Arquivo da categoria: História da Humanidade

Esta categoria tem por objetivo mostrar aspectos e costumes sociais da vida humana em tempos idos.

Gêmeos Siameses – ENG E CHANG BUNKER

Autoria de Lu Dias Carvalho

A formação embrionária de gêmeos acontece em dois casos. O mais comum, e que corresponde a dois terços dos casos de gestação gemelar, ou seja, surge da fertilização independente de dois óvulos diferentes, não havendo qualquer possibilidade, portanto, de os bebês nascerem unidos.  O segundo caso é aquele em que um óvulo é fertilizado por dois espermatozoides, sendo esse o mais propício à malformação dos bebês, resultando, muitas vezes, em gêmeos coligados, popularmente conhecidos como “siameses”. O problema acontece quando a separação do embrião em dois não ocorre dentro de um período de 12 semanas, e as células passam a formar partes do corpo ou órgãos em comum.

 Os gêmeos siameses são idênticos. Muitos perguntam sobre a origem do termo “siameses”, denominação que também remete a uma raça de belos felinos. Este termo tem, sim, a ver com os gatinhos, pois a primeira ocorrência de gêmeos siameses foi registrada no Sião, Tailândia, em 1811, onde também surgiram tais felinos. Os gêmeos siameses, unidos por alguma região do corpo, também são conhecidos como gêmeos xifópagos ou gêmeos conjugados. Embora raríssimos, já fora registrados casos de siameses triplos.

Os irmãos siameses Eng e Chang Bunker nasceram no início do século XIX, na atual Tailândia. Em razão de o pai ter sido um pescador chinês tailandês e a mãe metade chinesa e metade malaio,  sendo as características chinesas mais marcantes, os filhos xifópagos famosos ficaram conhecidos como os “gêmeos chineses”. A união de seus corpos deu-se pelo esterno, através de um pedaço de cartilagem, tendo eles os fígados incorporados um no outro. Os gêmeos foram exibidos como curiosidade em turnês pelo mundo, ganhando muito dinheiro.

Eng e Chang, ao conhecerem os Estados Unidos, ali resolveram ficar, vindo depois a naturalizarem-se como cidadãos americanos. Compraram uma fazenda na Carolina do Norte e casaram-se. Eng casou-se com Sarah Anne e Chang com Adelaide Yates, irmã da esposa do irmão. Para acomodar os dois casais foi construída uma enorme cama. A grande prole mostra que tudo funcionou a contento, pois Chang e Adelaide tiveram 10 filhos, enquanto Eng e Sarah tiveram 11. Muitos, maldosamente, duvidavam que os filhos fossem deles. As duas famílias, já com muitos filhos, optaram por morar em casas separadas. E assim cada semana era dedicada a uma das esposas, tendo um dos gêmeos que ficar na espera. Apesar da fama e da riqueza, os gêmeos e suas famílias sofriam muitas formas de preconceito, inclusive pelo fato de terem se casado, pois muitos viam-nos como “monstros”.

Nos anos finais de vida, Chang, além de ter sofrido um acidente vascular cerebral, no lado mais próximo a seu irmão, o que afetou sua saúde, ainda passou a beber muito. Como não tivessem um sistema circulatório em comum, a bebida do irmão não afetou Eng, que passou a ajudar a carregar a perna sem movimento do irmão, enquanto esse se apoiava numa muleta. Chang veio a ter um caso grave de bronquite, e faleceu enquanto os dois dormiam. Ao despertar, e ver seu irmão morto, Eng, em desespero, sabia que iria morrer também. O médico chamado para fazer a separação de emergência chegou tarde, morrendo Eng cerca de três horas depois do irmão. Mas um exame post-mortem revelou que se tivesse sido feita a separação, Eng teria morrido do mesmo jeito, pois além de compartilhar o mesmo fígado com Chang, o ligamento de conexão entre ambos era bem mais complexo do que os médicos imaginavam.

Nota: foto de Chang (à esquerda) e Eng (à direita), tendo ao lado suas respectivas esposas/ Imagens Getty

Fontes de pesquisa
Freaks – Aberrações Humanas/ Editora Livros e Livros
https://en.wikipedia.org/wiki/Chang_and_Eng_Bunker
http://www.dailymail.co.uk/news/article-2825888/How-original-Siamese-twins-21-children-two

Gêmeas Siamesas – MILLIE E CHRISTINE McCOY

Autoria de Lu Dias Carvalho

              

A formação embrionária de gêmeos acontece em dois casos. O mais comum, e que corresponde a dois terços dos casos de gestação gemelar, surge da fertilização independente de dois óvulos diferentes, não havendo qualquer possibilidade, portanto, de os bebês nascerem unidos.  O segundo caso é aquele em que um óvulo é fertilizado por dois espermatozoides, sendo esse o mais propício à malformação dos bebês, resultando, muitas vezes, em gêmeos coligados, popularmente conhecidos como “siameses”. O problema acontece quando a separação do embrião em dois não ocorre dentro de um período de 12 semanas, e as células passam a formar partes do corpo ou órgãos em comum.

