Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Monet – O TERRAÇO EM SAINTE-ADRESSE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A tela de Monet, denominada Terraço em Sainte-Adresse (1867), apresenta um cenário tipicamente burguês, e é considerada uma obra-prima de sua fase juvenil. Embora à época houvesse grande tensão entre o pintor e seu pai, Monet retrata-o na cena.

Monet pinta a sua família no terraço da casa de sua tia Marie-Jeanne, situada em frente ao mar, em Sainte-Adresse. As figuras representadas no quadro são:

1- A tia Marie-Jeanne, sentada, segurando uma sombrinha branca que encobre a sua cabeça.
2- O pai, Adolphe, assentado à direita da tia, com o olhar direcionado para o mar, ao fundo.
3- A prima Jeanne-Marguerite e um jovem que conversa com ela.

No primeiro plano do quadro, encontra-se o jardim, assim como a balaustrada e os mastros com suas bandeiras. No terraço, existem duas cadeiras desocupadas, embora afastadas uma da outra, que pertencem ao casal que se encontra de pé.

Embora à época, Monet  encontrasse-se numa situação nada comum, não tendo ainda se casado com Camille, mas já sendo pai de uma criança, o que ocasionava um sério atrito com o pai, o seu quadro burguês atem-se às convenções sociais, pois o casal namora sob o olhar observador de seus pais, mantendo certa distância entre os dois.

Pelas sombras das pessoas, plantas e objetos vistas no terraço e as sombrinhas abertas, percebe-se que é um dia de sol, embora esse não seja vislumbrado. Enquanto o tremular das bandeiras e a direção tomada pela fumaça, que sobe das embarcações espalhadas pelo mar, assim como as águas encrespadas desse, indicam que também há vento.

O pintor, amante das flores, e que trabalharia com elas até seus últimos dias de vida, retrata-as aqui com uma grande riqueza. É possível distinguir trepadeiras com suas flores vermelhas, diferentemente dos gerânios e papoulas com a mesma cor. Existem ainda a brancura das camomilas, flores alaranjadas, assim como uma enorme variação de tons de verde, presentes nas folhas e na grama. O pintor, pela primeira vez, utiliza o efeito colorido das sombras e cores contrastantes entre si, como o vermelho e o verde.

Ficha técnica:
Ano: c. 1866/1867
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 98 x 130 cm
Localização: Metropolitan Museum, Nova Yorque, Estados Unidos

Fontes de Pesquisa:
Claude Monet/ Coleção Folha
Grandes Mestres da Pintura/ Editora Abril
Monet/ Editora Taschen
Monet/ Editora Girassol

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Monet – O PARLAMENTO EM LONDRES

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Londres é significativa para mim. Mas só no inverno. É como uma massa, como um conjunto e, não obstante, ali tudo é simples. Mas Londres agrada-me, sobretudo, sob a névoa. Essa lhe confere uma dimensão suntuosa, seus blocos de casas regulares e compactos cobrem-se nesse manto misterioso. (Monet)

Que difícil é captar esse clima tão instável. (Monet)

Na atmosfera reaparece uma cor que eu havia descoberto no dia anterior (…). Imediatamente, trato de fixar o mais rápido e definitivamente possível a visão, mas quase sempre ela desaparece em seguida, para dar lugar a outra cor. (Monet)

O impressionismo é igual a Monet, isolado em sua genialidade, glorioso e visionário. (Remy de Gourmont)

Quando trabalhava na capital britânica, Monet rodeava-se por inúmeras telas, trabalhando nelas ao mesmo tempo, no intuito de captar a variação da luz. Ele era fascinado, sobretudo, com a bruma que cobria a cidade durante o inverno.

O pintor J. M. W. Turner testemunhou e recriou o famoso Incêndio das Câmaras dos Lordes e dos Comuns (imagem menor), usando cores vibrantes e pinceladas fortes, dando a impressão de que os prédios encontravam-se ardendo em chamas. Assim como Turner, Claude-Monet, setenta anos depois, iria mostrar O Parlamento de Londres (imagem maior) também em chamas, mas só que essas chamas eram o resultado, não de um incêndio, mas do poente que se incidia sobre o local, tentando atravessar a muralha de névoa e deixando a impressão de que os edifícios estavam sendo desmaterializados.

