Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Goya – O COLOSSO

Autoria de Lu Dias Carvalho goya123

O Colosso é mais uma das obras enigmáticas de Goya, onde predominam as cores escuras. Na época a Espanha havia sido invadida pelo exército francês de Napoleão Bonaparte. Por outro lado, o pintor era acusado de ser “afrancesado”. Portanto, o quadro é fruto de momentos muito difíceis na vida do artista.

A figura central da obra é o gigante nu, de punhos cerrados e rosto semi-oculto, em meio a um céu tempestuoso. Ele parece atravessar as montanhas, de costas para as pessoas e os animais que se encontram no vale. O tamanho diminuto dos demais personagens contrapõe-se com o tamanho colossal  do estranho ser.

Pessoas e animais são visto em louca correria nas mais diferentes direções, num salve-se quem puder, ou pernas para que as quero. O pânico é generalizado, ou melhor, quase, pois um jumentinho branco com arreios, no canto inferior da composição, permanece quieto, como se nada estivesse acontecendo.

Existem muitas teorias criadas na tentativa de decifrar esta composição. Em algumas o jumento branco seria o rei, noutras seria o povo, que nunca percebe o que está acontecendo. Eu fico cá pensando com os meus botões, se o pintor não representou Napoleão Bonaparte que andava abocanhando tudo, na figura do gigante, sendo o asno parado o medíocre Fernando VII?

Dados técnicos
Ano 1808 – 1812
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 116 x 105 cm
Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Editora Manole Ltda.

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Goya – SUA VIDA PESSOAL

Autoria de Lu Dias Carvalho esposa de goya

Goya casou-se aos 27 anos em Madri com María Joseja Bayeu, irmã de seu amigo e mestre Francisco Bayeu. No ano seguinte em Zaragoza nasceu o primeiro rebento do casal, Antonio Juan Ramón. E um ano depois, mudou-se para Madri com sua esposa e filho, indo morar na residência do cunhado Francisco. Eusébio Ramón, o segundo filho do casal, morreu logo depois de ser batizado. E, para infelicidade de Goya e María Josefa, os outros três filhos: Vicente Anastacio, María del Pilar, Dionisia e Francisco de Paula Antonio Benito tiveram o mesmo fim do segundo irmão.

Apesar das tragédias sucessivas em relação à morte dos filhos, Goya e sua esposa começaram a melhorar de vida, a ponto de poderem mudar para uma casa alugada. Mas aos 32 anos de idade Goya apresentou os primeiros sinais de uma estranha doença que viria a deixá-lo surdo. Após vencer um concurso para decorar o retábulo de uma importante igreja em Madri, o pintor recebeu a triste notícia da morte do pai. E logo depois morreria sua filha Hermenegilda Franscica Paula, antes mesmo de ser batizada, fatos que lhe trouxeram uma grande tristeza. Dois anos depois, nasceria Francisco Javier Pedro, acabando com o infortúnio do casal.

 A doença que levou Goya à surdez não foi identificada na época, mas estudos posteriores levaram a crer que ele fora acometido pela sífilis, mas atualmente acredita-se que se tratava de saturnismo, ou seja, uma intoxicação causada pelos sais de chumbo das pinturas usadas  à época.

 Goya pintou retratos para os duques de Alba. Quando a duquesa Caetana de Alba ficou viúva, ele se mostrou apaixonado por ela. Um mês após a morte de seu marido, passou com a duquesa uma longa temporada. Alguns acreditam que ela foi modelo de um de seus quadros mais famosos: A Maja Nua. Quando estava com 61 anos de idade, morreu sua esposa Josefa Bayeu. Para ser governanta do filho foi contratada Leocadia Zorilla de Weiss, que havia sido abandonada pelo marido e denunciada como “infiel” e outras depreciações. Ela se tornou amante de Goya, vindo a ter com ele Rosario Weiss, futura pintora.