 Os gêmeos siameses são idênticos. Muitos perguntam sobre a origem do termo “siameses”, denominação que também remete a uma raça de belos felinos. Este termo tem, sim, a ver com os gatinhos, pois a primeira ocorrência de gêmeos siameses foi registrada no Sião, na Tailândia, em 1811, onde também surgiram tais felinos. Os gêmeos siameses, unidos por alguma região do corpo, também são conhecidos como gêmeos xifópagos ou gêmeos conjugados. Embora raríssimos, já fora registrados casos de siameses triplos.

As irmãs siamesas afro-americanas Millie McCoy e Christine McCoy são um dos casos bem conhecidos sobre esse assunto. Oriundas de meados do século XIX, elas nasceram escravas. Seus pais eram escravos de um ferreiro de nome Jabez McKay, que, vendo nas irmãs siamesas uma fonte de dinheiro, vendeu-as a um agente, quando essas tinham apenas 10 meses. Com três anos de idade elas já eram uma atração em Nova York. A união das duas dava-se através da parte inferior da espinha dorsal. Quando crianças, elas se desequilibravam com muita frequência, mas, com o tempo, aprenderam a caminhar de lado, o que veio a transformar-se num estilo de dança, também. Até a adolescência tiveram que passar, muitas vezes, por exames públicos embaraçosos, para comprovar que não eram uma fraude. Anos mais tarde voltaram para a companhia da família.

Millie e Christine cantavam com o nome de “Rouxinol de Duas Cabeças”, dentre outros, em várias partes do mundo. Tinham uma boa formação, tendo aprendido a falar cinco línguas, além de cantar, dançar e tocar música. Tornaram-se muito ricas, morrendo aos 61 anos de idade, vitimadas pela tuberculose, sendo que Christine morreu 12 horas após a morte da irmã. O mais intrigante é que, apesar de unidas, ambas mantiveram, ao final da vida, atitudes independentes que, de certa forma, eram divergentes. Millie tornou-se uma adepta fundamentalista da Igreja Batista, doando parte de seus bens à denominação, enquanto Christine optou por gastar sua fortuna em diferentes formas de entretenimento.

Fontes de pesquisa
https://www.tuasaude.com/gemeos-siameses/

https://en.wikipedia.org/wiki/Millie_and_Christine_McKoy
Freaks – Aberrações Humanas/ Editora Livros e Livros
Little Known Black History Fact: Millie and Christine McKoy

Nota: as fotos trazem o nome dos fotógrafos.

Hipertricose – A SAGR. FAMÍLIA PELUDA…

Autoria de Lu Dias Carvalho

A Birmânia, conhecida oficialmente como República da União do Myanmar, país da Ásia Central, que já pertenceu ao Reino Unido, tendo se tornado independente em 1948, é a pátria da famosa “sagrada família peluda”, que fascinou o mundo com seus pelos longos e espessos. Trata-se de uma anomalia hereditária, ou seja, herdada, pois faz parte da genética da família. E para que aprimoremos mais o nosso conhecimento, é bom saber que os termos “hereditário” e “genético” não significam a mesma coisa, ou seja, não são sinônimos.

Voltando à “sagrada família peluda”, segundo explicações científicas, há 50% de possibilidade de que uma pessoa com tal anormalidade possa gerar descendentes com problema semelhante. Essa doença, chamada de hipertricose (vulgarmente conhecida por síndrome do lobisomem), é extremamente rara e sabe-se ainda muito pouco sobre ela. Na foto  encontra-se a família de Mah Phoon, o segundo da direita para a esquerda. Ao seu lado direito está seu filho Moung Pjoset, a esposa desse, e seu neto, o primeiro à direita. A vida dessa família, que viveu no século XIX, foi muito agitada, sendo que parte dela viveu de exibições.