Monet executou uma série de pinturas no local, retratando as mudanças diárias no tempo e na luz. Para pintar a série de telas sobre os parlamentos, o artista postou-se na margem oposta do rio Tâmisa. Como na Catedral de Rouen, a pintura desse quadro tinha como objetivo mostrar o efeito de luz e cor e, nesse caso específico, mostrar as formas do prédio, aqui bem simplificadas por Monet. Ele colocou uma sombra verde e roxa entre dois tons de laranja incandescente e uma iluminação dourada como sendo reflexo de luz. Sendo que a luz, que tenta passar através da neblina, cria um efeito ótico maravilhoso. Monet certa vez falou que gostaria de pintar o ar onde estavam a ponte, a casa e o barco, mas sabia ser impossível. Contudo, o ar, onde está o parlamento, prevalece sobre toda a cena.

Ficha técnica:
ata: 1904
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 81 x 92 cm
Localização: Museu d`Orsay, Paris, França

Fontes de Pesquisa:
Claude Monet/ Coleção Folha
Grandes Mestres da Pintura/ Editora Abril
Monet/ Editora Taschen
Monet/ Editora Girassol

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Monet – MULHER COM SOMBRINHA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição denominada Mulher com Sombrinha, também conhecido como Madame Monet e o Filho, ou O Passeio, ou ainda como Camille e Jean na Colina, está entre os quadros mais famosos do pintor impressionista Claude-Monet. Sua primeira mulher Camille e seu filho Jean servem de modelo para a composição. O mais incomum é que ambos são vistos de baixo para cima, além do grande espaço que a esposa ocupa na composição. O dia está maravilhosamente ensolarado e o céu cheio de nuvens brancas, passando ao observador uma sensação de tranquilidade e frescor, pois luz e brisa parecem ultrapassar os limites da tela.

O pequeno Jean, bem distante da mãe, aparece mais ao fundo, à esquerda, com seu chapeuzinho redondo e com suas mãozinhas nos bolsos, como se a sua presença fosse apenas acidental, sendo a mãe a personagem mais importante da cena. Embora seus traços sejam apenas esboçados, ele se mostra bastante sério, mantendo um olhar distante. A vegetação cobre-lhe quase que metade do corpo, enquanto ele parece focar algo distante.

A presença do vento na pintura pode ser percebida através do esvoaçar das vestes de Camille e do dobrar da vegetação. Seus pés não são vistos, pois estão encobertos pela relva e flores. Mesmo assim, Camille mostra-se vaporosa e parece flutuar, levada por sua sombrinha delicada, mas firme, postada à direita de seu corpo. Seu olhar parece dirigir-se ao observador. O efeito luminoso no quadro é perceptível através do delicado resultado dégradé colorido da sombra que a sombrinha de interior verde joga sobre o corpo da modelo, e as sombras espalhadas pela vegetação, onde se fundem vários tons de verde e o amarelo de pequenas flores. Vários matizes estão refletidos no vestido volateante de Camille, assim como os diferentes azuis do céu.

Observando o céu e a relva, notamos que o artista usou longas e rápidas pinceladas, principalmente ao pintar as nuvens, como se não tivesse tempo a perder, se quisesse captar aquele momento, pois a presença do vento ainda torna as nuvens mais fugidias. O vento agita a roupa da modelo, assim como seu véu, balança a sombrinha, dobra a vegetação e brinca com as nuvens. Monet em seu quadro dá um show de luz, cor e brisa, transmitindo ao observador todas essas sensações visuais. E é isso que faz de O Passeio, Mulher com Sombrinha, um resumo do Impressionismo e um dos quadros mais belos do grande mestre.

Doze anos após a pintura em que Camille e Jean serviram de modelo (e sete anos após a morte de Camille), Monet voltou ao mesmo tema, só que dessa vez sem a presença de um garoto. Suzanne Hoschedé, uma das filhas de sua companheira Alice, serve de modelo. Com ela, fez duas composições: Ensaio de Figura ao Ar Livre, Voltada à Direita e Ensaio de Figura ao Ar Livre, Voltada à Esquerda. Mas a natureza presente nesses quadros não nos passa a mesma leveza e o mesmo frescor sentidos na observação da pintura de Camille e Jean. Também não existe a mesma expressividade vista no rosto da esposa. As obras são incomparáveis.

