Autoria de Lu Dias Carvalho
Senti que a história do meu amigo George Orwell estava chegando ao fim pela maneira como sua voz ia se tornando cada vez mais cansada, numa espécie de desalento e alquebramento com os fatos, como se tudo na vida fosse cíclico, ou seja, o estado inicial é tal e qual o estágio final. Eu também me senti extremamente acabrunhada, pois o acompanhara bebendo-lhe as palavras e refletindo sobre elas ao me deitar. De certa forma, também fizera parte da Revolução e da crença dos bichos num mundo, onde todos fossem tratados com igualdade. Mas vamos aos finalmentes, já que tudo é o que é, e não o que parece ser.
Napoleão, o usurpador, engordava cada vez mais. Agora tinha um aposento só para si, era tratado com todo o aparato dos demagogos e tiranos. Serviam-no com o que havia de melhor na granja e na casa-grande, inclusive sua comida era posta à mesa em recipientes de porcelana.
Muitos animais que participaram da Revolução estavam mortos, quer pela idade quer pelo excesso de trabalho. Outros ou estavam com a memória fraca, ou preferiam esquecer o passado de tantos sonhos e dedicação. Os animais novos nada sabiam do passado do que os precederam, uma vez que nada ficara por escrito. E mesmo se os tratados políticos e filosóficos da Revolução existissem, de nada serviriam, pois, o analfabetismo grassava solto. Não mais havia preocupação com o saber, talvez porque a educação das massas constituísse um grande perigo para o poder. Apenas os porcos continuavam exercendo sua intelectualidade e os cães a sua força física, num duo de extrema importância para o exercício do poder.
O moinho, que tanto sofrimento causara na sua construção, tal e qual as pirâmides do Egito, tinha agora desvirtuada a sua função. Em vez de aquecer os animais nos rigorosos invernos, era usado para gerar energia elétrica para moer cereais que seriam vendidos para os granjeiros, pois dava muito dinheiro, e o lucro era o que contava para os porcos.
Os porcos amanheceram um dia andando sobre as duas patas traseiras, imitando os homens. Napoleão trazia na mão direita um chicote, como símbolo de seu poder, além de ter se tornado um grande amigo dos granjeiros, com quem travava os mais escusos negócios. Por sua ordem, a granja não era mais a Granja dos Bichos, mas a Granja Solar.
Um novo slogan passou a ser repetido diariamente: Quatro pernas bom, duas pernas melhor!
E, para jogar uma pá de cal no passado, na parede onde estavam escritos os Sete Mandamentos estava agora:
Todos os animais são iguais,
mas alguns animais são
mais iguais do que outros.
Dali por diante, não mais foi possível distinguir os porcos dos homens.
Atenção: Não percam o último capítulo: REENCONTRANDO GEORGE ORWELL
Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell
Nota: Imagem copiada de blogs.estadao.com.br
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