Encontrar este fórum de debate sobre doenças mentais, e em especial sobre a bipolaridade, foi como encontrar um oásis no meio de um deserto. Eu me identifiquei com muitas questões apresentadas aqui. Parabéns pelo trabalho e depoimentos. Obrigado! Ler o comentário de vocês traz senão um alívio, pelo menos uma luz no fim do túnel para mim. Continuem a trazê-los, pois ajuda muitas pessoas como eu, desnorteadas, sem nada conhecer sobre a doença.
Minha companheira é bipolar, mas faz uso de medicamento já faz mais de 10 anos. Estamos juntos há mais de 3 anos. Existem alguns períodos bons, mas há outros em que o convívio com ela é insuportável. Sua irritabilidade fica extrema e ela implica com tudo. Trata-se de uma pessoa altamente crítica e exigente, incapaz de reconhecer as coisas positivas. Apenas critica tudo e reclama por qualquer coisa.
Quando minha companheira morava com os pais, seus ciclos de bipolaridade pareciam ser mais claros. Havia dias em que não saia da cama, por exemplo. Depois que a nossa filha nasceu, acerca de um ano, ela melhorou um pouco, pois se sentiu mais motivada, devido à importância de estar bem para cuidar de nosso bebê. Na divisão entre nós, eu optei por arcar com todas as responsabilidades financeiras dela. Não somente com o básico, mas também com seus caprichos e gostos, na tentativa de aliviar o clima, para que ela cuidasse integralmente da nossa filhinha.
Tenho passado por uma fase sofrida e trabalhosa, pois ela só faz reclamar e enxergar os pontos negativos de tudo. Estou ficando exausto de tanto ceder, de tentar “resetar” o clima com um presente, com um vinho, com um gesto de carinho, sendo que ela mesma não mostra consciência de nada e nem agradecimento. Sempre justifica suas ações baseando-se em fatores externos ou de responsabilidade de outras pessoas.
Receio muito por nossa filha. Minha esposa diz que quer parar de tomar os remédios, mas, como parar, se ela só piora? Estou em dúvida quanto a isso. Procurei terapia para mim agora, para tentar entender o que essa doença implica e quais ajustes de expectativa tenho que fazer em minha vida. Embora tudo isso seja muito sofrível, sou capaz de entender e me ajustar em função de uma situação de força maior (doença), mas não sei até onde é doença ou má fé por parte dela.
É muito difícil este convívio no longo prazo. Todo o amor que tenho por ela está se transformando em frustração, ódio e, por fim, em compaixão, pois entendo que cuido de uma pessoa atormentada. Procurei terapia e a psicoterapeuta que me atendeu não fala, apenas pergunta e escuta. Entendo, mas preciso realmente ouvir informações de um profissional a respeito dessa doença. Preciso saber qual ajuste preciso fazer para poder conviver com a minha esposa. Não quero perder a minha família, nem deixar minha filha para que seja criada por ela sozinha em razão dos seus muitos desvarios.
Alguém me ajude por favor!
Ilustração: Ashes, 1895, Edvard Munch
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Luís Rodrigo
Mude de terapeuta. Procure alguém que faça Terapia Cognitiva Comportamental.Você vai ter mais apoio e perceber resultados muito mais rapidamente.
Olá amigo,
eu vivo com esse problema com minha esposa. Vou resumir porque a história é longa. Ela já surtou duas vezes. Primeiro me largou e foi embora, eu pra ela era o pior inimigo. Quando se tratou pediu pra voltar, aceitei, continuou o tratamento e com 3 anos parou de tomar remédio sem eu saber. Pirou de novo e foi embora novamente, a mesma coisa da primeira vez. Lá com a família se tratou e novamente pediu pra voltar, aceitei, só que agora conversamos muito pra que ela não deixe mais os medicamentos. Vou te falar uma coisa, eu ainda não estou tomando remédios, e se ela vacilar de novo, infelizmente sou obrigado a cair fora, antes que eu fique pirado também. Precisamos cuidar delas, mas, se não tivermos bem, não vamos poder cuidar, e vamos cair no mesmo buraco. Abraço, se cuida.
Luís
Também sou casado com uma pessoa que tem transtorno bipolar. Já foram feitos ótimos comentários aqui. Reforço a ideia de que você precisa acompanhá-la ao psiquiatra. Pelo seu relato, possivelmente ela está num ciclo de mania disfórica que é quando as pessoas que têm TAB ficam irritadiças, agressivas e violentas, mas só um bom psiquiatra pode avaliar a situação. Sem medicação correta e bem ajustada isso tende a piorar. Ir ao psiquiatra te ajudará a avaliar também a adesão dela ao tratamento e as expectativas que você pode ter.
