Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Mestres da Pintura – SANDRO BOTTICELLI

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Botticelli é um verdadeiro filho do século 15 e exatamente nisso reside sua importância e seu encanto peculiar. Nele, a arte florentina da última fase do século atinge o ápice da perfeição. (Wilhelm von Bode / 1921)

O lirismo da arte de Botticelli também inspirou modernos compositores, poetas, romancistas e cineastas. Chamadas visuais baseadas em A Primavera e o O Nascimento de Vênus fazem parte da cultura popular ocidental. (David Garrif)

O pintor florentino Sandro Botticelli (1445 – 1510) quando tinha 17 anos de idade foi apresentado ao talentoso e prestigiado artista frade Filippo Lippi, para iniciar a arte da pintura, mas não demorou muito para que o aluno superasse o mestre com suas figuras suaves, rostos sérios e expressões contemplativas, buscando apresentar a realidade interior de seus personagens. A arte não tinha compromisso com a realidade, devendo ser puramente espiritual, religiosa e simbólica. Ele estava de acordo com a visão religiosa da época que via na pintura um instrumento de propagação da fé.

Quando jovem, Botticelli reverenciava os deuses pagãos da Antiguidade — Vênus, Apolo, Diana, Mercúrio —, mas após a sua permanência de um ano em Roma, quando produziu Tentação de Cristo, As Provações de Moisés e Punição dos Rebeldes, a sua visão de mundo começou a mudar, culminando com o caso do frade dominicano Savonarola. Antes que adentremos na vida e obra de Botticelli é bom que saibamos um pouco sobre a época em que viveu.

Naqueles tempos os nobres e os burgueses — controladores da política e da economia — viam na pintura votiva um meio de agradar os mais influentes que se posicionassem acima deles e, mais do que tudo, um jeito de barganhar com Deus. Pensavam eles que o Todo Poderoso haveria de reduzir a pena a ser cumprida, quando se tratasse de um bom patrono. Por isso, os retratos e as alegorias dos poderosos tinham como motivos principais os episódios bíblicos e outros temas religiosos. E como os artistas dependiam de tais senhores, não lhes restava outra saída, senão pintar o que lhes era encomendado. Alguns se ressentiam com as algemas impostas à sua arte, mas muitos deles comungavam com as mesmas crenças dos patronos, executando sua arte com profundo zelo e convicção religiosa. Dentre os últimos encontrava-se Botticelli.

Sandro Botticelli tornou-se protegido de Lourenço de Médici, de sua família e de seus amigos. Ao servir gente tão importante, sua fama crescia cada vez mais. Já não conseguia aceitar todas as encomendas que lhe eram feitas, apesar de ter muitos alunos que o ajudavam na preparação dos materiais e nas pinturas dos detalhes mais fáceis. Após a morte de Lourenço de Médici houve um período de grande agitação política, inclusive com a ascensão de um frade dominicano de nome Savonarola que se opunha ferozmente à vida mundana da época, pregando que o povo simples e virtuoso de Florença haveria de salvar a cidade contra a decadência dos costumes depravados da nobreza em relação ao luxo e à vaidade. Mas Savonarola, ao desafiar os poderosos, foi acusado de heresia e queimado na fogueira.

Sandro Botticelli mostrou-se bastante afetado com os acontecimentos envolvendo o frade. Uma das mudanças mais visíveis em sua vida foi a popularização de sua pintura. Seus trabalhos deixaram de ser direcionados à elite, tornando-se acessíveis ao grande público, além de conter, cada vez mais, elementos populares. Ele abriu mão do mundo esteticamente perfeito da Antiguidade Clássica, para aderir ao mundo moralmente perfeito dos mártires cristãos, imbuídos de heroísmo, abnegação e fé, mesmo diante da tortura e da morte, como aconteceu com Savonarola. Passou a viver um período de intensa religiosidade. É desse período a pintura Alegoria da Calúnia, numa alusão à perseguição contra o frade dominicano.

