Arquivo da categoria: Ditos Populares

A sabedoria popular está presente em todas as línguas, sendo expressa através de várias maneiras: provérbios, adágios, sentenças, aforismos, parêmias, apotegmas, anexins, rifões, ditos e ditados populares.

VAI PENTEAR MACACOS!

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O trânsito caótico de que têm sido vítimas as grandes cidades vem deixado os motoristas de cabelo em pé ou carecas no sentido literal. Parece que um tsunami passou pelas metrópoles brasileiras com força total.  Os engarrafamentos são monumentais e agressivos. Numa tentativa de sanar o problema, os responsáveis pelo trânsito tentam fazer pequenas e insossas mudanças que não levam a nada. Ruas que subiam e passam a descer e vice-versa. A mão inglesa está deitando e rolando, fazendo muitas coisas bobas por aí. É uma loucura generalizada.

Foi no meio dessa barafunda, dentro de um táxi mais parecido com uma lesma, tamanha era a lentidão do trânsito, que presenciei uma cena risível. Não é que certo cidadão, metido a biscoito de sebo no seu carro importado, deu uma fechada no táxi do meu amigo. Digo “amigo” porque depois de tanto tempo juntos, motorista e eu já tínhamos discorrido até mesmo sobre as pernas das centopeias. O motorista do “meu” táxi gritou para o infrator:

– Ei amigo, sua carteira está vencida!

– Vai pentear macacos! – respondeu o pernóstico, enquanto tentava passar entre dois carros a qualquer custo.

O meu novo amigo virou-se para mim e, sorrindo, complementou:

– Só se eu for ao zoológico, pois é o único lugar em Beagá, onde encontro macacos. O pente até que tenho, mas com este trânsito fica bem difícil ir ao zoo, a menos que o governador empreste-me seu helicóptero – complementou, sorrindo, o meu novo amigo, como se acontecido não tivesse sido com ele.

Confesso que não esperava por aquela explicação. Acabei caindo na gargalhada. Eu me deliciei com o humor daquele homem, já cansado, em meio ao desgoverno do trânsito, num dia de cão, certo de que rir é o melhor remédio. Parabéns, João Luís!

A expressão “pentear macacos” tem como origem a expressão portuguesa “Mau grado haja a quem asno penteia”. Não se adaptando à formalidade e à sonoridade do provérbio português, o brasileiro partiu para o popular, tornando a expressão mais simples e com um novo personagem. Alguns estudiosos da língua acham que o “pentear” português significava “escovar” os animais de carga, sendo o “asno” substituído posteriormente pelo “bugio” naquele país e por “macaco” no Brasil.

Tal expressão pode ser trocada por  “vai cuidar da tua vida”, “não amoles”, “cai fora”, “para de encher o saco”, “vai ver se eu estou na esquina”, “foda-se!” ou vai tomar naquele lugar. Uau!

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DAR UMA BANANA

Autoria de Lu Dias Carvalhomac123

Minha comadre Sá Quelemença, também conhecida por “Quelemença das Bananas”, é birutinha por essa fruta maravilhosa, consumida em quase todo o mundo, sendo a mais comum para os brasileiros, cujo país é o 4º no mundo em exportação de bananas.

Não há sábado em que Sá Quelemença não volte da feira com duas a três pencas em suas sacolas, sejam elas de banana-nanica, banana-da-terra, banana-prata, banana-maçã ou banana-ouro. Para cada tipo ela alega uma serventia: é laxante, prende o intestino, ajuda na digestão, é doce, é perfumada… E por aí vai. O mais engraçado é que a distinta senhora tanto come a laxante como aquela que diz prender o intestino. Se perguntada sobre o desacerto,  responde na bucha que é para equilibrar os intestinos. Se acabam suas bananas, a mulher não se acanha em bater na porta de quem quer que seja à procura das amarelinhas.

E foi por essa paixão pelas bananas que eu me espantei, quando a minha comadre entrou porta adentro em minha casa, no maior chororô, dizendo que seu seu vizinho Zé Carneiro havia lhe dado uma banana. Acabamos travando um esdrúxulo diálogo:

– O Zé Carneiro me desrespeitou, dando-me uma banana! Buááá! – disse-me ela.

