Autoria de Luiz Cruz
O pintor, desenhista e gravador Carlos Bernardo Bracher nasceu em Juiz de Fora, no seio de uma família de artistas. Seus irmãos Décio, Nívea e Celina, pintores, e Paulo, músico, enquanto seu pai, o professor Waldemar Bracher, foi compositor. Desde cedo, Carlos Bracher, o caçula dos irmãos, foi despertado para a arte e começou a pintar ao entrar na adolescência. Frequentou a Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras e, na década de 1970, instalou-se em Ouro Preto, tornando-se um dos mais conhecidos artistas brasileiros, que fez da pintura sua trajetória de vida, no sentido amplo da palavra. Desde as primeiras obras de Bracher, seja retrato ou paisagem, ou ainda natureza morta, podemos perceber o nascimento de um dos artistas mais expressivos das artes plásticas brasileiras.
Antes de se instalar em Ouro Preto, ainda na década de 1960, a família Bracher realizou uma expedição artística à cidade de Tiradentes, registrando em significativas obras o conjunto arquitetônico local, com seu casario colorido, envolto por vegetação, e a Matriz de Santo Antônio dominando a paisagem, quando o lugar ainda estava submergido na completa decadência. Foi nessa ocasião que Carlos Bracher realizou sua primeira série sobre o tema paisagem, que depois de alguns anos na antiga Vila Rica, e trabalhando incansavelmente a paisagem ouropretana, passa a viajar e realizar diversas séries paisagísticas pelo Brasil afora e até pelo exterior.
A partir da passagem de Frans Post (1612-80) pelo Brasil, acompanhando a equipe de artistas do príncipe Johan Maurits de Nassau-Siege, governador do Brasil Holandês, no período de 1637-44, o país nunca mais deixou de ser percebido, através da arte. Post foi o criador da paisagem brasileira e, desde então, esse tema tem sido trabalho e com certeza é inesgotável, diante da diversidade e do olhar de cada artista à paisagem do Brasil. E Bracher é um dos mais celebres paisagistas da atualidade. Suas obras apresentam-nos uma paisagem que ao mesmo tempo em que é in situ, é também in visu, pois ele a enfrenta e se apropria dela no trabalho de campo. Domina-a e reflete com uma fúria inigualável, com seus largos pincéis carregados de tinta, que vão construindo o espaço. Cor sobre cor. Texturas sobrepondo-se, às vezes encobrindo claros, às vezes encobrindo escuros. Sempre criando um clima de mistério, que só vai ser revelado quando o espectador da obra parar, e seguir cada movimento de suas pinceladas, desde as mais densas, até os toques suaves do artista, que leva brilho e vigor para as camadas pictóricas. Cada obra é detentora de um domínio técnico, mas também de uma grande paixão pelo apreciar, fazer e revelar, pela arte.
Bracher é muito mais que paisagista, é um retratista que pinta não apenas a face das pessoas. Ele pinta o corpo e a alma dos seus retratados. É por isso que cada retrato de sua autoria deixa-nos magnetizados pela expressividade, muito além do apenas retratar. Seus autorretratos são obras que espelham seu visível e invisível, naqueles momentos em que o pinta, e, como cada momento do artista é diferente pela emoção, ambientação ou cronologia, em Bracher deparamo-nos com uma coleção de autorretratos de riqueza imensurável. Suas naturezas mortas são sempre reconstruídas a partir de objetos de seu próprio atelier. Cada uma carrega um sentido, com formas, volumes, luzes e sombras, que tornaram uma marca pessoal e identificável ao primeiro olhar.
Estamos diante de um dos artistas brasileiros mais completos e respeitados, tanto aqui quanto em outros países, por onde expôs, como a França, Itália, Rússia, Japão, China, Inglaterra, Holanda, Espanha, Portugal, Chile, Colômbia e Estados Unidos.
Até aqui tratamos mais do artista do que do homem. Bracher é uma pessoa encantadora. Figura de generosidade incomum. E não há como deixar de passar pelo Castelinho, em Juiz de Fora, onde sua família morava. Era mais do que uma residência, era um templo das artes, e cada um, ao adentrar aquele espaço, era invadido por experiência ímpar, pelos detalhes, seja nas pinturas, esculturas, objetos, fotografias, livros, ou pela solução arquitetônica, pela paisagem deslumbrante que se descortinava, ou ainda pela música do piano. E a recepção calorosa dos Bracher, especialmente a dedicação de Nívea, que sempre foi uma artista de primeira linha. Em sua casa em Ouro Preto, onde vive com a pintora Fani Bracher, sua esposa, junto à Casa da Opera e à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Bracher integrou-se de tal forma à localidade, que nos associamos por demais sua imagem com a imagem da própria cidade. O homem, não é apenas o homem, ele é também parte do ambiente em que nasce, cresce e vive, com toda gama de minúcias, inclusive a paisagem, na qual está inserido. Por isso, nessa mostra imperdível, que ora se realiza, podemos apreciar um pouco dos ambientes reconstruídos, em que Bracher cresceu: a sala do Castelinho e o atelier, onde cria suas obras.
Nota: fotos do autor, aspectos da exposição.
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Oi, Luiz!
Muito enriquecedor este texto. Não sabia de muitos aspectos abordados aqui. Obrigado por compartilhar conosco! Um grande abraço!
Luiz
É muito gratificante acompanhar o sucesso de nossos conterrâneos. O Brasil, sem dúvida alguma, é um celeiro de grandes nomes da arte, assim como Bracher. Sua exposição está linda e merece ser vista por todos.
Parabéns pelo excelente artigo!
Abraços,
Lu
Lu
Mais uma vez grato por sua atenção e disposição.Tomara que o público aproveite este último final de semana para visitar a exposição do Bracher. Quem for poderá fazer uma bela viagem por Minas e tantos outras localidades, através das expressivas paisagens registradas pelo artista.
Para você uma abraço amigo,
Luiz Cruz
Olá, Thonny!
A exposição do Bracher realmente está muito bonita, com 86 obras, além de mostrar vários aspectos da vida do artista, achei que com o texto, muitas pessoas que não terão condições de visitá-la teriam informações, tanto sobre a obra quanto sobre o artista.
Obrigado por sua presença e retorno.
Um abraço amigo para você,
Luiz Cruz