Os últimos anos de vida de Botticelli foram dedicados à meditação solitária de sua fé e ao estudo dos ensinamentos deixados pelo frade. Não mais se interessava pela vida cotidiana de Florença. Não mais se sentia interessado pelas mudanças que traziam o século XVI, vistas nos trabalhos de Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael. Ao contrário deles, ignorava propositalmente as leis de perspectiva, usava os ornamentos em excesso e dava ênfase ao popular.

Sandro Botticelli morreu pobre, solitário e esquecido, só sendo “redescoberto” pelos pintores românticos do século XIX, para os quais a melancolia irreal de seus personagens veio novamente representar a expressão da beleza idealizada, pois, enquanto para Leonardo da Vinci a pintura era a realidade pesquisada e a busca de conhecimento, para Sandro ela estava fora da realidade, devendo ser apenas uma comunicação com Deus. Ele tinha a mesma visão dos pintores medievais, para quem “o mundo visível era a emanação de Deus”. Portanto, o belo era o ideal supremo. Assim, os últimos anos vividos pelo pintor foram muito sofridos. Ele passou por um progressivo declínio físico e artístico. As encomendas escassearam em nada lembrando seus áureos tempos. Mas seu nome e seu trabalho jamais serão esquecidos.

Fontes de Pesquisa:
Os pintores mais influentes…/ Editora Girassol
História da Arte/ E.H. Gombrich
Tudo sobre a Arte/ Editora Sextante
1000 obras primas…/ Könemann
Gótico/ Taschen

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Bosch – CRISTO CARREGANDO A CRUZ

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Perdoai-os Senhor, pois eles não sabem o que fazem. (Cristo)

Cristo Carregando a Cruz é uma das mais fantásticas obras de Hieronymus Bosc, sendo bem provável que se trate de um dos seus últimos trabalhos. É possível encontrar um pouco do estilo expressionista nas feições dos personagens presentes na obra. O artista consegue, através da expressão distorcida das figuras, repassar um clima de tensão, ódio, brutalidade e vingança.

No espaço quadrado da obra, o artista reuniu dezessete personagens, ao retratar a humilhação pública de Cristo. Algumas delas são vistas a partir da metade superior do tronco, outras a partir do ombro, e de algumas só aparece a cabeça ou o rosto. A ocultação do corpo das figuras repassa ao observador uma sensação de abafamento e aglomeração. Não há profundidade na composição, de modo que não é possível ao observador, desviar sua atenção  dos rostos grotescos e do rosto inocente de Cristo.

Jesus, a caminho do Calvário, ocupa o centro da pintura. E sua cruz, em diagonal, apresenta apenas a parte superior. Seus olhos fechados recusam-se a presenciar a maldade humana. As mãos que seguram a cruz são as de Simão Sirineu.

O Cristo silencioso, cujo rosto situa-se no encontro de duas diagonais, repassa tristeza, dor e resignação, contrasta com a algazarra dos verdugos e suas faces ferozes, que se encontram em grupos de três e quatro pessoas.

No canto inferior esquerdo, Verônica exibe um pano com o rosto de Cristo. O bom ladrão, de rosto pálido e olhos angustiantes, aparece no canto superior direito, entre dois algozes, enquanto o mau ladrão,  amarrado com cordas, é o último, na parte inferior direita.

Esta pintura tão organizada e serena é uma das que fogem à criatividade fantástica e desmedida do artista.

Ficha técnica:
Data: 1515 -1516
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 76, 7 x 83,5 cm
Localização: Museum voor Kunsten, Ghent, Bélgica

Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Grandes Mestres/ Abril Coleções

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Bosch – OS SETE PECADOS CAPITAIS

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Os Sete Pecados Capitais, composição também conhecida como Os Sete Pecados Mortais e os Quatro Novíssimos do Homem, é uma das obras-primas de Hironymus Bosch, que enfatiza o destino da humanidade. O painel foi concebido originalmente para ser o tampo de uma mesa, e pode ter sido encomendado por alguma ordem religiosa. Sabe-se apenas que, posteriormente, passou a fazer parte da coleção do rei espanhol Felipe II, juntamente com outras obras de Bosch.

