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O mundo da arte é incomum e fascinante. Pode-se viajar através dele em todas as épocas da história da humanidade — desde o alvorecer dos povos pré-históricos até os nossos dias —, pois a arte é incessante.

NOTRE-DAME E SUAS ESCULTURAS (Aula nº 26 B)

 Autoria de Lu Dias Carvalho

        
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 A Catedral Notre-Dame de Chartres — edificada sobre uma antiga igreja românica — é uma obra em estilo gótico, construída no século XII e reconstruída no XIII, após pegar fogo. Situa-se na cidade de Chartres, a noroeste da França. Foi declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO. Toda a sua edificação perfaz um total de 130 metros de comprimento e 64 de largura e acompanha a verticalidade do estilo gótico. Os arcos ogivais que a compõem possuem entre 35 e 36 metros de altura. Uma de suas torres tem 104 metros e outra 115. Cada uma de suas três rosáceas possui 13 metros de diâmetro. Possui mais de quatro mil estátuas esculpidas e cerca de cinco mil personagens pintados nos mais de 150 vitrais — tidos como os mais belos do mundo — de suas inúmeras janelas medievais. O tom de azul utilizado nos vitrais é tão incomum e resistente ao tempo que recebeu o nome de “bleu de Chartres” (azul de Chartres).

Ao contrário do que acontecia com a escultura dos mestres românicos que pareciam firmemente presas à moldura arquitetônica, as que aqui se encontram (mais de quatro mil) — fruto do estilo gótico — parecem ter vida própria, como se interagissem umas com as outras. As vestes magníficas e fluidas das estátuas demarcam em algumas partes o contorno corporal. A  entrada central da Catedral de Notre-Dame apresenta um belíssimo pórtico (arcada construída na entrada do edifício) com a representação de quatro santos.

A fim de que fossem conhecidas pelos fiéis, a maioria das figuras que ornam os pórticos das catedrais góticas possuíam um emblema ou símbolo que os levava ao entendimento da mensagem e à meditação (o leitor deverá clicar na figura três, à direita, pois essa amplia várias vezes a imagem mostrando tais figuras. Assim poderá ver de pertinho um exemplo da arte estatuária presente na catedral, ao ampliar e mover a figura de um lado para outro). Vamos falar especificamente de três figuras bíblicas relativas ao Antigo Testamento, situadas neste portão central, podendo ser facilmente reconhecidas:

  • Abraão, o Patriarca, com seu pequeno filho Isaque pronto para ser sacrificado, como mostram suas mãos e pés amarrados;
  • Moisés segurando as tábuas onde estão gravados os Dez Mandamentos e também a coluna com a serpente de bronze sobre ela, responsável pela cura dos israelitas;
  • Melquisedeque — rei de Salém — segurando um cálice e o turíbulo do oficiante, pois na teologia medieval ele era tido como o modelo do sacerdote que administra os sacramentos.

Para o escultor gótico as estátuas não eram somente símbolos sagrados, mas também figuras autônomas, cheias de dignidade individual, cada uma delas mostrando o papel do representado dentro da religião cristã. As Tábuas da Lei, por exemplo, remetem a Moisés e o pequeno Isaque remete a Abraão, etc.

Exercício

  1. Qual a diferença entre as esculturas românicas e góticas em relação à arquitetura?
  2. O que tornava as figuras reconhecidas pelos fiéis?
  3. O que sabe sobre a Catedral Notre-Dame de Chartres e o que lhe aconteceu recentemente?

Ilustração: A Catedral Notre-Dame de Chartres vista externa e internamente.

Fonte de pesquisa:
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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A MORTE DA VIRGEM – CAT. DE ESTRABURGO (Aula nº 26 A)

Autoria de Lu Dias Carvalho

  

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A belíssima Catedral de Estraburgo ou Catedral de Nossa Senhora de Estraburgo — edificada em estilo gótico — foi erguida em cerca de 1230 (século XIII) e situa-se na cidade de Estraburgo/França. Em um de seus pórticos está representada “A Morte da Virgem” (ver segunda ilustração acima) que ora é descrita.

