BIPOLARIDADE – JUNTOS SOMOS MAIS FORTES

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Autoria de Pedro Silva

Vendo os diversos depoimentos aqui editados, venho contar um pouco do meu passado e presente no convívio com uma esposa bipolar. Espero poder ajudar outras pessoas que se encontram em tal sofrimento.

Estou junto a minha esposa há cerca de 20 anos. Sempre nos demos bem. Claro que existem aquelas briguinhas de casal. Estamos casados há 11 anos e temos uma filha de 7 aninhos. Desde que a conheci, ela passava por depressões todos os anos. Ia ao médico que lhe receitava alguma medicação e passado um mês ficava bem, isso na altura dos 16 anos. Ao longo dos anos ela percorreu vários psiquiatras, psicólogos, de tudo um pouco. Receitavam variadas medicações, sendo que umas davam resultado outras nem por isso, mas o problema todo é que quando se sentia bem, deixava de tomar a medicação, e isto durante todos os anos.

As coisas começaram a agravar-se depois do nascimento de nossa filha. Logo depois de nascer a criança, ela começou com a depressão. Até um ano e meio tive de ser eu a fazer tudo para a criança, pois ela não estava em condições. Não é nada fácil cuidar da casa e da filha, nunca dormir para dar leite e tratar da menina e depois ter que sair para trabalhar de manhã. Foi um caminho complicado, mas no fundo sinto-me mais forte, porque tenho uma menina que adora o pai. Adorei fazer tudo isto em prol de minha filha.

Como disse anteriormente, a partir daí começou a complicar. A minha esposa começou a ter outros relacionamentos, deixava de nos ligar, alterava-se conosco, começava a mudar a sua maneira de ser, a comprar muitas roupas, a gastar o dinheiro todo, a usar roupas mais provocantes, quando então descobri o seu primeiro caso. Conversamos muito e consegui perdoá-la. Como todos nós sabemos não é fácil, mas fiz isso pela nossa família.  Eu amava muito a minha esposa, como ainda a amo.

Passou mais um ano e ela voltou a fazer tudo novamente depois de tantas promessas e de ir a várias consultas de terapias de casal. Foi tudo em vão. Eu estava desesperado, não suportava tanta dor pelo que estava a passar. A minha cabeça não aguentava mais. E mais uma vez consegui perdoá-la. Ela contava que não sabia explicar o porquê de fazer aquilo, de procurar outros homens. Dizua que era a adrenalina que não largava as pessoas. Eu ouvia as conversas. Ela era outra pessoa que eu não conhecia. Mais uma vez desculpei-a.

No meio dos anos continuava a ter depressões como sempre tinha, depois voltava a me trair. Andou nessa vida por cerca de 7 anos. Tudo isso que passei começou-me a afetar-me. Comecei a ter problemas de ansiedade e crises de pânico, coisa que nunca esperava ter por me sentir sempre forte. Passou a ser um desespero, porque já não dava atenção a minha filha que foi sempre a minha força. Depois de conversarmos novamente, antes de botarmos um ponto final na relação, ela se comprometeu a irmos a uma psicóloga e nessa conversa fomos aconselhados a buscar um psiquiatra. Senti-me melhor depois de falarmos com a psicóloga. Ela foi muito clara com a minha esposa, o que me deu alguma força.

Fomos a uma psiquiatra e contamos tudo o que se passava. Ela foi clara, dizendo que o problema da minha esposa era por ser bipolar. Não tinha nenhuma dúvida. Neste atual momento a minha esposa está a fazer o início da medicação e espero que dê resultados, para voltarmos a ser felizes. Só consegui passar por tudo isto por amá-la muito.  Por isso, compreendo todos vocês pelo que passaram. É uma dor insuportável, e não desejo isso a ninguém.

Desculpem o meu desabafo, vou dando notícias. Quero agradecer pelo excelente blogue que permite partilharmos a nossa dor. Juntos somos mais fortes!

Ilustração: Mulher Chorando, Pablo Picasso.

16 comentaram em “BIPOLARIDADE – JUNTOS SOMOS MAIS FORTES

  1. Patricia

    Passo por situação parecida com meu esposo bipolar, sem dúvida a traição é a pior dor que existe, não desejo pra ninguém! Muito difícil superar!