 Os sete pecados capitais estão representados num círculo central, dividido em sete cenas, ornadas com títulos em latim, e, em torno desse, estão quatro discos menores, ou medalhões.

 O disco central corresponde ao olho de Cristo ressuscitado. Ele se encontra na pupila, em pé, sobre o túmulo, mostrando suas chagas. Em torno da íris de Cristo estão várias linhas radiais douradas e a frase: “Cave cave deus videt” (Cuidado, cuidado, Deus vê). A imagem remete ao significado do olho de Deus, que tudo vê. E o que ele vê? Os sete pecados capitais cometidos pelo homem.

 A córnea está dividida em sete seções, em forma de trapézio, que representam os sete pecados mortais que são: a Gula, a Preguiça, a Luxúria, a Vaidade, a Ira, a Inveja e a Avareza. São assim mostrados:

 
  1.  dois homens devoram tudo aquilo que a dona da casa serve-lhes.  O mais magro deles, de pé, vira vira um jarro de vinho na boca. Uma criança obesa pede ao homem gordo mais comida. Tudo na cena indica que aquelas pessoas só vivem para comer (Gula);
  2. um homem dormindo, assentado, tendo um gato a seus pés (Preguiça). A mulher com um rosário na mão, lembra ao preguiçoso que ele está deixando de lado seus deveres espirituais;
  3. três casais de amantes encontram-se numa tenda, com instrumentos musicais e um recipiente com vinho espalhados pelo chão. Há também uma mesa posta com comida e vinho (Luxúria);
  4. uma mulher, diante do espelho, mostra-se excessivamente apegada a seu novo chapéu, sem notar que um demônio é quem segura o espelho, tendo parte do corpo escondido atrás do armário (Soberba ou Vaidade);
  5. dois homens deixam a taberna e põem-se a brigar, enquanto uma mulher tenta apaziguá-los (Ira);
  6. um homem rejeitado, olha com ciúme o rival (Inveja).
  7. um juiz corrupto recebe suborno (Avareza);

 Os quatro medalhões, nos cantos da composição, descrevem as quatro últimas etapas na vida do homem: Morte, Juízo Final, Inferno e Paraíso. Vejamos:

  1. um homem encontra-se deitado no seu leito de morte, rodeado por religiosos e, possivelmente um parente, aos pés da cama. Um anjo e um demônio jazem na cabeceira da cama, enquanto a morte, à espreita, esconde-se atrás da cabeceira. Num outro compartimento, duas mulheres conversam;
  2. Cristo apresenta-se no Juízo Final, rodeado de santos e anjos, enquanto os mortos são ressuscitados, para serem julgados, conforme seus merecimentos;
  3. Cristo apresenta-se em seu trono, rodeado por anjos e santos. Os homens bons são recebidos no portão do Paraíso. Os eleitos são mostrados em duas outras partes;
  4. seres humanos passam pelas mais diferentes torturas no Inferno. Um caldeirão com um líquido fervente aguarda os maus.

 Significado dos textos em latim: “Porque é uma nação insensata, desprovida de inteligência. Se fosses sábios, compreenderiam e discerniriam aquilo que os espera (parte de cima). Ao ver tais coisas, o Senhor indignou-se com seus filhos e suas filhas e disse: vou lhes oculta o meu rosto e verão o que lhes sucederá… Pois são uma geração perversa, filhos sem lealdade (parte de baixo).

O tema da composição lembra aos pecadores que é preciso refletir sobre o que os aguarda após a morte, destino certo de toda a humanidade. A obra mostra, mais uma vez, a preocupação do artista com a humanidade e seu destino após a morte.

Segundo alguns estudiosos, possivelmente o tampo da mesa do Prado tinha como objetivo levar à meditação, ajudando no exame de consciência, que os cristãos deveriam fazer antes do ato da confissão.