A Virgem Maria, deitada em seu leito de morte, tem perto de si os doze apóstolos, sendo que um deles encontra-se debruçado à sua cabeceira e outro a seus pés. À sua direita encontra-se Maria Madalena, sentada no chão, com os olhos voltados para ela. No centro da composição em meio aos discípulos encontra-se seu filho Jesus Cristo recebendo a sua alma — representada pela estatueta apoiada em sua mão esquerda.

O artista que esculpiu a obra ainda se preocupou com a simetria — característica do estilo românico — ao colocar as cabeças dos apóstolos em torno do arco. Também há simetria (correspondência em forma, grandeza e localização entre as partes existentes de um lado e do outro de determinada linha, plano ou eixo) na disposição dos dois apóstolos: um que se debruça sobre a cabeceira e o outro sobre os pés do leito.

O escultor também se preocupou em dar vida aos personagens retratados. Um semblante tenso e um olhar que repassa grande dor é visto nos apóstolos. Três deles trazem a mão no rosto, denotando sofrimento e luto. Maria Madalena torce as mãos em visível sofrimento. A expressão de seu rosto aflito contrasta com a serenidade vista no rosto da Virgem Mãe em seu leito de morte.

Ao contrário do que era visto nas esculturas românicas, quando as vestes pareciam envoltórios vazios, ou seja, sem corpos por baixo delas, os artistas góticos aparentemente buscaram na arte greco-romana a sua beleza, permitindo que a estrutura do corpo se mostrasse debaixo das dobras das vestimentas. A maneira como as mãos e os pés da Virgem aparecem sob o tecido de suas vestes deixa claro que aos escultores góticos interessava a representação, mas também o modo de representá-la.

Uma diferença fundamental separava os artistas gregos dos góticos. Enquanto aos primeiros importava criar a imagem de um formoso corpo, aos segundos interessava ensinar as Escrituras Sagradas de um modo mais real e que fosse capaz de comover os fiéis. Na escultura em questão o artista gótico preocupou-se muito mais com o proceder de Jesus ao olhar para sua mãe agonizante do que em representar seus músculos. Até mesmo porque — segundo a visão cristã da época — a mensagem deveria ser a mais clara possível, eliminando tudo que fosse inútil.

Exercício

  1. O que você sabe sobre a Catedral de Estraburgo?
  2. Quais são os exemplos de simetria vistos na “Morte da Virgem”?
  3. Qual a diferença entre as esculturas romanas e as góticas em relação às vestes?

Fonte de pesquisa:
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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IDADE MÉDIA – ARTE GÓTICA (Aula nº 26)

Autoria de Lu Dias Carvalho  

     
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Na Idade Média, depois do século X, a Europa Ocidental foi responsável por dois importantes estilos de arte: o Românico e o Gótico. O primeiro foi sendo sucedido aos poucos pelo segundo, de modo que é impossível precisar com clareza o aparecimento de um e de outro, pois durante certo tempo eles chegaram a coexistir. A arte gótica — conhecida como a “arte das catedrais” — teve início no século XII para alguns e no XIII para outros, perdurando até o século XIV com a chegada do Renascimento. O mais interessante é que os italianos responsabilizavam os godos pela derrocada do Império Romano e, por isso, passaram a referir-se à arte desse período da Idade Média como “gótica”, com o objetivo de chamá-la de “bárbara”, ainda que 700 anos distanciassem os godos do surgimento da arte gótica.

