Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Goya – A FAMÍLIA DE CARLOS IV

Autoria de Lu Dias Carvalho alba4

Goya logrou grande êxito ao retratar A Família de Carlos IV, pois a obra é considerada uma das mais importantes do pintor e da história da pintura espanhola, quer pelas qualidades pictóricas quer pelo fantástico retrato psicológico que fez da família real. O quadro foi encomendado para comemorar o décimo aniversário do reinado do rei e da rainha, que juntos tiveram 12 filhos.

Todos os personagens presentes estão magnificamente vestidos com roupas de seda, ornamentos em ouro e prata, além de belíssimas joias e muitas condecorações, o que dá à obra um belo colorido. A composição pode ser dividida em três partes (da esquerda para a direita):

Grupo 1

  • O infante Carlos Maria Isidro
  • O futuro Fernando VII
  • María Josefa Carmelha de Bourbon, irmã do rei
  • Uma mulher virada para o fundo, não pertencente à realeza *

Grupo 2

  • A pequena María Isabel, filha dos reis
  • A rainha María Luísa
  • O infante Francisco de Paula
  • O rei Carlos IV

Grupo 3

  • Antonio Pascoal, irmão do rei
  • Carlota Joaquina, a filha mais velha dos reis
  • Luís de Parma, genro dos reis
  • Maria Luísa Josefina, filha dos soberanos e esposa de Luís de Parma
  • O bebê Carlos Luís, filho do casal e neto dos reis

Goya autorretratou-se no lado esquerdo da composição, na penumbra, atrás do primeiro grupo, diante de uma imensa tela inclinada. Encontra-se na mesma altura do rei, o que mostra o seu prestígio na corte. É também notável o modo como ele fez a distribuição das figuras, colocando dois homens e duas mulheres em cada grupo, excetuando a sua presença e a do bebê. Observando as cores, da esquerda para a direita, é possível notar que, aos poucos, os tons frios cedem espaço aos quentes.

A rainha María Luisa, que chegou à corte espanhola aos 14 anos, como esposa do futuro rei, é a figura que domina a cena e não o rei, conforme acontecia na vida real, ficando no centro da composição. Quando este quadro foi pintado, ela estava com 48 anos. Era dominadora e possessiva, e tinha como amante o primeiro-ministro Godoy. O pintor traduz suas características psicológicas com perfeição, realçando seus olhos desafiantes, queixo firme, lábios fechados, cabeça ereta e altiva. Era ela que, debaixo das cortinas, quem realmente governava. Seu vestido é feito de brocados e rendas, com detalhes muito bem trabalhados. Ela usa inúmeras joias de ouro, pedras e diamantes.

Sobre a rainha escreveu um emissário russo:

Os muitos partos, as indisposições e talvez também o germe de uma doença da qual se diz que pudesse ser hereditária, têm-na murchado completamente. Sua pele esverdeada e a perda dos dentes, a maioria postiços, deu-lhe um golpe definitivo em sua aparência.

O rei Carlos IV era uma pessoa indiferente e sem determinação, que preferia os relógios, a caça e o lazer às suas obrigações de monarca, conforme retratado com seu olhar ausente. Usa o colar do Tosão de Ouro, e muitas condecorações em forma de estrela.

María Josefa de Bourbon, irmã solteira do rei, situada no primeiro grupo, parece entediada. Sua figura grotesca usa um chapéu de penas e pesadas joias.

Goya pintou apenas o perfil de Carlota Joaquina, baseado em desenho antigos, pois ela havia deixado a Espanha cerca de seis anos antes, para se casar com dom João VI, que governava Portugal em nome de sua mãe louca, Maria. Veio depois para o Brasil.

Ao se pintar junto à família real, Goya demonstra que gozava de grande prestígio na corte espanhola, onde recebia um alto salário como pintor real. Godoy, o primeiro ministro e amante da rainha, chegou a aprender a linguagem de sinais, para se comunicar com o pintor, que havia ficado surdo.

*A figura de rosto oculto posiciona-se no lugar da futura esposa do futuro rei Fernando VII, que ainda se encontrava solteiro. Assim que ele se casasse, o rosto de sua mulher seria pintado por Goya, no lugar do rosto da desconhecida.

Ficha técnica
Ano: 1800-1801
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 280 x 336 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Editora Manole Ltda.
Los secretos de las obras de arte/ Editora Taschen

Views: 4

Goya – O ENTERRO DA SARDINHA

Autoria de Lu Dias Carvalho

goya1234

Goya retrata em sua composição O Enterro da Sardinha uma festa popular que marca o final do Carnaval e a entrada da Quaresma, festividade que ocorre em vários lugares da Espanha. O atrativo principal dessa festa de origem pagã é o simbólico enterro de uma sardinha de papelão.

