber, sem jamais aceitar respostas prontas. Era também submetida a uma rígida disciplina, com o intuito de alcançar o ideal helênico que se traduzia numa mente sã em um corpo são. Juntamente com o pai, ela escreveu um tratado sobre o professor e matemático Euclides.

Hipátia fez opção por não se casar. E, se lhe perguntavam por que não contraíra matrimônio, ela respondia que seu compromisso era com a verdade. Sua fama era tamanha que vários matemáticos buscavam-na para ajudá-los na solução de problemas complexos, pois ela era obcecada pela demonstração lógica. E, embora vivesse num ambiente em que predominava o cristianismo, Hipátia não se deixou sensibilizar por esse, continuando pagã. A sua não aceitação da religião cristã foi tida por muito tempo, como a causa que levou a seu assassinato. Porém, estudos mais recentes atestam que a causa foi política, ou seja, ela fazia parte da luta pelo domínio de Alexandria. Assim, Sócrates, o Escolástico, relata a sua morte:

Numa tarde de março de 415, quando regressava do Museu, Hipátia foi atacada, em plena rua, por uma turba de cristãos enfurecidos. Ela foi arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja, onde foi cruelmente torturada até a morte. Depois de morta, o corpo foi lançado a uma fogueira. A sua morte foi um crime político provocado por conflitos persistentes que se faziam sentir em Alexandria. (Maria Dzielska, em Hipátia de Alexandria)

“Meu coração deseja a presença de vosso divino espírito que mais do que tudo poderia adoçar minha amarga sorte. Oh minha mãe, minha irmã, mestre e benfeitora minha! Minha alma está triste. Mata-me a lembrança de meus filhos perdidos… Quando receber notícias tuas e souber, como espero que estás mais feliz do que eu, aliviar-se-ão pelo menos a metade de minhas dores”. (Trecho de uma carta de Sinésio de Cirene, aluno de Hipátia)

Curiosidade:
Ágora trata-se de um filme espanhol, dirigido pelo cineasta Alejandro Amenábar, lançado na Espanha em 2009, relatando a vida da filósofa Hipátia. O diretor apresenta no filme uma licença romântica, criando um romance entre a personagem principal e um de seus escravos, Davus. Trata também das lutas acirradas entre cristãos, judeus e a cultura greco-romana. É interessante notar no filme o tratamento dado à mulher naquela época.

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12 comentaram em “HIPÁTIA – 1.ª MULHER INTELECTUAL DA HISTÓRIA

  1. Rui

    Lu é muito difícil dizer a verdade. A Hipátia, mente sã, mulher de grande sabedoria, incomudou muitos, pois eu sei o que é isso.Muitos não foram merecedores de sua sabedoria ímpar. Eu sou homem, mas admirador da história dessa mulher, através de seu texto.
    Obrigada pelo seu texto, sempre acrescentando algo ao meu conhecimento.

    Abraços

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Rui

      A Hipátia é tida como a primeira mulher intelectual da história. Não deve ter sido fácil a sua vida naquele tempo, quando o machismo não aceitava que uma mulher fosse inteligente. Talvez seja isso a causa de seu assassinato. Mas seu nome ficou para sempre na História.

      Obrigada pelo seu comentário.

      Abraços,

      Lu

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      1. Rui

        Amiga Lu

        O machismo continua, eu estou sempre atento a isso, porque somos todos humanos e não deve haver diferença entre ele e ela.
        Mil abraços!

        Responder
  2. Mário Mendonça

    Prezada Regina

    Concordo contigo quanto ao dia 8. Quanto à falta de identificação política da sociedade, trata-se de um problema de formação. Quando da Reforma da Educação proporcionada pelo Paulo Renato, tiraram matérias importantes da grade curricular dos alunos (EMC e OSPB) e ainda implantaram a Progressão Continuada. Se o povo sabia pouco, com essas mudanças, ficaram acéfalos. Apesar destas matérias serem do período militar, nossa geração ( acho que posso considerar você da mesma que a minha, sou de 64) aprendia mais sobre política do que hoje. Lamentavelmente, estamos entrando em um terreno perigoso de extremismos, que não vai acabar bem.

    Abração

    Mário Mendonça

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  3. Patricia

    Oi Lu!
    Conheço e tenho orgulho de muitas mulheres competentes, de um profissionalismo inquestionável, exemplos de família independentemente da profissão.

    Hipátia é um orgulho para nós mulheres e muitas outras com certeza não deixaram registro. Hoje somos mais representativas, mas, como Hipátia, perseguidas. O mundo ainda é machista com uma cultura retrógrada e desigual.

    Um grande abraço

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Pat

      Já estava sentindo a sua falta e preocupada com sua ausência.

      Realmente Hipátia foi uma grande mulher, vivendo numa época em que o machismo dava as cartas. Se hoje ainda é difícil, imagine naquela época. Mas estamos cada vez mais cavando o nosso espaço.

      Abraços,

      Lu

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      Numa hora dessa dá uma vergonha danada de ser brasileira.
      Nosso povo ainda é muito grosseiro e machista.

      Abraços,

      Lu

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      1. LuDiasBH Autor do post

        Regina

        É um grande prazer receber a sua visita. Volte sempre. Temos mais de 30 categorias de artigos.

        Abraços,

        Lu

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    2. Regina Marinho

      Mário, é por isso que considero a manifestação do dia 08 vazia. Não tem consistência. Mas é o que ocorre em nossa sociedade que é apolítica. Adepta do partidarismo, sua pífia participação se resume ao voto (obrigatório) e a protestos inflamados e, quase sempre, equivocados.

      Responder

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