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AS VIDAS DE CHICO XAVIER

Autoria de Lu Dias Carvalho

terra1As Vidas de Chico Xavier, escrito por Marcel Souto Maior, conta passagens impressionantes da vida desse homem, espelho de humildade e generosidade, amado pela maioria dos brasileiros.

Chico Xavier era um dos nove filhos de Maria João de Deus que, preocupada com o número de filhos e sentindo que a morte se avizinhava, pois estava agonizante com crises de angina, pediu ao marido para dividir seus rebentos entre os parentes, vizinhos e amigos. Única maneira de ele conseguir continuar o seu trabalho de vendedor de bilhetes de loteria nas cidades vizinhas – ganha-pão da família.

Após a morte da mãe, o menino Chico, com seus cinco anos, foi entregue à madrinha, pessoa difícil, severa e sem carinho. Ao contrário da mãe, que rezava muito com os filhos, aconselhava-os e era extremamente carinhosa, a madrinha achava que a educação deveria ser feita pelas vergastadas da vara de marmelo. Era tão ordinária que chegou a lhe perfurar a barriga com um garfo, o que resultou numa profunda ferida de difícil cicatrização. E, para encobrir o malfeito ou transformar o afilhado em chacota, vestiu-o com um mandrião (camisolão feito de saco de farinha de trigo e usado por meninas, antigamente) listrado de azul, sob o pretexto de que era para não se atritar com a ferida, para que sarasse logo.

Já criança, o menino “louco” conversava com a mãe, via hóstias brilhantes na igreja, assim como vultos vagando pela nave e beijando os santos, e escrevia textos ditados por seres invisíveis na sala de aula, sendo ridicularizado pelos colegas. Algumas pessoas achavam que tudo era fruto da morte prematura da mãe e que com o tempo passaria.

Mas a vida não era cheia de flores para o pequeno Chico Xavier. Sua madrinha reagia às suas alucinações com golpes de vara. O padre local enchia-o de penitências e preces. Certa vez, chegou a desfilar, numa procissão, com uma pedra de 15 quilos na cabeça. Em outra, rezou mil ave-marias seguidas. Enquanto o pai cismava em interná-lo num hospício. Ao pequenino só restava chorar com os maus tratos recebidos.

Certa vez, no quintal, quando diluía a sua dor em lágrimas, o menino recebeu a visita de sua mãe. Ele lhe pediu que o levasse junto consigo, pois não aguentava mais viver ali. Ela então o aconselhou, dizendo que “quem não sofre não aprende a lutar” e que era preciso ter paciência.

Atender ao pedido da mãe trouxe ao garotinho mais sofrimento. Pelo fato de não chorar quando apanhava, deixava a madrinha mais embrutecida, pois via na sua atitude uma forma de cinismo. Enraivecida, dizia que “além de louco, ele ainda era cínico”. De uma feita, o primo, também criado pela madrinha, mas com muito mimo, apareceu com uma ferida na perna, que se recusava a sarar. Consultada a benzedeira, essa deu a receita para a cura: a ferida deveria ser lambida, três vezes ao dia, por uma criança, de manhã em jejum, durante 3 sextas-feiras. O escolhido não poderia ter sido outro senão Chico, que assim o fez e, milagrosamente, a ferida terminou se fechando.

Quando o pai casou-se de novo, sua nova mulher, um verdadeiro anjo, resolveu pegar todos os filhos do esposo, espalhados de déu em déu. Chico foi o último a ser recolhido. Ao ver a ferida na barriga do menino, ela jurou que “enquanto vivesse, ninguém poria a mão nele”. E cumpriu a sua promessa.

As alucinações de Chico continuavam. A madrasta recebia tudo com calma e dizia que, “um dia, ele haveria de ser entendido por alguém”. Mas esta não era a opinião do pai, que continuava o achando louco. Antes de interná-lo num sanatório, levou-o de novo ao pároco, que deduziu que, se o menino trabalhasse, acabaria por se esquecer das visões e vozes e voltaria a ser um garoto normal.

