Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Van Gogh – SUPOSTA LOUCURA E MORTE

 Autoria de Lu Dias Carvalho pand12

Após a experiência dos ataques repetidos, convém-me a humildade. Assim, pois, paciência. Sofrer sem se queixar é a única lição que se deve aprender nesta vida. (Van Gogh)

Ele nunca deu a impressão de que era um demente. Embora quase não comesse, bebia sempre em excesso. Quando terminava sua jornada diária, depois de passar o dia inteiro sob o sol abrasador e um calor tórrido, costumava se sentar na varanda de um café, já que não tinha um verdadeiro lar. E os absintos e brandies (bebidas) se sucediam rapidamente. Como seria possível resistir. Era o encanto personificado. Amava a vida de forma apaixonada. Era uma pessoa ardente e boa. (Paul Signac)

Existem teorias de que Van Gogh era vítima de demência sifilítica ou que sofria de esquizofrenia. Mas, ultimamente, tem sido reforçada a crença de que era vítima de psicose epileptoide de fundo hereditário, agravada por circunstâncias pessoais, como a possível sífilis, alcoolismo, desnutrição e esgotamento, o que o exime da loucura. Tanto Theo, quanto a irmã Wilhelmina foram vítimas da mesma doença. A saúde de Van Gogh era oscilante. Muitas vezes, ele se mostrava muito bem, vibrante de alegria e entusiasmado com o trabalho, embora tivesse uma alimentação escassa e pobre. Noutras, passava por profundas crises de depressão. Para alguns também era tido como bipolar.

A vida de Van Gogh encheu-se de entusiasmo durante a criação da famosa casa amarela. Pretendia criar um espaço dedicado a um grupo de artistas, onde pudesse discutir a arte, organizar um efetivo esquema de venda das obras produzidas, compartilhar bens materiais e praticar a espiritualidade. Para dar início à comunidade, contava entusiasmado com a chegada do pintor Gauguin, em quem depositava toda a sua crença. Mas a falta de sensibilidade do pintor francês começou a gerar uma enorme tensão entre ambos, principalmente pelas diferenças de personalidade. Gauguin era altivo, prático e mundano, e muito mais preocupado com a venda de suas obras de que com a comunidade. Van Gogh, por sua vez, cultivava hábitos simples, era sensível, apaixonado, terno e totalmente indefeso.

Com o tempo, a convivência entre Van Gogh e Gauguin foi se tornando insuportável. Mas, quando o pintor holandês percebeu que o amigo abandonaria aquele projeto, que lhe era tão caro, e ao qual dispensou gastos e energia, ficou totalmente fora de si. Tentou agredir Gauguin com uma lâmina de barbear e, naquela mesma noite, decepou o lóbulo de sua orelha esquerda, enrolou-o num lenço e o presenteou a uma amiga prostituta, pedindo-lhe que o guardasse com cuidado. Deitou-se como se nada tivesse acontecido, sendo encontrado ensanguentado e sem sentidos. Levado ao hospital, ali permaneceu 14 dias. Ao retornar, pintou o Autorretrato com a Orelha Cortada.

Com a confusão entre os dois pintores, sendo Gauguin francês, foi gerada uma grande polêmica entre os moradores de Arles, que se colocaram contra o pintor holandês. De modo que um grupo pediu a internação de Van Gogh num manicômio, alcunhando-o de “o doido ruivo”. A polícia fechou sua casa com todos os quadros dentro. Rejeitado por Gauguin, por quem nutria grande amizade e admiração, desprezado pelos moradores da cidade e com a certeza da derrocada de seus planos em relação à casa amarela, o estado do pintor tornou-se cada vez mais sério. O casamento do irmão Theo foi a gota d’água, pois ele passou a temer pelo afastamento da única pessoa com quem podia contar, e por quem sentia uma grande amizade. Passou por uma forte crise de insônias e alucinações,  dizendo-se perseguido por alguém que tentava envenená-lo. Mesmo assim, continuou trabalhando incessantemente.