O estilo gótico teve origem na França setentrional, quando se descobriu o método de abobadar uma igreja, usando arcos transversais, tornando a estrutura da obra mais leve. Os arquitetos partiram da ideia de que uma vez que os pilares davam conta de sustentar os arcos da abóbada, as paredes maciças não mais seriam necessárias. Como não existiam esquadrias de aço ou ferro naquela época, as paredes tinham que ser feitas de pedra, exigindo meticulosos cálculos matemáticos. Surgiram, assim, as maravilhosas edificações de pedra e vidro. Para erguer as catedrais góticas os arquitetos buscaram o conhecimento de outras técnicas. Criaram, então, o arco ogival (ao unir dois segmentos) que podia ser modificado à vontade, de acordo com as necessidades exigidas pela obra. Assim, deixavam para trás o arco semicircular do estilo românico que tanto ajudara na feitura do teto.

O interior de uma catedral gótica não apresenta paredes cegas ou pilares maciços (ver ilustrações acima), como acontecia com as românicas. As catedrais góticas do final do século XII e início do século XIII possuíam planos tão arrojados que nunca chegaram a ser acabadas tal e qual se encontravam no projeto arquitetônico. Suas dimensões são tão grandes que se tem a impressão de que tudo dentro delas — inclusive as pessoas — é diminuto. Suas paredes eram feitas de vidro policromos (multicoloridos) que resplandeciam como pedras preciosas. Seus pilares, nervuras e rendilhados expandiam reflexos dourados. Tudo isso certamente levava os fiéis a distanciarem-se do mundo terreno e a sentirem-se próximos do paraíso. A catedral de Notre-Dame em Paris, com sua maravilhosa fachada, é um exemplo da criação desses fenomenais arquitetos do passado, responsáveis por nos legar obras magníficas.

A arquitetura gótica tinha como principal característica a verticalidade, cujo objetivo era repassar a impressão de proximidade com Deus. As paredes afinam-se (ao contrário das românicas), dando mais leveza à obra que também recebe muitas janelas. As abóbadas são feitas com arcos ogivais e as torres passam a receber telhados com o formato piramidal. Enquanto as catedrais românicas possuíam apenas um portal em sua fachada, as góticas apresentavam três e, acima desses uma enorme rosácea, maravilhosamente trabalhada em vitral (peça feita de chumbo soldado e pedaços de vidros coloridos, lembrando a técnica do mosaico) era responsável por conduzir a luz para dentro da edificação. Tudo isso objetivava aumentar a espiritualidade das pessoas, contribuindo para que fosse esse um período de extremada fé religiosa.

Vimos na aula anterior que a escultura e a pintura no estilo românico eram fortemente dependentes da arquitetura. No estilo gótico a escultura também se encontrava atrelada à arquitetura, contudo, já eram visíveis os sinais de sua liberação, para se transformar num elemento independente. As figuras ainda se mostravam presas às igrejas, apresentando-se alongadas, dentro da verticalidade específica do estilo gótico. A pintura, por sua vez, já se mostrava bem mais realista.

Obs.: as principais construções no Brasil que carregam características do estilo gótico são: Catedral da Sé (SP) Catedral de Santos (SP) Catedral Nossa Senhora da Boa Viagem (MG) (ver imagens acima)

Exercício

  1. O que difere as catedrais góticas das românicas?
  2. Qual foi a importância do arco ogival?
  3.  Qual é a relação da pintura e da escultura com os estilos românico e gótico?

Ilustração: as ilustrações (da esquerda para a direita) correspondem a: 1. Catedral Notre-Dame (frente e interior) Paris, França/ 2. Catedral Boa Viagem (vista total e interior), Belo Horizonte, Brasil.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich
Manual compacto de arte/ Editora Rideel

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MARIA NO JARDIM (Aula nº 25 A)

Autoria de Lu Dias Carvalho

Vimos na aula anterior que na Idade Média a Europa Ocidental foi responsável, após o século X, por dois importantes estilos de arte: o Românico e o Gótico. O primeiro foi sendo sucedido aos poucos pelo segundo, de modo que é impossível precisar com clareza o aparecimento de um e de outro, pois durante certo tempo eles chegaram a coexistir. A arte românica teve início no século XI, quando as cidades europeias começaram a prosperar e as expressões artísticas dos diferentes povos passaram a unificar-se em razão das peregrinações e das Cruzadas. Estudaremos agora uma pintura de estilo românico, feita por um pintor alemão conhecido apenas como Mestre do Jardim do Paraíso. Primeiramente é necessário acessar o link  MARIA NO JARDIM (clique sobre ele) e ler o texto com muita atenção, sempre voltando a esse quando se fizer necessário.

