A CONDIÇÃO DAS MULHERES NA POLIGAMIA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Quando era a única, tratavam-na como deusa; agora que há uma coesposa, deixam-na de lado. (Provérbio africano)

Nas sociedades poligâmicas, a vida da mulher não é fácil. Embora se diga que “A primeira mulher não bebe água turva”, por ter sempre a primazia em tudo, nem sempre isso está de acordo com a verdade, sendo a última delas a mais dileta de seu senhor. A primeira escolhida serve, muitas vezes, como uma capataz das demais, dando ordens e repassando ao marido tudo que elas fazem, pois ele a tem como se fora sua mãe, sempre confiável e pronta a zelar por seus interesses, e ela não quer decepcioná-lo. É quase sempre muito odiada pelas outras, pois faz tudo para não perder esse tipo de atenção. Sua rigidez, e até mesmo maldade, para com as outras esposas vem como uma forma de liberar a sua humilhação, ao ver-se preterida. Um provérbio turco refere-se ao lugar ocupado pela primeira esposa: “Minha primeira mulher é minha sandália; a segunda é meu turbante”, ou seja, a segunda passa a ocupar um lugar privilegiado na vida no marido, até que venha a terceira, a quarta…

Ao adquirir uma nova esposa, o homem traz para casa um rol de conflitos. As outras se sentem preteridas. E, para chamar a atenção do marido, procuram agradá-lo das mais diversas maneiras. A psicologia prova que nenhum ser humano gosta de ser menosprezado, o que comprova o ninho de animosidades em que se transforma um lar, onde a poligamia faz morada. Embora haja casos de o marido “repudiar” a primeira esposa, na maioria das culturas isso é tido como desonroso, como comprovam alguns provérbios populares: “Se tens uma nova panela de barro, não jogues fora a velha”; “Não rejeites tua mulher, quando casares com outra” e “Se casares com uma nova mulher, não te esqueças da anterior”.

Ainda que se teçam loas à primeira esposa, no intuito de confortá-la, dizendo que ela é o esteio da casa, a mãe do marido e coisa e tal, há muito ressentimento entre ela e as demais. Alguns ditos populares chegam a negar a sua prioridade, alegando que todas devem ser tratadas igualmente, tais como: “O valor da mulher não está em ser a primeira esposa”; “O pau que disciplinou a primeira, disciplinará a mais jovem”; “A vara usada para bater na primeira mulher está no telhado à espera da segunda”. A recém-chegada é sempre lembrada que, se hoje ela é a favorita, amanhã poderá ser outra, por isso “A panela nova nunca desdenha a velha”.

Há muita rivalidade entre as esposas de um homem na união polígama. Alguns provérbios, compilados em culturas com esse tipo de união rezam: “Rebaixas a pequena vulva da tua coesposa, mas ela leva para cama o teu marido”; “Quando a favorita comete uma falta, tu, a rejeitada, ficas toda contente”; “Quando a coesposa dá a luz, tu não te enfeitas”. A raiva da primeira esposa é tamanha que ela prefere ver seu varão morto a reparti-lo com outra, como afirma o provérbio bengali: “É melhor que o marido morra do que ter uma coesposa”. E um dito vietnamita reforça: “Antes morrer jovem que ser coesposa”. Contudo, existe um fator que leva as mulheres a tornarem-se grandes amigas e cúmplices – um mau marido. Ele acaba com as rivalidades, disputas e conflitos entre elas, unindo-as para verem-se livre dele da única maneira que lhes é possível – eliminando-o.

Quem quiser conhecer com mais profundidade este assunto, fica a sugestão para que assista ao belo filme “Lanternas Vermelhas”, obra do diretor Yimou Zhang, que poderá ser visto através da internet.

Ilustração  referente ao artesanato recifense.

Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel

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