Houve um ciclo na vida do artista holandês em que aconteceram crises, cansaços, recuperações, desânimos, esgotamentos, trabalho árduo e momentos de êxtase. Só que, após o incidente, a parte ruim do ciclo passou a ser uma constante em sua vida. Tanto é que Van Gogh sentiu necessidade de se internar num manicômio e, por conta própria, fê-lo. Ali permaneceu um ano, com altos e baixos. O que pode ser comprovado numa carta enviada a Theo:

Tanto na vida, como na pintura, posso muito bem ficar sem Deus; mas não posso, sem sofrer, ficar sem algo que é maior do que eu, que significa a minha vida inteira: a força de criar.

No manicômio, Van Gogh perdeu o medo da loucura, doença que ele mesmo admitia sofrer, demonstrando grande ternura pelos internos. E assim se expressou sobre eles:

Antes, esses seres me repugnavam e eram algo desolador para mim, pensar que tanta gente de nosso ofício tinha terminado assim (…). Agora, penso em tudo sem temor; isto é, não considero isso mais atroz do que se essas pessoas tivessem sucumbido por outras razões, como tuberculose ou sífilis.

Já no final de sua vida, Van Gogh aceitou a proposta de um amigo para ir morar em Auvers-sur-Oise, perto de Paris, para ser tratado pelo Dr. Paulo Gachet. Aceitou-a, e se instalou na hospedaria Ravoux. Mostrava-se animado e trabalhava intensamente, até que uma carta de Theo, descrevendo as dificuldades pelas quais passava, assim como a sua debilidade física e a da esposa, acabou com a sua tranquilidade. Mesmo depois de visitar o irmão querido, ele não conseguiu se acalmar. Rompeu relações com seu médico. Sozinho no campo, Van Gogh teve um novo surto de depressão e atirou contra seu estômago, vindo a falecer, dois dias depois, nos braços de Theo.

Após a morte do irmão, Theo ficou inconsolável. Acalentava muitos projetos para os dois. Passou a sofrer de depressão e ansiedade.  Com a saúde cada vez mais frágil, foi levado para a Holanda, onde veio a falecer de “demência paralítica” (neurossífilis), seis meses após o irmão. Willemina, irmã de Van Gogh, era esquizofrênica, e viveu durante 40 anos internada, e Cornelius, outro irmão, cometeu suicídio aos 33 anos de idade. Van Gogh e seu irmão Theo encontram-se enterrados lado a lado, como sempre estiveram em vida.

Ao acompanharmos a vida de Van Gogh, percebemos que a arte foi-lhe de muita valia, para dar vazão à sua vida emocionalmente turbulenta, que ia do arrebatamento à  depressão, da imobilidade aos ataques de loucura, inclusive, fez inúmeros autrorretratos com a finalidade de encontrar em si a razão do próprio desespero. Contudo, a arte não conseguiu impedir que, num ato de total desequilíbrio, ele desse fim à própria vida, aos 37 anos, privando o mundo de um homem terno e compassivo e de um dos maiores talentos da pintura.

Era um homem honesto e um grande artista, e, para ele, só havia duas coisas: a compaixão e a arte. A arte era para ele o mais importante de tudo e é nela que ele estará vivo. (Dr. Gachet – seu médico em Auvers)

Nota:  Autorretrato com a orelha cortada (1889)

Fontes de pesquisa:
Mestres da Pintura/ Editora Abril
Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha
Van Gogh/ Editora Taschen
Para Entender a Arte/ Maria Carla Prette

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Mestres da Pintura – VINCENT VAN GOGH

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Quero chegar tão longe em minhas obras a ponto de as pessoas afirmarem: ele sente de maneira profunda, terna. (Van Gogh)

Minha única preocupação é: como posso ser útil no mundo? (Van Gogh)

O genial pintor holandês Vincent van Gogh (1853–1890) é sem sombra de dúvidas um dos grandes nomes da pintura universal. Mas não é fácil falar sobre ele, pois suas paixões e sentimentos estão ligados à arte de tal forma que não é possível ater-se a seu trabalho sem mergulhar na nobreza de sua alma impregnada de nobres ideais, aos quais se entregou, a ponto de sacrificar a própria vida, pois nele tudo funcionava como um todo indivisível e exacerbante ao extremo. Contudo, a sua genialidade artística só foi reconhecida após sua morte. Mesmo tendo pintado 879 quadros em menos de uma década, só conseguiu vender um deles, A Vinha Vermelha, por um valor insignificante. Atualmente seus quadros estão entre os mais caros do mercado das grandes obras de arte. Em 1990 o retrato O Dr. Gachet foi vendido por 82 milhões de dólares.