Chico Xavier começou a trabalhar aos 9 anos de idade, numa fábrica de tecelagem, das 3h da tarde à 1 da manhã. Tarefa estafante para um garptp de sua idade. No horário livre ele estudava. Um ano depois, com problemas respiratórios, ocasionados pelo pó dos tecidos, teve que mudar de emprego. Foi trabalhar num bar.

Chico conheceu o espiritismo, quando sua irmã ficou doente e os médicos consultados não conseguiram resolver seu caso. O pai procurou um casal de espíritas, que morava numa fazenda de uma cidade próxima. Chico participou do ritual para expulsar o “espírito obsessor” que maltratava a moça, que acabou ficando boa. A partir daí, o menino “exótico” começou a dedicar sua vida à nova doutrina, mas, antes de seguir um novo caminho, foi à igreja pedir a bênção do padre, de quem era muito amigo e de quem ganhou o primeiro par de sapatos.

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A NOVA GRAMÁTICA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A briga entre aqueles que defendem o português culto que deve ser ensinado nas escolas e o português oral, cheio de erros e gírias, falado cotidianamente, continua na trama da língua portuguesa, hoje chamada de brasileira por muitos.

O linguista Ataliba de Castilho acaba de lançar A Nova Gramática do Português Brasileiro, onde não entra regência verbal ou análise sintática. Contudo, ele mostra a importância de se ensinar os verbos tafalano, sisquecer, etc. Sugere que o mais-que-perfeito do indicativo, que ninguém fala ou escreve, sofra uma mudança, como por exemplo, em vez de andara, deveria ser usado eu tinha andado, comum em todas as partes do país. Ou seja, deve siscrevê como sifala.

A gramática de Ataliba de Castilho propõe que a língua falada deva estar de acordo com a escrita, pondo de lado as regras e as exceções, de modo que não exista nem o certo e nem o errado. O importante é que a comunicação aconteça. Assim, como há distintos modos de escrever ou falar, dependendo da pessoa com quem nos comunicamos, ele acha que devemos ser bilíngues ou trilíngues dentro de nosso próprio idioma. Cada forma em seu contexto, pensa ele. O linguista acha ainda que, em 200 anos, portugueses e brasileiros não mais se entenderão, pois existem diferenças verbais, morfológicas e sintáticas enormes, entre os dois países. E, como somos mais pessoas a falar o português, o Brasil terá preponderância sobre a língua.

Não resta a menor dúvida de que a língua é dinâmica. E é exatamente por isso que se torna necessário termos uma base firme, para qual possamos voltar sempre. Caso contrário, a língua será mudada a cada geração e, ao final, estaremos falando um idioma totalmente desconhecido, ou muitos dialetos. Acredito que as boas gramáticas funcionam como um poço de água limpa, para que os povos não percam a identidade com a língua de seu país,  com o passar dos anos.

O linguista acima diz que falamos “tafalano”, “ceisvão”, “As pessoa”, “viagi”, “Hoje tem aula”, “Isto é para mim fazer”, por exemplo. E que tais mudanças deveriam ser agregadas à língua escrita. É fato que muitos falam assim, principalmente as classes mais pobres, que não tiveram acesso aos bancos escolares. Mas, se aceitas tais mudanças, outras virão. Basta pegarmos o “vosmicê”, você, “ocê”, “cê”, para vermos que a idéia proposta pelo famoso linguista não é tão viável assim. A língua passaria a ser refém de cada época, perdendo a sua unidade e a sua identidade. Chegaria um tempo em que não nos entenderíamos, num vasto país como o nosso.

