Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Mestres da Pintura – FERNANDO BOTERO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O artista é universal apenas quando está fortemente enraizado na própria comunidade onde nasceu. (Fernando Botero)

Quando se é jovem, deseja-se ligar a tudo. Passou-se o mesmo comigo. Queria a cor de Matisse, a construção de Picasso, a pincelada de Van Gogh. (Fernando Botero)

Para mim, uma personalidade como Rivera era sempre da maior importância. Mostrou-nos, a nós jovens pintores centro-americanos, a possibilidade de criar uma arte que não precisava ser colonizada pela Europa. Sentia-me atraído pelo caráter do mestiço, a mistura das culturas indígena e espanhola. (Fernando Botero)

O artista figurativo e escultor colombiano Fernando Botero Angulo nasceu em Medellín, na Colômbia em 1932. É o segundo dos três filhos do vendedor Davi Botero e da costureira Flora Angulo. Aos quatro anos de idade Fernando perdeu seu pai, vitimado por um ataque cardíaco, ficando aos cuidados da mãe e de um tio que teve um papel fundamental em sua vida, tendo o colocado numa escola para toureiros por um período de dois anos, embora ele preferisse a arte no papel. Enquanto crescia, o garoto sentia-se cada vez mais fascinado pelo Barroco, estilo que via nas igrejas coloniais e na vida de Medellín. Já aos 16 anos o jovem viu suas primeiras ilustrações serem publicadas no suplemento dominical do jornal “El Colombiano”, um dos mais destacados de Medellín. Com o dinheiro recebido Botero pagou o Ensino Médio.

Fernando exibiu seu trabalho pela primeira vez quando tinha 16 anos de idade, ao lado de outros artistas de sua região. No período de 1949 e 1950 ele trabalhou como cenógrafo. Mudou-se para Bogotá em 1951, época em que 25 de suas obras foram expostas pelo fotógrafo Leo Matiz em seu atelier. Eram desenhos, pinturas a óleo e aquarelas de um jovem pintor desconhecido que acabara de chegar da província. É fato que sua obras não fizeram grande sucesso, mas Fernando continuou firme no seu desejo de seguir a carreira artística. Antes de completar um ano em relação ao evento anterior, Leo Matiz fez nova exposição com obras do artista, obtendo grande sucesso, sendo vendidas todas as  que se encontravam expostas. Fernando Botero estava com 19 anos. O mundo da arte que o aguardasse!

Fernando Botero morou em Madri/Espanha, onde permaneceu um ano e estudou os mestres espanhóis. Ali teve contato com a composição “Danae” de Ticiano, quadros de Tintoretto e Velázquez, pintor espanhol que sempre admirou. Depois foi para Paris/ França, onde estudou as obras do Louvre, atraído pelos grandes mestres do passado. A seguir foi para Florença/Itália, estudar os grandes mestres do Renascimento e a técnica da pintura de afrescos. Em Arezzo encantou-se com os frescos de Piero della Francesca. Em Assis de Pádua ficou fascinado pelos trabalhos de Giotto. Em Siena estudou Carpaccio. Em Veneza estudou Giorgone e Ticiano. Em Roma mostrou sua preferência por Piero della Francesca e Paolo Ucello. Ao final foram quase quatro anos passados na Europa, dedicados ao estudo da arte.

O retorno a Bogotá desiludiu o artista que não era não festejado como antes. O público tomava suas obras como excessivamente clássicas. Botero então partiu para o México, país dono de uma tradição cultural magnífica, onde se encontravam Frida Kahlo, Diego Rivera, Alvaro Siqueiros e José Clemente Orozco que acabaram deixando marcas na arte de Botero, principalmente Diego Rivera (falecido no ano em que ele chegou àquele país). Depois passou uma temporada nos Estados Unidos da América, tendo uma exposição de suas obras em Washington, oportunidade em que conheceu a arte contemporânea feita ali. Voltou a seu país aos 26 anos de idade, sendo nomeado professor de pintura da Academia. Era a glória!