 Ao sentir que o rei Fernando VII, as autoridades civis e as chamadas Juntas da Fé estavam perseguindo os liberais, Goya, acompanhado de Leocadia, Rosario e um filho posterior de Leocadia, viajou sob autorização do rei para um balneário na França, com o pretexto de melhorar sua saúde. Mas ele foi para Bordéus, França, onde se exilou voluntariamente. Faleceu aos 82 anos de idade. Seu amigo Moratin fala sobre sua chegada à França:

 “Goya chegou surdo, velho, desajeitado e fraco, sem saber uma palavra em francês e sem nenhum serviçal, mas contentíssimo e ansioso para ver o mundo.”.

 Nota:  o retrato de sua esposa María Joseja Bayeu ilustra o texto.

 Fontes de pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Editora Manole Ltda.

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Mestres da Pintura – GOYA

Autoria de Lu Dias Carvalhogoya

Na natureza, a cor não existe ao mesmo tempo que a linha (…) Deem-me um carvão e lhes farei um quadro. (Goya)

Goya é um fenômeno extraordinário. É o artista que a opinião universal qualifica como revolucionário, o renovador audaz, cujos arrojos de conceito e de técnica serviram mais tarde como exemplo e modelo, nunca tornado obsoletos, a sucessores dispersos nos ambientes mais longínquos e livres ao longo de um século e meio de mudanças de gosto, de renovações de escolas. (Eugenio D`Ors)

O pintor Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828), filho de José Goya, dourador de retábulos, e de Engravia Lucientes, foi um dos grandes nomes da pintura espanhola, ao lado de Diego Velasquez. A família de Goya pertencia à classe média baixa, o que significava que levava uma vida de dificuldades, com seis bocas para alimentar, sendo que os dois filhos mais novos morreram ainda pequenos.

Ainda muito novo, Goya deu início à sua formação artística, frequentando uma escola de desenhos, onde ficou conhecendo o pintor José Luzán, representante do estilo Barroco, que o levou a copiar os trabalhos mais importantes dos grandes mestres do passado. Aos doze anos de idade tornou-se seu aluno, estudando com ele durante quatro anos. Através de seu mestre ficou conhecendo os irmãos pintores Francisco, que foi seu mestre, Ramón e Manuel Bayeu. Goya foi aluno de Francisco Bayeu quando tinha 16 anos. Nessa época ele pintou uma das obras importantes de sua carreira: Tobias e o Anjo. Veio a tornar-se depois cunhado dos pintores citados.

O sonho do adolescente Goya era se aperfeiçoar na arte da pintura em Madri, e ali entrar em contato com a corte espanhola. Por isso, aos 17 anos, ele deixou a cidade de Zaragoza em direção à capital do reino, e um ano depois já estava de volta à sua cidade. Mas com suas idas constantes a Madri, Goya, que se hospedava no ateliê de Francisco Bayeu, acabou conhecendo o pintor Mengs que gozava de grande prestígio na corte de Carlos III.

O pintor espanhol queria muito estudar na Itália. Para conseguir seu intento, estava sempre presente nos concursos para as bolsas da Academia de San Fernando, sem jamais lograr êxito, o que o levou a fazer a viagem com seus próprios recursos. Na Itália, obteve menção honrosa num concurso realizado pela Academia de Parma. No ano seguinte, ele estava de volta à sua cidade, onde abriu um ateliê. Ao realizar uma série de murais intitulada Vida da Virgem, Goya teve a sua genialidade reconhecida.

Ao casar-se com a irmã de seu amigo e mestre Francisco Bayeu, Goya teve abertas para si as portas da corte, concretizando seu antigo sonho. Foi morar em Madri com a esposa, na mesma casa do cunhado Francisco que muito o ajudou em seus novos contatos. Em Madri ele foi trabalhar na Real Fábrica de Tapeçaria que tinha a seção pictórica sob a direção do cunhado Francisco Bayeu e do pintor Mariano Salvador Maella. Ali recebeu várias encomendas do futuro Carlos IV e de sua esposa María Luisa, príncipes das Astúrias. Viria depois a ser nomeado pintor oficial da fábrica, continuando a receber inúmeras encomendas. Também deu início à atividade de retratista, pintando várias personagens da nobreza.