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    1. Lu Dias Carvalho Autor do post

      Patrícia

      Realmente não é fácil, principalmente quando se trata de traição. Mas é preciso ter em mente que se trata de uma doença e o doente também é uma vítima. É difícil culpabilizar alguém que não tem domínio de si. Se seu esposo já foi diagnosticado, o importante agora é o tratamento para ajudá-lo a equilibrar seus dois polos. Procure não sofrer. Busque ajuda, também! Desabafe conosco, sempre que necessitar.

      Beijos,

      Lu

      Responder
  2. Cipriano

    Pedro,

    se existe amor e se ela está seguindo corretamente o tratamento, vale a pena continuar. Estou há 10 meses separado de minha ex. Ela não aceita que tem a bipolaridade e não se trata. Já relatei aqui. Ela surtou e terminou comigo, desde então sei de vários relacionamentos que teve, vários problemas em família que causou, etc. Sinto muito a sua falta dela, sinto que ainda tenho amor por ela. Porém hoje não fico alimentando esperança, coisa que no começo do término eu fazia muito e isso me destruía, pois ela passou a me tratar muito mal. Mas continue e que Deus abençoe muito vocês.

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  3. Ricardo Inácio

    Decidi relatar algo sobre essa enfermidade que tem judiado comigo em relação à minha esposa.

    Já passei por momentos difíceis com minha esposa. Eu ainda me mantenho mais ou menos firme. Em 2016 ela teve um surto psicótico muito agressivo em que eu passei a ser uma ameaça pra ela, mas consegui levá-la ao psicólogo e psiquiatra. Ela não tomava os remédios. Como achava que eu poderia fazer-lhe mal, foi-se embora pra ficar com a família dela. Quando conseguiram fazer com que ala se tratasse, quis voltar. Aceitei e continuamos juntos. Com o tratamento ela estava indo bem. Passados 3 anos, parou com os medicamentos sem que eu percebesse e surtou novamente. Aconteceu tudo como antes. Foi-se embora com medo de mim. Lá recomeçou o tratamento. Passados alguns meses os medicamentos começaram fazer efeito e ela pediu pra voltar. Novamente aceitei. Se me traiu durante esse tempo eu não sei. Está fazendo 8 nesses que estamos juntos de novo, está se tratando com psicólogo e psiquiatra e até trabalhando. Disse que agora aprendeu a lição e que jamais deixará de tomar os remédios. Será? Tento ajudá-la como posso, no momento estamos bem, mas tenho consciência de que tudo pode acontecer de novo. Aí não terei mais estrutura para segurar.

    Desculpem pelo desabafo e se alguém puder me falar algo que possa me ajudar agradeço.

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Ricardo Inácio

      A bipolaridade é uma doença mental muito séria que tanto machuca o doente como aqueles que vivem à sua volta. Costuma desestruturar toda a família, caso a pessoa não faça tratamento. O vai e vem relatado por você não é fácil. É preciso ter muita paciência e compreensão. Se não houver muito amor, o companheiro que serve de suporte acaba desistindo.

      Saiba que você encontrou um cantinho muito especial. Vou lhe mandar material sobre o assunto. Aguarde.

      Abraços,

      Lu

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  4. Carlos

    Lu

    Parabéns pela escolha das ilustrações que acompanham os textos. São sempre obras significativas e que se associam bem ao conteúdo descrito.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Carlos

      Eu busco sempre por uma imagem que se adeque ao tema. As doenças mentais habitaram a mente de muitos artistas do passado.

      Estava sentindo a sua falta por aqui. Gosto muito da sua presença. Seus comentários são muito valiosos. É bom saber que tudo está bem agora. Não suma, amiguinho.

      Abraços,

      Lu

      Responder
      1. Carlos

        Lu
        Interessante você comentar sobre a relação entre artistas e doença mental. Inclusive o Dia Mundial do Transtorno Bipolar é celebrado no dia do aniversário de Van Gogh que sofria com essa doença e foi levado ao suicídio, acredita-se, por ela.

        Vira e mexe estou por aqui lendo seus textos sobre arte. Só não comento por falta de conhecimento artístico mesmo rsrsrsrsrsrsrs.