 Ficha técnica

Ano: c. 1500-1520
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 120 x 150 cm
Localização: Museu del Prado, Madri, Espanha

 Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Tudo sobre arte/ Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol
Bosch/ Taschen

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Bosch – O INFERNO MUSICAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

Bosch…inferno o descobridor do inconsciente. (Carl Jung)

O Inferno Musical situa-se na janela direita do Tríptico do Jardim das Delícias.  Representa os castigos a que estarão sujeitos homens e mulheres, se não se enveredarem no caminho do bem, afastando-se dos pecados.  Hieronymus Bosch apresenta um mundo onírico, demoníaco, opressivo, de incontáveis tormentos, onde estão presentes o fogo e o gelo.

 A presença de vários instrumentos musicais, símbolos tradicionais do amor e da luxúria, usados pelos seres satânicos, dão nome à pintura. Para quem não sabe, a diversão era tida como um caminho para o pecado, à época de Bosch. Portanto, na pintura, os instrumentos musicais são transformados em instrumentos de tortura.

 Logo no alto do painel, uma cidade está sendo consumida pelo fogo, enquanto uma atmosfera sulfurosa remete à visão que se imagina do Inferno. Logo abaixo, vê-se um símbolo fálico em forma de tanque de guerra, composto por uma lâmina e duas orelhas. Na faca está escrita a letra M. A origem de tal letra aventa várias explicações. Uma delas sugere que representa a palavra “mundus”. E, logo abaixo, são mostradas as barbaridades da guerra, com a punição dos condenados.

 Dentre os elementos figurativos presentes na composição estão o vaso e a lanterna, que simbolizam o sexo feminino, enquanto as facas e os calçados são emblemas do sexo masculino. O ato de subir escadas é representativo, muitas vezes, da relação sexual.

 No canto inferior da composição, um monstro híbrido, semelhante a uma ave gigantesca, está assentado sobre um trono, em pose autoritária, devorando os miseráveis sofredores e  defecando-os num poço de excrementos. Castigo dado àqueles que se escravizaram pelo pecado da gula. Um enorme caldeirão serve de capacete para o ser infernal. Abaixo do trono do monstro, um homem vomita e outro defeca moedas, simbolizando a avidez pelo dinheiro. Sob o manto do monstro, uma mulher é acossada por um diabo em forma de árvore, tendo ela que olhar sua imagem refletida nas nádegas desse, que lhe serve de espelho.

 No canto inferior esquerdo da composição, um porco com um véu de freira está abraçado a um homem, enquanto uma criatura de armadura, em frente, observa os dois. O animal parece estar falando ao ouvido do homem, que tem sobre a perna esquerda um testamento, seduzindo-o para que doe seus bens à Igreja. Bosch parece querer mostrar a ganância da Igreja, muito mais comprometida com o poder temporal do que com o divino, fato que vemos assumir formas assustadoras nos dias de hoje.

 Bem no centro da composição, está o homem-árvore, parte homem, parte árvore e parte ovo, que olha diretamente para o observador. Seus braços são como troncos de árvore e estão descansando sobre barcas. O tórax está aberto e oco, e no seu interior há mais seres estranhos. Encontra-se dentro de um lago gelado, sobre o qual patinam alguns condenados, enquanto o gelo se quebra. A cabeça do monstro serve de base para um alvo (um disco) e para uma gaita de foles cor de rosa, que representam o masculino e o feminino, respectivamente. Em volta de tais objetos circulam bruxas, demônios e pecantes.

Vejamos algumas cenas:

  1. um homem sangrando é carregado numa vara por um coelho, enquanto de sua barriga o sangue jorra com força, como numa explosão;
  2. uma figura nua está amarrada a um alaúde;
  3. uma figura está presa nas cordas de uma enorme harpa;
  4.  uma figura foi enfiada dentro de um instrumento de sopro;
  5. um homem, sobre um tambor azul, tem enfiado no ânus uma flauta, enquanto dois outros estão colocados dentro do tambor;
  6. dois animais estraçalham um corpo, etc.
  7. do ânus da figura engolida pelo monstro sentado na cadeira saem pássaros negros;
  8. uma mulher com um dado na cabeça faz menção aos jogos de azar, etc.

