Arquivo da categoria: Corpo e Mente

Filosofias e conjunto de práticas físicas, psíquicas e ritualísticas que buscam um estado de harmonia e equilíbrio físico e mental.

A COBIÇA NO MUNDO DA POLÍTICA

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos alerta sobre os malefícios da cobiça.

A cobiça é fonte de ansiedade que, por sua vez, origina-se da insatisfação. Nasce da frustração e também gera frustração. Dela podem advir muitas atitudes mentais, destruidoras da saúde. Quem cobiça jamais experimenta satisfação, desde que está sempre em luta por mais e por melhor. Se você amarrar sobre as costas de um jabuti um pedaço de pau, tendo na ponta um pedaço de alface, teoricamente pelo menos, vai fazê-lo andar até fisicamente exaurir-se. Atraído pelo cheiro apetitoso da folha, andará, sempre a perseguir algo inatingível. É o símbolo da cobiça.

Cobiçando maior conta bancária e mais poder econômico, muitos comerciantes, industriais e homens de empresa cometem suicídio trabalhando demais, ou explorando os outros. Perdem-se no emaranhado de valores que não passam pelos portões da morte. A cobiça dá origem à inveja que é outra fonte geradora de desequilíbrios e crimes. Quanta miséria tem sido praticada por políticos, não só na conquista do poder, mas também no exercício do poder!

A história da humanidade está cheia de exemplos de povos que foram martirizados por alguns obsecados pelo poder. A cobiça quer pelos cifrões, quer pelo mando, quer pela notoriedade tem feito imperar na terra a corrupção. Na luta pelo poder, seja econômico, seja político. O homem se destrói, perseguindo o que, no fim de contas, é tremenda decepção. A morte é certa e não respeita nem o rico nem o rei.

Se você é político ou deseja fazer vida política precisa se lembrar de que o poder político é um “talento” que deve ser judiciosa e inegoisticamente usado para o bem comum. Quem o utilizar em proveito próprio e, consequentemente, prejudicando o bem social, estará desafiando a Lei do Karma que é infalível.

O verdadeiro yoguin, se tivesse medo de alguma coisa, este seria o de cometer erros no uso do poder econômico, político ou social emprestado por Deus. O yoguin é candidato à saúde e à paz de espírito e, por isto, está sempre alerta para não se deixar corromper e, para isto, o preventivo é aparigraha, ou seja, a não cobiça.

A cobiça, mesmo que seja pelo céu, perturba-nos. É fato comprovado por poucos homens felizes que somente depois de aliviados da cobiça, vieram-lhes às mãos as coisas que até então haviam em vão perseguido. As gemas parecem que fogem da bateia do garimpeiro endoidecido pela cobiça. Aparigraha é um preceito do Yoga e significa “não cobice”. Aparigraha, a não cobiça, tranquiliza a alma. E quando há tranquilidade até os pântanos ganham o privilégio de refletir as nuvens.

Não tolde sua alma, amigo, com a agitação da cobiça! Não cobice nem sequer sua cura para, assim, não a retardar.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: imagem copiada de terapiabudismo.blogspot.com

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DEPRESSÃO E PAPEL DA FAMÍLIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

As pessoas deprimidas podem despertar sentimentos de culpa, raiva, impotência e frustração nos familiares, que podem ficar ressentidos e com dificuldades de entender o que está acontecendo com a pessoa. (Dra. Andrea Ferreira)

Tem sido muito comum o recebimento de comentários neste espaço de pessoas com transtornos mentais que se dizem incompreendidas por suas famílias. Enquanto algumas das famílias minimizam o problema, achando que o doente não necessita de ajuda médica, outras partem para o deboche, chamando o transtorno de chilique, faniquito nervoso, fricote, denguice, vitimização, bobagem e por aí vai. Sabemos que isso se dá, não por indiferença, mas por conta da falta de informação no que diz respeito às doenças mentais. Urge que os governos façam campanhas na mídia para que tais doenças sejam compreendidas e, consequentemente, deixem também de ser estigmatizadas, como ainda acontece.

A família tem um papel fundamental na vida de uma pessoa depressiva, pois a doença  torna-a mais arredia, com a autoestima baixa e faz com que tenha dificuldades para viver em grupo, achando que não é bem quista.  Essa rejeição – que muitas vezes só acontece na cabeça do doente – exige afeto redobrado para que ele se sinta aceito e amado, minorando, assim, o seu sofrimento. Ao compreender que a depressão é uma doença séria que jamais pode ser subestimada, a família caminha junto com o ente querido, vítima do transtorno, em busca de uma vida com qualidade. Assim que perceber os primeiros sintomas, ela deverá ajudá-lo a buscar tratamento, pois quanto mais cedo fizer isso, menor será o sofrimento da vítima do transtorno mental.