– Mas mulher, todo mundo lhe dá bananas, pois sabe que você gosta exageradamente delas. O que há de mal nisso? Deveria estar agradecida ao bom homem. – disse-lhe eu.

– Mas a banana dele é de outro tipo! Buáááá! – exclamou ela.

– Fale logo, criatura, que tipo de banana era essa, pois eu nunca vi você enjeitar  banana alguma. Ela era prata, nanica, maçã, ouro ou terra? – indaguei eu.

Não! Não era nenhuma dessas! Buáááá! – respondeu-me ela aumentado o choro.

– A senhora vem agora me dizer que não mais aceita bananas? Qual era, então, minha comadre, a banana que lhe foi oferecida? – questionei surpresa.

– É a de braço! Buáááá! – respondeu-me minha comadre.

Mulher, confesso que desse tipo eu nunca vi e nem ouvi falar, mas dizem que existem mais de 500 tipos de bananas no mundo, desde uma pequenina que pesa cerca de 50 gramas até a grandona com um quilo – continuei explanando

– Ela não é de comer! Buáááá! – choramingou minha comadre.

– Meu Deus do Céu! Para que serve essa tal banana de braço? – continuei indagando.

– Só é usada para destratar – falou ela já nervosa.

– A senhora quis dizer “descascar”? – voltei a questionar.

Não! Buáááá! Ele fez foi assim, ó! – disse ela me mostrando o braço.

Confesso que não pude conter a gargalhada. Para consertar, eu lhe aconselhei:

Faça um doce de banana bem gostoso e leve para o Zé Carneiro, pois irá ficar vermelho de vergonha do que fez com a senhora – aconselhei eu.

Comadre Sá Quelemença gostou da minha sugestão. Sorriu e saiu às pressas para botar em execução o plano engendrado por mim.

O gesto descrito por Sá Quelemença é tido como vulgar, desrespeitoso e obsceno. Possui conotação fálica. É comum em países como Portugal, Espanha, Itália, Brasil e em toda a América Latina. Segundo o Prof. Menegotto, “O gesto e suas denominações nasceram em Portugal, com o nome de ‘manguito’, numa alusão a ‘fazer as armas de Santo Antônio’ ou, então, as armas da Ordem Terceira de São Francisco em cujo brasão figuravam dois braços cruzados. Acredita-se que esse gesto ofensivo e vulgar seja bem anterior à sua denominação. E somente no Brasil recebera o acréscimo da fruta, com flagrante conotação fálica. Possui o mesmo significado que o dedo médio mostrado“.

Prof. Menegotto®

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PACIÊNCIA À BEÇA

Autoria de Lu Dias Carvalho lixo1

À medida que a população das grandes cidades brasileiras cresce desordenadamente, maiores são os problemas enfrentados por seus moradores. Dentre eles está o transporte público que vem sendo um Deus nos acuda, um salve-se quem puder. Não consigo entender como um país tão grande como o nosso pode se dar ao luxo de não possuir trens e metrôs em grande quantidade. É preciso ter paciência à beça para não pirar em meio ao caos do trânsito das metrópoles, onde andar a pé, sempre que possível, tornou-se a melhor solução. Países continentais jamais podem abrir mão dos trens e metrôs, sob o risco de sua população ter que comer o pão que o diabo amassou. No mínimo deve haver alguma maracutaia com as empresas de ônibus.

Esquecendo, enquanto é possível, a loucura do trânsito, passei a matutar sobre a expressão “paciência à beça”, que não diz respeito a uma paciência pequenina qualquer, mas a uma gigantesca, imensurável, colossal e babilônica paciência. Trocando em miúdos, é uma conformação para ser humano algum botar defeito. É a paciência de Jó, a resignação extrema, é o engolir sapo, o não se importar com o tranco.

Contam as fontes pesquisadas que a expressão “à beça” tem sua origem na rica argumentação do jurista alagoano Gumercindo de Araújo Bessa que, quando debatia, deixava os presentes de queixo caído, tamanha era a sua sabença. Numa discussão com Rui Barbosa – na disputa pela emancipação do então território do Acre – ele deu um show de erudição e conhecimento jurídico, deixando muita gente embasbacada. Tornou-se muito admirado por sua oratória. Dizem que certa vez um político, ao elogiar um colega por sua brilhante atuação, disse-lhe:

– O senhor tem argumentos à Bessa!

