Autoria de Lu Dias Carvalho
Os indígenas do povo Tembé contam que, muitos e muitos anos atrás, só havia o dia. Tudo que existia na Terra vivia na mais absoluta claridade. Não havia nem mesmo um pouquinho de escuro para se tirar uma soneca. Bichos e gentes dormiam e acordavam com a luminosidade que alumiava tudo. Porém, o sono em tal resplandecência não descansava o espírito do corpo e nem o da mente e eles levantavam como se nunca tivessem dormido.
Passando pela aldeia, certo dia, um velho adivinho contou àquele povo que encontrara dois potes que continham dentro de si a escuridão, mas que eram guardados pelo diabo Azã que de perto deles não arredava pé. Ansiosos por encontrarem a escureza, os índios resolveram enfrentar o demônio, custasse o que custasse. E assim rumaram para o local indicado pelo adivinho que sabia de tudo e mais um pouco.
Mesmo de longe já era possível ouvir a cantoria dos bichos da noite: grilos, rãs, curiangos, corujas, morcegos e inúmeros outros que nem dou conta de enumerar. E foi bem de longe que os guerreiros da tribo jogaram suas flechas, destroçando o pote menor. Mas tiveram que sair em disparada, pois a noite vinha atrás deles com bandos e bandos de bichos que eles não conheciam. Assim que chegaram às suas palhoças… Bow! Caíram dormindo nas suas camas de vara. Mas a alegria durou pouco, pois logo a claridade voltou, ainda mais cheia de pirraça, alumiando cantinho por cantinho.
Os guerreiros Aracuã, Urutau e Jacupeba que hoje são passarinhos, mas naquela época ainda eram gente, resolveram quebrar o pote maior, mesmo que o diabo Azã perto dele montasse guarda, ainda mais cheio de raiva. Os três valentões deveriam sair na maior pressa, assim que espatifasse o pote, pois a escuridão viria atrás deles. Eles não sabiam o que poderia lhes acontecer. E assim foi feito. Porém, Urutau enrodilhou o pé num cipó e tombou no chão, sendo colhido pela noite. É por isso que ele se transformou numa ave noturna.
Nota: imagem copiada de ultradownloads.com.br
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