Recontada por Lu Dias Carvalho
Contam os habitantes mais velhos de certa aldeia tupi, alojada no coração da floresta Amazônica brasileira, que havia na taba um casal de índios que era muito feliz. Eles se amavam muito, estando sempre um a ajudar e proteger o outro, sem falar que eram generosos com todos aqueles que os procuravam. A única coisa que lhes faltava, para arrematar tamanha felicidade, era um filho.
O casal pediu a Tupã que os abençoasse com um garotinho cheio de saúde, e, que esse tivesse o coração transbordante de bondade. Outras pessoas da aldeia também fizeram o mesmo pedido. E Tupã ouviu-os, enviando-lhes uma criança encantadora, meiga e generosa como seus pais. E toda a tribo tinha por ela um grande amor. Tanto os pais quanto os índios mais velhos ensinavam-na todos os segredos da floresta. Ou melhor, apenas um não foi lhe dado a conhecer: o que era o Jurupari. Por mais que o “mitang” (menino) perguntasse, as pessoas achavam que ele ainda estava muito novo para receber tal informação. Necessitava ficar um pouco mais velho.
Por sua vez, o Jurupari, um dos demônios conhecidos pela nação tupi, tomou conhecimento da existência desse garoto nobre, leal e valente, e passou a espumar de raiva. Ele não gostava de ninguém que fosse inteligente e bondoso. Achava que o procedimento da criança, com o tempo, iria transformar outras pessoas, levando-as para o caminho do bem. Mas isso não iria ficar assim. Daria um fim naquele fedelho, pensava ele carregado de ódio. Passou a estudar a melhor maneira de matar o pequenino.
Como o “mitang” gostasse muito da companhia dos animais, das árvores, dos rios e, sobretudo, de comer as frutas deliciosas da floresta ao lado dos bichos, assim que ele se levantava, ia para o coração da selva encontrar-se com seus amigos. E foi aí que o Jurupari encontrou uma saída para matá-lo: transformar-se-ia numa cobra venenosa e acabaria com a sua raça. E assim aconteceu.
A criança foi encontrada morta, sendo chorada por toda a aldeia, porém, repentinamente, um ensurdecedor trovão, antecedido por um intenso relâmpago, estrondou por todos os lados da floresta. Os bichos correram para suas tocas, amedrontados, e as pessoas não entendiam o porquê, pois o céu estava azulzinho como a plumagem de uma gralha-do-campo. Somente a mãe da criança entendeu a mensagem enviada por Tupã. Ela disse:
– Não choremos mais! Tupã quer que plantemos os olhos de nosso filho. Deles nascerá uma planta miraculosa, de modo que seus pequenos frutos hão de fazer nosso povo feliz, assim como fazia nossa criança à nossa gente.
E foi assim que nasceu o guaraná que significa “frutos semelhantes a olhos de gente.”.
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Você sabe se existe o poema do Homero de Miranda Leão (A lenda do guaraná) disponível na internet?
Ju
Procurei por todos os lados, mas não encontrei o poema procurado por você.
Veja o que achei:
“A Lenda do Guaraná é uma adaptação das tradições orais saterê feita pelo poeta e escritor mauesense Homero de Miranda Leão. Conta a história de Cereçaporanga (moça bonita, na língua saterê), que se apaixona por um guerreiro da tribo rival, os mundurucu. O romance entre os jovens é descoberto e os dois fogem para a floresta, onde são fulminados por um raio enviado pelo deus Tupã. No local onde Cereçaporanga é enterrada nasce uma planta cujos frutos imitam os olhos da bela índia, o guaraná.
Alguns moradores, no entanto, afirmam que a lenda do guaraná conta a história de um curumim que foi assassinado por um tio e as sementes simbolizariam o olhar da criança. O poeta teria mudado o tema para torná-lo mais belo.”
Beijos,
Lu
Huum, ah que pena, eu queria pôr no anexo de um projeto sobre a cultura de Maués, mas agora já foi.
Obrigada, mesmo assim.
Beijos,
ju
Ju
É isso que dá não ler o blog todos o dias… risos. Mas haverá oportunidade para outras pesquisas, amiguinha. Há no blog mais de 30 categorias.
Obrigada pela sua presença.
Beijos,
Lu
LuDias
Não conhecia a lenda. Hoje há, infelizmente, muitos juruparis intolerantes transitando por aí. E fazem muita maledicência. Penso que a intolerância talvez esteja no fundo desta lenda. Todos eram felizes, mas alguns, com certeza, não gostaram do que Tupã havia feito. Daí o sacrifício da criança. Ao final, porém, na lenda, Tupã presenteou o mundo dos índios com o guaraná. E isto nos faz lembrar que a intolerância pode ser domada, com muita fé e amor ao próximo.
Retornando, sempre com o auxílio de suas maravilhosas e ternas palavras.
Abraços
Ed
O que mais há no mundo é o Jurupari, agigantado e multiplicado pela cobiça do “ter” e pelo descaso pelo próximo. Tais Juparis quanto mais possuem, mais querem ter, sem nenhuma preocupação com a finitude da vida. Olham apenas para o próprio umbigo, sem se comover com a penúria dos outros. E ainda querem se passar por coitadinhos, os tolos. Intolerantes, trabalham para “o quanto pior, melhor”, enquanto têm a fortuna multiplicada. Você tem toda razão.
É sempre motivo de alegria tê-lo aqui, enriquecendo o blog.
Abraços,
Lu