O isolamento é um comportamento típico dos depressivos, contudo, a família não pode agir do mesmo jeito, deixando o doente no “seu cantinho”, dizendo não querer incomodá-lo, vendo isso como uma escolha de vida pessoal. A psicóloga Pamela Magalhães explica: “Muitas vezes, o depressivo pode ficar mais irritadiço e, dessa forma, acabar se isolando, o que faz parte da patologia. A família precisa entender que não pode entrar nessa dinâmica”. Os familiares em volta também jamais deverão agir com agressividade, o que somente agravará os sintomas, tornando a pessoa ainda mais arredia e sem esperança. Quanto mais carinho e compreensão, melhores serão os resultados.

É comum o fato de muitas famílias usarem o parente doente com transtorno mental para justificar o não cumprimento de seus compromissos, o que o faz sentir-se como um peso. A psicóloga Andréa Ferreira explica: “A família deve manter sua rotina dentro do possível, envolver-se em atividades que interessem e manter os compromissos sociais, ciente de que não deve se sentir culpada pelo estado da pessoa, mas, sim, apoiá-la para que supere esse estado”. Além disso, os familiares devem acompanhar de perto o tratamento do doente, demonstrando interesse e zelando para que ele não abra mão da medicação e da terapia (quando esta for indicada), conforme prescrição médica.

A família deve estar atenta a alguns pontos, tais como:

  • Ajudar o familiar depressivo a compreender o momento pelo qual passa, incentivando-o a buscar ajuda médica, pois se trata de uma doença séria.
  • Respeitar o doente, sem jamais minimizar o problema, dizendo que “não é nada”. Deve lhe mostrar que sabe que seu sofrimento é real, mas que terá ajuda.
  • Estar sempre pronta a ouvir o familiar, quando ele quiser se manifestar, procurando ouvir mais e falar menos.
  • Compreender seus momentos de introspecção, ao não querer expor seus sentimentos num determinado momento.
  • Acompanhar as mudanças no seu comportamento, principalmente no início do tratamento, levando ao conhecimento de seu médico aquilo que notar que não se encontra dentro do esperado.
  • Deverá envolver o familiar doente em afeto e compreensão, servindo sempre de suporte emocional.

Nota: A artista e sua Modelo, obra de Edvard Munch

Fonte de pesquisa
Guia 301: Dicas para não ter depressão / Editora Online

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O PODER DA AUTOSSUGESTÃO

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos adverte sobre o poder da autossugestão tanto para o bem quanto para o mal.

“A principal missão do homem em sua vida é dar a luz a si mesmo, é tornar-se aquilo que ele é potencialmente”. (ErichFromm, em “Análise do Homem”.) Esta é a linguagem de um psicólogo ilustre. É bem igual à linguagem de um yogui. “Cada alma é potencialmente divina. O fim é manifestar este íntimo divino para controlar a natureza externa e interna. Faça isto pelo trabalho ou pela adoração, pelo controle psíquica ou filosófico ou por um ou mais ou todos esses caminhos, e seja livre. Este é papel da religião. Doutrinas ou dogmas, ou rituais, ou livros, ou templos, ou imagens são somente detalhes secundários” (Vivekananda, Works).

Desde os anos de nossa infância aprendemos que somos todos “filhos do pecado”, que “degradados” somos frágeis, imperfeitos e indignos de olharmos para Deus. Supondo e pretendendo em nós cultivar a virtude da humildade, piedosos instrutores religiosos encheram-nos desta funesta autodepreciação e, para mais acentuá-la, ensinaram-nos também ser Deus algo infinitamente diferente, distanciado e absolutamente fora de nosso alcance.

Colocar Deus tão alto, lá no inacessível e, simultaneamente, nós mesmos no mais tenebroso pélago da inferioridade, tem nos feito tanto mal! Por isso, Deus tem sido temido, mas não amado. Está tão longe que não temos a audácia de pensar esteja ao alcance de nossa busca. E, não obstante enunciemos sua onipresença, vivemos na convicção do contrário. E, assim, nos sentimos desamparados.

O desalento resultante da inacessibilidade à Bem-Aventurança Suprema faz-nos ficar parados onde estamos ou mesmo regredir, tornando-nos ainda mais frágeis e pecadores (cheios de erros). O que imaginamos que somos, somos. Afirmar imperfeições e concentrar a consciência sobre inferioridades só tem conseguido conduzir ao padecimento, à falência. Ninguém desconhece o poder da autossugestão, seja para curar, melhorar, elevar ou, ao contrário, seja para enfermar, inferiorizar e piorar. Tudo depende de seu conteúdo ser positivo ou negativo.

