Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Munch – PUBERDADE

Autoria de Lu Dias Carvalho

PUBERDADE

A composição Puberdade, do artista norueguês Edvard Munch, apresenta uma garota que chegou à puberdade. Sentada nua sobre uma cama, com lençol e travesseiro brancos, tendo ao fundo uma parede avermelhada, ela se encontra num espaço diminuto.

A cama onde a mocinha encontra-se não é vista na sua totalidade, tendo sido excluídos a cabeceira e os pés da mesma. A temática do quadro só apresenta o essencial, sendo centralizada na horizontal, constituída pela cama, e na vertical, composta pela garota.

A menina-moça está de frente para o observador e de costas para a parede. Apesar de nua, ela não se mostra frágil e tampouco alude ao despudor. Suas mãos entre as pernas indica que ela encobre suas partes pudicas. A sua tosca e disforme sombra, à sua esquerda, parece refletir apenas a sua longa cabeleira.

Segundo o próprio Munch, a sombra está ligada à recordação do passado e das muitas mortes (mãe, irmã, avô, pai) vivenciadas por ele na família e, que deixaram profundas impressões no seu psiquismo. Ou seja, a imensa sombra negra da mocinha é também um reflexo de seu futuro, que não tardará a recair sobre ela, embora agora se mostre tão jovenzinha. É o seu desabrochar aliado ao futuro desconhecido, que trará muitos sofrimentos. Seus olhos abertos e, aparentemente espantados, e o cruzar dos braços sobre a região pélvica são ao mesmo tempo uma combinação de angústia e sexualidade.

Ficha técnica
Ano:1985
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 151,5 x 110 cm
Localização: Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega

Fonte de pesquisa
Munch/ Editora Paisagem

Views: 28

Weyden – A ANUNCIAÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

unic1

A Anunciação do pintor holandês Rogier van der Weyden é a parte central do Tríptico da Anunciação, que mostra a chegada do anjo Gabriel, que veio visitar  Maria, para lhe dizer que ela conceberá o Filho de Deus. A aba esquerda deste painel traz o doador da obra, que não foi identificado, e a direita traz a cena da visitação, ou seja, o encontro entre a Virgem e a sua prima Isabel. Como o pintor não deixou obras datadas, presume-se que este seja um de seus trabalhos mais antigos. É possível notar a influência de Jan van Eyck e do Mestre de Flémalle, seu professor, sobre esta composição de estilo gótico tardio, emocional e linear. Este tema foi representado inúmeras vezes por Weyden.

O encontro entre a Virgem e o anjo acontece no interior silencioso do quarto dela, belamente adornado, com a luz da manhã entrando suavemente através das janelas abertas. Tudo está bem organizado, tranquilo e sereno. Não existe  nada que possa sinalizar perturbação ou dúvida. A luz que alumia o quarto advem da janela à direita, realçando a suntuosa ornamentação feita em detalhes. O uso da cor é magistral.

A delicada Virgem ainda segura na mão esquerda o livro que estava lendo, e, que simboliza a sabedoria que possui. Seu rosto calmo e o gesto de sua mão mostram assentimento em relação ao que acabara de ouvir. O anjo, que parece flutuar, tão inseguro é o seu equilíbrio, mostra muita ternura no olhar, em reverência àquela que será a mãe do filho de Deus.  Ambos possuem o mesmo formato de rosto.

O anjo mensageiro está suntuosamente vestido. Um manto brocado, forrado de vermelho, desce sobre sua túnica branca com uma faixa vermelha. Suas asas possuem três tons de azul.  Suas roupas espalham-se pelo chão. Ele está de pé diante da Virgem com o corpo ligeiramente inclinado para trás, com as mãos espalmadas num gracioso gesto. Às suas costas, um assento de madeira tem três almofadas vermelhas.

No canto inferior esquerdo da composição há um belo vaso com três lírios brancos e, ao fundo, sobre um móvel de madeira, está uma bacia com um jarro dentro. Os dois objetos atestam a virgindade de Maria. No lado esquerdo, próximas à parte mais alta da porta, duas laranjas lembram o pecado original, enquanto as velas apagadas são o símbolo de que está chegando uma nova fonte de luz – Jesus Cristo – que salvará o homem de seus pecados.

O quarto com sua cama e dossel vermelhos simbolizam o mistério da noite de núpcias e também pode ser uma alusão à cama de ervas aromáticas mencionada no Cântico dos Cânticos. Uma janela ao fundo deixa ver um céu claro e uma casa mais ao longe.

