Arquivo da categoria: Fotografias

Textos, fotos e endereços de vídeos

FRANZ KAFKA – O MENININHO TRISTONHO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Ao observarmos fotos bem antigas, chegamos à conclusão de que a maioria das crianças apresentam-se tristonhas, principalmente as mais taludas, que possuem consciência do que estão fazendo. Aposto que muitos de vocês não sabem o porquê, mas eu vou contar.

O corpo infantil é ativo por natureza. Mais parece o brinquedo joão-teimoso (ou joão-paulino) que nunca quer se deitar. Ação é o lema! Mesmo os momentos dedicados ao ato de comer ou rezar parecem uma eternidade. E dormir é uma perda de tempo, o que leva muitas mães a se descabelarem.

Feita a introdução, imagine o leitor, nos tempos idos do século XIX, uma criança de seis anos sendo submetida à tortura de ter que tirar uma foto, quando a tecnologia usada nas câmeras de estúdio exigia do retratado, para uma única foto, o mesmo tempo de uma sessão de fotos nos dias de hoje. A palavra chave era “imobilidade”. O “instantâneo” estava mais para “demorado”, aliado ao “enfadonho”, muitas vezes descambando para o “doloroso”.

E foi exatamente isso que aconteceu com o nosso fotografado acima, que não era ninguém mais e ninguém menos do que  Franz Kafka, escritor tcheco, aquele mesmo que escreveu A Metamorfose, que conta a história de um caixeiro-viajante que, ao se acordar, percebe que se transformou num inseto, com inúmeras patas…

O meninho da foto também tinha outros motivos para se sentir triste, pois, além da demora enfadonha e dolorosa do “instantâneo”, suas roupas eram muito apertadas, um chapéu agigantado cansava-lhe a mão esquerda, e se encontrava em meio a um emaranhado de plantas. Assim, não há sorriso que perdure. Haja martírio!

Fonte de pesquisa
Aventuras na História/ Edição 135/ Editora Abril

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JOHN LENNON E YOKO ONO – ÚLTIMA FOTO

Autoria de Lu Dias Carvalho chico1

Por que ninguém me avisou que John seria levado embora? É nisso que penso quando vejo essa foto. (Yoko Ono)

Você retratou nosso relacionamento exatamente como ele é. Prometa para mim que esta imagem vai ser a capa. (John Lennon)

A fotógrafa estadunidense Annie Leibovitz tornou-se conhecida por fotografar  pessoas famosas, mas jamais poderia imaginar que iria tirar a última foto profissional de John Lennon, que foi assassinado naquele mesmo dia.

Durante 10 anos, Annie trabalhou como chefe de fotografia da afamada revista Rolling Stone, sendo responsável por 142 capas. Transferiu-se para a Vanity Fair e depois para a Vogue. Publicou seis livros de fotografias. Teve uma relação homoafetiva com a escritora, crítica de arte e ativista, também estadunidense, Susan Sontag, que durou até os últimos anos de vida dessa.

A revista Rolling Stone havia pedido à fotógrafa Annie Leibovitz uma foto de John Lennon sozinho, mas o cantor exigiu que Yoko Ono, artística plástica japonesa e sua mulher, também participasse. Na época, era um dos casais mais conhecidos em todo o mundo. A sessão de fotos com Lennon e Yoko aconteceu no apartamento luxuoso, onde moravam, no edifício Dakota, em frente ao Central Park.

Ao ver a foto acima, em meio a outras tantas, Lennon escolheu-a e pediu à fotógrafa que ela fosse publicada na capa da revista. Mas, como a gente faz um plano e a vida nos oferta outro, a foto foi realmente capa da revista Rolling Stone, mas na edição feita em homenagem póstuma ao ex-Beatle.

Na foto, Yoko está toda vestida, enquanto John apresenta-se nu, com sua pele branca em evidência, criando um grande contraste. A visão é de um Lennon mais fragilizado, dependente de uma mulher mais forte, como se fosse um bebê agarrado à mãe, envolvendo-a com o seu corpo, numa postura quase fetal.

Yoko, por sua vez, vestindo uma blusa preta de mangas e uma calça jeans, com seus longos cabelos escuros, tem apenas o rosto à mostra. O carpete de cor neutra, onde o casal encontra-se, destaca ainda mais a sua figura, dando a impressão de que seus cabelos soltos estão esvoaçando para cima e de que ela está se resvalando em direção ao chão.

