A ARTE E A XILOGRAVURA (Aula nº 44)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

 

       

         (Clique nas gravuras para ampliá-las.)

A xilogravura (técnica de impressão através da qual se faz uso da madeira como matriz, possibilitando a reprodução da imagem gravada sobre o papel ou outro suporte adequado) é um processo muito parecido com um carimbo. Segundo alguns, trata-se de uma técnica usada pelos egípcios e conhecida pelos chineses desde o século II. A verdade é que essa técnica é de origem desconhecida. A primeira documentação precisa de seu uso encontra-se no livro “Diamond Sutra”, impresso na China em 868 (século IX). Seu reaparecimento se deu na Europa em meados do século XV, quando passou a cumprir o papel de grande veículo de imagens e textos.

A impressão de estampas no Ocidente aconteceu algumas décadas antes que livros fossem impressos. Folhetos com imagens de santos, assim como texto de orações eram impressos com a finalidade de serem compartilhados com os peregrinos da fé cristã e também como uma forma de devoção particular. A Igreja foi uma das grandes propagadoras dessa técnica com a finalidade doutrinária, ou seja, ensinar seus fiéis as lições dos Livros Sagrados.

A impressão desses folhetos com imagens de santos era muito simples. Pegava-se um bloco de madeira — mogno, nogueira e outras cepas macias, fáceis de serem manejadas — e, fazendo uso de um objeto cortante, dele retirava tudo que não fosse parte da estampa, deixando em alto relevo um conjunto de arestas bem finas, ou seja, aquilo que deveria aparecer em preto. Obtinha-se, assim, um resultado semelhante ao do carimbo de borracha de nossos dias. A impressão de textos de orações no papel era bem parecida. Revestia-se a superfície do bloco de madeira com tinta de impressão — composta de óleo e fuligem — e comprimia-o contra a folha de papel. Inúmeras impressões eram feitas antes de ter que trocar o bloco (matriz) por outro. Essa técnica, embora rudimentar, era simples e barata.

Podia-se fazer uma pequena série de estampas impressas, ao juntar os vários blocos como um livro. Tais impressos passaram a ser chamados de “livros xilografados”. Tanto as xilogravuras quanto os livros xilografados passaram a ser vendidos em feiras populares. Da mesma maneira eram produzidas as cartas de jogar, havendo, portanto, estampas humorísticas e aquelas dedicadas aos fiéis. Tais imagens entalhadas tiveram um papel fundamental para os artistas e pensadores da época, tratando-se de uma notável ferramenta no avanço das ciências, ideias e letras, num dos períodos mais férteis da humanidade.

A primeira ilustração acima faz parte do livro xilografado “A Arte do Bem Morrer”. Trata-se de um dos primeiros trabalhos em xilogravura que a Igreja Cristã usou como um “sermão ilustrado” para ensinar seus devotos. Esta gravura em particular tinha por objetivo recordar os fiéis sobre a finitude da vida e ensinar-lhes, conforme reza o título, a arte de bem morrer. Estudemos a sua composição:

  1. Um devoto jaz em seu leito de morte. À sua esquerda encontra-se um monge que põe em suas mãos uma enorme vela acesa.
  2. A alma do cristão deixou seu corpo através de sua boca, sob a forma de uma diminuta figura em oração, vista entre a cabeça do monge e a cabeça do morto.
  3. Um anjo recebe a alma do devoto, tendo outros anjos em júbilo atrás dele.
  4. Cristo crucificado aparece ao fundo à direita. Seus santos encontram-se a seu lado. É para eles que a alma deverá retornar.
  5. Uma hoste de demônios em suas bizarras e temerosas formas aparece em primeiro plano. De suas bocas saem inscrições com os dizeres em latim: “Estou furioso”, “Estamos perdidos”, “Estou assombrado”, “Isto não é consolo” e “Perdemos esta alma”. Pela expressão do rosto do falecido vê-se que ele morreu bem, pois nada teve a temer sobre os poderes do Inferno.

Exercício:
1. Qual é a origem da xilogravura?
2. Conte com suas palavras o que vê na primeira ilustração.
3. Oswaldo Goeldi – SUBÚRBIO

Ilustração: 1. O bom homem em seu leito de morte (c. 1470) / 2. Xilogravuras do século XVI ilustrando a produção da xilogravura. No primeiro: esboçando a gravura; no segundo: usando um buril para cavar o bloco de madeira que receberá a tinta

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

7 comentaram em “A ARTE E A XILOGRAVURA (Aula nº 44)

  1. Antônio Messias Costa

    Lu

    Bem interessante o caminho da comunicação impressa através da xilogravura, tendo ainda o atual carimbo como sua expressão de uso no passado. Também impressiona o apelo à religiosidade pelo medo, manifesto também através de xilogravura, onde a ausência das cores não diminui a força da arte realçada pela sua elevação do plano.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio Messias

      A xilogravura foi realmente uma técnica inovadora para a época. Penso eu que a ideia real de “livro” nasceu aí, quando a ela se juntou o impresso. Ainda que desprovida de cor, a força repassada pelos elementos gravados era realmente forte.

      Abraços,

      Lu

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  2. Marinalva Autor do post

    Lu
    Achei esta aula muito instrutiva. É interessante conhecer essa técnica de impressão tão antiga, barata e rápida, cujo processo é muito parecido com o carimbo. Tem uma relação muito forte e antiga com os artistas e continua até os dias de hoje. Chegou em nosso país através dos reis de Portugal. Marca a identidade cultural nordestina, o rico imaginário da cultura do povo, partindo de temas religiosos, políticos e outros – a chamada literatura de cordel.

    Agradeço por mais esse aprendizado, junto a tudo que já aprendi e venho aprendendo em cada nova lição.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Moacyr

      É verdade, os artistas do cordel fazem muito uso da xilogravura, principalmente para a ilustração das capas dos livretos.

      Abraços,

      Lu

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  3. Hernando Martins

    Lu

    Muito interessante o texto sobre xilogravura no Renascimento, haja vista que essa tecnica tem origem desconhecida, mas já era utilizada no Oriente bem antes da era renascentista.

    A xilogravura permitiu uma disseminação maior dos trabalhos artísticos em virtude da capacidade de promover réplicas, com exatidão e eficiência, permitindo um compartilhamento maior entre as pessoas da época. Vale lembrar, sem sombra de dúvida, que a xilogravura foi uma precursora da máquina de escrever, pois os princípios básicos da sua técnica foi uma referência e inspiração para o desenvolvimento da escrita mecânica, um divisor de águas para a comunicação, desenvolvimento social e econômico da humanidade.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      A xilogravura foi um grande avanço para a comunicação em todos os campos (religioso, artístico, político, etc). Você tem razão ao argumentar que:

      “… a xilogravura foi uma precursora da máquina de escrever, pois os princípios básicos da sua técnica foi uma referência e inspiração para o desenvolvimento da escrita mecânica, um divisor de águas para a comunicação, desenvolvimento social e econômico da humanidade.”

      A humanidade da época beneficiou-se muito com tal técnica, ainda usada pelos artistas em nossos dias, especialmente no Nordeste brasileiro.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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