Ficha técnica:
Data: c. 1435/1440
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 86 x 92 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa

Fontes de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

Views: 1

Munch – A CRIANÇA DOENTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

EMunch123

Estou convencido de que dificilmente haverá um pintor entre eles que esgote o seu tema até, precisamente, à última gota amarga, tal como eu o fiz em a Menina Doente. Não era apenas eu próprio que estava lá sentado – eram todos os meus entes queridos. (Edvard Munch)

Edvard Munch perdeu sua irmã Sophie quando essa estava com 15 anos de idade, nove anos após a morte da mãe, ambas vitimadas pela tuberculose. Em sua composição A Criança Doente, que possui outras versões, ele retrata o sofrimento da irmã, prisioneira em seu leito de morte.

A garota doente encontra-se sentada sobre sua cama, recostada numa gigantesca almofada branca, que joga luz no seu rosto pálido. A parte inferior de seu corpo está coberta por uma manta esverdeada. À sua esquerda, está uma mulher visivelmente abatida, e à direita encontra-se uma cômoda com um frasco de remédio sobre ela. Atrás da mulher, as cortinas estão fechadas.

A adolescente está virada em direção à acompanhante, que se encontra ajoelhada a seu lado (ou sentada), e traz a cabeça inclinada para baixo. Ela segura a mão esquerda da garota enferma, não sendo possível enxergar o seu rosto. Um copo com líquido até o meio aparece em primeiro plano, sobre uma pequenina mesa, aos pés da cama, à direita.

Ao ser mostrada na Exposição de Outono, em Christiania (atual Oslo), em 1886, esta composição foi alvo de reações impetuosas e exaltadas. O escândalo protagonizado pela obra nos círculos artísticos advinha do fato de a pintura apresentar contornos desordenados e sinais de trabalhos preparatórios executados pelo pintor, que aludia a seu trabalho como um estudo. Para alguns, ela não passava de “manchas incoerentes de tinta”. Mas o fato é que eles ainda não estavam preparados para compreender a pintura de Munch.

É interessante notar que nenhuma luz externa penetra no quarto. A que aí reside vem da almofada e do rosto da garota.

Ficha técnica
Ano:1885/86
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 119,5 x 118,5 cm
Localização: Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega

Fonte de pesquisa
Munch/ Editora Paisagem

Views: 8

Mestres da Pintura – EDVARD MUNCH

Autoria de LuDiasBH

EMunch

Eu não pinto o que vejo, mas o que vi. (E. Munch)

Em seus arrojados quadros expressionistas dedicados às pessoas, lugares, acontecimentos e traumas de sua vida, Munch dissecou os medos, ansiedades e emoções ocultas da alma humana. (David Gariff)

De todos os grande pintores estrangeiros, Edvard Munch foi indiscutivelmente o que maior impacto causou na arte moderna alemã. (Ludwig Justi)

Na minha arte, eu tentei encontrar uma explicação para a vida e descobrir seu significado. Também pretendi ajudar os outros a compreender a vida. (E. Munch)

O norueguês Edvard Munch (1863-1944) nasceu na cidade de Löten, mas sua família mudou-se para Christiania (atual Oslo) no ano seguinte a seu nascimento. Era o segundo filho do casal Christian Munch e Laura Catherine. Seu pai era um médico tradicional, muito devoto,  moralista e castrador. Edvard teve três irmãs: Sophie, Laura e Inger e um irmão, Andreas. Cinco anos depois, ele perdeu sua mãe, aos 30 anos de idade, vitimada pela tuberculose, assumindo a tia Karen Bjolstad, irmã dela, o controle da família. E nove anos após a morte da mãe, sua irmã favorita Sophie faleceu, aos 15 anos, também vítima da mesma enfermidade.

Aos 16 anos de idade, Munch matriculou-se para estudar engenharia, mas um mês depois deixou o curso para estudar pintura. Aos 26 anos, o pintor fez sua primeira viagem a Paris, onde expôs o quadro A Criança Doente, ocasião em que perdeu o pai. E três anos depois fez a sua primeira exposição individual, em Christiania, onde expôs 110 obras, atraindo o interesse de alguns compradores.