O fato de ter vencido o concurso para decorar o retábulo da igreja de San Francisco, El Grande, em Madri, foi uma grande alegria para o pintor. Goya tornou-se um dos pintores mais importantes da Espanha, mal dando conta das inúmeras encomendas da nobreza, das instituições eclesiásticas e civis que recebia, além de ser vice-diretor de pintura e professor da Academia San Fernando. Em consequência disso era convidado pela nobreza para festas e caçadas. Sua situação financeira ia se tornando cada vez melhor. Foi a seguir, juntamente com seu cunhado Francisco Bayeu, nomeado pintor real. Goya chegou a citar, em carta, para seu amigo Francisco Zapater: “Dos reis para baixo, todos me conhecem.”.

Quando viajou a Cadiz, Goya contraiu uma doença devastadora que quase o matou, sendo inclusive impossibilitado de viajar antes de recuperar-se lentamente. Em consequência da doença, o pintor ficou totalmente surdo e com a saúde fragilizada. O trauma advindo do isolamento do mundo dos sons teve um efeito catártico sobre sua obra, liberando sua criatividade sombria, que pode ser vista, em especial, nas suas Pinturas Negras.

Em sua fase negra ele criou uma série de 84 gravuras denominada Os Caprichos. Na série fazia severas críticas à sociedade, combatendo a ignorância e as crendices; criou cenas fantásticas, cenas de pesadelos e cenas violentas, difíceis de serem compreendidas. Como consequência, foi denunciado no Tribunal da Inquisição, fato contornado através de sua boa relação com a nobreza. Numa carta ao seu amigo Zapater, Goya desabafa:

“… para ocupar a mente mortificada pelas reflexões sobre meus males e para recompensar as graves despesas que eles me custaram, pus-me a pintar um grupo de quadros de gabinete, em que o capricho e a invenção podem ter livre passagem.”.

Goya assumiu o cargo de diretor de pintura da Academia de San Fernando, após a morte de seu cunhado Francisco Bayeu. Mas acabou deixando tal função, inconformado com a falta de liberdade criativa da instituição. E a falta de amizade entre Goya e o monarca Fernando VII, que gostava de retratos meticulosamente elaborados, fez com que o pintor não mais recebesse encomendas reais. Goya fez uma série de 80 gravuras, denominada Os Desastres da Guerra e outras séries como: Os Disparates ou Os Provérbios, Os Caprichos, etc. Na sua série Pinturas Negras ele antecipa em meio século o movimento surrealista.

Como podemos observar através de sua trajetória, Goya era ligado à nobreza e à burguesia de sua época, mas sem jamais adotar uma pintura aduladora. O seu espírito estava em consonância com os ideais democráticos e com os reformistas iluminados, com os quais convivia. Basta observar sua obra, uma das mais livres expressões da arte, onde ele se posiciona contra o tradicionalismo obstinado da sociedade espanhola, o antiliberalismo do rei Fernando VII, a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas.

 Nota:  autorretrato do pintor ilustra o texto

 Fontes de Pesquisa
Goya/ Abril Coleções
Goya/ Coleção Folha
Goya/ Editora Manole LTDA.

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Rembrandt – LIÇÃO DE ANATOMIA DO DR. TULP

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A Lição de Anatomia do Doutor Tulp é uma das mais conhecidas obras-primas do pintor Rembrandt. Foi-lhe encomendada pela corporação dos cirurgiões de Amsterdã. Em sua composição o artista representa oito personagens e um cadáver. Existem suposições de que duas das figuras — a da esquerda e a que se situa num plano mais alto — foram acrescidas depois da obra pronta, assim como a lista, onde se encontram os nomes dos participantes, vista na mão de uma das figuras.

Durante uma aula de anatomia, o doutor Nicolaes Tulp — principal professor de anatomia da guilda —, responsável por convidar Rembrandt para pintar sua aula anual de anatomia, mostra a dissecação anatômica de um antebraço, mostrando os tendões da mão. O médico, enquanto pinça o músculo e os tendões com a mão direita, usa a esquerda para demonstrar a seus observadores a flexão e a pressão dos dedos.