Para os jovens “doido/sinistro/da hora/demais” significam “bonito/ charmoso/muito bom”. E que “véio” significa “irmão”. Tudo bem, essa é a linguagem incorporada por eles como grupo. Mas todos entendem o significado da palavra “bonita” ou “irmão”. Caso contrário, cada grupo teria uma língua própria. A língua nacional perderia o seu fator agregador, apesar das diferenças geográficas, socioculturais e individuais. Penso eu que a exclusão e o preconceito seriam ainda maiores.

Para mim, o trabalho do linguista Ataliba é importante como ajuda no ensino da língua portuguesa, mostrando aos educadores onde residem os erros mais comuns, para que os professores possam melhor trabalhá-los, mas usá-lo como base para se ensinar português é um desserviço ao idioma pátrio.

Afastados da língua portuguesa falada em Portugal já estamos há muito tempo. A começar pela pronúncia das palavras e entonação da voz. O país lusitano está tornando a língua portuguesa cada vez mais consonantal, enquanto a nossa é cada vez mais vocálica. Tanto é que, segundo alguns turistas estrangeiros, o português falado no Brasil é açucarado, romântico e sensual, bem diferente do falado em Portugal, que é bastante áspero.

Sabemos que as línguas neolatinas (derivadas do latim), como o português, o francês, o espanhol, o italiano, etc., são vocálicas, enquanto certas línguas, como o alemão, o inglês, etc., são consonantais. O português falado em Portugal tem eliminado as vogais na linguagem oral.

Fico imaginando, se a proposta do linguista Ataliba de Castilho pega e passamos a considerar correto o “gerundismo” cultuado pelos operadores de marketing:

– Nós vamos estar oferecendo mais vantagens…

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A Rev. dos Bichos (18) – MEU AMIGO GEORGE ORWELL

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Preocupado com o abatimento em que me deixara sua história, o meu amigo George Orwell, sentindo-se responsável pelo meu péssimo estado de espírito, convidou-me para tomar um chá em sua casa. Afinal, ele já passara por mais de um século de vida e tanto seu corpo quanto seu espírito já se encontravam calejados pelos entreveros do mundo. Pela atenção que eu dera à história sobre A Revolução dos Bichos, percebera que eu, de fato, vivera aquela revolução e não me contentara com o seu final. Sabia que sua ouvinte ainda era jovem e, por isso, precisava de esperança e mais maturidade para compreender como se processava a passagem do homem pelo planeta Terra que, embora finita, era bastante conturbada.

A nossa conversa começou, quando ainda era dia, e se enfurnou noite adentro. Chávenas e chávenas de chá forma consumidas, enquanto ele me fazia penetrar no mundo de suas ideias. Conhecer mais de 100 anos da história humana, ainda que a maior parte dela em espírito, fazia dele um grande mestre. Eu sentia, sobretudo, o seu cuidado em me deixar um pouco de crença na humanidade, sem a qual a vida perderia todo o sentido. Cito algumas de suas palavras:

Minha filha, quando você se predispôs a ouvir a minha história, o meu espírito deu forma a meu corpo para comprovar, mais uma vez, que o homem pode viver através de seus pensamentos, em suma, de sua arte, não importa quantos anos separem o mundo físico em que viveu, do etéreo que ora o acolhe. Antes que eu tenha uma conversa com um novo ouvinte, não posso permitir que nos separemos deixando seu coração tão angustiado. O mundo físico é belo: mar, céu, cores, água, luz, plantas, animais, sons… e mais belo seria se não fosse o poder que corrói as entranhas de um grupo de homens. Tais indivíduos outorgam a si mesmos o papel de guardiões da Terra e de todas as formas de vida que nela existe. A quase totalidade deles é abjeta e nojenta, pois age em benefício próprio, sem se preocupar com o sofrimento e as prementes necessidades que rodeiam o povo. Eles se enriquecem às custas da miséria de seus concidadãos. Roubam mais do que precisariam para viver mil anos, mas discursam como se fossem seres ilibados e éticos. Mentirosos, enganadores e gatunos, jamais se enternecem com o sofrimento de sua gente. Mas, como os animais de nossa história, costumam perpetuar no poder, porque o povo não possui a compreensão necessária para rechaçá-los.