Em 1960, ao expor pela segunda vez em Washington/EUA, Botero resolveu ali permanecer para fazer evoluir sua carreira artística. De lá foi para Nova York. É dessa época que ele guarda memórias muito sofridas, quando tinha que lutar arduamente para sobreviver, além de ter que lidar com a solidão, rejeição, críticas ácidas e ainda com o fato de ser latino (hoje chamados de hispânicos) tidos como uma comunidade inferior no meio artístico. Mas ao ter uma de suas pinturas adquiridas pelo Museum of Modern Art e ter feito uma exposição de pinturas no seu hall, tornou-se famoso de uma hora para outra. Segundo alguns críticos, as obras do artista colombiano nos seus primeiros anos em Nova York, ladeado pela solidão e sofrendo grande privação material, estão entre as mais belas.

Botero já fez mais de 50 exposições individuais em todo o mundo e seus quadros atingem altas cifras no mercado, sendo encontrados nas mais diferentes partes do planeta, sempre imbuídos de grande qualidade artística. Na produção de suas primeiras obras, o artista foi influenciado pelos pintor francês Paul Gauguin e pelos mexicanos Diego Rivera e José Clemente Orozco, através de livros e reproduções. Na casa de um amigo ele gostava de apreciar a reprodução de Picasso intitulada “Mulher em Frente ao Espelho” e outra de um quadro de Giorgio Chirico.

As características inconfundíveis da arte de Botero receberam o nome de “boterismo”, pois retrata figuras rechonchudas, sempre com um volume exagerado, podendo denotar crítica política ou meramente humor. A sua escultura critica, principalmente, a ganância humana. A obra do artista é estimada em cerca de 3.000 pinturas, 200 esculturas e incontáveis desenhos e aquarelas. Embora trabalhe mais com retratos, naturezas-mortas e paisagens também fazem parte de sua obra, assim como a escultura.

O artista é sempre questionado sobre o porquê de pintar pessoas gordas, ao que ele responde: “Eu não pinto pessoas gordas!”. À primeira vista, podemos até achar que ele esteja brincando conosco, pois em sã consciência não podemos dizer que as pessoas nas suas obras sejam esbeltas. Muito pelo contrário. Mas ao nos aprofundarmos na sua análise, veremos que ele está coberto de razão. O artista quer dizer que possui um estilo próprio, o de pintar todas as coisas volumosas, quer sejam pessoas, animais ou objetos. Embora ele seja um pintor figurativo e suas imagens direcionadas pela realidade, não tem o compromisso de transmiti-la. Portanto, o exagero nos tamanhos trata apenas de uma escolha de estilo, da forma como ele apresenta sua arte. Já vimos essa deformação na arte de El Greco, com suas figuras sinuosas e alongadas, no cubismo de Picasso, etc. E mesmo na deformação está presente o seu desejo de mostrar a sensualidade de suas figuras.

Atualmente Botero vive em Paris, sendo que em razão das drogas não tem mais voltado à sua Medellín. Mas onde quer que esteja, ela está sempre presente em suas obras, ao recordar de sua gente, suas paisagens e tradições.

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Hugo van der Goes – A MORTE DA VIRGEM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição intitulada A Morte da Virgem, obra do holandês Hugo van der Goes, um dos mestres dessa época, apresenta a Virgem em seu leito de morte, rodeada pelos 12 apóstolos. Sobre o artista sabe-se que viveu seus últimos anos num mosteiro, onde, deprimido, vivia por grandes acessos de melancolia (depressão).

É admirável o modo como o artista apresentou as diferentes reações dos apóstolos, enquanto presenciavam o falecimento da Virgem. Nenhuma parte da composição mostra-se sem significado.  Cada um dos seguidores de Cristo mostra uma reação diferente diante do acontecimento que testemunha. Alguns meditam silenciosamente ao lado da cama de Maria, outros trazem dor na expressão, enquanto outros mostram-se consternados. Dois deles estão desalentados, assentados em primeiro plano, aos pés da cama.

A Virgem agonizante tem a visão de seu filho Jesus com dois anjos a segurar o seu manto vermelho, trazendo os braços abertos para recebê-la. Eles se olham fixamente. Nenhum dos apóstolos participa da visão que só é presenciada por Maria.