A história revela que o cadáver era de um homem de nome Adriaan que, após agredir gravemente um guarda da penitenciária de Utrecht, fugiu para Amesterdã, onde golpeou um transeunte para roubá-lo. Uma vez preso foi morto por enforcamento, sendo seu corpo cedido para autópsia pública, oportunidade em que serviu de modelo para o pintor que parece também convidar o observador para assistir à aula.

Antes de pintar os modelos presentes na composição, Rembrandt convidou-os — individualmente — para serem retratados em seu ateliê, mas o braço dissecado do corpo foi pintado durante a autópsia, sendo, portanto, a obra uma montagem, já que foi feita em duas partes isoladas. Talvez, por isso, alguns olhares se mostrem desfocados do corpo em estudo.

A composição está centrada na ação, de modo que o ambiente em derredor não tem a menor importância, desaparecendo quase que totalmente. Rembrandt eliminou qualquer tipo de excesso, para deixar somente aquilo que era essencial à cena. As figuras estão de perfil e meio perfil, excetuando o médico que se encontra de frente para o observador.

Os sete espectadores vestem roupas escuras com volumosas golas brancas e possuem barba.  O doutor Tulp é o único a usar chapéu, pois o uso de tal apetrecho no interior de um estabelecimento naquela época era privilégio apenas das pessoas mais importantes. Suas vestes também diferem das demais. A posição mais afastada do médico, enquanto os demais personagens encontram-se amontoados, formando uma pirâmide, reforça a importância de sua presença.

O modo como o pintor representa o corpo morto — ocupando grande parte da tela —, quase numa diagonal, chama a atenção do observador. A sua nudez e posição rígida contrastam com o corpo dos demais. Os olhos estão parcialmente encobertos por uma sombra. Ele tem apenas a parte do baixo ventre coberta com um tecido branco. O corpo sem vida jaz sobre uma mesa de madeira. Próximo a seus pés está aberto o tratado de anatomia, cuja presença denota o caráter científico da aula. A maior parte da luz recai sobre o corpo — figura central da cena.

Embora no gênero dos retratos de grupo normalmente fosse usado o alinhamento dos retratados, ou seja, todos alinhados no mesmo plano, os personagens de Rembrandt estão aglomerados em torno da cabeça do morto numa composição piramidal. Os olhares de alguns não acompanham o doutor Tulp, enquanto dois deles — inclinados sobre o corpo — parecem acompanhar as explicações com interesse extremado. Como o pintor tivesse especial pendor para com as expressões fisionômicas, os olhos dos participantes foram trabalhados com perfeição.

Vinte e quatro anos depois, Rembrandt pintou A Lição de Anatomia do Dr. Joan Deyman (pintura danificada por um incêndio em 1723) em que se vê a cavidade abdominal aberta.

Curiosidades

  • Na composição a dissecação é feita sem observar o procedimento legal, pois deveria começar pela remoção do estômago e do intestino do cadáver.
  • O tipo de pintura acima é conhecido como “momento mori” que quer dizer “Lembre-se de que você morrerá”.
  • As aulas de anatomia eram tidas como eventos públicos, tendo as pessoas interessadas que pagar ingressos para entrar no anfiteatro, onde elas aconteciam.
  • O médico Dr. Nicholas Tulp, médico em Amsterdã, era treze anos mais velho do que Rembrandt.
  • O criminoso tinha o apelido de O Garoto.
  • Comumente dava-se início a uma aula de anatomia com a advertência: “Conhece-te a ti mesmo.” Acreditavam as pessoas da época na Holanda que ao estudar o homem e suas criações, melhor entendimento teriam de Deus.

Dados técnicos
Ano: 1632
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 169,5 x 216,5 cm
Localização: Mauritshuis, Haia, Holanda

Fontes de Pesquisa:
Rembrandt/ Coleção Folha
Rembrandt/ Coleção Girassol
Rembrandt/ Abril Coleções
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
Rembrandt/ Cosac e Naify

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Rembrandt – A FESTA DE BALTAZAR

Autoria de Lu Dias Carvalhoalba45

A composição A Festa de Baltazar foi pintada por Rembrandt, quando esse tinha 30 anos de idade. Mostra a grande influência que o artista recebeu dos pintores italianos. É uma composição do início de sua carreira, portanto, ainda um pouco inábil.