Vicent van Gogh nasceu num povoado da região holandesa de Brabante. Seu pai era um pastor calvinista e sua mãe uma dona de casa. Era o primeiro de uma penca de seis irmãos vivos, pois, antes dele, seus pais perderam um filho, também batizado com o nome de Vincent. Dentre os irmãos estava Theodorus (Theo), quatro anos mais novo do que ele, que sempre foi o seu amparo e presença amiga durante a sua breve vida. Ajudava-o materialmente a sobreviver, aconselhava-o nas suas tomadas de decisão e nos momentos difíceis, e sempre se sacrificou para ajudá-lo. Uma grande amizade uniu os dois irmãos. Prova disso é a vasta correspondência travada entre eles.

Ao contrário de muitos outros gênios da pintura, Van Gogh não cresceu em meio a uma família de artistas. Era uma criança séria, quieta e introspectiva. Tampouco foi um gênio na vida estudantil, mas adorava ler, hábito que levou consigo durante a vida e que lhe proporcionou uma grande cultura. Seus romances preferidos eram aqueles que versavam sobre os camponeses e perseguidos, que suscitariam mais tarde o seu interesse pelos pobres e pelo sofrimento humano, tão presente em sua obra. O seu talento só foi descoberto bem mais tarde.

Após completar 16 anos de idade Van Gogh foi trabalhar como aprendiz numa galeria de arte francesa. O seu trabalho proporcionou-lhe a oportunidade de morar em Bruxelas, Londres e Paris, e conhecer um pouco sobre a arte. Na capital francesa foi despedido sob a alegação de que não nutria interesse pelo serviço. Contudo, levou consigo uma grande paixão pela arte.

Ao se mudar para Amsterdã, Van Gogh, dono de um exacerbado fervor religioso, buscou consolo espiritual na religião, tornando-se pregador leigo, optando por desenvolver uma missão de apostolado na Bélgica, num local onde viviam os mineiros. Morou ali num total espírito de sacrifício até ser enviado a outra região, onde viveu em uma cabana, dormindo na palha, ajudando os mais pobres. O seu comportamento piedoso acabou incomodando seus superiores protestantes que o recriminaram. Foi transferido para outro local, onde continuou na pobreza, vivendo de pão e água e identificando-se com os verdadeiros carentes. Insatisfeitos, seus superiores suspenderam-lhe a permissão para pregar. Seu espírito evangélico não fora compreendido, pois ele vivia com paixão tudo que se propunha a fazer. Sofreu uma crise de fé e buscou amparo na arte, à qual dedicaria sua vida solitária.

A conselho do irmão Theo, Van Gogh foi para Bruxelas a fim de frequentar a Escola de Belas-Artes, período em que desenhou com muita intensidade, levando em conta os estudos de anatomia. Mesmo ali o seu jeito de ser e a maneira como fazia as coisas não eram bem vistos por professores e colegas.  Retornou à casa paterna e se pôs a retratar as pessoas do campo, as mulheres em tarefas caseiras e a natureza.

Ao se mudar para Haia, o marido de sua prima, também pintor, motivou Van Gogh a pintar a óleo telas de natureza-morta que foram as suas primeiras pinturas. Até então, ele só trabalhava com desenhos. Foi a seguir para Drente, mas começou a sentir-se só e inquieto, regressando em menos de três meses para a companhia dos pais em Nuenen, embora o pai tivesse o expulsado de casa, cerca de dois anos atrás, pois era totalmente cético em relação ao talento do filho. Ali permaneceu durante dois anos, tempo em que se dedicou profundamente ao estudo da cor. Após a morte repentina de seu genitor, o pintor resolveu partir para conviver com outros artistas. A mãe e a irmã também deixaram o povoado.  Como não nutriam nenhum interesse pela obra de Van Gogh, foram perdidas centenas de desenhos e pinturas a óleo do artista durante a mudança.

Van Gogh foi para Antuérpia (Bélgica), onde permaneceu três meses. Ali conheceu e  apaixonou-se pelas xilogravuras japonesas que começou a colecionar e que acabaram por influir no traço, na composição e na cor de suas pinturas. Reencontrou grandes pintores, como Rembrandt, Frans Hals e Rubens.