John envolve com o braço esquerdo o rosto de Yoko e com o direito segura seus cabelos. De olhos fechados, deixa que seus lábios toquem suavemente a face esquerda de sua mulher, numa mostra de extremado carinho.

Yoko traz os braços dobrados sob a cabeça, como se entregasse seu corpo inteiramente aos afagos de Lennon. Contudo, seu rosto parece triste e distante. Seus olhos abertos parecem vagar para longe, como se captasse o que estaria por vir

No lado direito da foto, naquilo que parece um sofá, é possível ver um pedaço da calça jeans, provavelmente de Lennon.

O casal foi retratado poucas horas antes do assassinato de John Lennon, em 1980.

Nota:
Existem muitas controvérsias quanto à última foto de John Lennon. Mas, comercialmente falando, trata-se da que ilustra este texto, publicada na capa da revista Rolling Stone, feita por Annie Leibovitz no apartamento do casal.

Fontes de pesquisa:
Tudo sobre fotografia / Editora Sextante

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AS SENHORITAS BOOTH

Autoria de Lu Dias Carvalhotici12345

O fotógrafo e diplomata francês Camille Silvy (1834-1910) começou a trabalhar com fotografia após ser enviado à Argélia, onde fotografou naturezas-mortas, obras de arquitetura e paisagens. Chegou a abandonar a diplomacia para trabalhar com a fotografia.

O fato de ter sido diplomata transformou Silvy num fotógrafo especial, que retratava pessoas da aristocracia e da realeza. Acostumado a viver em ambientes requintados, conta-se que Silvy usava luvas brancas para tocar seus clientes, quando lhes consertava a pose. Além disso, tinha sempre o cuidado de arrumar o cenário do estúdio de acordo com a profissão do retratado.

O espelho era visto na pintura, desde a Renascença, como símbolo da vaidade e da futilidade, pois refletia a beleza que, tal como um reflexo no espelho, era por demais passageira.

A fotografia acima retrata duas jovens irmãs diante de um espelho veneziano. Os espelhos usados no século XIX eram tidos como objetos de luxo e, por isso, estavam muito presentes nas fotografias das mulheres, com o intuito de realçar-lhes a beleza.

Na época, era comum irmãs serem fotografadas juntas. O reflexo do rosto de uma das fotografadas no espelho dá a ilusão de que elas sejam três. A classe social a que pertencem pode ser medida pela riqueza dos vestidos, pelas joias e pelo espelho. Ambas usam o mesmo penteado.

A mulher, que fita o observador, segura delicadamente a mão de sua irmã, que se encontra de costas, aparentando timidez. A cena retratada remete à mitologia clássica das Três Graças.

Nota: Fotografia feita em 1861.

Fonte de pesquisa:
Tudo sobre fotografia/ Editora Sextante

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UM BEIJO EM TIMES SQUARE

Autoria de Lu Dias Carvalho viet1

Eu estava no primeiro encontro com a minha atual esposa, quando eles anunciaram o fim da guerra. Fomos para um bar e eu bebi um pouco. Estava excitado pelo fim do conflito e animado por causa da bebida. Quando vi a enfermeira na rua, agarrei-a e a beijei. (George Mendonça)

Ele era muito forte. Eu não o beijei. Foi ele quem me beijou. (Greta Zimmer Friedman).

O fotógrafo e fotojornalista judeu-alemão Alfred Eisenstaedt (1898-1995), que trabalhou como freelance na Alemanha, é responsável por uma das imagens mais conhecidas, comemorando o término da Segunda Guerra Mundial. Trata-se da fotografia de um marinheiro norte-americano beijando uma enfermeira na Avenida Times Square, logo após a vitória dos Estados Unidos sobre o Japão.

Alfred Eisenstaedt nasceu na antiga Prússia, mas mudou ainda criança para Berlim, Alemanha, de onde partiu dois anos depois da chegada de Adolf Hitler ao poder, migrando para os Estados Unidos a fim de fugir do antissemitismo. Ainda na Alemanha, ao ser recrutado pelo exército alemão para servir na Primeira Guerra Mundial, teve as pernas afetadas pela explosão de uma granada que o impediu de andar sozinho pelo período de um ano. Fato que não tirou o seu interesse pela fotografia. Após se naturalizar norte-americano, Alfred Eisenstaedt viajou por diversos países, documentando as consequências trágicas da guerra. Por seu trabalho de fotógrafo recebeu inúmeros prêmios.