Rembrandt retrata a cena em que o rei Baltazar, na Babilônia, no século VI a.C., realiza um faustoso banquete para as figuras mais importantes do reino, onde também se encontram suas esposas e concubinas. Já excitado pelo vinho, exige que os vasos sagrados do templo de Jerusalém sejam trazidos, para que os convidados neles bebam, blasfemando contra o Deus dos judeus. Inesperadamente uma mão escreve uns sinais na parede próxima ao rei e seus convivas. Segundo a história, o rei mandou buscar os sábios de seu país para decifrar a escrita, mas nenhum conseguiu esclarecê-la. Baltazar mandou então trazer Daniel — prisioneiro trazido da Judeia — que a decifrou. Na mesma noite o rei foi morto.

Estão retratados na composição seis personagens:

  • o rei Baltazar;
  • a mulher que derrama o líquido de sua taça;
  • uma menina tocando flauta;
  • um homem barbudo;
  • uma mulher com um chapéu de plumas e outra com um colar nos cabelos.

A inscrição reproduzida em letras hebraicas, à esquerda, é a principal fonte de luz, chamando a atenção do observador. Baltazar domina a maior parte do espaço, ao se levantar bruscamente com o braço esquerdo erguido, na tentativa de se proteger. Seu corpo está apoiado na mão direita que esbarra numa grande baixela de ouro e prata, ao tentar se apoiar na mesa. Também derruba o copo de vinho à sua direita. A rotação de seu corpo e cabeça, virando-se repentinamente em direção à luz na parede atrás de si, indica que antes ele se encontrava de frente para os comensais.

Baltazar encontra-se ricamente vestido. Seu manto é trabalhado em ouro, prata e pedrarias. Seu turbante branco brilha contra o fundo escuro. Uns cachos de seus cabelos estão presos por um ornamento de ouro. Acima do turbante está a sua coroa. É impressionante notar a maestria com que o pintor retratou a área em volta do olho deste personagem.

A mulher que se encontra no canto inferior direito da tela, mostrada de cima — o que leva o observador a deslizar seu olhar pela nuca, colo e decote dela — aparenta-se cheia de surpresa e horror. Ela se inclina para trás, entornando o conteúdo de seu copo. Os demais personagens são vistos de perfil, impregnados pelo mesmo espanto.

Dois dos convidados do rei chamam a atenção pelos olhos arregalados e bocas entreabertas. Seus corpos recuam e mostram medo. Baltazar também tem os olhos esbugalhados, mas aperta os lábios. Talvez o pintor tenha o retratado assim, seguindo a antiga tradição de não mostrar governantes e heróis com a boca aberta, o que era permitido apenas a crianças e pessoas de classe baixa.

Uma das plumas do chapéu da mulher — assentada de frente para Baltazar — recebe um foco de luz que ilumina o rosto da garota tocando flauta. A mão que escreve a mensagem e a mão de Baltazar encontram-se bem próximas, assim como a da mulher que derrama sua taça de vinho. O artista encantava-se com as possibilidades expressivas das mãos.

Curiosidades:

  • Mensagens criptografadas desse tipo faziam parte da prática da Cabala, ciência oculta dos judeus, e a questão de saber por que alguns podiam ler o texto e outros não, ocupou intensamente muitas mentes brilhantes do século XVII.
  • Inscrição na parede: Mené, mené, tekel, upharspín
  • Tradução: Mené: contou Deus teu reino e o arrematou. Tekel: pesado foste em balança e foste considerado em falta. Upharspín: teu reino já foi destruído e será dado aos medes e aos persas.
  • A maioria das pinturas que trata o tema do banquete Baltazar omite a inscrição fatal. Parece que Rembrandt foi o único a reproduzir a inscrição com caracteres hebraicos. As letras estão ordenadas de cima para baixo e da direita para a esquerda. A mão que escreve encontra-se, logicamente, junto ao último sinal traçado.
  • Para fazer a inscrição corretamente, Rembrandt consultou Samuel Menasseh ben Israel, erudito judeu, sobre o tema.

