Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Lichtenstein – OLHA, MICKEY

Autoria de Lu Dias Carvalho

Ocorreu-me um dia fazer algo que parecia ser o mesmo que uma ilustração de quadrinhos sem empregar os então símbolos atuais da arte: a tinta grossa e fina, a linha caligráfica e tudo o que se tornara a marca registrada da pintura nos anos 1940 e 50. Eu faria marcas que lembrariam uma história em quadrinhos de verdade. (Lichtenstein)

 O pintor estadunidense Roy Lichtenstein (1923–1997) nasceu numa família de classe média alta. Seu contato informal com a pintura teve início em sua adolescência — em casa —, época em que também passou a demonstrar interesse pelo jazz, como mostram os muitos retratos, pintados por ele, de músicos tocando seus instrumentos. Seu contato formal com arte deu-se quando tinha 16 anos de idade, ao frequentar as aulas da Liga dos Estudantes de Arte sob a direção de Reginald Marsh. Seu objetivo era ser um artista. Foi depois para a School of Fine Arts da Ohio State University — uma das poucas instituições do país que possibilitavam a licenciatura em belas-artes. Ali recebeu influência de seu mestre Hoyt L. Sherman, dando início aos trabalhos expressionistas.

A cômica composição intitulada Olha, Mickey foi o primeiro trabalho do artista transposto diretamente de uma fonte de cultura popular — do livro infantil de 1960, Pato Donald: Achados e Perdidos. Foi sua primeira pintura a óleo feita em grande escala em que faz uso de figuras bem delimitadas, cores industriais e os famosos pontos Benday — aplicados nos olhos de Donald e na cara de Mickey, empregados na impressão comercial com a finalidade obter meios-tons. É também o primeiro uso de um balão de fala e quadrinhos como fonte. O desenho foi feito a lápis diretamente na tela e posteriormente pintado a óleo. Por ocasião da morte do artista esta obra foi considerada o seu trabalho inovador.

A pintura apresenta as figuras do Pato Donald e do Mickey — duas personagens conhecidas de histórias em quadrinhos. Os dois personagens encontram-se numa pescaria sobre um píer. O Pato Donald, com a vara de pesca levantada acima de sua cabeça, traz os olhos fixos na água, imaginando ter pescado um grande peixe — como mostra o balão presente na obra — quando na verdade seu anzol encontra-se preso na ponta de seu casaco. Seus grandes olhos e o bico abrem-se denotando surpresa e emoção. Mickey Mouse, mostrando-se encabulado com a tolice de seu amigo, coloca a mão enluvada na boca para esconder o riso. O texto diz: “Olhe Mickey, eu fisguei um grande”.

Alguns críticos viam os trabalhos de Lichtenstein — como Olha, Mickey — como falsificação, contudo, o artista não copia a imagem tal e qual se encontra na história em quadrinhos. Aqui, por exemplo, modificou-a a fim de transformá-la numa imagem mais unificada. Retirou as figuras de fundo, girou a doca a fim de que Donald olhasse para o lado, redesenhou o espaço, mudou a posição do corpo e da vara de pescar de Donald, eliminou os sinais de estresse e esforço e organizou as cores em faixas de amarelo e azul e simplifica os recursos dos personagens. Ainda que estilisticamente imite a mídia impressa (contornos pretos e fortes, cores primárias e os pontos de tinta do processo de impressão de Benday), ele inverte o visual transposto, enchendo-o de humor negro, mostrando uma imagem cômica da imagem clichê, vinda de um ícone popular.

Ficha técnica
Ano: 1961
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 121,9 x 175,3 cm
Localização: Coleção do artista

Fontes de pesquisa
Lichtenstein/ Editora Taschen
https://pt.wikipedia.org/wiki/Look_Mickey
https://www.nga.gov/collection/highlights/lichtenstein-look-mickey.html

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Lichtenstein – WHAAM!