O tal colega estava sendo comparado com o jurista Gumercindo Bessa. Mas o tempo que em tudo mete o bedelho, encarregou-se de retirar a inicial do nome (Gumercindo) e os dois “esses” foram transformados em “ç”. De modo que “à beça” significa: em grande quantidade, fartamente, excessivamente…

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FICAR UMA ARARA

Autoria de Lu Dias Carvalho arara

Ao tomar conhecimento de que o azeite vem sendo adulterado e que o tão propalado “azeite extra virgem” só tem de virgem mesmo a desventurada ingenuidade do cliente, eu fiquei uma arara. Este nosso país é mesmo o paraíso do mau-caratismo. Aqui se adultera tudo, do leite ao remédio, sem o menor pudor, sem dó ou piedade. Fiscalização que é o dever dos poderes constituídos para tal, inexiste. Ou melhor, ela também foi adulterada pelo descaso, pela irresponsabilidade e corrupção dos grandões, aliados nas mamatas, irmanados no molha mão. Querem mesmo é que o povo fique a ver navios, num mato sem cachorro. É preciso botar a boca no trombone, ficar fulo de raiva e cuspir fogo.

O que uma bela e inocente avezinha tem a ver com a sem-vergonhice desse cartel de falsificadores e enganadores? É claro, que coisíssima nenhuma, pois ela só faz embelezar o nosso mundo. Então, por que a arara encontra-se nesta história? Bem, o seu comportamento foi tomado como símbolo das pessoas que se chateiam, que se se encolerizam ou se revoltam com certas coisas com as quais não estão de acordo, como faz a arara que, ao ser contrariada, mostra-se indignada, eriçando as penas, abrindo as asas e  grasnando com sua voz rouca. Ou seja, ela bota a boca no mundo, reclamando de peito aberto e em altos brados para quem quiser ouvir.

Neste nosso país não se pode fazer ouvidos moucos, é preciso ficar com a orelha em pé para tudo. Muito cuidado também com as cirurgias desnecessárias, pois há muita gente de avental branco, com estetoscópio no pescoço, querendo ganhar mais às custas dos ingênuos. Nunca aceite uma só opinião. Busque duas, três. Quase fiquei com os cabelos em pé, fula da vida,  mordida de raiva, ao saber que uma cirurgia a mim indicada era desnecessária. E olhe que o sujeito no comando é um bambambã no pedaço. Fiquei de beiço caído. É preciso estar de olho, minha gente, ficar de venta acesa, senão a vaca vai pro brejo, pois jacaré que dorme de barriga para cima vira bolsa de grã-fina. Quem ficar frosô leva tinta ou sai chamuscado. E se ficar uma arara não resolver a situação, vire uma onça, uma cobra ou o que for necessário. Em suma, bote a casa para baixo. Mostre que bulir em casa de marimbondo é o mesmo que mexer com fogo. Vamos botar vergonha neste país custe o que custar.

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A TOQUE DE CAIXA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O velho homem, com seu corpo enrugado pelo sol e com as mãos e pés calejados pelo trabalho árduo na lavoura, aproveitou o sábado para ir à cidade comprar querosene para a lamparina e outras coisinhas necessárias para não morrer à míngua, pois o salário pago pelo fazendeiro era a metade do salário mínimo vigente no país, o que já era um miserê. Mas quem há de fiscalizar a vida dos pobres coitados no interior deste mundão de meu Deus, lá onde filho chora e mãe não ouve.

 Já na cidade, o homem tomou umas biritas, certamente das mais ruinzinhas e baratas, uma vez que não podia dar a si nenhum outro prazer, tamanha era a vida miserável que levava, para se esquecer um pouco das mazelas que carregava consigo. Com o sol a pino, não foi difícil a danada subir-lhe pela cachola, dando nó em seus miolos.

Um fato paralelo acontecia na cidade: a visita do deputado estadual mais votado da região para inaugurar uma ponte de dois metros de comprimento. Que perda de tempo! Mas as eleições estavam próximas e era preciso se fazer presente, de modo a não ser esquecido nas urnas. A verborragia começou a encher o ar, saindo do palanque armado no início da ponte, enquanto aguardavam a chegada do político. Foi nesse exato momento que o pobre diabo fazia o caminho de volta para seu casebre.