Dia V-J em Times Square é a fotografia mais famosa de Alfred Eisenstaedt e uma das imagens mais icônicas festejando o final da guerra.  A imagem capta a alegria dos Aliados e simboliza a presença dos soldados e do corpo médico de apoio no conflito que chegava ao fim, momento imortalizado pelo fotógrafo.

A revista Life, à época, publicou uma série de fotografias celebrando o final da guerra, em uma seção de doze páginas, chamada Victory. Os fotógrafos que cobriram a guerra elegeram a foto do beijo como a predileta. Muitas pessoas tiraram foto imitando aquela pose.

Por muito tempo se perguntou quais eram os protagonistas daquela cena. Vários casais apareceram para dizer que eram eles, até surgirem os verdadeiros personagens. Sessenta e sete anos depois de terem sido clicados para a foto consagrada, George Mendonça, o marinheiro, e Greta Zimmer Friedman, a enfermeira, voltaram a se reencontrar.

Segundo Greta, assim que a fotografia foi publicada na revista Life, ela se reconheceu. O que não aconteceu com George, que só se convenceu de que o marinheiro era ele, muitos anos depois. Sua mulher, Rita Mendonça, que aparece no plano de fundo, na altura do ombro, foi a prova cabal.

Olhando a fotografia, tudo nos leva a crer que se trata de um casal enamorado. Até porque a garota entrega-se por inteiro ao rapaz. Nada há nela que indique repulsão. Toda a sua postura é de aceitação e compartilhamento. Sem falar que é difícil imaginar que alguém possa nos abraçar e beijar (na boca) na rua sem a nossa permissão. Mas nos situemos na época do acontecimento. Imaginemos o sofrimento das pessoas diante de uma guerra tão longa. Coloquemo-nos no lugar do marinheiro, talvez prestes a partir para alguma missão, assim como a enfermeira. Não poderia haver euforia maior do que receber a notícia de que a guerra findara, e mais, com a vitória dos Aliados. Numa hora dessas todos se sentem como irmãos, se antes, vítimas do mesmo sofrimento, depois, tomados pela mesma alegria.

Lembro-me de ter participado de finais de apuração política, em frente ao comitê geral do partido em questão e, ao final, quando vitoriosas, milhares de pessoas presentes punham-se a abraçar umas às outras, numa alegria generalizada, sem que se conhecessem antes. Agora, imaginemos tal acontecimento no final de uma guerra! Portanto, nada mais normal que o procedimento do marinheiro George Mendonça ao abraçar a enfermeira que passava pela rua, na hora do anúncio da vitória, pessoa que também representava uma participação mais efetiva no conflito. Ou seja, ambos estavam no mesmo barco, logo, em maior sintonia. Sua mulher, Rita Mendonça, deve ter perdoado os arroubos do marido, pois deveria estar tão feliz quanto ele.

Fontes de pesquisa:
Tudo sobre fotografia/ Editora Sextante
Revista Alfa

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DOROTHY COUNTS – 1ª ALUNA NEGRA NOS EUA

Autoria de Lu Dias Carvalhodorothy

Há 55 anos, não imaginava que viveria para ver a posse de um presidente negro. (Dorothy Counts)

Quem imagina que o bullying surgiu recentemente é porque não se dá conta daquilo por que passaram os alunos negros nas escolas de brancos. E a norte-americana Dorothy Counts foi uma das vítimas, apenas por ter decidido estudar, quando o saber era privilégio dos brancos, naqueles tempos cruéis da história, em que a cor da pele servia ou não de passaporte para o conhecimento.

Dorothy Counts, única menina negra num grupo de quatro alunos negros, sofreu bullyng por parte de quase toda a escola Harding High School, em seu país, ainda que a Suprema Corte Americana houvesse decidido, três anos antes, que não poderia mais haver segregacionismo nas escolas dos EUA. Mas entre a lei e a realidade havia um abismo assombroso. E olhem que esse dia não está tão distante assim. Foi em 4 de setembro de 1957.