Autoria de Lu Dias Carvalho

                             

Uma intenção menor das minhas pinturas de guerra é mostrar a agressividade militar sob uma exposição absurda. A minha opinião pessoal é que muita da nossa política internacional tem sido inacreditavelmente aterradora, mas este não é o tema do meu trabalho e eu não quero tirar dividendos desta posição popular. A minha obra diz mais respeito à nossa definição estadunidense das imagens e da comunicação visual. (Roy Lichtenstein)

Eu me lembro de me preocupar com a idéia de fazer duas pinturas quase separadas, com pouco indício de composição, cada uma tendo caráter estilístico ligeiramente separado. É claro que há conexão humorística de um painel atirando no outro. (Roy Lichtenstein)

O pintor estadunidense Roy Lichtenstein (1923–1997) nasceu numa família de classe média alta. Seu contato informal com a pintura teve início em sua adolescência — em casa —, época em que também passou a demonstrar interesse pelo jazz, como mostram os muitos retratos pintados por ele de músicos tocando seus instrumentos. Seu contato formal com arte deu-se quando tinha 16 anos de idade, ao frequentar as aulas da Liga dos Estudantes de Arte sob a direção de Reginald Marsh. Seu objetivo era ser um artista. Foi depois para a School of Fine Arts da Ohio State University — uma das poucas instituições do país que possibilitavam a licenciatura em belas-artes. Ali recebeu influência de seu mestre Hoyt L. Sherman, dando início aos trabalhos expressionistas.

A composição intitulada Whaam é uma gigantesca obra em díptico de Roy Lichtenstein e uma das pinturas mais representativas do movimento da Pop Art, sendo vista como um dos trabalhos mais importantes e mais conhecidos do artista estadunidense. A primeira parte do díptico (painel esquerdo) apresenta um avião de combate disparando um foguete num avião inimigo, enquanto a segunda parte (painel direito) mostra o foguete atingindo o alvo e explodindo-o em chamas vermelhas que tomam conta de todo a tela. O rastro de fumaça deixado pelo míssil transforma-se numa linha horizontal. Os dois painéis — visivelmente ligados espacial e temporalmente — podem ser explicados como “ação” e “consequência”. A onomatopeia WHAAM! reforça o sentido de cartoon, assim como a legenda com letras pretas presente um uma caixa amarela no alto do painel esquerdo.

Frase escrita na legenda: “I pressed the fire control… And ahead of me rockets blazed through the sky…” (Eu apertei o controle de fogo… E à minha frente foguetes brilharam pelo céu …).

A fonte primária desta obra foi um painel de uma revista em quadrinhos de guerra de 1962 (foto menor). O artista, contudo, concebeu a imagem buscando vários painéis de quadrinho, modificando a relação entre os elementos gráficos e narrativos. Lichtenstein substituiu o ataque e o alvo por outros tipos de aeronaves e também eliminou o balão do discurso em que o piloto exclamava: “O inimigo se tornou uma estrela flamejante!”. O título da composição é uma onomatopeia que além de fazer parte da ação também diz respeito ao impacto do projétil no painel direito. Lichtenstein fez uma série de pinturas sobre a guerra, sendo esta uma delas.

Ficha técnica
Ano: 1963
Técnica: Tinta acrílica e tinta a óleo sobre tela
Dimensões: 172,7 x 406,4 cm
Localização: Galeria Tate, Londres, Grã-Bretanha

Fontes de pesquisa
Lichtenstein/ Editora Taschen
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Whaam!
https://www.tate.org.uk/art/artworks/lichtenstein-whaam-t00897

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Varonese – O RAPTO DE EUROPA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor italiano Paolo Caliari (1528-1588), mais conhecido pelo nome de Paolo Veronese, ou simplesmente Veronese, como lhe chamavam os amigos, é tido como um dos grandes artistas de Veneza. Nasceu na cidade de Verona que era uma província de Veneza à época. Foi educado em sua cidade natal, sendo seu pai, o cortador de pedras Gabriel Caliari, o seu primeiro mestre, ensinando-lhe a modelar o barro. Mas ao perceber o talento do filho para o desenho, enviou-o para o pintor Antonio Badile, aluno de Ticiano.  Veronese tornou-se grande amigo do pintor Battista Zelotti, que também estudara com Ticiano.  Com ele foi tentar a sorte em Siena. Naquela cidade, os dois amigos tiveram a sorte de arranjar serviço com um nobre que lhes confiou a ornamentação de seu palácio. Esse trabalho foi muito importante para Veronese, pois aprendeu com o amigo importantes lições sobre o uso da cor e da composição, ensinadas pelo mestre Ticiano.

A pintura denominada O Rapto de Europa é uma obra do pintor italiano Paolo Varonese que inclui em seus trabalhos inúmeras narrativas mitológicas, como a vista acima.