As obras de Bosch continuam difíceis de serem explicadas, pois grande parte da simbologia medieval ainda continua desconhecida.

 Ficha técnica:
Data: 1480 – 1490
Tipo: óleo sobre madeira
Dimensões: 220 x 97 cm
Localização: Museu do Prado, Madri

 Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Bosch/ Tachen
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol

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Bosch – O JARDIM DAS DELÍCIAS TERRENAS

Autoria de Lu Dias Carvalho

                                                 (Clique na imagem para ampliá-la.)

O Tríptico do Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch, traz na parte central O Jardim das Delícias Terrenas, na esquerda o Paraíso e na direita o Inferno. A parte central mostra homens e mulheres, de raças diferentes, unidos em pares ou em grupos, alguns em posturas inocentes e outros em posturas luxuriosas, despidos, espalhados pelo Jardim. O grande grupo convive com várias espécies de animais, pacificamente, e algumas pessoas comem grandes frutos. Todos celebram os prazeres da carne, sem acanhamento ou sentimento de culpa.

O Jardim das Delícias Terrenas é na verdade um falso paraíso, pois ali reina apenas o pecado, especialmente o da luxúria, que acaba por levar o ser humano ao inferno. Este painel traz uma profusão de imagens, com inúmeros símbolos, a maioria deles desconhecidos. São vistas diversas formas de relações eróticas heterossexuais, homossexuais e onanistas. Há também relações eróticas ou sexuais entre animais e entre plantas.

Na Fonte da Juventude (analisada por alguns como a Fonte do Adultério ou Fonte Carnal), mulheres nuas com corvos (símbolo da incredulidade), pavões (símbolo da vaidade), íbis (referem-se às alegrias passadas) e frutas na cabeça banham-se, atraindo os homens ao redor. Os moralistas medievais viam a mulher como fonte do pecado da luxúria e, provavelmente, essa era também a visão de Bosch.

A cavalgada da libido, na parte superior da composição, contorna a Fonte da Juventude, onde se encontra um bando de mulheres provocantes. Os homens nus estão montados em animais em pelo. Os animais montados  são reais e alguns  imaginários. Na Idade Média, os animais eram identificados com os apetites mais baixos ou carnais da natureza humana, e o ato de cavalgar era usado como metáfora sexual.

A presença de suculentas frutas, como cerejas, framboesas, uvas, etc, são uma alusão aos prazeres sexuais e também à fugacidade do prazer, pois passam do frescor para a degeneração. O morango, às vezes usado como uma menção às gotas do sangue de Cristo, aqui é uma metáfora sexual, sugerindo atividade carnal. Ele é visto na pintura como alimento, abrigo e embarcação. Bizarras plantas, minerais e conchas também são vistos no quadro.

À esquerda da composição, dentro do lago, existem grandes pássaros, com pontos luminosos formando os olhos, pintados com minúcias, que também simbolizam o erotismo. Estranhas estruturas encarceram o corpo humano em algumas cenas, elas são vistas como o pecado que aprisiona a alma humana.

Um globo cinza azulado, onde são realizadas acrobacias sexuais, boia dentro de um rio com figuras bizarras. Outras criaturas extravagantes encontram-se dentro de estranhas estruturas que parecem serem feitas de vidro.

Muitas pessoas e animais são mostrados em posições invertidas. Dentro do lago está um homem com cabeça e tronco submersos, enquanto as pernas, visíveis, estão abertas em forma de Y, com um ovo vermelho do qual sai um pássaro. Esta inversão mostra que tudo ali é falso e pecaminoso.

Na parte inferior do painel, à esquerda, um homem vestido, o único com vestes na composição, indica uma mulher deitada, enquanto olha para fora do quadro. Para alguns, ele seria Adão e ela Eva. Para outros, seria Eva sendo assinalada por João Batista, como culpada por ter sido a origem do pecado.

Toda a composição expõe o prazer dos sentidos, ou seja, a luxúria, que pode ser vista em inúmeras cenas, como:

  1. o casal dentro de uma bolha, à esquerda, com o homem com a mão na barriga da mulher;
  2. o casal dentro de uma concha;
  3. o homem que mergulha na água, escondendo o sexo com as mãos;
  4. o rapaz que coloca flores no ânus de seu companheiro, etc.