Na cena as pessoas estão concentradas num lugar descampado, com árvores estranhas ao redor, sob um céu nebuloso que prenuncia a chegada de uma tempestade. O colorido é sombrio, sendo as figuras mal esboçadas. Elas usam máscaras de morte, de bestas e diferentes fantasias. No meio do barulhento grupo também estão presentes crianças. Ou seriam anões?

Um personagem no meio do ruidoso grupo, usando vestes negras, carrega um enorme estandarte com a imagem de um rosto rechonchudo e uma enorme boca risonha, deixando visíveis parte dos dentes. Muitos veem na figura a imagem da loucura, do caos e da degeneração.

Na frente do cortejo duas personagens femininas, vestidas de branco, e um homem que carrega um pequeno estandarte vermelho, dançam. Uma das mulheres, à esquerda do observador, tem uma figura de preto atrás de si, ostentando afiados chifres, que parece querer ampará-la.

Ficha técnica
Ano: 1812-1814
écnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 82,5 x 52 cm
Localização: Museu Real da Academia de Belas Artes, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Editora Manole Ltda.

Views: 9

Goya – A DUQUESA DE ALBA (II)

Autoria de Lu Dias Carvalho

alba1

Ereta, elegante e orgulhosa, a duquesa aparece sozinha e preenche quase todo o espaço da composição. A não ser a paisagem do rio que corre atrás dela, nada há que distraia o observador. Sua postura indica a posição social que possui, assim como seu caráter forte. A beleza, popularidade e riqueza da duquesa de Alba tornaram-na uma mulher muito invejada. Era também chegada aos escândalos, em razão de sua personalidade forte e dos muitos amantes que possuía. Quando posou para este retrato,  estava com 35 anos de idade.

O pintor Goya foi responsável por imortalizar a duquesa de Alba numa série de retratos. E este é o mais comentado de todos. A frase Solo Goya está escrita na areia, aos pés da duquesa, e um de seus anéis traz escrito o nome do pintor – Goya. Com este retrato, os boatos de que o artista tinha um romance com a aristocrata tornou-se mais forte ainda. Ela morreu cinco anos após o término deste quadro.

Na composição, a duquesa usa um vestido preto e mantilha, vestimenta típica de uma viúva. As mangas são trabalhadas em ouro. Traz na cintura um laço vermelho. Seu rosto não expressa nenhuma emoção. Possui uma cabeleira abundante e sobrancelhas grossas e negras. Além do anel de ouro, onde está escrito o nome do pintor,  também usa um anel de diamante com o nome  “Alba”.

A mão direita da duquesa de Alba traz o dedo indicador direcionado para a areia, onde está escrito “Só Goya”, direcionando o olhar do espectador para a escrita. Alguns estudiosos chegaram a imaginar que o artista poderia ter pintado as palavras sem que a duquesa disso tivesse conhecimento. O retrato acima não foi entregue à família, mas permaneceu com o artista em sua oficina.

Ficha técnica:
Ano: 1797
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 210 x149 cm
Localização: Hispanic Society, Nova York, EUA

Fonte de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

Views: 13

Goya – A MAJA NUA

Autoria de Lu Dias Carvalho goya12

Existem especulações acerca da modelo que posou para Goya em sua composição A Maja Nua (e a Maja Vestida), também conhecida por A Maja Desnuda. Para muitos se trata da duquesa de Alba, Cayetana, por quem ele foi apaixonado. O quadro causou muito espanto, uma vez que o nu feminino era incomum na arte espanhola até então. É também uma das imagens mais perturbadoras da história da arte, numa espécie de exaltação à vida no ser feminino.

Ao contrário das deusas mitológicas, vistas nuas em outras pinturas, A Maja Nua retrata uma mulher real, deitada sobre lençóis desarranjados e duas grandes almofadas de seda, dispostos sobre uma espécie de sofá largo e sem costas, na cor verde. Seu corpo encontra-se em diagonal, iluminado por uma forte luz, como se por ela fosse abraçado. Os braços da mulher estão dobrados atrás da nuca, espaçando e realçando ainda mais seus seios túmidos. Sua cintura é fina e suas pernas são fortes e bem torneadas. Seus cabelos negros e cacheados caem-lhe pelos ombros. Os negros olhos fitam diretamente o observador.

O rico divã que parece flutuar, envolto em tons escuros que refletem nos lençóis de cetim, dando mais destaque ao branco dos lençóis e almofadas, projeta uma tênue sombra no lado direito da modelo. As almofadas estão envolvidas em capas de seda e renda, num mix de brancos, verdes e reflexos roxos.