Varonese pinta a cena mitológica em que a princesa Europa sobe no dorso de um boi — que não é outro senão o próprio Zeus. Três criadas ajudam-na, enquanto uma terceira observa os três pequenos cupidos colhendo flores ou as atirando no grupo. Um deles traz uma guirlanda na mão. Mais adiante, no caminho que leva ao mar, vemos outros cupidos e figuras humanas. É por este caminho que Europa será levada, até alcançar o mar.

Segundo a mitologia grega, Júpiter (Zeus em grego) — o deus dos deuses — rapta a princesa Europa, depois de apaixonar-se por ela. Para enganá-la, ele toma a forma de um touro branco, aproximando-se dela. Inocentemente ela monta em seu dorso, deixando-se levar por ele. Só que Zeus leva-a para Creta, onde a possui.

Ficha técnica
Ano: c. 1580-1585
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 240 x 303 cm
Localização: Palazzo Ducale, Veneza, Itália

Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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Kandinsky – A LUDWIGSKIRCHE EM MUNIQUE

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor russo, gravurista e teórico de arte e um dos fundadores do abstracionismo, Wassaly Kandinsky (1866-1944), nasceu em Moscou em meio a uma próspera família de burgueses, sendo seu pai um rico comerciante de chá. Sua avó era de origem alemã, tendo lhe ensinado o alemão como primeiro idioma. Quando tinha cinco anos de idade, ele teve que lidar com a separação dos pais, ficando sob os cuidados de sua tia Elizaveta Ticheeva, responsável por sua educação. Ela não apenas propiciou o contato do futuro artista com a espiritualidade como lhe transmitiu conhecimentos musicais e o fez conhecer os contos russos que possibilitaram sua relação com as lendas e tradições do povo russo. Inicialmente, Kandinsky foi direcionado para a música, embora também tenha recebido aulas de desenho.

A composição intitulada A Ludwigskirche em Munique é uma obra do artista em que as cores tornam-se o principal elemento. O artista apresenta uma multidão de pessoas numa procissão dominical, próximas a grandiosas paredes com arcos escuros em forma de semicírculos, diante de Ludwigskirche em Munique. Os fieis estão reunidos debaixo do pórtico da igreja de São Ludwig que traz as suas portas abertas, preparando-se para a procissão que começa a formar-se. Um grupo de sacerdotes em frente à entrada da igreja brilha sob a luz do sol.

Kandinsky usou o fundo escuro jogando sobre ele pequenas manchas de cor (pontilhismo), muitas delas não figurativas, fazendo com que a obra se pareça com uma decoração abstrata.

Ficha técnica
Ano: 1908
Técnica: óleo sobre cartão
Dimensões: 67,3 x 96 cm  
Localização: Museu Thyssen-Bornemisza, Madri, Espanha

 Fontes de Pesquisa:
Impressionismo/ Editora Taschen
https://www.wassilykandinsky.net/work-223.php
https://www.museothyssen.org/en/collection/artists/kandinsky-wassily/ludwigskirche-

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Velázquez – O DEUS MARTE

 Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor espanhol Diego da Silva Velázquez (1599–1660) encontra-se no rol dos maiores pintores da história da arte. Seus pais, Juan Rodríquez da Silva e Jerónima Velázquez, ambos de Sevilha, faziam parte da pequena nobreza e gozavam de pequeno prestígio social e político. Ao descobrirem o talento do primogênito da família para o desenho, tudo fizeram para encaminhá-lo em sua vocação. Aos dez anos de idade o menino foi estudar com o pintor Francisco Herrera, o Velho, mas ali ficou poucos meses, pois não se agradou do jeito do mestre. A seguir, ele foi estudar com o renomado pintor Francisco Pacheco de erudição humanista e em cujo ateliê reunia-se o grosso da intelectualidade, o que muito contribui para a sua formação.

A composição intitulada O Deus Marte — e também Marte Descansando — é uma obra do artista que nela mostra a sua maestria como retratista de temas imaginários. Velázquez retrata Marte — o deus romano da guerra e guardião da agricultura — em tamanho real, com grande realismo, mas não se sabe se o artista usou um modelo vivo. O mito é mostrado como um homem de meia idade, cuja pele já mostra dobras na barriga. Ele se encontra em sua cama desarrumada, de frente para o observador, com a mão direita segurando o queixo. Seu corpo está bem centrado na composição. A ponta do elmo ocupa o centro da parte superior da tela. A pintura segue a ordem iconográfica da esquerda para a direita — ritmo de Velazquez.

