Autoria de Lu Dias Carvalho
Por que eles buliam com um homem trabalhador?
Era um bruto, sabia, nunca havia aprendido nada.
Não sabia como dizer as coisas, por isso foi preso.
Mete-se gente na cadeia por uma coisa de nada?
Era por que ele não teve prumo pra falar direito?
Que maldade fazia a rudeza dele pras pessoas?
Que culpa tinha de nascer, viver como um bruto,
se vivia como escravo, sem fazer mal nenhum?
A ideia cresceu em sua cabeça e partiu sem tino.
Assuntava. Existia somente agarrado aos bichos.
Nunca teve escolha. Nem conseguia se defender.
Pouco sabia da vida, pois nunca recebeu ensino.
Devia ser assim mesmo. Cada um como Deus fez.
E ele, Fabiano, um bruto, não tinha saber no falar.
Às vezes dizia palavras bobas, só por embromação.
Mas nem conseguia saber o que levava no pensar.
Se pudesse, espancaria os marrentos dos soldados,
que maltratam as criaturas só pra seu aprazimento.
Só a família segurava-o pra não cometer um desar.
Por ela levaria até ferro quente igual boi no mourão.
O tira amarelo era um infeliz. Nem valia um tabefe.
Se pudesse, entraria num bando de cangaceiro, e
faria estrago nos que dirigiam o soldado descorado.
Não ficaria só um na face da Terra – no sementeiro.
Essa ideia apoquentava-lhe a cabeça a toda hora.
Mas havia sua mulher, os meninos e a cachorrinha.
Eram uns cambões pendidos no seu rude pescoço.
Deveria continuar a levá-los até o fim de seus dias.
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