O ocidental, mercê de tão bem intencionado, mas funesto ensino religioso generalizado, tem enraizado no subconsciente a autossugestão “eficaz” que diz ser mísero pecador. Esta sugestão tem dado seus frutos: sofrimento, doença, vícios, ansiedades, complexo de inferioridade e até amoralismo patológico.

O yoguin nunca se preocupa com seus pecados (erros) ou com o pecado. Prefere atender ao oposto e afirmar sua unidade com o Divino, imitando Jesus ao dizer: “Eu e o Pai somos um”. Jesus realizou isto. Convidados estamos nós a imitá-lo. Potencialmente, somos divinos. E a existência nos foi dada para que possamos atualizar esta potencialidade. Divinizar-nos é o desafio.

Religiosos – dogmáticos fanáticos – acharão mesmo que comete profanação quem não se humilha, quem não se afirma degradado e pecador. Acreditar-se herdeiro do Absoluto é tido por irreverência e pecado, aos olhos de muitas vítimas da nociva pedagogia religiosa da autodepreciação piedosa. Tais pessoas precisam aprender de Ramakrisna que “nenhum orgulho que exprima a glória da Alma chega a ser orgulho. Nenhuma humildade que procure humilhar nosso Ego verdadeiro merece o nome de humildade”.

Para tais pessoas que confundem humildade com humilhação autodestrutiva, um dia escrevi: “Quando eu disse ao caroço de laranja que dentro dele dormia um laranjal inteirinho, ele sorriu e zombou de mim e se mostrou estupidamente incrédulo”.

Um tolo todos os dias batia no peito e repetia contrito: eu pecador… Eu pecador… Eu pecador… Acabou sendo. Um sábio, até mesmo ao cair, repetia: “Eu e Deus somos um… Deus e eu somos um… Eu e Deus somos um… Acabou sendo.” (Hermógenes, do livro “Mergulho na Paz”).

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: pintura do artista ucraniano Oleg Shuplyak

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REALIDADE E ILUSÃO

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele faz um paralelo entre a realidade e a ilusão.

Em um livro tradicional da Índia fala-se que uma pessoa chegou a um quarto escuro e se horripilou ao ver uma cobra que a ameaçava. Depois que acendeu o candeeiro, constatou que era tão somente uma corda.

Nossas reações de medo, ódio, cobiça, apego, finalmente todas as emoções com que reagimos ao mundo são originadas por um estado de ilusão, pois não vemos a corda, vemos a cobra. Reagimos à cobra que, embora sendo falsa, tem o real poder de afetar-nos. Não vemos a corda, embora ela seja real.

Na história da cobra e da corda, qual era real: a cobra ou a corda? A mente destituída de viveka (discriminação) viu uma cobra e caiu presa do medo, com todas as consequências desagradáveis desta emoção/choque. Na mente iluminada pela discriminação, a candeia de viveka afastou a ilusão. E, desiludido, o homem viu que não era uma cobra, mas uma corda. Isto lhe restaurou a calma e a segurança. Cada vez que nos capacitamos de que o mundo, com suas ameaças, desventuras, misérias, decepções e vicissitudes não é mais do que uma corda, que não é uma cobra, começa a instalar-se em nós a imperturbabilidade divina. À medida que o mundo, diante da luz de viveka, já não nos hipnotiza e ilude com suas fantasias, com seus prazeres ou dissabores, com seus atrativos ou ameaças, vamos caminhando para a libertação final, até atingirmos o Real.

Então, o mundo em que vivemos é ilusório? Vamos então cair no platonismo? Vamos negar a realidade ao que vemos, sentimos, sobre que agimos? O mundo não é ilusório inteiramente. Não é somente maya (ilusão). A cobra não é de mentira. É real. O mundo o é na medida e extensão em que consegue gerar medo ou apego. As reações somáticas do amedrontado emprestam realidade àquilo que lhe dá causa. E, enquanto a cobra for uma apavorante realidade, a corda não é vista e, portanto, não tem realidade, embora seja real. Dessa maneira o mundo fenomênico, isto é, o que vemos e sentimos é uma realidade, na medida e extensão dos efeitos que em nós provocam ou suas delícias ou suas misérias.