Bosch mostra que o Jardim das Delícias é uma ilusão, um falso paraíso, pois tudo ali é falso e transitório, levando o homem a perder sua alma ao se dedicar à perversão. E o fato de não se ver crianças na obra, significa que o sexo era usado apenas para o prazer.

Estudiosos continuam estudando esta complexa iconografia de Hieronymus Bosch, pois na época em que viveu o pintor, os símbolos eróticos eram inumeráveis, simbolizados por frutos, animais, plantas, etc.

Ficha técnica:
Ano: c. 1510
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 220 x 195 cm (parte central)
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Bosch/ Taschen
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol

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Bosch – O PARAÍSO TERRESTRE

 Autoria de Lu Dias Carvalho

paraisoSede fecundos e multiplicai-vos e enchei a terra; e dominai sobre os peixes do mar e as aves do céu. (Gênesis: 1,28)

O Jardim do Éden, também chamado de O Paraíso Terrestre, situa-se na janela esquerda do tríptico O Jardim das Delícias.  Representa o último dia da criação, quando Deus criou o primeiro homem e a primeira mulher. O artista mostra o momento em que o Criador apresenta Eva, ajoelhada, a Adão, desperto. A imagem de Deus é tradicional. Com a mão esquerda ele segura Eva pelo pulso, para apresentá-la a Adão. E com a direita, ele abençoa o casal.

No Paraíso, encontram-se flores, frutos, animais e os primeiros seres humanos. Uma dracena, postada logo atrás de Adão, representa a Árvore da Vida. Ao lado dela estendem-se outras espécies frutíferas e plantas exóticas.

No centro do lago, que fica no meio da composição, está uma fonte rosa, misto de caranguejo, concha e planta, que simboliza a Fonte da Vida, da qual nascem os rios do Paraíso. Ela se encontra sobre pedras preciosas. Na parte oval da fonte, ocupando o centro de gravidade da composição, está uma coruja, cujo significado ainda é incerto, já que a ave tanto tem significado positivo como negativo. Para alguns, ela representa a sabedoria e para outros a feitiçaria. O animal observa a criação de Adão e Eva.

À direita da composição, a meia altura, está a Árvore do Conhecimento, do bem e do mal, a única a conter o fruto proibido. Uma serpente está enrolada em seu tronco. Esquisitos animais, saídos da água, guiam-se em direção a ela.

Bizarras criaturas, terrestres e marinhas, aparecem em primeiro plano, em volta do espelho d’água. Ali, alguns animais comem outros. Um gato carrega um rato na boca e aves alimentam-se de rãs e sapos. Mais ao longe, no alto da composição, um leão devora um cervo, e um estranho bípede é perseguido por um javali. Existem muitos animais no jardim, como elefante,  girafa e outras criaturas imaginárias, como o unicórnio, símbolo da pureza, e o pássaro de três cabeças. Dois coelhinhos encontram-se logo atrás de Eva, simbolizando a multiplicação da espécie humana.

Os animais exóticos e criaturas assustadoras e rastejantes, que aparecem na frente de Adão e Eva, são uma menção ao futuro que aguarda o casal.

  • Curiosidades:
    O pecado feminino é personificado pelos bichinhos que se arrastam pela terra (insetos e, répteis) ou nadam pela água (anfíbios e peixes).
  • O pecado masculino é representado pelas alimárias que voam (insetos voadores, aves, morcegos…).
  • O demônio está escondido nos tanques e nas rochas que são, para Bosch, a guarida dos espíritos malignos.
  • Aparecem na obra animais reais, mas extremamente exóticos, à época de Bosch, como girafas, elefantes, leões, leopardos, quando a África era praticamente desconhecida na Europa.

Ficha técnica
Data: 1480 – 1490
Tipo: óleo sobre madeira
Dimensões: 220 x 97 cm
Localização: Museu do Prado, Madri

Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol

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