Autoria de Lu Dias Carvalho
A estátua conhecida como Laocoonte ou Laocoonte e Seus Filhos ou ainda como O Grupo de Laocoonte, feita em mármore, foi encontrada durante uma escavação em Roma em 1506, permanecendo em exposição no Vaticano. É tida como uma das mais belas obras da escultura helenística, sendo vista como “o ícone prototípico da agonia humana” na arte ocidental, uma vez que, ao contrário dos martírios apresentados na arte cristã, esse não possui redenção ou qualquer outra forma de recompensa. Ao ser descoberta, seu efeito de tragicidade impactou emocionalmente os artistas e público. A estátua, embora seja tida em excelente condição por se tratar de uma obra escavada, tem várias partes incompletas e ainda sugere, após análises, que tenha sido remodelada em tempos antigos. Desde a sua descoberta ela já passou por várias restaurações.
Trata-se de um dos mitos que mostram a hedionda crueldade proporcionada pelos deuses olímpicos aos mortais, o que era bem comum às mitologias grega e latina. A dor lancinante dos três personagens, postados no degrau de um altar, é representada através da expressão dos rostos e da tensão física dos corpos na tentativa de libertarem-se da constrição das duas serpentes, o que deixa em realce a musculatura, sobretudo a do pai e a do filho mais velho. O modo como os músculos do tronco e dos braços repassam a ideia de esforço e sofrimento na luta desesperada, a expressão de dor vista no rosto do sacerdote, as contorções inúteis dos dois moços e o modo como toda essa agitação foi criada, tudo isso contribuiu para que essa obra fosse tão impressionante.
Ao ser encontrada, a escultura estava sem o braço direito de Laocoonte, sem parte da mão de um dos garotos e o braço direito do outro, assim como várias partes das duas serpentes. O garoto mais velho, à direita, também havia sido desunido das outras duas figuras. Para resolver o problema das partes ausentes da escultura, vários escultores, artistas da época em que ela foi encontrada, discutiram como essas deveriam ter sido. Michelangelo, depois de profundo estudo, concluiu que os braços direitos deveriam ter sido dobrados para trás, sobre o ombro, enquanto outros artistas sugeriram que deveriam ter sido estendidos para frente, como num gesto heroico. Contudo, na década de 1980, chegou-se à conclusão de que a estátua deveria ser apresentada como fora encontrada, tendo, portanto, as partes restauradas de braços e mãos sido retiradas.
Ao observarmos a estátua podemos notar que os dois garotos foram feitos numa escala bem pequena, se comparada à do pai, possivelmente com o intuito de destacar mais Laocoonte, figura central da obra, dando-lhe um impacto maior. Ao serem envolvidos pelas duas serpentes que une os três personagens, esses mostram o semblante carregado de dor, medo e agonia. O garoto da esquerda já se encontra em agonia, picado por uma das serpentes, enquanto o da direita tenta desenrodilhar a serpente de sua perna esquerda e olha para o pai como se pedisse ajuda, mas sentisse que ele não poderia socorrê-lo. O tronco musculoso e avolumado de Laocoonte deixa visível a sua árdua luta para afastar a cabeça da serpente, já com a boca aberta, de seu quadril esquerdo.
Chama a atenção no conjunto da obra, esculpida num único bloco, a beleza das dobras das duas serpentes enrodilhadas nos três personagens. Segundo o historiador Plínio, o Velho, em sua História Natural, este trabalho foi feito por três grandes artistas da época: Agesandro, Polidoro e Athenodoros, nascidos em Rodes e a estátua encontrava-se no palácio do imperador Tito. Presume que ela seja parte de uma iconografia maior. Segundo o mito que se relaciona com a Guerra de Troia, o sacerdote troiano Laocoonte, que era filho de Príamo e sacerdote de Apolo, casou-se contra a vontade do deus e teve dois filhos denominados Antífenes e Timbreu. Apolo ficou mais irritado ainda quando Laocoonte arremessou sua lança contra o Cavalo de Troia. E, por isso, vingou-se enviando duas serpentes marinhas para matar os filhos de seu sacerdote, mas esse, ao tentar salvá-los, acabou sendo picado e morto. Existem outras versões para esta lenda.
Curiosidades
- Presume-se que o grupo Laocoonte tenha sido encomendado pelo imperador Tito, na primeira metade do primeiro século d.C., tendo sido executada pelos escultores de Rodes, após um original de bronze feito no século 2 a.C.
- O braço direito foi descoberto por Ludwig Pollak, em 1905. Ele conseguiu provar que esse pertencia à figura de Laocoonte. O braço encontrado foi adicionado à estátua durante sua última restauração, em 1957-1960.
Fontes de pesquisa
Para entender a arte/ Maria Carla Prette
A História da Arte/ E. H. Gombrich
http://ancientrome.ru/art/artworken/img.htm?id=1372
https://en.wikipedia.org/wiki/Laocoön_and_His_Sons
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