Autoria de Lu Dias Carvalho

É lamentável ver como as crianças e os jovens estão sendo criados nos dias de hoje, recebendo tudo de mão beijada. Os pais brasileiros já não põem, ou não conseguem colocar limites, tratando os filhos como se principezinhos e princesinhas fossem. Suas crianças não aceitam ouvir a palavra “não”, ou serem interrompidas no que fazem, numa inversão claríssima de valores, recebendo muito mais do que merecem, muitas vezes exigindo grandes sacrifícios de seus genitores que fazem da tripa coração, para atendê-las, esquecendo-se de que de pequenino que se torce o pepino. O que significa, segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, que “na infância é que se educa, eliminando os despropósitos juvenis, as exaltações temperamentais, as tendências bravias e dispensáveis”.
Tempos atrás, numa excursão a Foz do Iguaçu, tive o prazer de conhecer uma senhora alemã, morando no Brasil há oito anos que, ao ver uma criança de cinco anos dando birra de rolar no chão, falou-me como era a criação dos alemães. Disse-me, também, que muitos hotéis na Alemanha não gostam de receber casais brasileiros com filhos menores, porque a grande maioria deles é insuportável, não obedece aos pais e mexe em tudo, sem conhecer limites. Segundo ela, com sua permissividade, os pais brasileiros acabam não educando os filhos para o mundo, onde serão contrariados muito mais vezes do que atendidos.
A senhora alemã tem toda a razão, quando diz que nossas crianças são voluntariosas e querem tudo de mão beijada. Já se foi o tempo em que um presente era dado pelo merecimento. Grande parte de nossas crianças não mais se contenta ou se alegra com nada, pois tudo vem com extrema facilidade. Alheias à realidade dos pais, ou a condição de pobreza em que vivem milhares de crianças no país, elas têm se tornado egoístas e totalmente indiferentes a outrem. É fato que não são as culpadas, pois estão sob a tutela dos pais que deveriam prepará-las para a vida.
A expressão mão beijada nasceu das antigas cerimônias de beija-mão, quando os súditos reverenciavam os poderosos, beijando-lhes as mãos. Mas os súditos, ou fiéis mais ricos, iam bem mais além do beija-mão. Para caírem nas boas graças dos figurões, presenteavam-nos com terras e outras benesses. Tais presentes eram dados de mão beijada, ou seja, sem nenhum ônus para o agraciado. O beija-mão é uma tradição em que se reverencia personalidades importantes, sendo praticada em várias culturas, desde tempos remotos. E em nossas terras… “Cala-te boca!”.
Ilustração: Registro da cerimônia do beija-mão na corte carioca de Dom João, um costume típico da monarquia portuguesa.
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