Autoria de Lu Dias Carvalho
Este é o quadro mais belo que pintei (Caravaggio)
Em meio a flores, frutas, violino e partituras, o jovem toca seu alaúde (Aurélio: Mús. Antigo instrumento de cordas dedilháveis, de origem oriental, com a caixa de ressonância sensivelmente abaulada, sem costilhas e em forma de meia pera, e com a pá do cravelhame inclinada, formando ângulo quase reto com o braço longo.), instrumento refinado e ligado ao amor.
O jovem tocador de mãos delicadas, possivelmente ainda pubescente, tamanha é a sua beleza aparentemente feminil, sobrancelhas negras, boca carnuda e um delicado furinho no queixo, possui um ar langoroso, veste uma camisola com inúmeras dobras e com um profundo decote em V, mostrando o peito liso. Traz uma faixa na cabeça, de onde desce um laço branco, sobre seus cabelos negros e encaracolados.
O alaúde tem a superfície gasta e uma fenda na sua caixa. As partituras abertas sobre a mesa, também aludem ao amor, pois eram tocadas nos madrigais (Aurélio: Mús. Composição poético-musical que, no séc. XIV e sob a forma de desenvolvimento e aperfeiçoamento da frótola, no séc. XVI, constituiu um dos gêneros mais importantes da música profana italiana, no qual o elemento literário tem papel preponderante. Era escrita para uma ou mais vozes (cinco e até seis no madrigal clássico do séc. XVI), com acompanhamento instrumental (alaúde, clavicímbalo, harpa), ou sem ele, e foi sob a sua influência que se operou a secularização da música, mediante a utilização de textos profanos e o emprego de fórmulas melódicas novas, de um cromatismo intenso.) Vários elementos revelam a natureza amorosa da composição, tais como flores, instrumentos musicais, partituras, etc.
No jogo de luz e sombras presentes na pintura, a luz dá ênfase ao que é importante, enquanto o secundário permanece na sombra. Observem que a luz entra pela direita da composição, incidindo com força sobre o jovem músico, o alaúde, as partituras, as flores, o violino e as frutas. A exuberância das flores, com sua riqueza cromática, a textura das frutas à esquerda das partituras, assim como as gotas de água visíveis sobre elas, aludem à fugacidade da beleza e da juventude, pois nada é permanente.
Apesar da beleza do jarro com natureza-morta, cujos reflexos atraem o olhar do observador, o tema principal da composição é a música executada pelo alaúde, instrumento já em desuso por ser extremamente difícil de ser tocado. O livro de música que se encontra aberto sobre a mesa, trata-se da edição romana do Libro Primo (Primeiro Livro) de Jakob (ou Jacques) Arcadelt. Trata-se de uma coleção de obras de vários compositores. O jovem entoa um madrigal amoroso, que pode ser identificado através da leitura da partitura aberta, o que comprova o conhecimento musical de Caravaggio (Música: Sabeis que eu vos amo, do compositor do século 16, Jakob Arcadelt).
O tema aqui tratado pelo artista foi repetido em outros quadros com algumas variações. Assemelha-se a Concerto de Jovens, visto no primeiro texto desta série sobre Caravaggio.
Ficha técnica:
Ano: c. de 1595
Material: óleo sobre tela
Dimensões: 94 x 119 cm
Localização: Museu de Hermitage, S. Petersburgo, Rússia
Fontes de pesquisa:
Grandes mestres da pintura/ Coleção Folha
Grandes mestres/ Abril Coleções
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
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Muito bom o texto sobre Caravaggio e me ajudou muito na minha tarefa. Eu quero dizer obrigado!
Rhyan Paulo
Sou eu quem agradece a sua presença. Venha sempre e traga seus colegas.
Beijos,
Lu
Ellen, minha fofa, eu achei a sua sugestão fantástica, mas a dona do site só sabe o beabá da computação. E o programa da Word Press com o qual trabalho tem um monte de restrições.
Fico até imaginando que maravilha seria, se o observador pudesse apreciar as obras ouvindo música clássica (minha predileta).
Mesmo assim, vou conversar com um amigo que faz computação e ver quais são as possibilidades.
Obrigada por seu carinho em nos ajudar a oferecer o melhor aqui no site.
Abraços,
Lu
Lu,
Para mim, duas coisas saltam aos olhos nesta tela.
Uma luz forte vindo de cima, proveniente de uma suposta e única janela e as paredes pintadas de preto, que criam nitidamente a profundidade da pintura.
É interessante a ambiguidade do sexo do tocador. Ele justifica-a como sua missão de retratar a essência divina, empregando também instrumemtos tradicionais dos anjos e a música, crendo ser um dos caminhos em direção à perfeição cristã. E aí usa o tal frótola, gênero musical profano!
Ele acreditava em Deus, mas não era temente a Ele?
Taí mais um questionamento.
Abraços,
Rosalí.
Rose
A ambiguidade da figura, tem o sentido de retratá-la examente como se fora um anjo, pois os anjos não possuem sexo, segundo dizem.
Realmente a luz está vindo de cima, uma vez que cai diretamente na cabeça da figura, realçando, sobretudo, no branco de suas vestes.
O divino e o profano, naquela época, não possuíam a mesma dimensão que vemos hoje, tamanho era o rigor da Igreja em relação ao sagrado.
Contudo, Caravaggio, corajosamente, não aceitou as regras de então.
Você poderá conhecer melhor a postura do grande mestre no texto postado hoje.
Beijo no coração,
Lu