Ficha Técnica:
Ano: 1875
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 100 x 81 cm
Localização: Nattional Gallery of Art, Washington, Estados Unidos

Fonte de Pesquisa:
Claude Monet/ Coleção Folha
Grandes Mestres da Pintura/ Editora Abril
Monet/ Editora Taschen
Monet/ Editora Girassol

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Monet – A VIDA AFETIVA DO PINTOR

Autoria de Lu Dias Carvalho

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É um lindo dia, iluminado pelo sol, transmitindo uma sensação de alegria e leveza. O céu mostra-se iluminado, com a presença de nuvens brancas. As manchas fortes de vermelho formam as papoulas sobre o fundo verde. Camille, com sua sombrinha azul, e o filho Jean parecem prestes a sair do campo de visão do observador, enquanto bem atrás, uma mulher e uma criança surgem. Os personagens parecem se fundir com a natureza, caminhando graciosamente entre as flores. Jean e a outra criança estão quase que encobertos pela vegetação. A composição é simples, mas extremamente bela.

A jovem Camille, na época com 19 anos, tornou-se a modelo preferida de Monet e, pouco depois, sua companheira. Mas a ligação entre o pintor e sua modelo não foi bem recebida pela família provinciana que ele tinha. O pai e a tia pintora exigiram a sua separação imediata da moça. Como Monet não lhes desse ouvidos, reagiram retirando-lhe o apoio financeiro, de modo que a situação do casal ficou tão ruim, que se viu obrigado a viver em casa de um amigo, também pintor, Bazille.

Não demorou muito para que Camille ficasse grávida, antes de  casar-se com Monet, o que não era bem-visto na época. Mesmo tendo uma relação amorosa com uma criada, da qual resultou um filho, o pai de Monet condenou o seu filho pintor por ter “moral dúbia”. Meses depois nasceu Jean, o primeiro filho de Camille e Monet. Com a proximidade de uma guerra entre a Prússia e a França, Monet e sua companheira casaram-se. Para fugir do recrutamento, a família mudou-se para a Normandia. O amigo Bazille ingressou no exército e morreu em guerra, deixando o pintor inconsolável.

Monet foi convidado, juntamente com esposa e filho, para passar o verão no castelo de um próspero comerciante, Ernest Hoschedé, e sua rica esposa Alice, em Montgeron. Ali, o casal montou um ateliê para para o artista, a fim de que ele pintasse quatro quadros decorativos para o castelo. Após o verão, Camille e o filho retornaram a Argentuil, onde moravam, e Hoschedé foi tratar de seus negócios em Paris, enquanto Monet continuou no castelo, fazendo seu trabalho, ao lado de Alice e seus seis filhos. Presume-se que foi nessa época que começou a relação entre os dois. O fato é que surgiu uma grande amizade entre os dois casais.

Cerca de um ano depois, mesmo não se encontrando bem de saúde, Camille deu à luz o seu segundo filho, Michel. Após o parto, Monet e sua família, juntamente com Hoschedé e a sua, resolveram morar na mesma casa, pois a situação de ambas as famílias andava ruim. As dificuldades financeiras eram enormes, principalmente com a falência de Hoschedé. Enquanto isso, Camille via-se cada vez mais enfraquecida pela tuberculose, recebendo os cuidados de Alice. Veio a falecer aos 32 anos de idade.

Após a morte de Camille, a verdadeira musa do impressionismo, Monet entrou num profundo desespero, a ponto de maldizer a sua obra. Tomou do pincel e com ela ainda no leito de morte, pintou seu último retrato, Camille em Seu Leito de Morte, imortalizando-a. Essa é uma de suas telas mais comoventes, onde reúne dor e fúria, em cada pincelada. Segundo alguns críticos, a partir daí as pinceladas de Monet tornam-se mais furiosas e vibrantes, como se quisesse revelar todo o sofrimento que lhe passava na alma. Esse é um dos períodos mais difíceis da vida do pintor. Sobre esse quadro ele escreveu:

Uma vez me encontrava, ao amanhecer, na cabeceira da cama de uma morta que era muito querida […]. Surpreendi-me ao seguir a morte nas sombras do colorido que se depositava em seu rosto.