George Orwell suspirou profundamente e continuou:

Você nem imagina o quanto sonhei com um mundo melhor, onde todos pudessem ser iguais e onde as diferenças sociais não fossem tão cruciantes. Um a um, fui vendo meus sonhos caírem por terra, assim como o moinho dos bichos de que lhe falei. E, por falar em bichos, estou sempre a lhes pedir desculpas, por tê-los usados na minha fábula. Eles que são tão inocentes, ingênuos e sempre escravizados pelo homem. Espero não ter insuflado ninguém contra eles, coitados, que merecem respeito e amor pelo muito que oferecem à humanidade, além de compartilharem com ela o mesmo planeta. Nunca suportei a ideia de ver um só animal maltratado, e toda pessoa de bem deveria sentir o mesmo. Espero que todos compreendam que a minha história é uma fábula, direcionada ao animal mais poderoso e, por isso, mais astucioso do planeta: o Homem.

Quando você me diz achar que a história humana é cíclica, confesso ser tomado muitas vezes por este pensamento. Se assim não fosse, penso eu, não haveria, nas mais diferentes épocas, a quebra das ditaduras, o rompimento das dinastias, o esfacelamento do poder dos clãs, a derrubada dos coronéis, a queda dos poderosos, o desnudamento daqueles que envergonharam a nação, iludindo e roubando o seu próprio povo. E é no meio do ciclo que está a luta, a esperança, a crença num mundo melhor, sem o qual não haveria sentido viver, a menos que  todos perdessem a capacidade de reflexão.

Por que a busca doentia pelo dinheiro e, consequentemente, pelo poder, par astuto que nunca se desgruda? É o medo da finitude da vida. Tudo ilusão. Assim como os porcos da história, alguns homens julgam-se mais especiais do que outros. E, ao imaginarem que possuem poder sobre o destino de seu povo, também imaginam ter poderes sobre a própria vida, afastando de si a morte, por se julgar um ser especial. Esses egóicos seriam muito mais brilhantes, se realmente pensassem que são pessoas comuns, pois, se estão nesta ou naquela posição, é porque o povo os colocou ali. Mas não, mal se assentam nos seus gabinetes já dão às pessoas a bunda como resposta. Perdoe-me a palavra chula, embora seja tão comum para os dias de hoje, mas é que fico furioso com esses mandriões usurpadores daquilo que a humanidade tem de melhor: a esperança.

Minha amiga, obrigado por acolher minhas palavras.

Meu abraço,

George Orwell

Nota: Imagem copiada de pitonicas.wordpress.com

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A Rev. dos Bichos (17) – PORCOS E HOMENS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Senti que a história do meu amigo George Orwell estava chegando ao fim pela maneira como sua voz ia se tornando cada vez mais cansada, numa espécie de desalento e alquebramento com os fatos, como se tudo na vida fosse cíclico, ou seja, o estado inicial é tal e qual o estágio final. Eu também me senti extremamente acabrunhada, pois o acompanhara bebendo-lhe as palavras e refletindo sobre elas ao me deitar. De certa forma, também fizera parte da Revolução e da crença dos bichos num mundo, onde todos fossem tratados com igualdade. Mas vamos aos finalmentes, já que tudo é o que é, e não o que parece ser.

Napoleão, o usurpador, engordava cada vez mais. Agora tinha um aposento só para si, era tratado com todo o aparato dos demagogos e tiranos. Serviam-no com o que havia de melhor na granja e na casa-grande, inclusive sua comida era posta à mesa em recipientes de porcelana.

