Bosch – O JARDIM DAS DELÍCIAS TERRENAS

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O Tríptico do Jardim das Delícias, de Hieronymus Bosch, traz na parte central O Jardim das Delícias Terrenas, na esquerda o Paraíso e na direita o Inferno. A parte central mostra homens e mulheres, de raças diferentes, unidos em pares ou em grupos, alguns em posturas inocentes e outros em posturas luxuriosas, despidos, espalhados pelo Jardim. O grande grupo convive com várias espécies de animais, pacificamente, e algumas pessoas comem grandes frutos. Todos celebram os prazeres da carne, sem acanhamento ou sentimento de culpa.

O Jardim das Delícias Terrenas é na verdade um falso paraíso, pois ali reina apenas o pecado, especialmente o da luxúria, que acaba por levar o ser humano ao inferno. Este painel traz uma profusão de imagens, com inúmeros símbolos, a maioria deles desconhecidos. São vistas diversas formas de relações eróticas heterossexuais, homossexuais e onanistas. Há também relações eróticas ou sexuais entre animais e entre plantas.

Na Fonte da Juventude (analisada por alguns como a Fonte do Adultério ou Fonte Carnal), mulheres nuas com corvos (símbolo da incredulidade), pavões (símbolo da vaidade), íbis (referem-se às alegrias passadas) e frutas na cabeça banham-se, atraindo os homens ao redor. Os moralistas medievais viam a mulher como fonte do pecado da luxúria e, provavelmente, essa era também a visão de Bosch.

A cavalgada da libido, na parte superior da composição, contorna a Fonte da Juventude, onde se encontra um bando de mulheres provocantes. Os homens nus estão montados em animais em pelo. Os animais montados  são reais e alguns  imaginários. Na Idade Média, os animais eram identificados com os apetites mais baixos ou carnais da natureza humana, e o ato de cavalgar era usado como metáfora sexual.

A presença de suculentas frutas, como cerejas, framboesas, uvas, etc, são uma alusão aos prazeres sexuais e também à fugacidade do prazer, pois passam do frescor para a degeneração. O morango, às vezes usado como uma menção às gotas do sangue de Cristo, aqui é uma metáfora sexual, sugerindo atividade carnal. Ele é visto na pintura como alimento, abrigo e embarcação. Bizarras plantas, minerais e conchas também são vistos no quadro.

À esquerda da composição, dentro do lago, existem grandes pássaros, com pontos luminosos formando os olhos, pintados com minúcias, que também simbolizam o erotismo. Estranhas estruturas encarceram o corpo humano em algumas cenas, elas são vistas como o pecado que aprisiona a alma humana.

Um globo cinza azulado, onde são realizadas acrobacias sexuais, boia dentro de um rio com figuras bizarras. Outras criaturas extravagantes encontram-se dentro de estranhas estruturas que parecem serem feitas de vidro.

Muitas pessoas e animais são mostrados em posições invertidas. Dentro do lago está um homem com cabeça e tronco submersos, enquanto as pernas, visíveis, estão abertas em forma de Y, com um ovo vermelho do qual sai um pássaro. Esta inversão mostra que tudo ali é falso e pecaminoso.

Na parte inferior do painel, à esquerda, um homem vestido, o único com vestes na composição, indica uma mulher deitada, enquanto olha para fora do quadro. Para alguns, ele seria Adão e ela Eva. Para outros, seria Eva sendo assinalada por João Batista, como culpada por ter sido a origem do pecado.

Toda a composição expõe o prazer dos sentidos, ou seja, a luxúria, que pode ser vista em inúmeras cenas, como:

  1. o casal dentro de uma bolha, à esquerda, com o homem com a mão na barriga da mulher;
  2. o casal dentro de uma concha;
  3. o homem que mergulha na água, escondendo o sexo com as mãos;
  4. o rapaz que coloca flores no ânus de seu companheiro, etc.

Bosch mostra que o Jardim das Delícias é uma ilusão, um falso paraíso, pois tudo ali é falso e transitório, levando o homem a perder sua alma ao se dedicar à perversão. E o fato de não se ver crianças na obra, significa que o sexo era usado apenas para o prazer.

Estudiosos continuam estudando esta complexa iconografia de Hieronymus Bosch, pois na época em que viveu o pintor, os símbolos eróticos eram inumeráveis, simbolizados por frutos, animais, plantas, etc.

Ficha técnica:
Ano: c. 1510
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 220 x 195 cm (parte central)
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de Pesquisa:
Gênios da pintura/ Abril Cultural
A história da arte/ E.H. Gombrich
Arte em detalhes/ Publifolha
Tudo sobre arte/ Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha
Grandes Mestres/ Abril Coleções
Bosch/ Taschen
Os pintores mais influentes do mundo/ Girassol

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2 comentaram em “Bosch – O JARDIM DAS DELÍCIAS TERRENAS

  1. Adevaldo R. de Souza

    Lu
    Emblemática essa obra do Bosch, imagino que tenha acontecido várias interpretações devido à riqueza iconográfica. Achei interessantes as construções fantásticas e criações imaginárias. No quadro do inferno causa pavor quando uma figura devora as vítimas humanas e depois as defeca num poço de excremento.

    Fiquei curioso para saber o porquê da continuidade da paisagem rochosa, mostrada ao fundo, no painel do Paraíso e do Jardim das Delícias Terrenas e não no painel Inferno.

    Abraço,

    Adevaldo

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Adevaldo

      Bosch era um artista atormentado pelo rigor da fé, como acontecia na Idade Média. Naquela época, a concepção de fim de mundo era muito forte. Tudo dizia respeito ao Inferno e ao Paraíso. Quanto mais amedrontadora fosse a obra, mais alertaria os fiéis, pensava ele. Quanto à paisagem rochosa, ela está ligada à Terra. O paraíso também é visto como um lugar parecido com a Terra. O Inferno, porém, muda toda a sua característica, aparece como um lugar bem bizarro.

      Abraços,

      Lu

      Responder

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