A palavra “maja” referia-se a uma personagem urbana da vida espanhola, reconhecida pelo modo como vestia e por seu comportamento liberal. O Tribunal da Inquisição abriu processo contra Goya em razão desta obra, mas a intervenção do soberano Fernando VII, para quem ele trabalhava, não permitiu que nada lhe acontecesse.

 Ficha técnica
Ano: 1798
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 97 x 190 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
Goya/ Editora Manole Ltda.

Views: 7

Goya – O GUARDA-SOL

Autoria de Lu Dias Carvalho goya1

Na sua composição O Guarda-Sol, tela preparatória (esboço) para uma tapeçaria que tinha por função ornamentar uma das salas do Palácio Real do Prado, Goya apresenta as figuras de dois jovens, em primeiro plano, tendo uma paisagem ao fundo. A tapeçaria deveria ficar acima de uma porta (sobrepuerta).

As duas figuras, jovens e bem vestidas, formam uma composição piramidal. Eles se encontram no cume de uma colina, na frente de uma parede. A sensação de altura é bem convincente. Pela luz tênue, que emana do quadro, é possível notar que se trata de um final de tarde.

A moça está assentada sobre a relva, com suas vestes rodadas. Sobre sua saia está deitado um cãozinho preto, com um laço vermelho no pescoço, que faz o papel de um amigo atento, com os seus olhinhos abertos. Ela traz na mão direita um leque fechado. Usa um casaco de pele forrado de preto e um lenço no pescoço. Com sua expressão faceira, é a figura principal da composição. Seu olhar brincalhão dirige-se diretamente para o observador.

O rapaz, de pé à direita da rapariga, cobre-a com um guarda-sol verde, que projeta sombra sobre os dois. Ele veste um paletó curto, um colete vermelho e traz também um lenço no pescoço. Usa uma rede nos cabelos.

À direita do casal, uma pequena árvore inclinada ajuda a equilibrar a parede compacta que se ergue à esquerda da composição, enquanto cores brilhantes destacam as árvores abaixo, no segundo plano. Uma nesga azul do céu destaca o azul da vestimenta da jovem. Trata-se de uma cena alegre e ensolarada que manifesta a alegria de viver.

Ficha técnica
Ano: 1776 – 1778
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 104 x 152 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Editora Manole Ltda.
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

Views: 1

Goya – O GRANDE BODE

Autoria de Lu Dias Carvalho

goya123456789

A composição O Grande Bode faz parte da série de pinturas de Goya, denominada “Pinturas Negras”. O artista retoma nesta composição o mesmo tema usado em O Sabá das Bruxas.

O Sabá (Aurélio: Conciliábulo de bruxos e bruxas que, segundo superstição medieval, se reunia no sábado, à meia-noite, sob a presidência do diabo) mostra um bode com chifres proeminentes, vestido de frade, simbolizando satanás, dirigindo uma assembleia de seus seguidores. Através da análise das características dos presentes, conclui-se que se trata de um encontro diabólico: rostos grotescos, bocas desdentadas, atitude de total subserviência, etc. A altura do bode, possivelmente assentado nas patas traseiras, em relação aos demais, demonstra ser a principal figura da hedionda congregação.

No canto à direita, sentada numa cadeira, olhando para o bode, encontra-se uma jovem “maja”, talvez seja ela a preferida de satanás, pela posição que ocupa na assembleia. Tanto ela quanto o bode possuem os rostos cobertos. Os demais estão assentados no chão. Embora as figuras pareçam grotescas, elas ainda continuam humanas, imbuídas de extremo fanatismo e credulidade. Os rostos disformes espreitam em todas as direções. É possível notar temor em alguns deles. Alguns parecem excitados com a presença de satanás, enquanto o demo, contrastando-se com os seus seguidores, continua imóvel em sua silhueta. Na extrema esquerda da composição, uma velha parece absorvida em suas preces. Ela tem os braços curvados e as pernas estiradas.

 Curiosidade

  • De acordo com a interpretação de Nigel Glendinning, o bode, que representa  satanás e tem a boca aberta, estaria dirigindo a palavra à jovem que, pelo jeito, está sendo postulada para bruxa.
  • A mulher vestida de branco, olhando para a jovem de negro, seria uma noviça.
  • A tela perdeu parte do seu comprimento pelo lado direito, a partir da mulher sentada na cadeira.

 Ficha técnica
Ano: 1820-1823
Técnica: óleo sobre tela a partir de um afresco
Dimensões: 140 x 438 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Editora Manole Ltda.

Views: 8