Nota: Estou observando que alguns participantes não leem a explicação sobre a obra em estudo, não se direcionando ao link em destaque, o que empobrecerá sua capacidade interpretativa das obras de arte, uma vez que o teste traz apenas um terço das explicações contidas no texto. Faz-se necessário ler o texto integralmente!

  1. Esta é uma pintura mundialmente famosa, conhecida como A Virgem em Hortus Conclusus com Santos e também Maria no Jardim Cercado com os Santos. Seu tema é:

    1. mitológico
    2. histórico
    3. lúdico
    4. religioso

  2. O lugar tranquilo está cercado por muralhas que separam os personagens do mundo violento que jaz lá fora. Tudo na pintura está ligado ao simbolismo ……….

    1. greco-romano
    2. bizantino
    3. mariano
    4. gótico

  3. O que identifica os santos é a posse de determinados objetos ou as atividades executadas por eles. Santa Doroteia, por exemplo, está associada às flores e aos frutos, por isso ela….

    1. planta rosas.
    2. colhe cerejas.
    3. distribui maçãs.
    4. oferta lírios.

  4. Na metade superior da composição Maria destaca-se como a maior de todas as figuras, usando um majestoso manto azul. Carrega sobre a cabeça uma coroa de ouro incrustada de pedras preciosas e nas mãos traz um volumoso livro. Ela reclina a cabeça levemente em direção do livro. É possível ver …………., tamanho é o perfeccionismo do pintor.

    1. a escrita em uma de suas páginas
    2. as iluminuras da página principal
    3. os detalhes da capa do livro
    4. a fita que separa a página

  5. O Menino Jesus está brincando com Santa Catarina e dedilha um instrumento musical conhecido como……….. Muitos pintores da Idade Média pintaram Jesus tocando um instrumento, embora os Evangelhos nada digam sobre isso.

    1. cítara
    2. flauta
    3. violino
    4. saltério

  6. Possivelmente incapaz de demonstrar a bem-aventurança através da expressão facial, o pintor usa o instrumento musical para se referir ………….., pois, como vimos em outros textos, os sinais e símbolos eram usados para ensinar a fé cristã, uma vez que na Idade Média eram pouquíssimas as pessoas que sabiam ler.

    1. à paz na Terra
    2. ao divertimento no paraíso
    3. à alegria celestial
    4. ao canto dos anjos

  7. A mesa próxima a Maria simboliza a sua humildade como serva do Senhor. O muro simboliza a sua virgindade. Um pouco abaixo do Menino Jesus é possível observar uma árvore cortada, símbolo da….

    1. ressurreição da vida.
    2. humanidade pecadora.
    3. natureza mística de Maria.
    4. união com os santos.

  8. Ao lado da árvore cortada está………… para reforçar a simbologia proposta:

    1. um diabo
    2. um anjo
    3. uma santa
    4. um machado

  9. Três personagens encontram-se à direita da composição. O que mostra que são do sexo masculino? 

    1. Os olhos e a boca.
    2. Seus dedos delgados.
    3. A cor mais escura do rosto.
    4. Suas calças frouxas.

  10. Todas as afirmativas estão corretas, exceto:

    1. A diversidade de flores são uma referência a Maria.
    2. As violetas simbolizam sua humildade.
    3. Os lírios brancos simbolizam sua pureza.
    4. Todas as flores pertencem à mesma estação.

  11. A presença do diabo, do dragão morto e da árvore cortada nada tem a ver com o Paraíso representado pelo jardim, mas isso não importa, porque….