Muitos animais que participaram da Revolução estavam mortos, quer pela idade quer pelo excesso de trabalho. Outros ou estavam com a memória fraca, ou preferiam esquecer o passado de tantos sonhos e dedicação. Os animais novos nada sabiam do passado do que os precederam, uma vez que nada ficara por escrito. E mesmo se os tratados políticos e filosóficos da Revolução existissem, de nada serviriam, pois, o analfabetismo grassava solto. Não mais havia preocupação com o saber, talvez porque a educação das massas constituísse um grande perigo para o poder. Apenas os porcos continuavam exercendo sua intelectualidade e os cães a sua força física, num duo de extrema importância para o exercício do poder.

O moinho, que tanto sofrimento causara na sua construção, tal e qual as pirâmides do Egito, tinha agora desvirtuada a sua função. Em vez de aquecer os animais nos rigorosos invernos, era usado para gerar energia elétrica para moer cereais que seriam vendidos para os granjeiros, pois dava muito dinheiro, e o lucro era o que contava para os porcos.

Os porcos amanheceram um dia andando sobre as duas patas traseiras, imitando os homens. Napoleão trazia na mão direita um chicote, como símbolo de seu poder, além de ter se tornado um grande amigo dos granjeiros, com quem travava os mais escusos negócios. Por sua ordem, a granja não era mais a Granja dos Bichos, mas a Granja Solar.

Um novo slogan passou a ser repetido diariamente: Quatro pernas bom, duas pernas melhor!

E, para jogar uma pá de cal no passado, na parede onde estavam escritos os Sete Mandamentos estava agora:

Todos os animais são iguais,
mas alguns animais são
mais iguais do que outros.

Dali por diante, não mais foi possível distinguir os porcos dos homens.

Atenção: Não percam o último capítulo: REENCONTRANDO GEORGE ORWELL

Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell

Nota:  Imagem copiada de blogs.estadao.com.br

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A Rev. dos Bichos (16) – A MORTE DE SANSÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

asaaGarganta surgiu, apavorado e mais falante do que era, avisando os bichos que o grande líder Napoleão fora envenenado por Bola de Neve. O chefe estava muito mal, e nem mesmo conseguia abrir os olhos. Antes que eu dê prosseguimento à história, devo dizer que na adega da casa-grande, lugar até então desconhecido dos porcos, fora encontrada uma caixa de uísque. E, assim, à medida que passava a bebedeira, Garganta repassava aos companheiros a boa notícia de que o chefe estava se recuperando, ou seja, o inimigo não fora vitorioso em seu intento de matá-lo.

Um dos Sete Mandamentos que resumia a filosofia dos animais rezava: “Nenhum dos animais beberá álcool.”, mas não foi de se estranhar quando os bichos encontraram Garganta com um pincel e uma lata de tinta. O mandamento agora era: “Nenhum dos animais beberá álcool, em excesso.”. A seguir, Napoleão ordenou que uma parte da granja fosse arada para o plantio de cevada.

Reerguer o moinho pela terceira vez não estava sendo fácil. O alimento diminuía, menos para os porcos e para os cachorros. Sabidamente os governantes e seu staff nunca passam por privação, pois, eles precisam viver uma vida faustosa para darem contar da difícil tarefa de governar as massas. Portanto, Napoleão e seus capangas viviam faustosamente, enquanto o resto passava fome e frio.

Na luta para reerguer o moinho de vento, Sansão, que representava a força braçal da Granja dos Bichos, tombou. Um filete de sangue escorria-lhe pela boca abaixo. Os pulmões davam sinal de que não mais aguentavam o árduo trabalho. Os animais entraram em pânico ao verem o bom amigo tão mal. O líder foi chamado, mas quem veio dizer que Napoleão estava preocupadíssimo foi o vassalo Garganta, e que o doente seria levado para o hospital de um cirurgião veterinário e logo estaria bom.

No terceiro dia, o carroção chegou enquanto os animais estavam no trabalho. Bejamim, ao perceber que vieram buscar o amigo, correu para avisar os demais. Quando chegaram, Sansão já estava dentro da condução. Os animais sentiram-se aliviados, sabendo que o companheiro iria se tratar. Mas somente Bejamim foi capaz de ver o que estava escrito no carroção, contando aos amigos:

Alffred Simmonds, Matadouro de Cavalos, Fabricante de Cola/ Wellington Peles e Farinha de Ossos. Fornece para Canis.

