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Textos sobre variados tipos de arte

Pissarro – GEADA BRANCA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor francês Jacob Abraham Camille Pissarro (1830 – 1903) desde pequeno mostrava a sua inclinação pela pintura. Em Paris encantou-se com as telas de Camille Corot e tornou-se amigo de Paul Cézanne, Claude Monet, Charles-François, dentre outros artistas impressionistas. Teve quase todos os seus quadros destruídos por ocasião da guerra franco-prussiana, quando se mudou para a Inglaterra. Ao retornar a Paris, passou a pintar na companhia de Cézanne, influenciando-se mutuamente. Foi um dos fundadores do Impressionismo e um dos mais importantes artistas responsáveis pela coesão do grupo. Tornou-se famoso por ter sido o primeiro impressionista a trabalhar com a técnica da divisão de cores, obtida através do uso de manchas de cor isoladas. Também trabalhou com os neoimpressionistas, como Georges Seurat e Paul Signac, e fez uso do pontilhismo. Uma paleta de cores cálidas e a firmeza com que captava a atmosfera através de um trabalho definido de luz são características de sua obra. Foi professor de Paul Gauguin e de Lucien Pissaro, sendo esse último seu filho.

A composição intitulada Geada Branca é uma obra do artista. Foi apresentada na exposição impressionista de 1874, sendo mal vista pelos críticos de arte, mas Pissarro não se importou, dizendo que preferia voltar para seu trabalho a ler as críticas. Ao pintor interessava apenas os estados das paisagens, o que o levava a escolher os temas ao acaso, aprendendo com cada quadro que criava.

A obra em questão apresenta um caminho inclinado que leva ao cume do terreno. De ambos os lados existem campos. Subindo o caminho está um camponês que leva nas costas um feixe de lenha. Ao colocar a figura humana apoiando-se num cajado, o pintor mostra-nos que não se trata de um homem jovem, mas de um velho. O fato de a linha do horizonte encontrar-se muito alta torna a colina mais empinada.

A paisagem invernal não é bela e traz a sensação de isolamento com suas poucas árvores, montes de feno na linha do horizonte e o caminho que some no alto da colina. Inúmeras linhas e diagonais ascendentes, formadas por sombras alongadas e escuras, estendem-se pela paisagem, dando-lhe um ritmo próprio. Em primeiro plano, à direita, elas lembram um campo cheio de sulcos feitos pelo arado. Trata-se de uma experiência geométrica do pintor.

Ficha técnica
Ano: 1873
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 65 x 93 cm              
Localização: Museu d’Orsay, Paris, França

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
https://www.museeorsay.fr/en/collections/worksinfocus/painting/commentaire_id/white

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Segantini – A COLHEITA DE FENO

 Autoria de Lu Dias Carvalho

A bela figura divina estava rodeada por um lago prateado de luz que se espalhava e atravessava a sombra escura da luz. (Segantini)

O pintor italiano Giovanni Battista Segantini (1850 – 1899) nasceu numa família muito pobre e chegou a viver num reformatório, permanecendo muito tempo de sua vida sem saber ler ou escrever. Foi encorajado por um capelão do lugar a desenhar, coisa que fazia muito bem, a fim de melhorar sua autoestima. Depois foi morar com seu meio-irmão Napoleão que dirigia um estúdio de fotografia, onde o futuro pintor aprendeu o básico sobre esta arte, o que lhe possibilitou incorporá-la à sua pintura. Veio a estudar na Academia de Brera, onde se tornou amigo de inúmeros artistas. Suas primeiras obras situam-se, em grande parte, em cenas de gênero realistas, lembrando Millet e Daubigny. Tornou-se muito conhecido pelas paisagens pastorais que fazia dos Alpes, chegando a tornar-se um dos artistas mais famosos da Europa, no final do século XIX. Suas pinturas que combinavam um estilo divisionista com imagens simbolistas eram compradas por importantes museus.

A composição intitulada A Colheita de Feno é uma obra do artista que retrata o difícil trabalho dos camponeses com o feno que é ajuntado para depois ser carregado, numa faina cansativa e sem fim, com o objetivo de alimentar o gado na estação invernal. Assim como acontecia com os impressionistas, a luz era muito importante para Segantini, embora sob uma visão diferente — a divina.