Ao retornar a Paris, Munch frequentou a Escola de Arte de Léon Bonnart. Ali, ficou conhecendo as obras de Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Pissaro, Manet e Uhis. Em 1892, aos 29 anos, expôs em Berlim, onde suas obras ocasionaram um grande escândalo tanto na imprensa quanto no público, que ainda não estavam preparados para compreender sua arte. Nessa oportunidade, ele ficou conhecendo August Strindberg. No ano seguinte, pintou o quadro mais famoso de sua obra, O Grito. Em Berlim, Munch desenhou cenários para produções de Ibsen. Em 1908, aos 45 anos, internou-se numa clínica em Copenhague (Dinamarca) para se tratar de um colapso nervoso. A seguir, retornou à Noruega, onde viveu até o final de seus dias.

Edvard Munch teve tantas perdas na família e também tantos casos de doenças mentais, que se via atormentado pelo pesadelo de ser o próximo. Sua irmã Laura foi internada num asilo psiquiátrico com transtorno bipolar. Ainda muito jovem, ele sempre procurou buscar explicações para suas crenças, tanto em questões pessoais quanto universais. E, para que isso acontecesse, foi obrigado a submergir nas profundezas de seu ser. Por isso, concebeu uma série de pinturas nomeadas de Friso da Vida, que assim definiu: “O Friso da Vida é tido como uma série de pinturas que juntas representam um quadro da vida.”. Foi um dos artistas mais perseguidos pelos nazistas, que lhe confiscaram 82 obras, nomeando sua arte como “degenerada”, retirando-a dos museus alemães e vendend-a.

O artista norueguês foi um homem desiludido com o amor.  Chegou a manter um relacionamento com uma mulher casada, com o qual sofreu muito, e acabou morrendo solteiro. O início de sua carreira também foi muito difícil, pois sua obra não era compreendida. Antes de morrer, Munch, que gostava de pintar várias versões de um mesmo quadro, deixou todos os seus bens, incluindo xilogravuras e litografias, para a cidade de Oslo, onde foi criado, em 1963, o Museu Much, quando foi celebrado o centenário de seu nascimento.

Munch trabalhou com o Naturalismo em Christiânia (Oslo), como o Impressionismo em Paris e com o Simbolismo em Berlim. O artista foi influenciado por Caspar David, Friedrich, Henrik Ibsen, August Strinberg, Christian Krogh, Hans Jazger, James Ensor e pelo Pós-Impressionismo e Fauvismo. Por sua vez, Munch inspirou Käthe Kollwitz, Emile Nolde, Ernest Ludwig Kirchner, Egon Schiele, Francis Bacon, Ingmar Bergman, Tracey Emin e o Neo-Expressionismo.

Nota: autorretrato do pintor

Fontes de pesquisa
Os pintores mais influentes…/ Editora Girassol
Munch/ Editora Paisagem
Revista Veja, 9 de maio de 1912

Views: 6

Fra Angelico – A ANUNCIAÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

fra

O Espírito Santo descerá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. (Anjo Gabriel)

Eis aqui a serva de Deus; faça-se em mim segundo a tua palavra. (Virgem Maria)

Fra Angelico (1384-1455) tinha a Anunciação como tema constante na sua obra. A história bíblica que narra o encontro do anjo Gabriel com a Virgem Maria, para lhe dizer que fora escolhida como mãe do Salvador, foi retratado por ele diversas vezes.

A Virgem e o anjo encontram-se num pórtico iluminado e colorido, inclinados, numa posição de extrema modéstia e submissão. Acima da coluna central do pórtico, situada entre Maria e o anjo, está presente Deus Pai, que a tudo presencia.

Com sua figura graciosa e delgada, a Virgem Maria encontra-se assentada numa cadeira vistosa e traz no colo as Sagradas Escrituras. Está vestida com singeleza e tem os cabelos cobertos por um fino véu.  As mãos cruzadas sobre o peito demonstram a sua humildade e reverência diante de tão divinal missão. Raios de luz divina, atravessando a composição em diagonal, recaem sobre ela, iluminando suas vestes.

 A pomba branca que desce numa bola de luz em direção à Virgem simboliza o Espírito Santo. E a descida do Espírito Santo simboliza o momento exato da concepção. Uma auréola de luz, comum em todos os santos, circunda a cabeça de Maria e a dos dois anjos presentes na composição simbolizando a santidade.

Gabriel encontra-se ricamente vestido, com raios dourados ejetando-se de suas vestes e traz asas esplendorosas, o que demonstra a sua importância como mensageiro de Deus. Apesar de sua relevância, sua postura é de humildade. A seu lado esquerdo encontra-se uma passagem, coberta com uma cortina vermelha, que leva ao quarto de Maria. A cobertura do passadouro simboliza o recolhimento e a vida recatada da Virgem.