Os bichos começaram a gritar para que Sansão pulasse dali e fugisse, mas ele somente olhou para trás com os olhos lacrimejantes. Sem forças, continuou dentro do carroção até desaparecer.

Cerca de três dias depois, chegou a notícia, via Garganta, que Sansão havia morrido no Hospital Veterinário, após um intenso tratamento. Mas o coitado não resistira. O lambe botas explicou que aquilo que fora lido no carroção tratava-se do seguinte: a carroça pertencera a um carniceiro, até ser comprada pelo cirurgião veterinário, que ainda não tivera tempo de remover a escrita. Talvez por medo, talvez por ignorância ou omissão, o fato é que os bichos acreditaram que assim fora, e continuaram a levar a vida de antes.

O fato relatado levou-me a certos políticos de meu país que são tão pérfidos e mentirosos quanto Napoleão, e sempre possuem um bando de lambe-botas para mentirem por eles.

Ainda falaremos mais sobre isso.

Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell

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A Rev. dos Bichos (15) – AS MASSAS E AS NEGOCIATAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O sexto mandamento do Animalismo rezava: “Nenhum animal matará outro animal.”. Todos os animais sabiam disso, mas não ousavam balbuciar nada diante dos porcos e dos cães. Contudo, não levou muito tempo para que fosse mudado para “Nenhum animal matará outro animal, sem motivo.”.

O fato é que o povo, digo, os bichos, podem formar uma massa acéfala muito perigosa, quando sob o controle de más influências. Digo isso porque a bicharada achou certíssimo o acréscimo dado ao sexto mandamento, pois, pensavam eles, havia bons motivos para matar os traidores aliados a Bola de Neve. Com o apoio das massas, Napoleão reinava como bem queria sem ter quem barrasse suas loucuras, quer por medo ou ignorância, de forma que o descalabro só aumentava. Garganta, por sua vez, lia diariamente as estatísticas da produção da Granja dos Bichos, comprovando os progressos em todos os sentidos, embora a comida diminuísse a cada dia.

Entre os humanos, quanto mais poderosos tornam-se os políticos mais se afastam do contato com o povo, pois poder e gentalha não devem se misturar, pensam eles, sendo reservado a tais contatos apenas poucos dias, de quatro em quatro anos, por ocasião das eleições. E, quando se faz totalmente necessário uma relação mais próxima, fora de tal calendário, eles se apresentam rodeados por seus comparsas e leões de chácara, de modo que seja mantida a distância que julgam necessária. O mesmo passou a acontecer com Napoleão, a quem era creditado tudo que desse certo, sendo os desacertos creditados às massas, digo, à bicharada.

Achando o campo da granja muito pequeno para as suas maracutaias, Napoleão aliou-se a um dos granjeiros para ampliar suas negociatas, sendo estabelecido um acordo secreto entre os dois. Coisa bem comum entre os políticos humanos, mas jamais vista entre os bichos. Só que, como acontece no mundo dos homens, a esperteza quando é grande demais acaba comendo o dono, de modo que Napoleão levou o maior tombo ao receber notas falsas por uma mercadoria, patrimônio de todos os bichos, que vendera às ocultas, com o apoio apenas de seus apaniguados.

O grande líder, no afã de levar a melhor na maracutaia, tentou jogar com dois dos granjeiros. Resultado, um deles lhe passou a perna, enquanto o outro partiu para a briga ao se sentir traído. E, com isso, o ignóbil jogou todos os bichos numa batalha sangrenta, onde muitos animais perderam a vida.

E mais uma vez o moinho de vento desabou! O que virá depois disso?

 Fonte de pesquisa
Revolução dos Bichos/ George Orwell

(*) Imagem copiada de comendolivros.blogspot.com

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