Alice passou a fazer o papel de mãe para os dois filhos de Monet. Cuidava de oito crianças, ao todo. Mas agora, que Camille havia morrido, os aldeões não viam com bons olhos a situação “esquisita” vivida por Monet e Alice, enquanto o marido dessa se encontrava em Paris. Diante da hostilidade das pessoas do lugar, Monet resolveu mudar-se para outra aldeia. Alice optou por acompanhá-lo com a sua família. A decisão causou surpresa a todos, pois não mais havia Camille para ela cuidar, como explicava antes. Hoschedé ficou abalado com a decisão da esposa e passou a evitar encontros pessoais com o pintor.

A relação entre Monet e o grupo familiar andava cada vez mais difícil. Alice, acostumada na riqueza, estava sempre reclamando e aborrecida. Ela não aceitava a falta constante de dinheiro. Seu marido Hoschedé só a visitava quando Monet não se encontrava em casa. Situação extremamente grotesca. Quando Ernest Hoschedé morreu, a ligação ambígua entre Alice e Monet foi legalizada pelo casamento entre os dois. A autoridade da nova esposa passou a ser ilimitada na vida da família, inclusive sobre a vida do pintor.

Após a morte de Alice, três anos depois também morreu o filho mais velho, Jean, deixando Monet terrivelmente depressivo. Ele ficou solitário até a sua morte.

Ficha técnica:
Obra: As Papoulas
Ano: 1873
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 50 x 65 cm
Localização: Museu d`Orsay, Paris, França

Fonte de Pesquisa:
Claude Monet/ Coleção Folha
Grandes Mestres da Pintura/ Editora Abril
Monet/ Editora Taschen

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Monet – O PINTOR DA LUZ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Enviei uma coisa que havia feito em Le Havre, o sol nascente entre o nevoeiro e alguns mastros de barcos. Pediram-me um título para o catálogo, ao que sugeri: impressão. (Monet)

Meu único mérito foi o de ter pintado diretamente da natureza com o objetivo de exprimir minhas impressões diante dos efeitos mais fugidios. (Monet)

Não sou um grande pintor nem um grande poeta […]. Faço o que posso para expressar o que sinto diante da natureza e, com frequência, para traduzir o que sinto vivamente, esquecendo as regras da pintura, se alguma vez elas existiram. (Monet)

Os pintores impressionistas tinham grande predileção pela pintura em “plein air”, de modo que a pintura ao ar livre definia a estrutura e a imagem da obra. A execução do tema tinha que ser rápido, para captar um momento, em razão da mutabilidade do efeito luminoso. Pois uma paisagem adquire tons e formas diferentes de acordo com as diferentes horas do dia ou devido à variação das condições atmosféricas. Tudo isso contribuía para que o artista mostrasse a sua espontaneidade diante do tema escolhido. Sendo que as características do trabalho ao ar livre eram a liberdade na escolha dos temas, a luminosidade das cores e a aparente casualidade do corte.

Os críticos da época menosprezavam as obras dos impressionistas, pois julgavam que a técnica deles era banal, se comparada com as obras de conteúdo convencional, mesmo que, muitas vezes, essas se encontrassem fora da realidade. Alegavam que o trabalho era feito às pressas, e, que o tratamento livre, que os impressionistas davam aos objetos, dissolvia as formas, as cores, que eram muitas vezes invulgarmente fortes e claras, e não havia a utilização do claro-escuro modelador. Para serem aceitos pelo Salão de Paris, Monet e seus colegas deveriam se adaptar ao gosto conservador do júri, mas eles se recusaram a ser tão condescendentes. Então, continuaram sendo excluídos.