        Responder
        1. LuDiasBH Autor do post

          Carlos

          Foram muitos os artistas com doenças mentais. Van Gogh é um dos mais conhecidos. Sempre tive muita pena dele. Talvez por falta de conhecimento científico, quase sempre os artistas eram diagnosticados com “depressão”. Vou lhe mandar alguns links sobre esse artista.

          Gosto muito de sua presença e de seus comentários. Não aceito desculpas… risos.

          Abraços,

          Lu

  5. Carlos

    Pedro

    Entendo perfeitamente a sua angústia, passei por situação semelhante. Admirável seu esforço por manter sua família unida, pena que se passaram 7 anos de sofrimento até um diagnóstico correto, mas isso costuma ocorrer quando se trata de Transtorno Bipolar. Depressão pós parto é um dos principais sinais de Transtorno Bipolar. O vício na adrenalina dos flertes e de situações perigosas, como relatados por sua esposa, também é um claro sinal do TAB. Cuide-se, busque terapia e, se necessário, psiquiatra para você também. Não é fácil lidar com os traumas dessa situação. Com a medicação bem ajustada sua esposa ficará bem, será novamente a pessoa que você conhece. Eu te falo isso por experiência própria. Depois de mais de 2 anos e meio com os medicamentos, os sintomas maníacos da minha esposa desapareceram e ela voltou a ser a pessoa que é minha companheira há mais de duas décadas. Boa sorte!

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  6. Carlos

    Mário

    A palavra “bipolar” foi banalizada no nosso cotidiano a ponto de a usarmos para designar alguma característica pessoal nossa ou de outra pessoa. Mas o fato é que não, não somos todos bipolares. O Transtorno Bipolar é uma doença mental grave que causa surtos maníacos e psicóticos além de depressões profundas que afetam gravemente o comportamento dos doentes. Requer tratamento medicamentoso constante e, às vezes, internação psiquiátrica.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Carlos

      Muito bem colocada a sua visão sobre a bipolaridade. Dentre as doenças mentais essa é uma das mais banalizadas, embora seja uma das mais agressivas. Também percebi que há muita dificuldade por parte das pessoas em aceitar o diagnóstico. Negam! Acham que a avaliação do psiquiatra foi errada, etc. Quanto mais cedo o doente passar pelo tratamento, menor é o seu sofrimento e o da família. Tratamento esse que deverá ser permanente.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  7. Mário Mendonça

    Lu

    Quem não é bipolar? Eu, por exemplo, sou tripolar, visto que sou ligado no 380!

    Abração

    Mário Mendonça

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Mário

      Você tem razão. O mundo hoje é muito rápido e conturbado. Fatos acontecem a todo momento, deixando-nos surtados.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  8. Jussara Santos

    Pedro

    Ontem conheci uma jovem mãe de um filho de 2 anos que tem transtorno bipolar. Conversamos sobre a importância da medicação. Ela consegue fazer o tratamento hoje porque se conscientizou do seu próprio problema e da importância da medicação. Converse muito com sua esposa sobre a espiritualidade de uma forma geral. Busque lugares de natureza para passearem. Evite lugares de barulho e grande movimentação. Sei que vocês vão conseguir dar um novo sentido a vida conjugal e criar a filha de vocês com muito amor.

    Responder
  9. LuDiasBH Autor do post

    Pedro

    Sabemos que as doenças mentais podem desnortear toda a família, mas, sem dúvida alguma, a bipolaridade é uma das mais agressivas para o trato familiar. O sofrimento é intenso para os familiares que têm que lidar com mudanças sucessivas. O primeiro passo é encontrar um bom psiquiatra para conduzir o tratamento. O segundo é vigiar para que o doente não o abandone . O terceiro é buscar (os familiares responsáveis pelo doente) todas as informações possíveis. Ao entender o que se passa com seu ente querido, a dor minimiza, pois o conhecimento torna os que vivem em seu entorno mais compreensivos e tolerantes. O abandono do tratamento torna impossível a convivência. Portanto, acompanhe com rigor os medicamentos usados.

    Pedro, não se sinta só. Pode contar com uma legião de amigos aqui neste site. Queremos, sim, acompanhar todo o tratamento de sua esposa, até porque isso irá ajudar muitas pessoas que estão a viver em situação parecida. Estaremos de braços abertos.

    Um grande abraço,

    Lu

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