Uma cerca e uma sebe florida fazem a separação entre o cenário, onde se encontram a Virgem e o anjo Gabriel, e aquele onde se vê Adão e Eva sendo expulsos do Paraíso. As rosas brancas destacam-se, representando a pureza da Virgem. As flores delicadas que se espalham pelo jardim são parecidas com as estrelas vistas no teto negro do pórtico. Do outro lado da cerca as árvores são frutíferas. A andorinha, pousada acima da coluna central, simboliza a ressurreição de Jesus Cristo.

Além do anjo Gabriel há na pintura outro anjo: aquele que aponta sua espada para Adão e Eva ao expulsá-los do paraíso. Os anjos são retratados como dois jovens. Adão e Eva, num plano superior, envergonhados, são expulsos por um anjo do Jardim do Éden. Os dois pecadores encontram-se num terreno árido e desolador, bem diferente da beleza vista em derredor. Ao contrário de outras representações de Adão e Eva, Fra Angelico retrata-os vestidos, de acordo com o objetivo que ele via na pintura.

Na sua pintura A Anunciação, Fra Angelico apresenta a expulsão de Adão e Eva do Paraíso e a visita do anjo Gabriel à Virgem ao mesmo tempo. Como suas pinturas tinham sempre o objetivo de doutrinar, ele quis mostrar que, apesar da queda da humanidade, Cristo nasceria para libertá-la de seus pecados.

Ficha técnica
Ano: c.1435
Técnica: ouro e têmpera sobre madeira
Dimensões: 194 cm x 194 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa:
Artes em Detalhes/ Folha
Grandes Pinturas/ Folha

Views: 12

Van Eick – A ANUNCIAÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

vaneike1a

Esta belíssima pintura sobre a Anunciação, que provavelmente fazia parte de um tríptico, é do pintor Jan van Eyck, o mais famoso pintor da escola flamenga. Para muitos estudiosos de arte, a superioridade desta obra encontra-se na sua humanização.

A cena acontece no interior de uma igreja gótica. A Virgem, trajando majestosas vestes azuis debruadas com arminho, está numa posição ambígua, pois não fica claro se ela está de pé, ajoelhada ou sentada, em frente a uma mesa que tem sobre si um livro de orações, quando  recebe a visita do anjo mensageiro. Ela é uma mulher de corpo delgado, dona de longos cabelos negros que lhe caem na frente, sobre o seio esquerdo e pelas costas. À saudação do anjo Maria responde:

Ecce ancilla DNI (Eis aqui a serva do Senhor)

O anjo Gabriel, suntuosamente vestido com um manto de brocado vermelho e dourado, com suas asas coloridas, segura um cetro na mão esquerda e com a direita saúda a Virgem. Ao proferir as palavras de saudação:

Ave Grã. Plena (Ave, cheia de graça)

Essas palavras cortam o cetro, formando uma cruz, uma referência à Paixão de Cristo. A inscrição das palavras ditas pela Virgem e pelo anjo foi pintada de cabeça para baixo para que Deus Pai, de cima, pudesse ver.

À frente da Virgem, vê-se um banco com uma almofada vermelha. Próximo a ela, encontra-se um vaso com lírios brancos, representando a sua pureza. No piso, estão representadas cenas do Antigo Testamento: Davi matando Golias e, logo atrás, Sansão destruindo o templo dos filisteus, e Dalila cortando os cabelos de Sansão, à esquerda. O banco vazio pode significar “um trono vazio”, simbolizando a segunda vinda de Cristo.

No canto superior esquerdo da composição, uma pomba entra velozmente através da primeira janela, onde é possível ver os rastros de sete raios de luz deixados por ela, que voam em direção a Maria.  Os sete raios, pintados em ouro, simbolizam os sete dons do Espírito Santo (sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, conhecimento, pureza e medo), enquanto a pomba simboliza o Espírito Santo.

Sete é um número importante no simbolismo cristão, sendo significativo que também sejam sete os lírios brancos, emblemas tradicionais da pureza da Virgem. Acima, na parte superior direita da pintura, no vitral da janela iluminada, está a figura de Moisés, com dois anjos acima dele.

Nota: clique no quadro para obter melhor nitidez.

Ficha técnica:
Ano: c. 1434/1436
Técnica: óleo transferido da madeira para tela
Dimensões: 93 x 37 cm
Localização: National Gallery of Art, Washington, EUA

Views: 1