    1. a arte do artista é que deve ser levada em conta.
    2. a pintura tinha por objetivo apenas ensinar a fé cristã.
    3. a pintura deve expressar apenas a harmonia.
    4. o artista não levou em conta os ensinamentos cristãos.

  12. Os pássaros estão minuciosamente representados na composição e, pelo menos, 10 espécies foram reconhecidas e dentre as inúmeras plantas é possível identificar 20 espécies diferentes.

    Todas as respostas em relação aos animais e flores estão corretas, exceto:

    1. pavão e canário;
    2. pintassilgo e pardal;
    3. pintarroxo e japu;
    4. lírio-branco e violeta.

Gabarito
1.d / 2.c / 3.b / 4.a / 5.d / 6.c / 7.b / 8.a / 9.c / 10.d / 11.b / 12.a

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IDADE MÉDIA – ARTE ROMÂNICA (Aula nº 25)

Autoria de Lu Dias Carvalho    

      
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Na Idade Média, após o século X, a Europa Ocidental foi responsável por dois importantes estilos de arte: o Românico e o Gótico. O primeiro foi sendo sucedido aos poucos pelo segundo, de modo que é impossível precisar com clareza o aparecimento de um e de outro, pois durante certo tempo eles chegaram a coexistir. A arte românica teve início no século XI, quando as cidades europeias começaram a prosperar e as expressões artísticas dos diferentes povos passaram a unificar-se em razão das peregrinações e das Cruzadas — movimento militar de caráter cristão que objetivava retomar a Terra Santa —, alcançando até o século XIII. O termo “românico” está relacionado às influências do Império Romano. Para entender melhor a arte românica, faz-se necessário um pouco de conhecimento sobre História. Vamos lá!

O Reino da Inglaterra foi dominado em 1066 (século XI) por um exército normando que contava com a participação de bretões e franceses, sendo comandado pelo duque Guilherme II da Normandia (região histórica situada no norte da França), descendente dos vikings e também primo do rei da Inglaterra, Eduardo, o Confessor (descendente de anglo-saxões). Ao aportar na Inglaterra, os normandos levaram consigo um estilo de construção bem desenvolvido. Os novos senhores feudais das terras conquistadas, no intuito de assegurar poder e grandeza, puseram-se a edificar abadias, mosteiros e igrejas de acordo com o estilo levado que na Inglaterra recebeu o nome de “estilo normando” e no continente europeu foi chamado de “estilo românico” que teve seu ponto alto na construção de igrejas.

A igreja era uma edificação que possuía um imenso significado para as pessoas da época. Normalmente era o único edifício grandioso em toda a redondeza, servindo seu campanário de ponto de referência para os que chegavam à localidade. Servia de ponto de encontro para os habitantes da cidade e da região. Era o orgulho de toda a comunidade, sem falar que a construção de templos agregava muitos trabalhadores, revolucionando a vida do lugar de um modo geral. A labuta tinha início com a extração de pedras e seu transporte. A segunda etapa dizia respeito à colocação dos andaimes e daí por diante à execução da obra que gerava um grande acontecimento para a cidade. Muitos artífices vinham de outras localidades do reino para ali trabalhar.

A planta fundamental das igrejas ainda estava ligada às edificações dos romanos — uma nave central com uma abside (abóbada) ou coro e duas ou quatro naves laterais. Alguns arquitetos gostavam de edificar igrejas no formato de uma cruz (ver última ilustração à direita), mas, para isso, era preciso adicionar uma galeria transversal entre o coro e a nave, à qual se deu o nome de transepto. Arcos arredondados eram assentados em massudos e resistentes pés-direitos. Possuíam poucas janelas, sendo que suas paredes e torres inteiriças lembravam as fortalezas medievais, daí o nome de “fortalezas de Deus”. Essas igrejas eram robustas e compactas tanto interna quanto externamente. Não é difícil imaginar o poder que essas monumentais construções de pedra exerciam sobretudo sobre a gente simples e analfabeta. A Igreja poderosa reforçava, assim, sua pregação de que representava na Terra o poder de Deus ao combater as forças do mal até que o Juízo Final acontecesse.