Uma jovem mulher encontra-se em primeiro plano, curvada sobre um pequeno monte de feno, próxima a um amontoado de pequenas pedras. Seu braço direito está abraçado a um ancinho — seu instrumento de trabalho. Ela usa um vestido escuro e sobre ele um avental branco com mangas da mesma cor sobrepostas. Na cabeça traz uma touca branca. Mais ao fundo, um camponês carrega um pesado saco de feno em direção à carroça, onde outros já se encontram empilhados. Duas outras mulheres trabalham ao fundo, à esquerda, de costas para a figura principal. Outras figuras humanas são vistas distantes, à direita, na estrada de terra.

Um grande céu — tomando metade da tela — traz nuvens escuras e pesadas que são atravessadas por uma forte luz. Uma cadeia de montanhas desaparecem no horizonte. Pessoas e animais integram-se à paisagem, unidas pela luz radiante que vem do céu.

Ficha técnica
Ano: 1889/98
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 137 x 149 cm          
Localização: Segantini-Museum, Sr. Moritz, Suíça

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
https://en.wikipedia.org/wiki/Giovanni_Segantini
https://www.segantini-museum.ch/en/museum/collection/paintings.html

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Morisot – PSIQUE

Autoria de Lu Dias Carvalho

Seu nome e seu talento já são muito importantes para nós, para que possamos prescindir dela. (Edgar Degas)

A impressionista francesa Berthe Morisot (1841 – 1895) veio de uma influente família. Seu pai era administrador e formado em arquitetura e sua mãe era sobrinha-neta de Jean-Honoré Fragonard, famoso pintor do Rococó. Foi copista do Museu do Louvre, onde teve a oportunidade de conhecer muitos artistas e professores, como Camille Corot, pintor de paisagens. Sob a influência dele ela começou a pintar ao ar livre. Foi a primeira mulher a fazer parte do grupo dos impressionistas. É tida como uma das grandes pintoras do Impressionismo, juntamente com Marie Bracquemond e Mary Cassatt. Seus trabalhos foram muito importantes na inovação deste estilo. Foi casada com Eugène Manet, irmão do pintor Édouard Manet.

A composição intitulada Psique, também conhecida como O Espelho de Vestir, é uma obra da artista que gostava de pintar mulheres fazendo sua toalete. O nome dado à pintura faz referência ao mito de “Amor e Psique”, encontrado na mitologia clássica. A postura dos braços da retratada, lembrando as asas de uma borboleta, pode ser uma alusão à imortalidade da alma, de acordo com a Psique do século XIX. Este quadro foi apresentado na exposição impressionista de 1877.

Morisot apresenta uma mulher ainda muito jovem, concentrada na sua imagem refletida num grande espelho, entre duas janelas que contribuem para a iluminação total da cena. Atrás da jovem, próximo à janela, encontra-se um sofá cujo tecido é muito parecido com o da cortina. As manchas e pintas – vistas no tapete de fundo vermelho que cobre todo o chão do ambiente – lembram uma pintura floral, realçada com os tons claros presentes no quarto. A moldura do espelho retangular, mostrando o reflexo da jovem, atinge a parte superior da tela, criando um quadro dentro do outro.

A mulher retratada traz as mãos nas costas, abaixo da cintura, lidando com o fecho de seu corpete branco. A manga esquerda de sua vestimenta, feita com pinceladas imprecisas, está a cair-lhe pelo ombro. Seu cabelo castanho encontra-se preso num coque e no pescoço ela traz uma fita preta. Tudo no seu quarto burguês exala naturalidade e bem-estar. Ela age serenamente, como se tratasse de uma tarefa rotineira à qual dedicava seu tempo com prazer.

A pintora usou pinceladas largas e livres em diferentes direções de sua tela. As transparências e as diferentes texturas apresentadas dão suavidade e leveza à obra. É sabido que ela costumava usar sua própria casa como cenário, apresentando seus móveis e objetos pessoais. Este quarto com espelho – dele visto apenas uma pequena parte – era o quarto da artista.