Com sua vida nômade, a próxima parada de Van Gogh foi Paris, onde permaneceu durante dois anos. Travou amizade com Toulouse-Lutrec e Émile Bernard, com quem dividiu um ateliê. Conheceu Pissarro, Gauguin, Paul Signac, Anquetin, Seurat, Cézane, Suzanne Valadon, entre outros. Quando sentiu que o ambiente não tinha mais nada a oferecer-lhe, partiu para a província de Arles. Ali começou o seu projeto de A casa amarela, local em que queria formar uma comunidade de artistas. Debilitado foi para o manicômio Saint-Paul-de-Mausole em Saint-Rémy-de-Provence. Dali foi para Auvers-sur-Oise. Voltou a Paris, onde ficou três dias, e retornou a Auvers-sur-Oise, onde teve seu último surto de depressão.

Van Gogh era uma pessoa solidária que, embora vivesse totalmente imerso no mundo artístico de Paris, quando ali morou, sempre se manteve distante das badalações e dos eventos mundanos. Durante toda a sua vida dependeu material e moralmente de seu irmão Theo que sempre lhe deu apoio incondicional.

Nota:  Autorretrato – 1887

Fontes de pesquisa:
Mestres da Pintura/ Editora Abril
Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha
Gênios da Arte/ Girassol

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Uccello – A BATALHA DE SAN ROMANO

Autoria de LuDiasBHute

                                                   (Clique na imagem para ampliá-la.)

A composição intitulada A Batalha de San Romano, também conhecida como Niccolò da Tolentino na Batalha de São Romão, é mostrada em três grandes painéis, criados pelo pintor florentino Paolo Uccello, retratando a luta travada entre as forças de Florença e as de Siena em 1432. A obra foi encomendada a Uccello por Piero Medici, com a finalidade de ornamentar seu palácio em Florença. Até quinhentos anos atrás, as três pinturas encontravam-se no mezanino do Palácio Medici, no chamado “quarto de Lorenzo”, mas atualmente os painéis estão divididos entre a Galeria Uffizi em Florença/Itália, a Galeria Nacional em Londres e o Louvre em Paris.

A unidade política da Itália desapareceu após a derrocada do Império Romano,  sendo, portanto, a Itália da aurora do Renascimento ainda uma colcha de retalhos, formada por pequenas cidades-estados independentes e beligerantes entre si, dominadas por poderosas famílias. As três composições, portanto, referem-se a uma disputa entre duas famílias. O tema da pintura  é a celebração da vitória dos florentinos sobre os sienenses sob a chefia do comandante Niccolò da Tolentino — amigo e aliado da família Medici e principal personagem da obra.

As lanças entrecruzadas à esquerda na pintura, assim como as plumas nos elmos dos cavaleiros e suas roupas pomposas são elementos que ornamentam a composição. São recursos simples, usados pelo artista, que compensam o dificultoso trabalho na representação dos homens e seus cavalos, desenhados com maestria.

Para entender melhor a composição é bom saber que seu movimento começa da esquerda para a direita, diminuindo ao chegar ao centro, onde se encontra o pomposo Niccolò em seu cavalo branco — ponto principal da composição. O comandante usa um imponente chapéu de veludo vermelho e dourado e carrega no ombro esquerdo um manto de semelhante textura e cor. Com certeza este não era um chapéu apropriado para a guerra, mas usado em recepções oficiais e desfiles de tropas.

Logo atrás do comandante Niccolò um jovem de cabelos dourados e com um manto vermelho no ombro direito carrega os estandartes com o nó de Salomão, insígnia em arabesco de Niccolò da Tolentino. Trata-se do escudeiro que leva o capacete de seu mestre. A maioria das bandeiras medievais não era retangular, terminando em duas longas extremidades. Assim são as bandeiras do exército de Niccolò. Seu símbolo é uma coroa de cordame com nós. Sobre os arreios dos cavalos é possível observar a presença de belos adornos dourados que são na verdade aplicações de ouro sobre a superfície da pintura.

