A BENETTON MOSTROU O ROSTO DA AIDS

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Autoria de Lu Dias Carvalho Moj1

Nunca tivemos nenhum receio em permitir que a Benetton usasse a foto de Therese em seu anúncio. Nós sentimos que era a hora de as pessoas verem a verdade sobre a AIDS. (Mãe de Kirby)

Eu perguntei ao David se ele se incomodava em ser fotografado, e ele me respondeu: ‘Isso é bom, desde que não seja para lucro pessoal.’ Até hoje eu não cobro ou recebo nenhum centavo pela imagem. David era um ativista, e queria passar a informação para o mundo de como a AIDS estava devastando as famílias e as comunidades. (Therese Frare)

Escute, Therese, o pessoal da Benetton não se aproveitou de nós ou nos explorou. Nós é que nos aproveitamos. Por causa deles, a foto foi vista em todo o mundo, e isso é exatamente o que o David queria. (Pai de Kirby)

O fotógrafo Therese Frare fotografou David Kirby, 32 anos, um ativista gay nos anos 1980, vitimado pela AIDS, prestes a exalar o último suspiro, em novembro de 1990. Assim que descobriu que estava contaminado pelo vírus da AIDS, David relatou o fato à sua família, da qual se encontrava afastado, dizendo que desejava morrer perto dela.

A foto retratando David Kirby em seus momentos finais recebeu o título de Os Últimos Momentos de David Kirby, sendo publicada na extinta revista Life, em preto e branco. Participou do concurso World Press Photo e de 1991, levando o prêmio Budapeste.

Ao ser usada numa versão colorizada, o que a tornava ainda mais chocante, para uma campanha da marca italiana Benetton, em 1992, a foto Os Últimos Momentos de David Kirby gerou um grande conflito, dividindo a crítica. Para alguns, alertava as pessoas em relação aos perigos da AIDS. Outros, entretanto, viam nela um incentivo à homofobia.

Foi questionada a ética da Benetton por usar imagens com o objetivo de chocar o observador. E, mesmo tendo comprado os direitos da foto, contribuindo com uma fundação de combate à AIDS, uma famosa instituição de caridade de ajuda aos aidéticos foi dura com a Benetton, alegando que, ao usar a foto naquele contexto, estava afrontando as vítimas da doença. A Benetton defendeu-se alegando que sua intenção era levar as pessoas a refletirem sobre a epidemia da AIDS que se alastrava pelo mundo.

O mais intrigante na campanha da Benetton é que ela não apresentava qualquer produto, além de associar à marca uma imagem negativa, ou melhor, a única referência à marca italiana estava no seu logotipo. Muitas pessoas viam no rosto cadavérico de David Kirby uma grande semelhança com o rosto de Cristo crucificado.

Na imagem, muitas mãos tentam confortar o corpo dorido de Kirby, com seu olhar perdido. Mãos fortes e cheias de vida circundam suas mãos débeis, num contraste doloroso. À esquerda do enfermo está Peta, um cuidador do asilo para pacientes com AIDS, também acometido pela doença. O pai de David abraça sua cabeça e toca sua face escavada com o rosto. Sua irmã abraça sua filha, protegendo-a de tão sofrida visão.  Na parede, atrás da cama do doente, um quadro mostra Jesus Cristo com suas mãos estendidas.Mãos que sofrem. Mãos que afagam. Mãos que protegem. Mãos que amparam.

Há um grande contraste entre o corpo esquelético de Kirby e os corpos rechonchudos de seus familiares. O relógio no braço do enfermo, extremamente pesado para a fragilidade de seu punho, parece apenas marcar o pouco tempo que ainda lhe resta para respirar.

Nota:
Quem quiser conhecer com mais profundidade a história de David Kirby acesse:
http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/lospantones/2010/12/06/a-historia-da-foto-que-mostrou-a-aids-para-o-mundo/

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