Os impressionistas também pintavam em seus estúdios, ou ali concluíam seus quadros iniciados ao ar livre, mas o que predominava era o anseio do artista em captar o momento, o máximo possível, usando a luz natural. E, não resta dúvida de que Claude Monet foi o pintor, que mais trabalhou, para captar em sua obra a fugacidade do tempo, vindo a torna-se um dos grandes nomes da pintura impressionista. Ele tinha o dom de colher com fidelidade todos os fenômenos da luz.

Monet não acreditava nas regras a que estava submetida a pintura. O que importava era o que existia entre ele e o tema, sem se ater a normas de espécie alguma. Sobretudo, o que mais lhe importava era captar a fugacidade da beleza encontrada num momento, por mais simples que pudesse parecer, pois nada é o que foi a uma pequena fração de tempo atrás. Para ficar mais próximo da natureza, Monet transformou um pequeno barco num ateliê flutuante.

Quando aconteceu a segunda exposição impressionista em Paris, o crítico Albert Wolff, jornal Le Figaro, apegado às normas do convencionalismo, não economizou adjetivos para destratar os artistas impressionistas. Alienados, doentes da loucura da ambição, eram alguns deles.

Na terceira exposição, Monet apresentou oito versões da estação parisiense de Saint-Lazare, dando início às suas obras em séries. Ficaram famosas as suas pinturas em série, onde ele tentava adaptar o mesmo tema em momentos diferentes, com variações na luz e nas formas, ou as criava de modo a harmonizarem entre si, como se fossem uma única obra. Saía para pintar com várias telas, punha-se diante do motivo escolhido e, a cada hora, trocava de tela, continuando o trabalho no dia seguinte, a fim de captar as sutis mudanças da luz.

A Catedral de Rouen foi o tema de sua terceira série. Pintou 28 versões da catedral, posicionando-se em três ângulos de visão diferentes, em vários momentos. O sucesso foi enorme. Tornou-se o tema mais comentado no mundo artístico parisiense, quer pela beleza quer pela exorbitância de seus preços. Monet realizou inúmeras viagens em busca de novos temas, sem se importar com as dificuldades que a natureza viesse a lhe apresentar. Seu biógrafo, Gustav Geffroy, escreveu:

Às vezes, as rajadas arrancam a paleta e os pincéis de suas mãos. Seu cavalete fica amarrado por cordas e pedras.

Monet trabalhava intensa e ardorosamente, tendo, muitas vezes, o cabelo que ser cortado enquanto pintava, mas nem sempre se sentia satisfeito com os resultados obtidos. Quando isso acontecia, ele se exasperava:

– Sigo a natureza sem poder captá-la.

A última fase do pintor foi dedicada, sobretudo, às ninfeias. Ele as pintou por mais de 25 anos. Monet comprou o terreno usado por ele e sua família em Giverny, e o transformou em um jardim, onde dedicava um grande espaço às ninfeias. Ali mesmo mandou construir um ateliê para trabalhar ao lado de suas flores. Produziu mais de 250 quadros individuais com suas divas. Com a ajuda de seu grande amigo, Georges Clemenceau, deu vida a uma série de murais sobre o tema. A série sobre as Ninfeias foi doada ao Estado francês e hoje se encontra exposta na Sala do Musée L`Orangerie.

Embora tivesse predileção pelas paisagens, Monet também pintou temas urbanos, assim como inseriu figuras humanas nas suas paisagens. Dentre as muitas obras do pintor podem ser citadas: Almoço campestre, As Quatro Árvores, O Terraço em Sainte-Adresse, O Passeio, Mulheres no Jardim, Regata em Argenteuil, As Papoulas, Camille e Jean na Colina, Os Perus, A Estação de Saint-Lazare, A Geada, A Catedral de Rouen, O Parlamento de Londres, As Ninfeias Azuis, etc.

Em sua última série de pinturas, ao trabalhar com a inconstância da luz, cor e atmosfera, Monet caminhou em direção ao abstracionismo. Sendo tido como o ponto de partida para a arte abstrata. Dessa forma, os impressionistas inauguraram uma nova postura de ver, em que o olho é dirigido pela mente.

Nota: Impressão, Sol Nascente tornou-se o quadro mais representativo do movimento impressionista. Um dos críticos da época usou o título da tela para debochar dos artistas impressionistas. A expressão agradou tanto os pintores, que converteram o sarcasmo dele em um nome para o novo movimento: Impressionismo.