A figura escultural de Marte sentada em seu leito desarrumado é retratada em escala humana e em atitude de repouso sobre um fundo escuro. Traz o corpo nu, exceto pela tanga azul e pelo manto vermelho que lhe cobrem os quadris — ambos feitos com os lençóis da cama. É possível perceber que a tanga cobria originalmente um espaço maior da perna esquerda e seguia o contorno da direita. Um grande bigode adorna seu rosto, contribuindo para realçar ainda mais a sua melancolia. Na cabeça ele traz seu capacete, cuja viseira abaixada faz sombra em seu rosto. Segura com certa relutância na mão direita, escondida sob o manto vermelho, um cajado apoiado no chão. A seus pés estão o escudo, a espada e o resto da armadura, aparentemente ali jogados. Tais atributos bélicos são responsáveis por sua identificação

Alguns críticos de arte veem na situação embaraçosa e intrigante do mito uma relação com Vênus — deusa do amor —, sua amante, cuja traição foi descoberta por Vulcano, seu marido. Marte estaria tentando compreender o fim intempestivo de seu relacionamento. Esta pintura trata-se de uma representação satírica do deus.

Obs.: Muito se tem falado sobre a relação desta pintura com duas esplêndidas esculturas, muito familiares aos artistas no século XVII: Ludovisi Ares (uma cópia romana de um original grego) e Il pensieroso (O pensador) — uma das esculturas de Michelangelo. A pintura de Velázquez, no entanto, revela um desejo claro de representar carne viva com sangue correndo em suas veias, ao invés de imitar pedra esculpida. O pintor construiu sua figura fundamentalmente com base na cor e não na linha, com pinceladas livres e generosas produzindo contornos maravilhosamente difusos.  (Museu del Prado)

Ficha técnica
Ano: c. 1640
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 167 x 97 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/mars/ec55aa06-b32e-481

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Ribera – MARTÍRIO DE SANTO ANDRÉ

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor Jusepe de Ribera (159–1652) embora tenha nascido na Espanha, mudou-se muito jovem para a Itália, tendo, portanto, dupla nacionalidade, sendo reivindicado pelos dois países. Entre os italianos recebeu o apelido de “Lo Spagnoletto” (O Espanholinho) em razão de sua pequena estatura. Foi influenciado pela arte de Corregio e de Caravaggio. Foi muito admirado pelos patronos e colecionadores espanhóis, sendo tido, portanto, como um dos mais famosos pintores espanhóis do século XVII, embora não tenha voltado ao seu país de origem. Pintou sobretudo obras religiosas. Foi professor de Luca Giordano, entre outros.

A composição intitulada Martírio de Santo André é uma obra do artista que se manifesta como um pintor maduro de temas religiosos. Ele toma como influência a “Crucificação de São Pedro”, obra de Caravaggio, pintor que abre mão dos tipos idealizados para fazer uso de pessoas do povo. Ribera fez muitas pinturas usando o “martírio”, mas sempre inovando para que não ficassem repetidas em razão da alta demanda. Chegou a ter a reputação de “especialista em martírios”, tantas foram as obras que fez, no entanto, ele procurava destacar a fé das vítimas em vez do processo doloroso do martírio em si mesmo.

A cena mostra o momento antes da crucificação que acontece num ambiente escuro, parecido com uma caverna. Santo André (irmão do apóstolo Pedro), seminu, ocupa o primeiro plano. Seu corpo magro e frágil com a pele enrugada e os músculos tensos é iluminado por uma forte luz, contrastando com a escuridão presente no restante da tela.

À direita de Santo André, usando uma bandana rota na cabeça, está o carrasco — representado como uma figura do povo. Ele amarra uma corda nos pés do santo, preparando-o para a sua tortura e morte. Outra grande figura (aparentemente um padre) encontra-se acima do santo, trazendo nas mãos um ídolo pagão, enquanto outra figura ergue as suas costas. Através de uma pequena abertura à direita é possível ver um pequeno grupo de pessoas, vistas a meio corpo, que acompanham o sacrifício. Duas lanças são vistas ao fundo. O santo — inteiramente resignado com a própria morte — não oferece qualquer tipo de resistência, soltando os braços a fim de facilitar o serviço de seus verdugos.

Ficha técnica
Ano: 1628
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 285 x 209 cm
Localização: Museum of Fine Arts, Budapeste, Hungria

Fonte de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.wga.hu/html_m/r/ribera/1/s_andrew.html

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