Ficha técnica
Ano: c. 1635
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 167,6 x 209,2 cm
Localização: National Gallery, Londres, Grã Bretanha

Fontes de pesquisa
Rembrandt/ Coleção Folha
Arte em detalhes/ Publifolha
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

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Pieter Bruegel, o Velho – O CENSO EM BELÉM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse. (Lucas 2:1)

O imperador romano César Augusto ordenou que todos os habitantes fossem recenseados no seu local de origem. Por isso, José, nascido em Belém, e sua esposa Maria, já no final da gravidez de seu filho Jesus, chegaram à cidade para atender o decreto do soberano, pois Israel estava sob o domínio de Roma.

O artista Pieter Brueghel, o Velho, representou a cena da chegada de Maria e José, para participarem do censo, em sua aldeia de Flandres, na época do inverno, paisagem incomum na retratação do casal mais importante do cristianismo.

O carpinteiro José puxa o burrinho que conduz sua esposa Maria, para que cheguem rápido à pousada, onde muitas pessoas já se encontram, vestidas com seus grossos agasalho.

Na pintura, inúmeras cenas mostram a vida cotidiana da aldeia, com muitas carroças, meio de transporte da época, espalhadas por todos os lados. Na parte superior da composição, à esquerda, é possível ver o sol se pondo, de modo que a noite não tardará a chegar. O interior das casas com suas pequenas janelas já está na penumbra. Não existe nenhum tipo de iluminação nas ruas. A claridade vem da brancura da neve.

A vida na aldeia, onde tudo parece acontecer ao ar livre, é intensa.  Cães, porcos, galinhas e outros animais dividem o espaço com adultos e crianças. Com o findar do dia, algumas pessoas começam a regressar a seus lares, enquanto outras estão envolvidas nos mais diferentes afazeres.

Uma árvore oca, com um cartaz dependurado em seu tronco, serve de taverna. Um grupo de pessoas está ali a beber, enquanto uma fogueira feita de galhos aquece-as. Num ponto elevado da árvore está um corvo. À época, uma árvore oca e um corvo tinham um significado negativo. Na composição, podem estar simbolizando a má fama dos frequentadores do local.

As casas situam-se bem próximas umas das outras. Apenas uma cabana encontra-se isolada à direita da composição. Um cesto velho sobre sua cobertura serve como chaminé. Também se vê uma cruz. O isolamento da cabana indica que ali mora um leproso, e a cruz é sinal de que ele é mantido pela caridade da paróquia.

À esquerda da pintura, em primeiro plano, localiza-se uma pousada, para onde se dirigem Maria e José. Segundo a Bíblia, o dono do lugar não permitiu que o casal se alojasse ali, tendo ele que procurar um estábulo. Parte da pousada também é utilizada provisoriamente como escritório de recenseamento. Os funcionários recebem dinheiro e anotam o valor num grosso livro. Em frente ao local, onde se realiza o censo, uma patrulha de soldados, usando lanças, fiscaliza o andamento do decreto imperial.

À direita da pintura, crianças brincam e, à esquerda, próximo à pousada, um casal sacrifica um porco, sendo observado por dois meninos. Adultos e crianças vestem o mesmo tipo de roupas, só diferindo no tamanho.

Perto da cabana do leproso, duas crianças brincam de trenó, usando um tamborete de três pernas, enquanto outros dois brincam com piões. À direita, na parte superior do quadro, vê-se um castelo em ruínas.

O artista não retratou Maria e José numa escala maior do que as das outras pessoas e tampouco lhes deu qualquer destaque que mostrasse a importância do casal. Eles foram pintados como pessoas comuns em meio a tantas outras.

Ficha técnica da pintura:
Data: 1566
Artista: Pieter Brueghel, o Velho
Técnica: têmpera sobre madeira
Dimensões: 116 x 164,5 cm
Localização: Musèe Royoux des Beaux-Arts, Bruxelas

Fontes de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
Cristo na Arte/ Manuel Jover

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