O quadro, pintado de uma janela de hotel, que se descortinava para o porto de Le Havre, ao amanhecer, tem tons somente de duas cores complementares: azul e laranja, uma cor realçando a outra. A luz do sol nascente, representada por uma bola de cor laranja, reflete-se nas águas do mar. As figuras são apenas silhuetas nos barcos. Assim como a bruma, tudo ali é efêmero, trazendo ao observador a sensação de que logo toda a cena se diluirá diante de seus olhos.

Dados técnicos:
Ano: 1872
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 48 x 63 cm
Localização: Museu Marmottan, Paris, França

Fonte de Pesquisa:
Claude Monet/ Coleção Folha
Grandes Mestres da Pintura/ Editora Abril
Monet/ Editora Taschen
Tudo sobre Arte/ Sextante

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Mestres da Pintura – CLAUDE MONET

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Monet não é nada mais do que um olho… mas que olho! (Cézanne)

Monet foi um gênio inventivo da visão, soube ver no jogo de luzes e cores aquilo que nenhum outro antes dele havia visto. (Lionello Venturi)

O tema é insignificante para mim; o que quero reproduzir é o que há entre mim e o tema. (Monet)

Claude-Oscar Monet (1840 – 1926) nasceu em Paris, mas viveu a sua infância e adolescência em Le Havre, cidade portuária francesa, para onde seus pais se mudaram, crescendo num ambiente burguês. Na sua casa, apenas a mãe, Louise, mostrava interesse pela pintura. O pai, Adolphe, não aceitava as inclinações do filho por tal arte, de modo que o relacionamento entre os dois começou a gerar conflitos. E piorou ainda mais, quando o filho deixou a escola, pouco tempo antes de concluir os estudos.

Após perder a mãe, quando tinha apenas 17 anos, Monet ficou sob os cuidados de sua tia Marie-Jeanne, pintora criativa e ligada ao meio artístico, que compreendia suas inclinações artísticas e passou a supervisionar a educação do sobrinho.

Na época em que estudava em Le Havre, Monet gostava de fazer desenhos cômicos e caricaturas, na maioria das vezes representando seus professores. Aos 15 anos, a sua fama de caricaturista já estava espalhada pela cidade. Cobrava pelos retratos feitos e, com o dinheiro economizado, retornou mais tarde a Paris, onde seguiu a carreira artística.

Ainda em La Havre, Monet conheceu o pintor normando de paisagens marinhas, Eugène Boudin que, percebendo o talento do jovem, convidou-o a acompanhá-lo em seus trabalhos de pintura ao ar livre, tornando-se o seu primeiro mentor. Boundin convenceu-o de que tudo que era pintado no contato direto com a natureza, era muito mais vivo do que aquilo que nascia no ateliê. Tal encontro foi de fundamental importância para Monet, pois Boudin pintava baseando-se na reprodução dos efeitos da luz na natureza, principalmente do céu. O jovem pintor acabou se transformando num apaixonado pela pintura de paisagens. Sobre Boudin ele afirmou:

– Se me tornei pintor foi graças a Boudin, que na sua bondade infinita, ocupou-se de minha instrução. Os meus olhos abriram-se lentamente; compreendia a Natureza e ao mesmo tempo comecei a amá-la. Analisava as suas formas, estudava as suas cores. Seis meses mais tarde, disse a meu pai que queria ser pintor e que ia estudar em Paris.

Em Paris, o jovem Monet foi convocado para o serviço militar, sendo posteriormente enviado para a Argélia. Após um ano ali, foi vitimado pela febre tifoide, que o obrigou a retornar a Le Havre, onde encontrou o paisagista holandês Johnan Barthold Jongkind, que pintava, sobretudo, quadros do mar e da praia, procurando, através das cores apropriadas, fixar fenômenos atmosféricos sutis. As suas paisagens carregadas de luz e ar, pintadas apenas com poucas pinceladas, fizeram de Jongkind o precursor da pintura impressionista. Sobre o pintor, Monet disse:

– Jonkind foi o meu verdadeiro professor e lhe devo a formação definitiva do meu olhar.