Um soldado morto, de bruços, encontra-se em uma das linhas que convergem para o ponto de fuga da composição que se localiza na cabeça do cavalo branco de Tolentino. As lanças partidas no chão também direcionam o olhar do observador para este ponto. Para contornar a dificuldade em apresentar um plano intermediário, dificuldade própria dos artistas do início do Renascimento, Uccello separou o primeiro plano do fundo, colocando uma sebe com rosas brancas e vermelhas, laranjeiras e romãzeiras no meio, de modo que, no fundo da composição, a batalha continua com os soldados correndo de um lado para o outro, sem nenhuma representação de perspectiva. Talvez não tivesse relevância para ele a cena que acontecia por trás das cercas.

Embora o primeiro plano pareça muito estreito, com elmos, pedaços de lança, pés dos cavalos e os pés do cavaleiro morto quase saindo dos limites da tela, é bom saber que Uccello assim o pintou, levando em conta o local, onde a obra ficaria exposta, ou seja, pendurada acima do nível dos olhos do observador, acerca de dois metros de altura. Embora a composição represente uma cena de guerra, cavalos e homens mais se assemelham a brinquedos, contudo as figuras parecem esculpidas e não pintadas. Pintar a figura do guerreiro tombado no chão, representado em perspectiva, foi sem dúvida alguma de grande dificuldade para o pintor. Nunca uma figura fora pintada assim antes. Tratava-se de uma inovação na história da arte à época.

A figura do guerreiro caído por terra era sem dúvida de grande dificuldade de execução, ao ser representada em perspectiva e deve ter sido motivo de seu maior orgulho, pois, até então, nenhuma pintura fora pintada assim, mesmo que esta se apresente um pouco pequena, se comparada às outras figuras. Foi algo fenomenal para o artista e para a época.

Na sua composição Uccello emprega a perspectiva pela qual era um estudioso obcecado, além de mostrar com detalhes a forma e o movimento dos personagens e animais. Suas figuras parecem sólidas e reais, contudo, afirma o Prof. E. H. Gombrich em seu livro “A História da Arte” que mesmo vindo a tornar-se um grande artista, até a feitura dessa obra “Uccello ainda não aprendera a usar os efeitos de luz, sombra e ar a fim de suavizar os duros contornos de uma representação estritamente perspectivada”.

A pergunta que nos fazemos, ao olhar essa pintura que se mostra tão medieval, é o que ela tem de tão especial, se os animais nos parecem cavalinhos de brinquedo? A maravilha desta pintura relativa a cerca de 1450 (século XV) reside no fato de Uccello mostrar-se tão maravilhado com as novas técnicas que poderia inserir em sua arte que fez o máximo para dar destaque às suas figuras que parecem esculpidas em vez de pintadas.

Curiosidade:
Muitas áreas da pintura foram cobertas com ouro e prata. Enquanto a folha de ouro, como a encontrada nas decorações dos freios, manteve-se brilhante, a folha de prata, encontrada particularmente na armadura dos soldados, ficou oxidada em cinza escura ou mesmo preta. A impressão inicial da prata polida deveria ter sido deslumbrante. Todos os quadros, especialmente o do Museu do Louvre, têm sofrido com o tempo e com a restauração precoce, e muitas áreas perderam a sua modelação original.

Ficha técnica
Data: c. de 1450
Técnica: têmpera a ovo sobre álamo
Dimensões: 182 x 320 cm
Localização: National Gallery, Londres

Fontes de pesquisa:
Arte em detalhes/ Publifolha
A história da arte/ E.H. Gombrich
1000 obras-primas…/Konemann
501 grandes artistas/ Sextante
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

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Uccello – A CAÇADA NA FLORESTA

Autoria de Lu Dias Carvalhovinho1

Paolo Uccello apresenta uma cena de caçada em sua composição, fazendo uso da técnica da perspectiva, ao mostrar objetos e figuras que vão diminuindo à medida que se distanciam do primeiro plano. Tudo se organiza na composição a partir de um ponto central distante. Com isso, o artista cria a sensação de espaço e profundidade.

Cavaleiros, batedores e cães dirigem-se em disparada para o centro da composição, onde um veado embrenha-se pela floresta, e onde o artista coloca o ponto de fuga central, que divide o quadro ao meio. O hábil uso da perspectiva passa ao observador a sensação de fazer parte do grupo, avançando para a escuridão da floresta.

