A EMENDA FOI PIOR QUE O SONETO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

bocage

Nós humanos — excetuando os santos, se os há — já perdemos as rédeas do bom senso, ignorando a sabedoria popular que reza que “o melhor caminho é o do meio”, ou seja, o do equilíbrio. Muitas vezes acabamos falando mais do que devíamos, ou cometemos uma ação impensada, vindo depois aquele peso na consciência. Sentimos que é preciso consertar o malfeito. Contudo, é preciso muito cuidado no agir, pois uma emenda esfarrapada deixa-nos numa posição ainda pior, pois, como dizia Sá Jovena “a merda, quanto mais se mexe nela, mais fede”.

A expressão “A emenda saiu pior do que o soneto” nasceu, contam alguns, quando o poeta português Manuel Maria Barbosa de Bocage recebeu um soneto de um jovem que lhe pediu que marcasse seus erros com cruzes. Contudo, havia tantas incorreções na escrita do mancebo que o poeta, depois de ler o soneto, devolveu-o tal e qual o recebera, ou seja, sem nenhuma cruzinha a enfeitar-lhe a página. Incrédulo, imaginando-se o suprassumo da última flor do Lácio, o moço questionou o velho poeta sobre o porquê, pois queria ser incensado com suas palavras. Como não se deve cutucar a fera com vara curta,  não tardou  a receber a justificativa de que as cruzes seriam tantas, se ali postadas, que “a emenda ficaria pior do que o soneto”.

Manuel Maria Barbosa de Bocage era um exímio sonetista e fazia-os como ninguém, o que o tornou muito popular, principalmente quando usava sua veia satírica e espirituosa, daí a sua exigência para com o soneto do frustrado lusitano. O fato é que a expressão “a emenda ficaria pior do que o soneto” viajou no tempo, caiu na boca do mundo, chegando aos dias de hoje com força total. Chama-nos a atenção para o fato de que muitas vezes é preciso não tentar remediar certas situações, pois o remendo pode acabar ficando ainda pior, uma vez que a desculpa esfarrapada só faz piorar a situação. O melhor mesmo é tomar coragem e munir-se de um pedido sincero de desculpas.

 

27 comentaram em “A EMENDA FOI PIOR QUE O SONETO

  1. Adevaldo R. de Souza

    Lu

    Gostei de saber que esse dito popular é de Bocage que foi bom de sonetos picantes e de memória. Na minha infância conheci alguns de seus sonetos.

    Certa vez o Pedro Malazartes – outro português bom de contos populares –, ao passar em frete da casa de Bocage perguntou-lhe:
    – Bocage, qual a melhor parte da galinha:
    Logo recebeu a resposta:
    – Claro que é o ovo.
    Depois de um ano passou de novo em frente da casa de Bocage e perguntou:
    – Com quê?
    A resposta veio de imediato:
    – Com sal e pimenta.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Você é sempre original. Adorei a piada. Que memória de elefante, hein? Eu não consigo me lembrar nem dos fatos de ontem.

      Abraços,

      Lu

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      1. Lu Dias Carvalho Autor do post

        Sara

        Lamento muito por tudo que passou. Da próxima vez procure informações. Trata-se de uma quadrilha. Pode ser, sim, que suas fotos estejam sendo vendidas. Todo cuidado é pouco.

        Abraços,

        Lu

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  2. Hernando Martins

    Lu

    Acredito que a melhor saída, quando emitimos algo indesejado, é sermos o mais verdadeiro possível, porque a naturalidade é muito mais convincente de que tentar usar artifícios para consertar a merda feita. A pessoa ofendida certamente se sentirá menos desconfortável. O segredo é vigiar os nossos atos falhos!

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Hernando

      Você tem toda a razão, pois a tentativa de consertar o malfeito sempre termina mal. Realmente é preciso vigiar nossos atos falhos, quando a boca solta o que vai pela mente.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  3. Jussara Santos

    Eu não fazia ideia do sentido e ainda entendia errado. Entendia encomenda, achava absurdo, mas como ouvi essa frase esses dias, resolvi pesquisar. Excelente explicação. Obrigada.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Jussara

      Os ditos populares são muito interessantes. Muitas vezes é preciso pesquisar, pois, com o tempo, o povo vai mudando as palavras. Temos a explicação de muitos deles no nosso site. Agradeço o seu comentário e visita. Será sempre um prazer recebê-la aqui.

      Abraços,

      Lu

      Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Crhis

      É bom saber que o artigo o ajudou. Será sempre um prazer recebê-lo. Volte mais vezes.

      Abraços,

      Lu

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  4. Rogério

    Eu me peguei pensando nessa expressão hoje e caí aqui procurando o significado. Conhecia um pouco da obra de Bocage, mas não que era dele a expressão. Texto muito bom. Parabéns!

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Rogério

      Que bom que gostou. Agradeço sua visita e comentário. Volte mais vezes.

      Abraços,

      Lu

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Antônio

      As expressões idiomáticas assim como os provérbios populares são uma fonte de sabedoria. Muitas vezes é preciso saber como nasceram, para serem melhor compreendidos. Mas ainda assim, um sexto sentido leva-nos a empregá-los com o sentido certo, não é mesmo?

      Amiguinho, muito obrigada pela sua visita e comentário. Será um prazer tê-lo sempre conosco.

      Abraços,

      Lu

      Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Francisco Antônio

      Muito obrigada por sua visita e comentário. Venha mais vezes visitar este espaço.

      Abraços,

      Lu

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Julie

      Muito obrigada pela sua visita.
      Vejo que você gosta de provérbios e de certas expressões usadas na nossa língua. Encontrará no blog muito material sobre o assunto.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  5. Pedro Rui

    Realmente é melhor não mexer, como a tua avó dizia, pois, quanto mais se mexe na ‘m’ mais fede. O Bocage, as anedotas dele são muito expressivas e ditas duma forma que poucos conseguem fazer. Ele é muito popular aqui em Portugal. Falas-te no caminho que se deve seguir e tens razão, pois nós devemos andar pelo caminho do meio.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Pedro Rui

      Aqui no Brasil ela é também muito conhecida. Alguns dizem “foi consertar e ficou pior ainda”.

      Abraços,

      Lu

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  6. Alfredo Domingos

    Lu,
    Parabenizo pela escolha do tema. É muito usado por nós, mas é pouco conhecido o seu autor, Bocage. Particularmente, eu conhecia a origem, porém, ver o texto desta boa forma, colocado por você, foi interessante.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Alf

      Tais expressões são um achado da língua.
      Eu me delicio com elas.
      E sei que você é um grande admirador das mesmas.
      Obrigada pelo incentivo.

      Abraços,

      Lu

      Responder
      1. Raimundo Carlos

        Lu Dias
        Parabéns e obrigado pelo texto. É sempre bom rever estes ensinamentos importantes e muito úteis! Sucesso!

        Responder
        1. LuDiasBH Autor do post

          Raimundo Carlos

          Sou eu quem agradece a sua presença e comentário. É sempre muito bom contar com leitores como você. Será sempre um prazer contar consigo neste cantinho. Apareça sempre que puder!

          Abraços,

          Lu

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