Tempos depois, Monet teve como professor independente o suíço Charles Gleyre, que encorajava seus alunos a ter o seu próprio estilo, com estudos ao ar livre e com a natureza como modelo, mas sem se esquecer de que a natureza servia apenas para estudo. O que deixava Monet furioso, pois para ele, o essencial estava na realidade, ou seja, em tudo que os seus olhos viam. Ali, o jovem pintor fez três grandes amigos: Renoir, Sisley e Bazille.

Monet sentiu dificuldades para expor suas obras no Salão de Paris. Os jurados eram intransigentes e fechados ao novo, recusavam-se a aceitar novas técnicas, sendo hostis ao realismo. Cultivavam a visão de que o quadro histórico era muito mais valioso do que o de gênero ou paisagem. De modo que as obras do jovem pintor eram sempre reprovadas. Ele desabafou:

– Ainda que sejamos bons, ficamos preocupados demais com o que se vê e se ouve em Paris. Em compensação, acredito que o que farei aqui tem o mérito de não se parecer com o de ninguém.

Monet era um pintor apaixonado e incansável no seu trabalho e um grande aglutinador. Reunia em torno de si vários outros artistas, sendo reconhecido entre os mais jovens pintores como um exemplo a ser seguido. Foi tido como o líder do movimento impressionista. Renoir chegou a afirmar que:

– Sem Monet, que nos encorajava a todos, teríamos desistido.

O jovem pintor era também um amante da boa vida. Gastava bem mais do que podia. Foram muitas as dificuldades financeiras pelas quais passou em grande parte de sua vida, vivendo às voltas com os credores, embora suas obras tivessem uma boa saída. Teve muitos de seus quadros apreendidos para pagar dívidas. O seu grande amigo Bazille ajudou-o inúmeras vezes, chegando a dividir com ele e família o próprio ateliê.

Com o passar dos anos, o trabalho de Monet foi se tornando cada vez mais reconhecido e sua situação econômica melhorando. Ao se lançar no mercado norte-americano, o pintor foi muito bem recebido. Começava a sua ascensão em outras terras.

Monet estabeleceu-se definitivamente em Giverny, onde se entregou de corpo e alma às duas paixões: a pintura e a horticultura. Viajava muito em busca de inspiração e de novos temas, muitas vezes pintando em meio ao inverno rigoroso. Amava pintar ao ar livre, qualquer que fosse a condição. Por isso, expressou-se com tristeza, quando não podia mais fazê-lo:

– Encontro-me estupidamente atacado por um reumatismo (…). O que me aflige é pensar que tenha que renunciar a desafiar qualquer clima e não trabalhar, salvo com bom tempo. Que estupidez é a vida!

À medida em que envelhecia, a jardinagem passou a ocupar um lugar cada vez maior na vida de Monet, em especial o seu jardim aquático. No final de sua vida, o pintor da luz passou a se queixar de problemas nos olhos. Chegou a fazer duas operações de catarata, recuperando parcialmente a visão. Muitas vezes sentia-se tão deprimido, a ponto de destruir ou queimar vários trabalhos, pois não atendiam às suas exigências. Sobre a visão, assim se exprimiu:

– Minha pouca visão faz com que eu veja tudo numa bruma completa. De qualquer modo, é muito bonito e é isto que eu gostaria de ter sido capaz de exprimir.

Claude-Oscar Monet, com os pulmões carcomidos por um câncer, morreu aos 86 anos, completamente cego, em sua casa de Giverny. E, de acordo com sua vontade, foi enterrado sem pompa alguma.

A vida de Monet passou por constantes mudanças, que variavam entre momentos de calmaria e momentos de profunda depressão. Muitas vezes, chegou a duvidar de seu talento artístico a ponto de destruir inúmeros quadros. Assim são os gênios, de outra forma seriam pessoas comuns. E nós somos os escolhidos, pois podemos apreciar o legado excepcional que nos deixaram. Bendito seja Claude-Oscar Monet!

Nota:  Autorretrato do pintor

Fonte de Pesquisa:
Claude Monet/ Coleção Folha
Grandes Mestres da Pintura/ Editora Abril
Monet/ Editora Taschen

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