Uccello contrapõe ao verde das árvores e da grama, o vermelho forte das roupas e bonés dos homens, das perneiras dos batedores, dos arreios dos cavalos e das coleiras dos cães, criando um belo colorido. Cavaleiros e batedores possuem o mesmo rosto, ainda que tenham expressões diferentes ou posturas. Tal similaridade, aliada às cores fortes, tornam a cena imaginária.

A maioria dos cães tem a mesma aparência e são também muito parecidos com os veados. Mas pela curvatura na barriga desses é possível notar que eles correm, enquanto os veados saltam. Uccello usa as pernas espichadas dos cães e suas costas recurvas para mostrar que estão velozes.

As árvores, que são carvalhos, também são muito semelhantes. Todas são altas e não interferem na visão dos caçadores. Com a ajuda de uma lupa é possível enxergar uma lua crescente no céu azul-escuro, que simboliza Diana, a deusa romana da caça. Crescentes dourados enfeitam as rédeas e correios dos arreios, na garupa.

Ficha técnica:
Data: c. 1470
Técnica: têmpera e óleo sobre madeira
Dimensões: 73,3 x 177 cm
Localização: Ashmolean, Oxford, Reino Unido

Fontes de pesquisa:
Grandes pinturas/ Publifolha

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Mestres da Pintura – PAOLO UCCELLO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Paolo di Dono (c.1397 – 1475) nasceu em Florença, Itália. O pintor tinha um grande amor pelos animais e adorava pintá-los, mantendo em sua casa um grande número de pinturas de todas as espécies de bichos, principalmente de aves. Por isso, foi apelidado de Paolo Uccelli (Paulo dos Pássaros).

Desde criança Uccello mostrou a sua inclinação para a pintura, começando sua carreira como aluno do escultor florentino Lorenzo Ghiberti, responsável por projetar as portas de bronze do Batistério da Catedral de Florença. A oficina de Ghiberti era o centro principal para a arte florentina da época.

Muito pouco se conhece sobre o início da carreira de Uccello. Trabalhou como mosaicista em Veneza e produziu em Florença os afrescos da Criação para a igreja de Santa Maria Novella. Foi um dos responsáveis pelo Pré-Renascimento italiano.

Uccello tornou-se fascinado pela perspectiva, influenciado pela obra do escultor Donatello, com quem travou grande amizade, sendo reconhecido como um dos pioneiros nessa técnica que cria a ilusão de profundidade e que contribuiu para transformar a arte. Chegou a ser criticado por dedicar excessivamente às teorias da perspectiva em detrimento da arte, pois passava noites em claro, tentando compreender o ponto de fuga. Ele não se preocupava com a história temática de sua obra, o que buscava nela era a sensação de profundidade.

Embora tenha morrido  pobre e quase desconhecido, nos dias de hoje Paolo Uccello é visto como o maior mestre da perspectiva de sua geração e pela impressão de relevo que deu à pintura, sendo um dos mais importantes precursores do Renascimento florentino, fazendo parte da fase do Quattrocento do Renascimento. A perspectiva aplicada em suas pinturas influenciou pintores famosos, como Piero della Francesca, Albrecht Dürer e Leonardo da Vinci, dentre outros. Seus trabalhos mais conhecidos são as três pinturas representando a batalha de San Romano.

Curiosidade:
Ponto de fuga (cuja abreviatura é PF) em geometria, é o ponto de convergência das linhas que descrevem a profundidade dos objetos; é a direção para onde o objeto segue; se aprofunda.

Nota: Autorretrato do pintor

Fontes de pesquisa:
A história da arte/ E.H. Gombrich
501 grandes artistas/ Sextante
1000 e uma obras-primas…/ Konemann

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Ticiano – ASSUNÇÃO DA VIRGEM

Autoria de Lu Dias Carvalho

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                                      (Cliquem nas imagens para ampliá-las.)

A Assunção da Virgem, de Ticiano, combina a grandeza de Michelangelo com o encanto e o idealismo de Rafael e das cores da natureza. (Ludovico Dolce)

 O retábulo conhecido como a Assunção da Virgem é uma das grandes obras de Ticiano — criada quando ele tinha cerca de 26 anos —, sendo cheia de movimento, drama e regozijo. Foi responsável por estender a sua fama de grande pintor por toda a Itália e para além de suas fronteiras.  Como havia uma grande distância entre os observadores e o altar-mor da igreja de Santa Maria Gloriosa dei Frari, Ticiano criou um retábulo em uma escala monumental, onde os reinos do Céu e da Terra encontram-se para testemunhar a assunção da Mãe de Jesus Cristo. Seu efeito é arrebatador, seus personagens alongados podem ser vistos ao longo de toda a nave e através do coro.