Os arquitetos normandos, na edificação dessas igrejas, lidavam com um problema — o telhado. Sabiam que os telhados de madeira eram muito comuns, sucumbiam com facilidade ao fogo, ao vento e aos cupins. Era fato que os romanos foram capazes de construir edificações com abóbadas, o que exigia muitos cálculos de natureza técnica, mas a maior parte desse conhecimento havia se perdido com o tempo. Era preciso muito estudo e experimentos para chegar ao que se pretendia. Após anos de estudos, eles chegaram à conclusão de que era necessário construir paredes e pilares bem fortes para sustentar as abóbadas. O melhor a fazer era construir arcos (ou nervuras) transversalmente entre os pilares e depois encher as seções triangulares entre eles (ver terceira ilustração da esquerda para a direita). A primeira aplicação de tal técnica deu-se na catedral normanda de Durham (ver ilustração central).  Essa ideia genial para a época foi responsável por transformar os métodos da construção.

A pintura românica, feita através da técnica do afresco — pintura muito utilizada por gregos e romanos que consiste em pintar sobre gesso ou argamassa ainda molhados —, estava agregada à religião, objetivando decorar o interior de igrejas e monastérios com passagens bíblicas, cuja finalidade era a de instruir os devotos, cuja imensa maioria era analfabeta. Esse tipo de arte, conhecido como pintura parietal (feita em paredes) estava associada à arquitetura, marcada pela monumentalidade e pela força da pedra. Existiam também as iluminuras (pinturas decorativas nas letras iniciais dos capítulos de pergaminhos) feitas pelos monges. A escultura também dependia da arquitetura, sendo feita em baixos e altos-relevos de pórticos e arcadas (as primeiras esculturas surgiram nas igrejas francesas).

Dentre as características da arquitetura românica podemos citar: construções monumentais feitas em pedras; predomínio de estruturas pesadas e sombrias; presença de abóbadas; criação de novos métodos referentes à construção; pouca decoração interna e mais externa; arcos em 180 grau (semicircular); presença da cruz nas plantas arquitetônicas; e caráter religioso.

Exercício

  1. Cite algumas características do estilo românico.
  2. Como os arquitetos resolveram o problema do telhado?
  3. IGREJA DE ST. TROPHIME D’ARLES

Ilustração: 1. Igreja Beneditina de Murbac, c.1160 / 2. Catedral de Durham, 1093-1128 / 3. Nave da Catedral de Durham / 3. Planta da Catredal Santiago de Compostela.

Fonte de pesquisa
A Manual compacto de arte/ Editora Rideel
História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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ARTISTAS MEDIEVAIS (Aula nº 24)

Autoria de Lu Dias Carvalho  

                              

O conhecimento sobre os objetivos dos artistas da Idade Média é um facilitador na compreensão de suas obras. O ponto central é o entendimento de que a eles não interessava criar uma parecença convincente com a natureza ou dar vida a belas obras. Interessava-lhes tão somente repassar aos cristãos iguais a eles os conteúdos bíblicos. Exigir deles qualquer outro objetivo seria desconhecer a época em que viveram, época essa em que a fé cristã passou a assumir um papel cada vez maior no Ocidente, direcionando a vida das pessoas. Como já vimos, a arte é uma consequência dos fatos ocorridos num determinado período da história da humanidade, quer seja como adesão a esses ou como crítica.