Ficha técnica
Ano: 1876
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 65 x 54 cm 
Localização: Museu Thyssen-Bornisza, Madri, Espanha

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
https://deanimaverbum.weebly.com/de-anima-verbum/berthe-morisot-a-primeira-
https://remi.uninet.edu/arte/morisot.htm

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O NU MASCULINO NA ARTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                  

Não apenas o nu feminino tem fascinado os artistas, mas também o nu masculino, estando o último presente na arte desde a Grécia Antiga até os dias de hoje. Mesmo em tempos remotos o nu masculino encontrava-se presente em esculturas, representando, sobretudo, a força. Enquanto a nudez feminina, além da emoção estética também pode fazer aflorar a sensualidade, a nudez masculina chama a atenção por simbolizar a força e as proporções físicas na maioria das vezes. Raramente o corpo masculino é visto na arte com cunho erótico.

Os artistas greco-romanos tinham por tradição a ideia de que a mulher era inferior ao homem, física e mentalmente, devendo esse, portanto, ser representado com a máxima perfeição possível. Ao retratá-lo, interessavam-se mais por sua anatomia, dando maior ênfase à expressão de seus músculos, veias e ossos, ou seja, à obra como um todo. Na Grécia Antiga, o corpo masculino já era representado em esculturas em pedra, como fruto de um trabalho em cima de cálculos matemáticos em que se buscava harmonia e perfeição formais. Tais estátuas ficaram conhecidas como “Apolos”. Mas, apesar da perfeição, elas não traziam qualquer naco de sensualidade, pois não eram naturais.

A que se deve a existência dos “Apolos”? Os gregos antigos julgavam que, para que uma obra de arte fosse perfeita, bastava trabalhar em cima de cálculos matemáticos, ou seja, o conhecimento intelectual supriria a criatividade.  Para servirem de modelo para os “Apolos”, eram escolhidos os homens mais bem favorecidos anatomicamente, próximos do ideal de beleza da Grécia Antiga.  Essa maneira de ver a arte durou muito tempo, chegando os artistas, para traçar o desenho do corpo humano, a fazer uso de formas geométricas. O estudo de anatomia pelos grandes artistas do Classicismo tinha por finalidade levá-los à perfeição na composição de suas obras, embora essa parecesse artificial, tamanha era a precisão dos traços.

É possível que Davi, obra do escultor italiano Donatello, seja a primeira representação de um nu masculino. E ainda assim servia a um propósito religioso. Além de ser uma obra pioneira para sua época, trata-se também de um trabalho maravilhoso. O artista esculpiu o jovem Davi, como se ele fosse um adolescente frágil, com traços delicados e belos. Não aparentava a força masculina, tão comum às figuras bíblicas, mas parecia estar ciente de sua própria beleza física.

Muitos historiadores de arte atribuem à opção de Donatello, o fato de ele ter sido homossexual, estando, portanto, mais propício a ver a formosura do corpo púbere de Davi, ao invés de repassar sua força e coragem. Contudo, Michelangelo, um dos grandes nomes do Renascimento, também era homossexual, e seus desenhos, estátuas e pinturas de nus masculinos são verdadeiras obras-primas em que chamam a atenção a constituição física do modelo. Foi responsável por outro Davi que se mostra bem diferente do de Donatello.  Seus músculos retesados parecem aguardar a luta com o gigante Golias.

Nota: pintura de Jean-Louis André Théodore Géricault (à esquerda)/ Davi, escultura de Donatello (à direita).

Fonte de pesquisa
Vida a Dois/ Editora Três

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Signac – CAPO DI NOLI

Autoria de Lu Dias Carvalho

Libertemo-nos. Nosso objetivo deve ser o de criar harmonias belas. (Paul Signac)

O pintor neoimpressionista francês Paul Signac (1863–1935) era filho único de um comerciante. Teve grande importância na criação da técnica de pintura denominada pontilhismo. Junto ao seu amigo Georges Seurat, a quem ensinou tal técnica, fundou a Sociedade dos Artistas Independentes. Eles são tidos como os dois grandes nomes do chamado Movimento do Divisionismo, também conhecido como Pontilhismo ou Neoimpressionismo – estudo científico da cor e da divisão sistemática do tom, antes praticado instintivamente pelos artistas impressionistas. Gostava de pintar principalmente paisagens. Exerceu influência sobre o Fauvismo e o Cubismo. O artista era um autodidata. Aprendeu sobre o Impressionismo apenas observando suas obras.

