Autoria de João Resende
A depressão e a fobia social sempre me trouxeram problemas. Desde muito jovem eu já sofria com isso, mas, há uns dez anos, eu tive uma crise depressiva mais séria e precisei procurar um psiquiatra, coisa que nunca tinha feito até então. Para o tratamento, o médico receitou rivotril em doses que chegaram a 6 mg por dia. O problema é que durante o tratamento eu tive uma série de situações ruins e acabei associando-as ao remédio. Eu tinha variações bruscas de humor, crises de raiva, irritava-me com qualquer coisa e, além disso, passava os dias com uma sensação de sono tão forte, que cheguei a dormir em reuniões de trabalho e cochilei também no volante (não sei como não sofri um acidente na época). No fim das contas, interrompi o tratamento e hoje vivo com os medos que sempre me acompanharam e também com medo de tentar um novo tratamento.
Eu sempre tive a esperança de que isso melhoraria com o passar do tempo, mas o problema é que já estou com quase 40 anos e, ao longo desse tempo, eu já perdi muitas oportunidades profissionais por causa da minha condição. Além de evitar todo o tipo de interações sociais, eu sofro especialmente com o medo de lidar com pessoas em posição de autoridade. Não consigo explicar este meu comportamento. O medo é tanto que quando eu preciso abordar pessoas em posições hierárquicas mais altas, a voz chega a sumir, o coração dispara, a respiração fica ofegante, o suor brota na testa e daí por diante a situação vai piorando. É como se fosse uma bola de neve. Falar em público também é uma situação impossível para mim. Prefiro a morte! Deve ser algum trauma vivido, mas tão forte que eu não consigo nem explicar sua origem.
Eu tento entender o que me leva a tal fobia, mas não consigo. Sei que, sob o viés da lógica, essas situações não oferecem perigo algum, contudo não consigo controlar as minhas reações. Tenho também muita dificuldade de concentração. Não consigo focar em nada sem que a cabeça fique pensando mil coisas ao mesmo tempo. Morro de vergonha por carregar estes problemas e tento escondê-los das pessoas, simplesmente evitando as situações e jogando fora toda e qualquer oportunidade que surge na minha vida. Fico vendo alguns colegas de trabalho e admirando como eles são serenos, autoconfiantes e levam a vida com grande prazer. Meu sonho é ser assim…
Qual será a classificação para o meu transtorno? Será que existe tratamento para isso? Será que o período que tomei remédios e tive a sensação de que tudo piorou foi só um erro do médico na prescrição? Por favor, deem-me uma luz!
Nota: Melancolia, obra de Edvard Munch
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