Em relação à realidade somos, naturalmente, hipnotizados, pois só lhe conhecemos as aparências sob o ângulo das sugestões particulares que em cada um predomina. A mais aproximada tradução para viveka é discriminação, isto é, a capacidade de discernir entre o falso e o verdadeiro, entre o efêmero e o eterno, a meta e os meios para atingi-la. É através dela que nos desiludimos, isto é, deixamos de ser engodados pelos aparentes do mundo. O estudo do Ser, isto é, svadhyaya, através da leitura de livros sagrados de todas as tradições religiosas, através de permanente observação das coisas de fora e de dentro de nós, é que nos dá a coragem resultante de matar a ameaçadora cobra da ilusão.

O estudo da filosofia é a chave que nos liberta da vinculação, dos sofrimentos, da cobiça, do medo e do ódio. Se é a ilusão que nos assusta ou prende, é a desilusão que nos salva. Nunca se entristeça por desiludir-se de algo ou de alguém. É uma libertação que merece seja comemorada com um sincero “Graças a Deus”.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Aparição de Rosto e Fruteira numa Praia, obra de Dalí

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AS MARAVILHAS DA DANÇA

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre o poder da dança.

Misto de ginástica e arte, em sua origem, a dança era essencialmente mística, não somente pelos efeitos psíquicos profundos, mas também pelo significado e intenção.

Dança é coisa séria. Mesmo que não se trate de dança mística ou dança clássica, mesmo a dança despretensiosa dos jovens, do ponto de vista de propiciadora de saúde mental, dança é coisa séria. Quando o homem de mente primitiva, em meneios e evoluções, no terreiro da comunidade, está expressando seu psiquismo, dando vazão a certas cargas afetivas que devem ser liberadas, assim se sente feliz. Quando não conta algo da tradição mitológica ou quando não propicia aos deuses para serem benfazejos na colheita, na caça e na pesca, a dança folclórica é uma forma de gozar felicidade momentânea.

Os jovens, em suas festinhas, exibindo virtuose na última novidade na moda de dançar, também estão expressando alegria e canalizando, de maneira socialmente aceita, certos impulsos que seriam nocivos se não expressos. A fim de manter uma “respeitabilidade própria da idade”, é provável que você negue a si mesmo a alegria sadia que seu filho desfruta com suas danças jovens. Você não sabe o que está perdendo. Deixe esta carranca e esta mania de condenar os sacolejos graciosos da gente moça. Você não sabe o que está perdendo. Posso assegurar-lhe que, com esta mania de “se dar ao respeito”, você está se privando de uma excelente válvula de escape às suas tensões psíquicas e, consequentemente, um alívio para o seu nervosismo, um meio de gozar de alegria vitalizante. A “respeitabilidade”, isto é, o manter um padrão de comportamento convencional, veste a gente com um camisolão frio, pesado e indeformável que tolhe os movimentos e frustra comportamentos que seriam naturais, se não fossem assim sistematicamente reprimidos.

Os adultos não querem ser chamados de velhos enxeridos e, por medo do ridículo, aceitam vestir o frustrador camisolão da “respeitabilidade” (às vezes só de aparência) e reprimem sua autenticidade. É mais uma das manifestações da conveniência de “ser igual” aos outros adultos. É mais uma forma do “medo de ser diferente” do comum, que empobrece a vida mental e liquida a livre expressão de nossa personalidade total.

Dance, meu amigo de meia-idade. Dance, meu velho. Dance,vovô. Dance, imite seu netinho. Livre-se do camisolão frustrador. Só não se exceda, pois seu coração não está para exageros, mas, respeitadas as condições de saúde e idade biológica, dance. Ogamissama era uma senhora que milhares de sectários reverenciavam como deusa viva. Vivia em Tabuse, no Japão, e pregava o shinko (o caminho para Deus) através de Mioshie (ensino de Deus a seus filhos). Da ascese consta a dança chamada muga. É o baile sem ego. O dançarino move-se em estado de não-ego, condição que vem, muito naturalmente, depois que se pratica a oração. Este estado de não-ego suscita um êxtase espiritual e que, paulatinamente, expande a consciência. Milhares de doshis (seguidores) em todo Japão, Estados Unidos e Índia e outros países, juntam-se em templos e lares para orar e dançar.

Eis as instruções, conforme Receitas para Ia Felicidad (Tensho JinguKyo; Tabuse, Japão):

“Feche os olhos e deixe-se levar em movimentos que sinta ao compasso de cantos improvisados. Qualquer pessoa pode fazer isto. Ver jovens e velhos fazê-lo de uma forma tão simples é comovedor e se sente que se lhe vêm lágrimas. Este muga em movimento não é como o bailado comum, no qual há esforços e a pessoa se fatiga. Também não requer habilidade e treinamento e, por isto, tanto os jovens como os velhos podem dançar. Muga é como se estivéssemos nascendo nos braços maternos. É uma terapêutica para o saneamento da alma. Melhor é gozá-lo do que descrevê-lo”. A mesma publicação afirma que as orações e o muga nos fazem olvidar penas e afrouxar as tensões nervosas e é remédio para enfermidades físicas, mentais e espirituais.