A composição intitulada Capo di Noli (nome de uma cidade italiana próxima de Gênova) é uma obra harmoniosa do artista, na qual ele obtém uma extrema policromia ao usar cores intensas e luminosas, fazendo uso de pinceladas horizontais e verticais. Enquanto os penhascos, à esquerda, e a vegetação, à direita, recebem pinceladas verticais, o caminho e o mar tranquilo são criados com pinceladas horizontais. Também existem pequenas manchas (céu próximo ao horizonte) e pinceladas diagonais que se cruzam (próximo ao primeiro plano). Este tipo de aplicação da cor pura foi responsável por influenciar os pintores do início do século XX – fauves na França e expressionistas na Alemanha.

A pintura representa uma região mediterrânea com rochedos brancos e vermelhos à esquerda, árvores verdejantes à direita, um horizonte violeta claro ao fundo, céu e mar azuis e sombras com pingos dourados pela luz do sol. Duas figuras humanas estão presentes na cena (um homem e uma mulher). Nove barcos a vela estão ancorados no mar. Ramalhetes de folhas e flores estão embutidos nos rochedos brancos.

Nesta paisagem o que importa ao artista é a textura de cor, diferentemente dos impressionistas que buscavam a impressão de uma cena natural. O arranjo de toques de cores, como se elas formassem um mosaico, quando olhado à distância, cria na retina do observador a visão de uma paisagem ensolarada e atemporal.

Ficha técnica
Ano: 1898
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 91,5 x 73 cm
Localização: Wallraf-Richartz-Museum, Fundação Corboud, Alemanha

Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
https://www.wallraf.museum/en/collections/19th-century/masterpieces/paul-signac-capo-di-noli-1898/the-highlight/
https://es.wikipedia.org/wiki/Capo_di_Noli,_cerca_de_Génova

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O NU FEMININO ATRAVÉS DOS TEMPOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

            

Diz uma lenda que, para criar a mulher, Deus fez primeiro um esboço (o homem), observou seus defeitos e eliminou-os ao dar vida à rainha da criação. Talvez seja por isso que, em todas as épocas da história da humanidade, os artistas tenham estado sempre fascinados pelo corpo da mulher, inspiração presente em todas as manifestações artísticas, e isso até mesmo nas primevas culturas, quando o corpo feminino representava apenas a fertilidade.

O psicólogo suíço Carl Gustav Jung, ao tentar explicar o motivo de tamanha atração pelo corpo feminino, concluiu que todo homem traz consigo a imagem de uma mulher perfeita, à sua maneira, é claro, que ele idealiza para completá-lo. Em assim sendo, cada varão tem uma idealização diferente do outro, pois as qualidades que para uns se mostram insignificantes, para outros podem ser preponderantes. Os artistas em suas obras deixam patente esta busca, criando tipos diferentes de mulher, levando em conta, sobretudo, a época em que vivem. Essa imagem feminina idealizada pode apresentar inúmeras facetas: ingênua ou maliciosa, bondosa ou má, poderosa ou submissa, etc. E assim também é representada na arte.

Olhando as manifestações artísticas sob o ângulo da escultura, ao longo dos tempos, o corpo feminino nu serviu de modelo para representar inúmeras deusas mitológicas, algumas vistas como protetoras da sociedade e outras como portadoras de influências negativas para ela. Foi por isso que, nos períodos puritanos da história da humanidade, a maioria das obras de arte, destruídas em nome da moralidade, retratavam corpos nus de mulheres. Até mesmo a Grécia Antiga, responsável por apresentar as primeiras esculturas mostrando o corpo feminino nu, ao representar seu panteão de divindades, caiu sob a estupidez dos moralistas que viam o obsceno e a imoralidade no nu feminino em algum tempo de sua história. A nudez só era bem vista quando representava uma figura mitológica que, ainda assim, não apresentasse qualquer semelhança com uma pessoa real, ou seja, que fosse um monstrengo.

Os gregos antigos eram por demais perfeccionistas e harmônicos em sua arte escultórica. Eles buscavam uma simetria tamanha em suas esculturas que destituíam os corpos nus, feitos de mármore, de qualquer erotismo. Essa perfeição inimaginável de ser encontrada num ser humano acabava deixando as obras artificiais e impessoais, apesar da extrema beleza que elas emanavam. Muito tempo depois tal perfeição na arte foi sendo substituída pelo naturalismo, passando a mulher a ser retratada em sua feminilidade e naquilo que possuía de humano.

Nota: Betsabá com a Carta de Davi (Rembrandt)/ Madame O’Murphy (François Boucher)/

Fontes de pesquisa
Vida a Dois/ Editora Três

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