Ficha técnica
Ano: c. 1480
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 146,7 x 121,1 cm
Localização: Groeninge Museum, Bruges, Bélgica

Fonte de pesquisa
A História da Arte/ E.H. Grombrich

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Van der Goes – O TRÍPTICO PORTINARI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O Tríptico Portinari, obra do artista Hugo van der Goes, é tão grande, que necessitou de 16 homens para depositá-lo na igreja de Santo Egídio, fundada em 1288 por Folco Portinari, onde foi definitivamente alojado em 1483. Foi doado por Tommaso Portinari, parente do fundador da igreja. O tríptico (Aurélio: Obra de pintura ou de escultura, constituída de um painel central e duas meias-portas laterais capazes de se fecharem sobre ele, recobrindo-o completamente) apresenta três histórias, ocorridas em diferentes lugares e tempos. Nele estão presentes: o nascimento de Cristo (no centro), a viagem de Maria e José a Belém (no fundo, à esquerda) e  a jornada dos três Reis Magos desde o Oriente (no fundo, à direita).

Como era comum à época, o artista representou o doador e sua família no tríptico,  protegidos por seus santos de devoção, em tamanho bem superior ao dos membros da família, conforme tradição medieval.

Na parte direita do tríptico encontra-se Maria, esposa de Tommaso, ajoelhada, tendo logo atrás de si a filha Margherita. Ela usa um rigoroso traje escuro, com chapéu cônico e arranjos em dourado, próprios da corte de Borgonha, à época. Mostra-se melancólica e cansada. A filha usa trajes parecidos, e traz os cabelos doirados a cair-lhe pelas costas. Santa Margarida, usando um manto vermelho, traz um livro nas mãos e sob um dos pés a cabeça do dragão, que, conforme a lenda, tentou devorá-la. Ela é a padroeira de Maria, enquanto Maria Madalena, com seu principal atributo, o frasco de unguento com o qual untou os pés de Jesus, é a protetora da pequena Margherita.

À esquerda está o patronoTommaso Portinari, ajoelhado, vestindo um longo manto escuro, com os filhos Antonio e Pigello, também ajoelhados atrás de si. São Tomás, carregando a lança, que o transpassou , é o protetor de Tommaso Portinari; Santo Antônio, portando um sino e um rosário, é o responsável por Antonio, enquanto o pequeno Pigello não possui um protetor, o que leva a crer que não tinha nascido, quando o projeto da obra já havia sido terminado, sendo acrescido depois.

A paisagem apresentada por Hugo van der Goes retrata um inverno nórdico, onde se vê um céu cinzento e árvores nuas, na meia-porta à direita, e uma rocha hostil, onde se encontra Maria, apoiada por José, e o burro, na meia-porta à esquerda. O caminho dificultoso representa o sofrimento pelo qual passará a Virgem. O painel central , denominado Adoração dos Pastores, retrata o nascimentodo Menino.

Nota: Conheça o painel central A ADORÇÃO DOS PASTORES

Ficha técnica (totalidade do painel)
Ano: c. 1475
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 253 x 586 cm
Localização: Galleria degli Uffizi, Florença, Itália

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Mestres da Pintura – HUGO VAN DER GOES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor Hugo van der Goes (1443-1482) é tido como um dos mais importantes pintores flamengos da segunda metade do século XV. Não se sabe muito sobre os primeiros anos de sua vida. Trabalhou como mestre na associação dos pintores de Gante, onde nasceu. Participou da decoração do casamento de Carlos, o Temerário, possivelmente ao lado de Hans Memling e Petrus Christus. Suas pinturas atendiam especificamente ao que era definido pelos clientes, quer eclesiásticos ou seculares. Entrou para o Convento de Roode, sendo ordenado como irmão laico, local em que passou os últimos anos de sua vida. Mesmo tendo feito votos de pobreza, castidade e obediência, não abandonou a pintura. Segundo o irmão Gaspar Ofhuys, ele tinha crises de melancolia, possivelmente depressão, acompanhadas de crises de culpa, tendo sido acometido também por alucinações religiosas. Alguns estudiosos aludem a isso, o fato de sua arte mostrar tensão e austeridade.

Hugo van der Goes foi responsável por criar mais expressividade na fisionomia e nos gestos das figuras humanas que pintava, embora a corte borgonhesa coibisse os gestos descomedidos e a exposição dos sentimentos. Também gostava de usar cores brilhantes. Através de seu Tríptico de Portinari, concluído na Florença, ele exerceu grande influência nos artistas italianos, dentre eles estavam Domenico Ghirlandaio e Leonardo da Vinci. Em razão dessa obra, a Itália recebeu novas técnicas de pintura a óleo e alguns elementos compositivos da arte flamenga, até então desconhecidos ali.