O bullyng à garota não estava restrito apenas aos alunos da escola em questão. Uma senhora, esposa do Conselho de Homens Brancos da cidade de Charlotte, na Carolina do Norte, instruía os alunos a cuspirem na garota de apenas 15 anos. Além dos cuspes, era também apedrejada por alunos, instigando-a a voltar para o lugar de onde viera, pois ali não era o seu espaço. No refeitório, cuspiam em sua bandeja e, nos corredores, era atingida pelas costas por vários tipos de objetos, além de ter seu armário destruído. Na sala de aula, assentava-se na última fila, sendo totalmente ignorada pelos professores, até mesmo quando levantava a mão. E, como se tudo isso não bastasse, sua família passou a receber ligações anônimas, ameaçando-a. Não aguentando a forte pressão, a família de Dorothy Counts retirou-a da escola, vindo a garota a se formar num colégio da Pensilvânia, para onde se mudou com a família.

Durante os quatro dias em que Dorothy Counts frequentou aquela escola, ela não contou com o apoio da direção e tampouco com a solidariedade de nenhum professor. Apenas duas alunas brancas aproximaram-se dela. Talvez como uma forma de redenção, a mesma Harding High School que tanto a humilhou, homenageou-a, em 2010, com um novo prédio em seu nome. Nessa história toda, o que mais me intriga é o fato de que, naquela época, a população daquele país era constituída por “cristãos fervorosos”. Eis a prova de que a religião, na imensa maioria das vezes, não passa de um rótulo.

A foto acima mostra Dorothy Counts, acompanhada do pai com feições chocadas, chegando à escola, com seu belo vestido xadrez, com um enorme laço branco, feito por sua avó para o seu primeiro dia de aula. Até se ver como motivo de chacota pelos alunos que a circundavam e nela cuspiam, deveria estar se sentido como a garota mais feliz do mundo. Observem que, apesar dos gestos obscenos, ela segue em frente, ereta, com a cabeça erguida. Imagino a dor pela qual passou o pai, ao ver a filha sujeita a tamanha humilhação, sem poder reagir, pois as leis eram feitas para os brancos.

Dorothy Counts teve um papel muito importante para o Movimento dos Direitos Civis e pelo fim da segregação racial que contaminava os EUA. E essa imagem comovente, feita pelo fotógrafo Douglas Martin, deve ser de conhecimento de todos, para que fatos como esse jamais voltem a se repetir.

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A PIETÁ DA FOME

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Sobre a terra árida, cruel e inclemente,
dourada por raios de sol inflamantes,
a natureza expõe sua obra, indiferente.
O material usado: esqueleto de gente.

Majestosa com suas pernas trementes,
olhos perdidos, bem além do horizonte,
traz junto aos seios secos, inoperantes,
um pequeno trapo humano agonizante.

A mãe-rainha, descarnada e distante,
leva no peito um amuleto de semente,
talvez com o intuito de chamar a sorte,
ou atrasar o inimigo presente: a morte.

Nem tudo é mal no inferno fumegante.
Em volta destas duas vidas titubeantes,
moscas intrépidas trombam saltitantes,
aguardando o último suspiro do infante.

 A alma do menino subirá num instante,
ao trono de seu deus duro e inclemente,
tal é a leveza do espírito cambaleante, e
deixará para sempre esta terra errante.

A fome mata milhões de africanos em países como Etiópia, Eritreia, Somália, Sudão, Quênia, Uganda e Djibuti. Infelizmente, ela não mais comove o mundo, de modo que já deixou de ser notícia na imprensa internacional. Dentre as principais causas de tão horrenda tragédia estão, principalmente, a seca e as guerras tribais. Calcula-se que cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo sejam vítimas crônicas ou graves de subnutrição. Mulheres e crianças são as maiores vítimas.

A subalimentação crônica é responsável pela falta de desenvolvimento das células cerebrais nos bebês, sendo também a causa da falta de vitamina A, o que conduz à cegueira, culminando com a morte física. O mais doloroso é o ciclo vicioso que se instala na vida dessa gente: a cada ano, milhões de bebês subalimentados vêm ao mundo, paridos por mães subnutridas.

Nota: Imagem copiada de coprocen.blogspot.com

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