A pessoa acometida pela hipertricose possui um crescimento anormal de seus pelos, que toma todo o seu corpo, excetuando a palma das mãos e dos pés. São raríssimos os casos conhecidos. Esse distúrbio possui duas variantes. Na primeira, conhecida como Hipertricose Lanuginosa Côngenita, o indivíduo possui os pelos mais finos e felpudos, como é o caso da família birmanesa, chegando aos 25 cm de comprimento. Na segunda, denominada Síndrome de Abras, seus pelos são mais grossos, coloridos e crescem durante toda a sua vida. Esse nome deveu-se a Pedro Gonçalvez, morador de Tenerife, nas Ilhas Canárias, e portador da doença, por ter sido exibido por sua família no castelo de Ambras.

Para quem quiser conhecer mais sobre o assunto, busque assistir ao filme “Fur” (A Pele), que conta a história do polonês Lionel Stephen Bilgraski, um jovem que tinha a cara parecida com a de um leão, tendo atuado no circo Barnum &Bailey’s Circus.

Fontes de pesquisa
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1295857/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hipertricose
Freaks – Aberrações Humanas/ Editora Livros e Livros

Nota: Foto de Charles Eisenmann com assinatura na lateral direita do cartão

O NU FEMININO NA ARTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

                           

O corpo feminino tem fascinado os artistas de todos os tempos. Tem sido motivo de inspiração em todas as manifestações artísticas, sendo representado das mais diferentes maneiras. Alguns artistas abriram mão das características interiores da modelo nua para centrar em sua feminilidade. Retrataram-na em seu dia a dia, entrando ou saindo do banho, por exemplo, apresentando uma sensualidade natural, dentro de uma situação realista, fazendo com que houvesse uma melhor aceitação em relação ao corpo feminino nu.

 O século XVIII mostrou na arte a imagem natural e erótica da mulher, fruto de uma sociedade em plena decadência. Houve, então, a busca por um novo modelo. O neoclassicismo tentou trazer a imagem de uma mulher privada de qualquer sensualidade, esforço totalmente ilusório, uma vez que tal característica é intrínseca a ela. Nos quadros criados sob a orientação de tal estilo, a sexualidade feminina vem à tona, ainda que enclausurada. Os extremos, portanto, acabaram tirando a naturalidade da arte.

No século XIX, em sua primeira metade, a arte ainda se encontrava amordaçada no que se refere ao nu. Era necessário que o artista justificasse a sua presença na cena, ou seja, que levasse ao observador a compreensão de que se tratava de um nu mitológico. E não poderia ser apresentado em primeiro plano. Caso contrário, teria que ser pintado como uma figura irreal, indefinida, sem nenhum respingo de atrativo sexual. Mas tal proibição só fez com que os trabalhos artísticos, representando o nu feminino, fossem mais desejados e valorizados comercialmente, uma vez que se encontravam proibidos pelos padrões morais da época.

A partir da metade do século XIX, alguns artistas, inconformados com a falta de liberdade na arte, rebelaram-se e passaram a representar o corpo feminino com naturalidade, em atividades corriqueiras, ainda que se mostrassem sensuais. Mandavam a mensagem de que ele era belo por si só, não necessitando de atributos ou significados ao ser representado. E mais, unicamente ao artista cabia o papel da representação, sem, contudo, interferir na sua beleza, ampliando-a ou minimizando-a. No século XX, os artistas não tinham mais que se preocupar com a retratação da modelo, sobrando-lhes tempo para pesquisar sobre as cores e as formas.

Nota: Grande Figura Nua Deitada (Modigliani)/ Sem nome (Di Cavalcanti)

Fontes de pesquisa
Vida a Dois/ Editora Três

Intersexualidade – AS IRMÃS KARAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

O hermafroditismo, termo que vem caindo em desuso, sendo substituído por intersexualidade, caracteriza-se pela presença dos dois sexos e/ou caracteres secundários desses num mesmo indivíduo, que tanto pode ser animal ou vegetal. Trata-se de um distúrbio tanto morfológico quanto fisiológico. Podemos dizer que o indivíduo portador de tal condição é hermafrodita ou hermafrodito, pois se trata de um substantivo de dois gêneros, contudo, hoje em dia usa-se mais a palavra intersexuado ou “intersex”.

O nome hermafrodito tem origem na mitologia grega. Segundo o mito, Hermafrodito era uma divindade grega híbrida, fruto de um relacionamento passageiro entre os deuses Hermes (Mercúrio) com Afrodite (Vênus). Embora fosse muito belo, ao deus não agradava as mulheres. Mas ao se apaixonar por ele, a ninfa Salmácida pediu aos deuses que unissem seus corpos, apesar da indiferença do jovem deus por ela. E assim foi feito. Ele se tornou, ao mesmo, tempo masculino e feminino. Por causa de sua aparência com o deus, os hemofroditas eram reverenciados na Antiguidade. Hermafrodito, portanto, vem da junção dos nomes Hermes+Afrodite.