Sobre a sua terapia, se a atual não está ajudando, procure outro terapeuta em especial da linha cognitivo comportamental. Também passei por essa situação. Comecei a terapia com um psicanalista que só me escutava, quando eu precisava ouvir e entender o que estava acontecendo. Então mudei para uma terapeuta da linha comportamental que me ajudou muito a entender tanto o TAB quanto as expectativas que eu poderia ter sobre meu futuro.
Luís
Ninguém pode fazer nada a não ser você mesmo. Nossas escolhas são só nossas, e quando dão errado cabe a nós refletirmos e tentarmos fazer alguma coisa. Nossos sentimentos, o modo como vemos e sentimos, são únicos. A vida de cada pessoa nesse planeta é cheia de imprevistos, ora acontecem coisas boas, ora acontecem coisas ruins, que podem se arrastar por muito tempo, indiferentemente de nossa vontade. Cada pessoa tem a sua maneira de ver as coisas, e tentar resolvê-las da melhor forma possível. Cabe às outras pessoas torcerem para que tudo dê certo. Estou torcendo por você!
Luís,
eu me pergunto o mesmo: até que ponto é doença com pitadas de má intenção? Até onde vai a tua energia para também não pirar?
Onde está determinado que tu és obrigado a carregar essa situação pro resto da tua vida? O maior amor deste mundo é o amor próprio. Se tu estiveres bem contigo, fica mais fácil para decidires.
Abraço e boa sorte!
Olá amigo,
eu me senti dentro do seu relato, pois passei por algo parecido, porém sem envolver filhos. No seu caso é mais delicado. Tenha força, não deixe que ela pare de tomar os medicamentos, isso é muito arriscado. Procure o psiquiatra para rever os medicamentos. Hoje estou separado da minha ex. Ficamos 4 anos juntos, com incrível semelhança ao seu caso. Tenha força, não desista, tente, sim, levá-la para rever isso. Tente não contrariar de prontidão coisas básicas, mas também não aceite tudo. Tente “enrolar” de certa forma para evitar um conflito, é um diálogo sem sucesso, sei como é. Nunca admitem nada, não reconhecem erros, nos acusam de coisas absurdas e até mesmo simples. Uma tentativa normal de agrado ou presente torna-se um vendaval. Eu te entendo, passei por isso. Hoje estamos separados, pois ela terminou comigo durante uma crise. E pior, ela não aceita que tem a doença.Tenha força!
Luís
Qualquer transtorno mental é muito doloroso, pois também envolve às pessoas à volta. Contudo, a bipolaridade parece ser ainda mais pungente, porque o doente torna-se agressivo, principalmente quando recusa a medicação. Nesse caso torna-se praticamente impossível conviver com ele, pois acaba deixando muitos ferimentos emocionais nos que o rodeiam.
No caso de sua esposa, seria bom um retorno ao psiquiatra para ver se a medicação continua fazendo efeito, pois é comum, depois de um certo tempo, ela perder a sua efetividade. Converse com ela e convença-a a rever a medicação. Quanto a deixar de tomar os remédios, isso não pode acontecer. O tratamento do bipolar é continuado. Sem ele as crises voltam ainda mais severas. Se isso acontecer, você pode ganhar na Justiça o direito de cuidar de sua filha.
Amiguinho, não se sinta só. Você poderá sempre contar conosco.
Abraços,
Lu
Luís,
Não sou especialista, entretanto, baseado nos vários comentários que leio aqui neste blog sobre o assunto, faço o resumo a seguir:
• A medicação é fundamental para o tratamento da bipolaridade;
• É importante a aceitação da pessoa bipolar;
• Nunca entrar no ciclo destrutivo do transtornado;
• Seja forte para poder ajudar e obtenha o máximo de informações sobre o assunto;
• As ações de sua companheira são resultantes do fato de ser bipolar;
• É importante conhecer as atitudes do doente;
• Se sentir incompetente para ajudar é melhor afastar-se;
• O resultado do tratamento exige medicação continuada.
Pelo fato de possuir uma filha, penso que deve continuar dando apoio à sua companheira,com carinho, compreensão e atitudes. Se a medicação não estiver resolvendo, faça a sua mudança ou procure outro profissional. Confira se ela está tomando os remédios conforme prescritos. Entretanto, se se sentir no limite, penso que deve se afastar desse convívio. A psicoterapeuta não vai decidir o que deve fazer: a decisão é sua. Você só pode ajudar se estiver bem. Sucesso para você, amigo!