Só se pode fazer restrições à dança quando esta, ou por excessos ou degradação, conduza à fadiga ou à excitação erótica. Neste caso, não é a dança em si o mal. O mal é o seu uso desvirtuado.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Dança, obra de Heitor dos Prazeres

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SEJA UMA TESTEMUNHA SILENTE

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ensina-nos como pairar acima dos acontecimentos, mas sem jamais ser omissos.

Um dos meios de pairar acima dos acontecimentos é a posição difícil de espectador vigilante, mas distanciado. Quando você pratica a purgação mental está exercitando sakshi (traduz-se por testemunha silente). Está desenvolvendo esta capacidade de não se deixar contaminar pelo que acontece. É como ficar sentado na margem para assistir ao livre fluir da corrente.

A desidentificação só é acessível aos que são capazes de se manterem imunes, sem renunciar ao mundo ou dele fugir, mas, ao contrário, nele viver ativa e produtivamente. Os incapazes de praticar sakshi diluem-se dentro do processo mundanal. Perdendo a consciência do que são e sem poder salvar um pouco de autenticidade para si mesmos. O homem vulgar é comumente um diluído dentro do ambiente em que se encontra. O mundano contamina-o, fascina, absorve e consome. Dele pouco sobra verídico e imune.

É visando a evitar o contato e a defender sua mente, seu caráter e suas virtudes que alguns místicos se fazem eremitas e fogem para o ermo. Quem desenvolve esta sadia atitude espiritual e psicológica chamada sakshi, realizando a isenção, não obstante vivendo em contiguidade física com o mundano, fica espiritualmente à parte. Não se perde. Não se confunde. Não se identifica. Não se corrompe. Sri Ramakrishna compara a personalidade fraca que se dilui no mundo com o leite que se mistura com a água, depois do que, impossível é separar. Aquele que tem maturidade espiritual, ele o compara com a manteiga, que mergulhada na água não se mistura.

Quando a pessoa está metida num cordão de carnaval, confundida com os outros, dança, canta, pratica uma série de saracoteios que, se estivesse sóbrio, não faria. Enquanto está misturada aos foliões é apenas um deles e age como todos. Somente depois que se afasta e à distância, considera o que vê os outros fazendo e, só então, tem uma ideia do que andou também a fazer. Se você estiver metido na multidão e houver correrias e atropelos por causa de um conflito de rua, o pânico geral poderá contaminá-lo, a menos que você consiga se comportar como um “espectador silente”, observando o que se passa, exercitando sakshi.

Os acontecimentos mundiais estão, a cada dia, mais dramáticos: o choque de ideologias; os acontecimentos econômicos, políticos, sociais, realmente são assustadores pelos maus presságios. A iminência de uma guerra nuclear, os atos terroristas, as greves e as sabotagens, as injustiças sociais, os golpes de estado, mil e um acontecimentos que a voz caprichosamente emocionalizada dos locutores e os cabeçalhos da imprensa fazem ainda mais traumatizantes, estão aí para liquidar com seus nervos. Você precisa ficar imune a isto. Como? Sakshi é a resposta.

Mas seria justo ficar “sentado na margem”, assistindo silenciosamente ao drama da humanidade? Seria isto honesto? Alguém tem o direito de ficar indiferente? Quem foi que disse que para ser atuante, eficaz, fecundo na busca de uma ordem melhor para a humanidade é indispensável deixar-se conturbar, contaminar, envolver emocionalmente? Ao contrário, quem melhor ajuda é quem, acima da crise, conserva luzes e calma, perspectiva e serenidade, pois os que estão dentro dela já as perderam. Pobre do psiquiatra que, no tratamento de um paciente neurótico, comprometa-se emocionalmente. Ele tem que praticar sakshi, se não quiser perder-se e ao doente. A ninguém é lícito ficar nas arquibancadas, enquanto a humanidade, na arena, se agita e sofre, mas é imprudente deixar-se agitar e sofrer junto.

Diante de suas próprias desventuras, procure galgar um ponto em que, sereno e silente, possa observar emocionalmente isento o que está acontecendo. Quando interferir, seja para acertar. Procure ficar à distância da arrebentação da ressaca, que está abalando a humanidade que, estressada, está precisando da ajuda dos poucos isentos seres humanos sadios e sábios que ainda conservam lucidez e coerência e que, portanto, podem fazer algo por ela.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Menino, obra de Portinari.

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