Os irmãos gêmeos franceses Albert e Alberta Karas, ambos hermafroditas,  são um caso bem conhecido na história desse fenômeno (foto à direita). O que se encontra de pé possuía a parte inferior do corpo masculina e a superior feminina. O que se encontra sentado, diferentemente do primeiro, possuía o lado esquerdo do corpo femino e o direito masculino, sem falar que ainda possuía o braço e a perna de seu lado feminino menores (cerca de cinco centímetros) do que os membros do lado masculino. O lado feminino do rosto era liso e possuía a maçã mais proeminente, enquanto no lado  masculino nascia barba.

Nota: fotos copiadas de http://www.sideshowworld.com/81-
SSPAlbumcover/HH/2015/Albert/Alberta.html

Fontes de pesquisa
Freaks – Aberrações Humanas/ Editora Livros e Livros
http://www.sideshowworld.com/81-
SSPAlbumcover/HH/2015/Albert/Alberta.html

A CURIOSIDADE HUMANA PELO BIZARRO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O ser humano foi sempre fascinado pelo desconhecido, por aquilo que se encontra além de sua imaginação, quer isso esteja ligado às forças da natureza, quer se relacione aos aspectos da vida humana. A mitologia é uma prova de que, ao não poder contar com a Ciência, a humanidade acabou criando explicações para si mesma. As superstições também fazem parte do fantástico, ainda presentes em muitas culturas. Os extraterrestres ainda se evidenciam na imaginação da maioria de nós, em pleno século XXI, ansiosos por vê-los aparecer.  E quando o esdrúxulo torna-se real, a fascinação avoluma-se e ganha vida, tornando-se incontrolável.

Os circos e os espetáculos itinerantes de tempos atrás, com suas apresentações funambulescas e estrambóticas, eram comuns em todas as partes do mundo, onde lhes era possível chegar. Raridades bizarras atraiam milhares de espectadores que podiam vê-las, pagando um preço irrisório. Para complementar a renda dos artistas itinerantes, fotografias das pobres criaturas chamadas de “monstruosidades” eram vendidas ao final do espetáculo ou de apresentações circenses, e acabavam ilustrando álbuns ou coladas às paredes, ao lado de fotos de ídolos. Muitas vezes tais seres humanos (ou animais) que fugiam ao padrão comum, faziam mais sucesso do que os ditos artistas. E quanto mais incomum fosse a aparência da pessoa, mais facilmente encontrava um emprego circense. O Barnum & Bailey’s Circus é um exemplo desta história esdrúxula da humanidade que seria vista hoje como falta de humanidade.

Ainda que, ao explorar deformidades físicas, os circos possam nos parecer hoje totalmente desnaturados e cruéis, essa era a única forma que muitas daquelas pessoas, consideradas anormais para o modelo humano, tinham para manter a si mesmas e a suas famílias, pois não podiam contar com a ajuda de nenhum órgão público e tampouco existiam instituições que pudessem acolhê-las. As famílias eram pressionadas para cuidar de seus deficientes, sendo grande parte delas muito pobres.

Se a maioria dos portadores de deficiência física, mesmo em nossos dias, não contam com um suporte do Estado, imaginemos naquela época. E sem falar na fragilidade desses seres de então, sem nenhuma esperança de tratamento, tendo que se adaptar a um mundo que não os aceitava e, ainda por cima, eram detentores de uma saúde extremamente frágil, dependentes de cuidados de terceiros. Ser acolhido por um circo era uma benesse, por mais triste que isso possa nos afigurar hoje. Portanto, qualquer julgamento sobre um determinado assunto precisa se ater à época do acontecimento, levando em conta os mais diferentes fatores.

E não pensemos nós que o uso da deformidade física como ganha-pão sumiu de nossa amada Terra. Não. Esse tipo de humilhação humana continua presente, ainda que em menor grau, até mesmo nos países ditos civilizados. Um passeio pelas ruas dessa ou daquela cidade comprovará que os circos e os espetáculos itinerantes desapareceram, mas muitos de seus “artistas anômalos” continuam a povoar as ruas, mendigando. Imaginemos agora, a vida de pessoas assim, presentes nos chamados países subdesenvolvidos, em cujas estradas, ruas e praças exibem-se como se estivessem numa feira de horrores, sujeitas aos mais variados olhares, às mais diversas formas de estranhamento e às poucas mãos que se estendem compadecidas… E viver, assim, num mundo em que a perfeição física chega às raias da loucura, deve trazer um sofrimento pungente a quem não vê uma luz no final do túnel.

Nota: imagem copiada de http://rockntech.com.br