O lavrador, numa falha da segurança, subiu no bendito palanque e desandou a falar, pondo para fora todo o desprezo com que fora tratado pelo poder público e pela vida. Embasbacados, nenhum dos presentes conseguia tomar qualquer atitude. Mas, quando o deputado chegou, o sujeito foi retirado a toque de caixa e a empurrões pelo delegado, pois a verdade não pode ser dita a quem deve escutá-la.

Como surgiu a expressão a toque de caixa? Quem já assistiu a algum filme épico romano, lembra-se das trombetas enchendo os ares nas proclamações disso ou daquilo. Trombetas essas que foram depois substituídas pelos tambores dos muçulmanos na Europa. De modo que em Portugal, segundo dizem, durante as cerimônias públicas os indivíduos indesejáveis eram expelidos do local ao som do tambor, ou seja, a toque de caixa. Existe também outra explicação que remete ao uso dos tambores nos costumes militares, ou seja, no comando das tropas, tendo a invenção chegado à Europa, através dos muçulmanos que usavam o tambor em seus ritos religiosos e encontros militares. A toque de caixa = rapidamente, a toda pressa…

Fontes de pesquisa:
Blog Brasil Escola
A casa da mãe Joana/  Reinaldo Pimenta

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A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Não há quem não se deixe levar pelas primeiras impressões. Sabemos, contudo, que tal caminho esconde muitos abismos e lodaçais. E para reforçar este nosso defeito, diz o ditado popular que é a primeira impressão que fica. Mas não deveria ser assim, para o nosso próprio bem, pois impressão não dá camisa a ninguém, mas a certeza, sim.

Todos nós carregamos uma certa dose de intuição, embora todo julgamento devesse estar alicerçado em paredes firmes. A dona intuição não pode tomar a frente e ir dando o caso por encerrado: gosto ou não gosto e ponto final. Tal avaliação leva-nos muitas vezes a cair numa tremenda esparrela. A gente vê cara, mas não possui raios-X para ver o coração das pessoas. Nem sempre aquilo que nos agradou num primeiro momento, conserva a nossa mesma opinião com o andar da carruagem. Por isso, acabamos muitas vezes dando com os burros n’água, se nos precipitamos nas avaliações.

Devo dizer, a bem da verdade, que os meus burricos estão sempre molhados, coitadinhos. Já devo possuir muitas tropas no fundo dos lagos, rios, mares e oceanos. Estou sempre a fechar os olhos, sem querer enxergar além das aparências, preferindo  apostar na bondade humana. Comigo não existe essa de ficar com um pé na frente e outro atrás, para o meu azar. O fato é que tenho uma grande tendência para acreditar nas pessoas, faça chuva ou faça sol. O meu juízo é sempre pródigo, até que venha a certeira cacetada. Algumas delas têm sido bem doloridas. Mesmo assim, ainda não aprendi que o dia do benefício é a véspera da ingratidão.

As primeiras impressões devem ser consideradas como indicações vagas, sujeitas a verificações. É preciso ter muito cuidado com o lodaçal das simpatias e antipatias instintivas, antes de edificar concepções do bem e do mal, do justo e do injusto, do real e do fictício, da verdade e do errado. A afoiteza foi sempre uma péssima companheira, levando-nos sempre à contrição, pois o apressado acaba comendo cru. Tomadas de posição precipitadas impedem-nos de fazer uso do discernimento e do comedimento.

Nós vamos acumulando enganos ao longo da vida em nossos julgamentos precipitados, pois uma concepção errônea impede-nos de buscar outra que possa ser a certa. Cautela é o caminho a ser seguido. O melhor mesmo é buscar o equilíbrio, até que o tempo – mestre da sabedoria – mostre-nos a verdade, ou pelo menos parte dela, para que não sejamos pegos com as calças na mão. Outro ponto importante para não cairmos em roubadas  é não nos deixarmos levar pela opinião de terceiros, pois, como diz a minha amiga Lena, galinha que anda atrás de pato morre afogada. Assim, só depois de um bom convívio é que se deve dizer: meu anjo da guarda não combina com o de sicrano ou beltrano.

 

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