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

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Klimt – AS TRÊS IDADES DA MULHER

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Após a perda de seu pai e do seu irmão Ernst, grande companheiro nas artes, Gustav Klimt sentiu-se muito abalado. Afastou-se da atividade pictórica por um tempo, para a reflexão. Ao retornar à carreira, o artista trazia uma nova visão da vida, na qual incluía a morte. Desse modo, o ciclo natural da vida passou a fazer parte de seu trabalho, ainda que indiretamente.

Na composição As Três Idades da Mulher a temática sobre o ciclo da vida é mostrada diretamente. Para muitos estudiosos de arte, o artista inspirou-se no quadro “As Três Idades da Mulher e a Morte”, obra do pintor renascentista alemão Hans Baldung Grie.

As figuras de Klimt estão dispostas verticalmente: uma mulher idosa, uma jovem e uma garotinha, todas nuas, com o objetivo de mostrar a passagem do tempo. A mulher idosa encontra-se de perfil, com os cabelos a tapar-lhe o rosto. Além dos seios caídos, da pele flácida, costas encurvadas e da protuberante barriga, chamam a atenção as veias que se espalham pelo braço, mão, perna e pés direitos da anciã. Próxima a ela, está a jovem mãe, com seu corpo rijo e pele rósea, com sua filhinha adormecida nos braços. O enlevo que se vê na figura da mulher jovem contrasta com o isolamento em que se encontra a da idosa. Como em todos os quadros do artista, a decoração cumpre o seu papel. Mãe e filha parecem unidas sob um mesmo manto.

Klimt não atribui à figura da mãe a sensualidade característica de suas mulheres, embora ela possua os mesmos atributos dessas: cabelos ruivos, lábios carnudos e rosto carmesim. A presença da criança e o seu aconchego à mãe, assim como os olhos fechados da mulher jovem, inibem qualquer tipo de sensualidade.

Ficha técnica
Ano: 1905
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 180 x 180 cm
Localização: Galleria Nazionale d’Arte Moderna, Roma, Itália

Fonte de pesquisa
Gustav Klimt/ Coleção Folha

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Klimt – A VIDA E A MORTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição A Vida e a Morte, obra do artista austríaco Gustav Klimt, ganhou a medalha de ouro na Exposição Internacional de Arte de Roma, no ano de 1911. Após guardá-la por um tempo, Klimt resolveu retocá-la, fazendo diversas mudanças na obra, inclusive com a adição de mais figuras e rostos.

Em seu quadro o artista apresenta a Morte à esquerda, observando um grupo de pessoas das mais variadas idades, situadas à direita, representando a Vida. Enquanto a morte é representada em cores frias e sombrias, as pessoas possuem cores quentes e exuberantes.

A Morte é representada por um esqueleto, usando uma longa túnica azul, entremeada de cruzes negras em diversos formatos e tamanhos. Ela segura firmemente um cetro vermelho nas mãos, simbolizando o seu poder sobre a Vida. Ao mirar o conjunto de humanos,  ela parece rir do fim que os aguarda, mais cedo ou mais tarde. Está ali como um predador feroz, à espera de sua presa, não importando qual seja o tempo de espera.

As figuras humanas formam um conjunto oval. A personagem mais velha encontra-se no meio, com a cabeça baixa, como se tivesse rezando. Seu rosto revela uma certa tristeza, pois a Morte está mais próxima para ela. Os demais seres humanos parecem se encontrar dormindo, como se a Morte não existisse para eles. Apenas uma mulher, na parte superior esquerda da coluna, fita a Morte com visível surpresa, como se dela nunca tivesse ouvido falar.

É possível perceber que a sinuosidade da túnica da Morte encaixa com a do grupo, numa junção perfeita, como se o artista quisesse dizer que Vida e Morte complementam-se.

Ficha técnica
Ano: 1910-1915
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 178 x 198 cm
Localização: Leopold Museum, Viena, Áustria

Fonte de pesquisa
Gustav Klimt/ Coleção Folha

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