A narrativa sobre a morte da Virgem Maria e sua assunção ao Céu tem sua origem na literatura apócrifa dos séculos III e IV. A composição acima apresenta a Virgem Mãe pouco depois de sua morte, quando ela sobe ao Céu.

Nesta pintura, Ticiano apresenta três eventos:

  • Na parte inferior da tela encontram-se os apóstolos, representando a humanidade, que são mostrados em diversas posturas, olhando surpresos e maravilhados a Virgem ascender aos céus.
  • No centro está a Virgem Maria, vestindo uma túnica vermelha e envolta num manto azul, sendo levada aos céus, de pé sobre uma nuvem, por um grande grupo de querubins.
  • Na parte superior, emergindo-se de uma fenda dourada, encontra-se Deus Pai, o soberano absoluto que tudo governa, direcionando seu rosto para baixo, olhando amorosamente para a Virgem Maria e aguardando-a. À sua esquerda, um pequeno anjo segura uma coroa para cingir a cabeça da Virgem.

A composição de Ticiano está assim organizada:

  • Os treze apóstolos, na parte inferior da tela, encontram-se inseridos num retângulo, significando o mundo terreno. O retângulo ocupa uma pequena parte da tela, propositalmente.
  • A Virgem, Deus Pai e os anjos, todos banhados de luz, estão inseridos num círculo, na parte superior da tela, significando o mundo espiritual.
  • Um triângulo em cuja base situam-se os dois apóstolos de vermelho, tendo no vértice superior a Virgem, também usando uma veste vermelha, faz o elo de ligação entre os dois grupos, apresentando a transposição de Maria do mundo terreno para o divino.

A obra de Ticiano prima por suas cores arrebatantes — principalmente o vermelho do manto de Maria. Enquanto é alçada aos céus por uma multidão de anjos, a Virgem caminha graciosamente sobre uma nuvem. Seu movimento ascendente é confirmado pelos gestos dos braços, numa atitude de profundo arrebatamento, e pelo seu olhar de alegria e surpresa direcionado a Deus Pai descendo do céu para recebê-la.

O apóstolo de vermelho, à esquerda da composição, com os braços abertos e o pé direito erguido, tenta alcançar a base da nuvem, onde se encontra a Virgem. Seus dedos — que tentam tocar a Madona — e o pé direito do anjinho, quase tocando a cabeça do apóstolo que usa uma roupa verde, demonstram a distância em que se encontra a Virgem de seu séquito.

Ticiano trabalha com maestria a luz e o espaço. A representação das personagens com formas humanas é muito rica em variedade. Mesmo em meio a uma infinidade de querubins que se encontram em torno da nuvem em que se encontra a Virgem é possível encontrar diversas caracterizações. Uns estão cantando, outros tocando instrumentos musicais e outros misturados à festa da assunção de Maria.

O gigantismo dos apóstolos remete a Michelangelo, enquanto a assimetria da Virgem e a predominância do vermelho, verde e branco remetem a Rafael Sanzio. As cabeças dos anjinhos na fonte de luz também lembram os da Madona de Foligno, de Rafael Sanzio. A composição e o estilo desta obra deu uma grande  contribuição ao Barroco.

Observem que a pintura está assinada como “Ticianus” lá em baixo, no meio da moldura.

Nota:

  • Ascensão – quando se refere a Jesus.
    Assunção – quando se refere a Maria.
  • Ticiano está sepultado nessa mesma igreja onde se encontra sua obra-prima em estudo.

Ficha técnica:
Data: c. 1516 – 1518
Tipo: Óleo sobre tela
Dimensões: 690 x 360
Localização: Santa Maria Gloriosa dei Frari, Veneza, Itália

Fontes de Pesquisa:
Ticiano/ Taschen
https://www.google.com.br/search?q=Assumption+of+the+Virgin,+titian&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjo1q3nmo3tAhWeGbkGHYr-AAcQ_AUoAXoECAQQAw&biw=1536&bih=704#imgrc=G8xgrg-de7cOSM

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