A primeira ilustração acima intitulada “Cristo Lavando os Pés dos Apóstolos”, reproduzida de um livro dos Evangelhos que foi ilustrado (ou “iluminado”), é um exemplo do papel que os artífices medievais exerciam no que diz respeito à arte. O artista retratou a passagem bíblica (João:13, 8-9) que narra o gesto de Cristo que, após a Última Ceia, lava os pés de seus apóstolos. Ao artista somente interessou a interpretação do diálogo bíblico. Sentiu que não era necessário apresentar a sala onde a cena aconteceu, pois, conforme a visão religiosa da época, qualquer coisa que não fosse estritamente necessária desviaria a atenção dos fiéis do significado maior do acontecimento. Assim, as principais figuras são colocadas em primeiro plano, diante de um fundo dourado, plano e brilhante, retratando uma edificação, o que dá um destaque ainda maior aos gestos dos personagens da cena.

Na composição vemos a gesticulação de São Pedro, à esquerda, pedindo a Cristo que não o deixe lavar seus pés e em resposta vê o gesto sereno de seu Mestre. Atrás de Jesus encontra-se um apóstolo com uma bacia nas mãos, enquanto outro, logo atrás, descalça a sandália. Os demais discípulos, surpresos, amontoam-se atrás de S. Pedro. Todos os olhares dos personagens convergem para o centro da cena, onde se encontra Jesus, com a finalidade de mostrar que ali acontece algo de grande importância. Ao pintor não interessou o formato estranho da bacia, tampouco a elevação esquisita da perna de S. Pedro, a fim de mostrar o pé fora da água. Tudo tinha como único objetivo repassar a mensagem de humildade ensinada por Jesus Cristo.

A segunda ilustração também apresenta um lava-pés num vaso grego, pintado no século V a.C. Trata-se do herói grego Ulisses que, após 19 anos ausente de seu lar, volta para casa disfarçado de mendigo, carregando um cajado, alforje e tigela, mas é reconhecido por sua velha ama, enquanto lhe lava os pés, após ver que sua perna direita trazia a cicatriz de um antigo ferimento. Ao analisarmos as duas cenas, concluímos que foi na Grécia Antiga que se deu vida à arte de representar as “atividades da alma”, ou seja, a possibilidade de o artista expor seus sentimentos e emoções. E foi exatamente essa herança grega que permitiu que os artistas que serviam à Igreja medieval fossem capazes de também mostrar as “atividades da alma”.

As obras de escultura pertinentes à Idade Média também apresentam a mesma clareza do conteúdo vista na pintura, como mostra a terceira ilustração intitulada “Adão e Eva depois da Queda”, presente numa parte saliente de uma porta de bronze, sob encomenda de uma igreja alemã, e criada pouco depois do ano 1000 d.C. (séc. X). A cena apresenta Deus aproximando-se de Adão e Eva após a queda. Contém apenas as imagens necessárias para contar a história. Nada há que desvie a atenção do observador. Os gestos são precisos: Deus aponta para Adão que aponta para Eva que aponta para a serpente. A transferência da culpa e a origem do pecado ficam claras numa cena tão simples. Nem mesmo notamos a falta de proporções entre as figuras e a feiura vistas nos corpos dos dois desobedientes.

Ainda que seu trabalho predominante fosse na arte religiosa, os artistas medievais também trabalhavam para os barões e senhores feudais, construindo castelos e decorações. Acontece, porém, que os castelos eram destruídos nas guerras, enquanto as igrejas ficavam a salvo. Havia maior cuidado e ardor com a arte religiosa, enquanto as decorações de aposentos privados passavam por constantes trocas, muitas vezes sendo jogadas fora. Um exemplo de decoração que chegou até os nossos dias é a famosa tapeçaria Bayeux.

Exercício

  1. Qual era o objetivo do artista medieval? Por quê?
  2. Por que as obras religiosas resistiram ao tempo e os castelos e as decorações não?
  3. Anônimo: A TAPEÇARIA DE BAYEUX

Ilustração: 1. Cristo lavando os pés dos apóstolos, c.1000 d.C. / 2. Ulisses reconhecido por sua velha ama, séc. V a.C. / 3. Adão e Eva depois da queda, c.1015 d.C.

Fonte de pesquisa
A História da Arte / Prof. E. H. Gombrich

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