Recontada por Lu Dias Carvalho
O indiozinho nasceu com os olhos mais bonitos da Floresta Amazônica, até então jamais vistos entre os habitantes da aldeia. A oca de seus pais vivia cheia de mulheres prenhes, mirando nos olhos do pequenino, para que seus filhos fossem agraciados com tamanha maravilha. À medida que ele crescia, tornava-se cada vez mais esperto, ajudando seus pais numa coisa e noutra. Também gostava de colher frutas com os garotos de sua idade.
.Assim que o dia clareava, lá estava o garoto indígena com o cesto às costas, coletando frutas das mais variadas espécies e sabores. Certa manhã, estava tão embevecido com o seu trabalho, que nem percebeu que se afastava dos amigos que o acompanhavam. E, sem se dar conta, foi cada vez mais se embrenhando na selva. Perdido em meio àquele mundaréu de sons e de tantos perigos desconhecidos, procurou o oco de uma árvore bem alta, para ali pernoitar. Contudo, o Jurupari, um espírito malfeitor da floresta, sempre à cata das pessoas solitárias, não se detinha diante de obstáculo algum, quando via uma vítima indefesa. O malvado sentiu prazer em tirar a vida do indiozinho inocente, em cujo corpo moravam os olhos mais lindos da floresta.
Homens, mulheres e jovens da aldeia passaram toda a noite à procura do menino índio, selva adentro. Depois veio o dia, prosseguindo a busca incansável. Quando o sol bandeava para o meio do céu, um dos grupos de busca encontrou o cesto de frutas no pé de uma alta árvore. Dois guerreiros subiram até sua copa e lá, para desolação de todos, estava o corpo do pequeno índio. Durante um dia e uma noite, a aldeia velou, entre lamentos e lágrimas, o corpo do indiozinho. Mas, em meio àquela dor, na qual sucumbia a tribo, um trovou chamou a atenção para a voz de Tupã, que disse à tribo:
– Peguem os olhos do pequeno índio e plantem-no junto a uma árvore já destituída de vida. Reguem-na com as lágrimas de seu povo. E aguardem o brotar de uma nova espécie de planta, cujos frutos ofertarão um suco energético, capaz de tornar fortes todos os que o tomarem. E virá um tempo em que muitos homens, em várias partes do mundo, procurarão por ele. O fruto terá o nome de Guaraná, que significa “a árvore da vida e da vitalidade”.
E assim aconteceu.
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