Autoria de Lu Dias Carvalho
Eu estava no primeiro encontro com a minha atual esposa, quando eles anunciaram o fim da guerra. Fomos para um bar e eu bebi um pouco. Estava excitado pelo fim do conflito e animado por causa da bebida. Quando vi a enfermeira na rua, agarrei-a e a beijei. (George Mendonça)
Ele era muito forte. Eu não o beijei. Foi ele quem me beijou. (Greta Zimmer Friedman).
O fotógrafo e fotojornalista judeu-alemão Alfred Eisenstaedt (1898-1995), que trabalhou como freelance na Alemanha, é responsável por uma das imagens mais conhecidas, comemorando o término da Segunda Guerra Mundial. Trata-se da fotografia de um marinheiro norte-americano beijando uma enfermeira na Avenida Times Square, logo após a vitória dos Estados Unidos sobre o Japão.
Alfred Eisenstaedt nasceu na antiga Prússia, mas mudou ainda criança para Berlim, Alemanha, de onde partiu dois anos depois da chegada de Adolf Hitler ao poder, migrando para os Estados Unidos a fim de fugir do antissemitismo. Ainda na Alemanha, ao ser recrutado pelo exército alemão para servir na Primeira Guerra Mundial, teve as pernas afetadas pela explosão de uma granada que o impediu de andar sozinho pelo período de um ano. Fato que não tirou o seu interesse pela fotografia. Após se naturalizar norte-americano, Alfred Eisenstaedt viajou por diversos países, documentando as consequências trágicas da guerra. Por seu trabalho de fotógrafo recebeu inúmeros prêmios.
Dia V-J em Times Square é a fotografia mais famosa de Alfred Eisenstaedt e uma das imagens mais icônicas festejando o final da guerra. A imagem capta a alegria dos Aliados e simboliza a presença dos soldados e do corpo médico de apoio no conflito que chegava ao fim, momento imortalizado pelo fotógrafo.
A revista Life, à época, publicou uma série de fotografias celebrando o final da guerra, em uma seção de doze páginas, chamada Victory. Os fotógrafos que cobriram a guerra elegeram a foto do beijo como a predileta. Muitas pessoas tiraram foto imitando aquela pose.
Por muito tempo se perguntou quais eram os protagonistas daquela cena. Vários casais apareceram para dizer que eram eles, até surgirem os verdadeiros personagens. Sessenta e sete anos depois de terem sido clicados para a foto consagrada, George Mendonça, o marinheiro, e Greta Zimmer Friedman, a enfermeira, voltaram a se reencontrar.
Segundo Greta, assim que a fotografia foi publicada na revista Life, ela se reconheceu. O que não aconteceu com George, que só se convenceu de que o marinheiro era ele, muitos anos depois. Sua mulher, Rita Mendonça, que aparece no plano de fundo, na altura do ombro, foi a prova cabal.
Olhando a fotografia, tudo nos leva a crer que se trata de um casal enamorado. Até porque a garota entrega-se por inteiro ao rapaz. Nada há nela que indique repulsão. Toda a sua postura é de aceitação e compartilhamento. Sem falar que é difícil imaginar que alguém possa nos abraçar e beijar (na boca) na rua sem a nossa permissão. Mas nos situemos na época do acontecimento. Imaginemos o sofrimento das pessoas diante de uma guerra tão longa. Coloquemo-nos no lugar do marinheiro, talvez prestes a partir para alguma missão, assim como a enfermeira. Não poderia haver euforia maior do que receber a notícia de que a guerra findara, e mais, com a vitória dos Aliados. Numa hora dessas todos se sentem como irmãos, se antes, vítimas do mesmo sofrimento, depois, tomados pela mesma alegria.
Lembro-me de ter participado de finais de apuração política, em frente ao comitê geral do partido em questão e, ao final, quando vitoriosas, milhares de pessoas presentes punham-se a abraçar umas às outras, numa alegria generalizada, sem que se conhecessem antes. Agora, imaginemos tal acontecimento no final de uma guerra! Portanto, nada mais normal que o procedimento do marinheiro George Mendonça ao abraçar a enfermeira que passava pela rua, na hora do anúncio da vitória, pessoa que também representava uma participação mais efetiva no conflito. Ou seja, ambos estavam no mesmo barco, logo, em maior sintonia. Sua mulher, Rita Mendonça, deve ter perdoado os arroubos do marido, pois deveria estar tão feliz quanto ele.
Fontes de pesquisa:
Tudo sobre fotografia/ Editora Sextante
Revista Alfa
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